Posted on

A liberdade religiosa no Islão

Coord. por: M. Yiossuf Mohamed Adamgy
(Dezembro de 2009, in revista Al Furqán, nº. 165/166)

Esclarecimento de dúvidas e interrogações sobre o Islão

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

Uma das bases fundamentais do Islão, citada claramente no Alcorão, é a liberdade religiosa. Diz o Livro Sagrado na Surata 2, versículo 256: “Não há imposição quanto à religião”. Por tal motivo, o Islão submete a questão da crença e da incredulidade à vontade e à satisfação do ser humano. Diz o Alcorão na Surata 18, versículo 29: “Quem quiser crer, que creia e quem quiser negar-se a crer, que não creia”.

O Alcorão revela esta questão com clareza ao Profeta Muhammad [Maomé], paz esteja com ele, ao dizer-lhe que a parte que lhe toca é comunicar a mensagem de Deus à Humanidade e que ele não tem nenhum poder para converter as pessoas ao Islão, já que a verdadeira conversão provém de Deus. Na surata 10, versículo 99, diz Deus: “Poderás, por acaso, obrigar as pessoas a serem fiéis?”; na surata 88, versículo 22, diz: “Não és, de maneira alguma, guardião deles” e, na surata 42, versículo 48, diz: “E se porém desdenharem, não te enviamos para seu guardião. A ti só te está incumbido a proclamação”. Tudo isto assegura que o Alcorão recusa-se, de forma definitiva, a obrigar as pessoas a converterem-se ao Islão. Por essa razão é que o seu servo durante os programas de Esclarecimento de Conceitos, nunca disse: Convertam-se ao Islão! Podemos informar sobre a verdade do Islão; comunicamos os seus ensinamentos, mas não fazemos proselitismo. A pessoa é quem, de forma voluntária, aceita o Islão. Não podemos coagi-la; nem oferecer-lhe ensinamentos de salvação automática, nem sequer a pressionarmos a aceitar o Islão.

O Islão definiu o método que os muçulmanos deverão seguir para divulgar o Islão, que é a sabedoria e a boa exortação. Diz o Alcorão na surata 16, versículo 125: “Chama para o caminho do teu Senhor através da sabedoria e através de uma boa exortação, convencendo-os da melhor maneira”. Diz também na surrata 2, versículo 83: “Fala com o próximo da melhor maneira”. A este res- peito podem ser citados do Alcorão mais de 120 versículos que chamam a atenção de todos para a divulgação do Islão através do conhecimento, da sabedoria e do respeito pela liberdade humana em aceitar ou recusar a religião.

Depois de conquistar Meca (ár. Makkah) e atingir o triunfo definitivo, o Profeta Muhammad (p.e.c.e.) libertou todos os presos e não obrigou ninguém a acreditar no Islão ao dizer-lhes: Ide. Todos sois livres.

Não se conhece, em toda a história do Islão, que os muçulmanos tenham obrigado ninguém, cristão ou judeu, a adoptar o Islão.

Prova disto é a primeira constituição disposta pelo Profeta Muhammad (p.e.c.e.) depois de ter emigrado para Medina, na qual refere que os judeus compõem uma parte da sociedade da Medina em conjunto com os muçulmanos e que os primeiros têm direito a permanecer fiéis à sua religião.

Também o segundo Califa, Omar B. Khattab (r.a.), ao entrar em Jerusalém, estabeleceu um convénio de segurança com os cristãos, em que confirma que estes, as suas igrejas e as suas cruzes estão seguros e não devem ser obrigados a deixar a sua religião. Prova disto é que as Igrejas cristãs na Terra Santa mantiveram-se intactas.

Mahatma Gandhi, o herói da independência da Índia, escreveu:

“Os muçulmanos nunca caíram na arrogância, mesmo nos tempos de maior grandeza e triunfo. O Islão acalenta a admiração pelo Criador do mundo e das suas obras. Quando o Ocidente vivia um período de terrível escuridão, a resplandecente estrela do Islão, que brilhava a Este, trouxe luz, paz e alívio ao nosso mundo sofrido. O Islão não é uma religião falsa. Quando os hindus estudarem esta religião com o devido respeito, irão sentir também a mesma simpatia que eu sinto para com o Islão”. E continua. “Cheguei à conclusão de que a rápida expansão do Islão não se realizou por força da espada. Pelo contrário, deveu-se, sobretudo, à sua notável simplicidade, à sua lógica, à grande mo- déstia do seu Profeta, ao seu escrupuloso respeito das promessas realizadas, à sua ilimitada devoção para com os muçulmanos, ao seu carácter intrépido, à sua falta de medo, à sua absoluta confiança em Deus e à sua própria missão. Estas qualidades, e não a espada, foram as que permitiram vencer todos os obstáculos”.

Um muçulmano deve tratar o não-muçulmano de forma amável e deve apenas evitar travar amizades com os que tenham animosidades contra o Islão. No caso de esta animosidade causar ataques violentos contra a existência dos muçulmanos, isto é, em caso de guerra contra eles, então, os muçulmanos devem responder com justiça, tendo em consideração a dimensão humana da situação. Todas as formas de atrocidades, actos desnecessários de violência e agressão injusta estão proibidos no Islão.

Noutro versículo, Deus adverte os muçulmanos contra isto e explica que a raiva sentida contra os inimigos não deve ser motivo para se cair em actos injustos: “Vós que sois crentes! Sede perseverantes na causa de Deus e prestai testemunho com equidade. E que o ódio que possais sentir contra os demais não vos leve ao extremo de não serdes justos. Sejais justos! Isso está mais próximo da piedade e temei a Deus, pois Ele conhece bem tudo aquilo que fazeis.” (Alcorão, 5:8)

A palavra Islão provém da raiz árabe Salam, que significa paz e o Alcorão condena a guerra como um estado anormal de situações opostas à vontade de Deus.

O Islão não justifica uma guerra totalmente agressiva ou de extermínio, uma vez que o Islão reco- nhece que a guerra, em certas situações, é inevitável e que, algumas vezes, é um dever positivo provocado pelas opressões e pelo sofrimento. O Alcorão ensina que a guerra deve ser limitada e conduzida da forma mais humana possível. O Profeta Muhammad (p.e.c.e.) não teve apenas que lutar com as pessoas de Meca, como também com algumas tribos judaicas da região, bem como com algumas tribos cristãs na Síria que planearam uma ofensiva contra os muçulmanos. Mas isto não levou o Profeta Muhammad (p.e.c.e.) a denunciar o Povo do Livro (judeus e cristãos) ou a guerrear contra todos, apenas se limitou a defender-se das tribos atacantes. Os muçulmanos viram-se forçados a se defender, não estavam a executar uma guerra santa contra a religião dos seus inimigos. Quando Muhammad (p.e.c.e.) mandou Zaid como líder do exército muçulmano na guerra contra os cristãos, disse-lhe: guerreiem pela causa de Deus, valentemente, mas façam-no de forma humana. Não devem molestar sacerdotes, religiosas, monges, nem sequer civis frágeis ou pessoas inaptas para a guerra. Não deverá existir um massacre de civis, como também não deverá ser cortada uma única árvore nem nenhum edifício poderá ser destruído.

Depois disto, foi ditada uma aclamação do Profeta Muhammad (p.e.c.e.), válida até ao final dos tempos, de larga tolerância para com as religiões, especialmente para com os judeus e cristãos, os que são chamados de “Ahl al kitab”, o Povo do Livro; dizer que o Alcorão fomenta o terrorismo é um erro perigosíssimo e faz jus ao terrorismo, que é uma minoria violenta, existente na história e nos tempos presentes em todas as religiões.

No caso do Islão, condenamos o terrorismo venha este de onde vier; mas aqueles que dizem o contrário, estão a justificar teologicamente o terrorismo islâmico e invalidam a grande maioria de muçulmanos pacíficos como nós. Desta forma, outorgam de forma incorrecta uma base Alcorânica do terrorismo, que os converte em cumpridores da religião islâmica e os 99.99% dos muçulmanos pacíficos ficaríamos desacreditados de uma forma incorrecta.

Uma tremenda ousadia, mas também um tremendo erro!

*texto originalmente publicado como editorial da Clacso por Emir Sader, secretário executivo da Clacso (Conselho Latino-americano de Ciências Sociais

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.