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Aamir ibn Abdullh ibn al-Jarrah (r.a.) – conhecido como Abu Ubaydah

Traduzido e adaptado por: M. Yiossuf Adamgy

A sua aparência era impressionante. Era magro e alto. Tinha a face luminosa e uma barba dispersa. Era agradável olhar para ele e vivificante conhecê-lo. Extremamente cortês e humilde, e um pouco tímido. Todavia, numa situação dura, tornava-se tremendamente sério e alerta, parecendo a lâmina cintilante duma espada com a sua severidade e agudeza.

Ele era descrito como o Amin ou Guarda da Comunidade de Muhammad (s.a.w. = paz e bênçãos de Deus estejam com ele). De seu nome completo Aamir ibn Abdullh ibn al-Jarrah (r.a.), era conhecido como Abu Ubaydah. A seu respeito disse Abdullah ibn Umar (r.a.), um dos companheiros do Profeta (s.a.w.):

“Não encontrarás povo algum que creia em Deus e no Dia do Juízo Final, que tenha relações com aqueles que contrariam Deus e o seu Mensageiro, ainda que sejam seus pais ou seus filhos, seus irmãos ou parentes. Para aqueles, Deus lhes firmou a fé nos corações e os confortou com o Seu Espírito, e os introduzirá em jardins, sob os quais correm os rios, onde habitarão eternamente. Deus está bem contente com eles, e eles estão bem contentes com Ele. Eles são o partido de Deus. Não é o partido de Deus que prospera?” (58:22).

A resposta de Abu Ubaydah em Badr quando confrontado por seu pai não foi inesperada. Ele tinha obtido uma força de fé em Deus, devoção à sua religião e um nível de interesse pela ummah de Muhammad (s.a.w.) que eram aspirados por muitos.
É relatado por Muhammad ibn Jafar (r.a.), um companheiro do Profeta (s.a.w.), que uma delegação Cristã veio ter com o Profeta e disse:

“Ó Abu-l Qassim, manda um dos teus companheiros connosco, um em quem tu estejas bem satisfeito, para julgar entre nós sobre questões peculiares com as quais discordamos. Temos uma elevada consideração pelo povo Muçulmano”.
“Vinde ter comigo esta noite”, respondeu o Profeta, “e eu vos mandarei um que é forte e merecedor de confiança”.

Umar ibn al-Khattab (r.a.) ouviu o Profeta dizer isto e mais tarde disse: “Eu fui cedo ao Zuhr (Oração do Meio-Dia) esperando desde logo ser aquele que corresponderia à descrição do Profeta. Quando o Profeta terminou a Oração, ele começou a olhar para a direita e para a esquerda, e eu levantei-me para que ele me pudesse ver. Mas ele continuou olhando entre nós até parar em Abu Ubaydah ibn al-Jarrah (r.a.). Ele chamou-o e disse: `Vai com eles e julga entre eles com verdade sobre aquilo em que estão em desacordo’. E assim Abu Ubaydah conseguiu a nomeação”.

Abu Ubaydah não era apenas merecedor de confiança. Ele manifestava muito empenho no cumprimento do seu cargo. Este empenho foi demonstrado em várias ocasiões.

Um dia o Profeta enviou um grupo de seus Sahabah (Companheiros) para encontrar a caravana dos Coraixitas. Ele nomeou Abu Ubaydah como amir (líder) do grupo e deu-lhes um saco de tâmaras e nada mais como provisão. Abu Ubaydah deu a cada homem sob seu comando apenas uma tâmara por dia: chuparia essa tâmara como uma criança chupa no peito de sua mãe. Beberia depois alguma água e isso seria suficiente durante todo o dia.

No dia de Uhud, quando os Muçulmanos estavam a ser derrotados, um dos muchrikin começou a gritar: “Mostrem-me Muhammad, mostrem-me Muhammad”. Abu Ubaydah foi um dos dez Muçulmanos que cercara o Profeta para o proteger das lanças dos muchrikin. Quando a batalha terminou, descobriu-se que um dos dentes molares do Profeta estava partido, a sua testa tinha levado pancadas e dois dos discos do seu escudo tinham penetrado nas suas faces. Abu Bakr correu apressadamente com a intenção de extrair os discos mas Abu Ubaydah disse:

“Por favor, deixa isso comigo”.

Abu Ubaydah tinha medo que ele pudesse causar dor ao Profeta se retirasse os discos com a sua mão. Ele puxou fortemente com os dentes um dos discos, que conseguiu extrair, mas um dos seus dentes incisivos caiu ao chão durante o processo. Com o outro incisivo, extraiu o outro disco mas perdeu também esse dente. Abu Bakr fez a seguinte observação: “Abu Ubaydah é o melhor dos homens a partir dentes incisivos”.

Abu Ubaydah continuou a envolver-se completamente em todos os importantes acontecimentos durante a vida do Profeta. Depois do amado Profeta ter falecido, os companheiros reuniram-se para escolher um sucessor no Saqifah, ou ponto de encontro de Banu Saadah. O dia é conhecido na história como o Dia de Saqifah. Neste dia, Abu Bakr as-Siddiq (r.a.) disse a Abu Ubaydah (r.a.):

“Estende-me a tua mão e eu juro fidelidade a ti, pois eu ouvi o Profeta, que a paz esteja com ele, dizer: “Toda a ummah tem um guarda e tu és o guarda desta ummah”.

“Eu não vou”, declarou Abu Ubaydah, “pôr-me em evidência na presença de um homem, a quem o Profeta, que a paz esteja com ele, ordenou que nos dirigisse na Oração e que nos dirigiu mesmo até à morte do Profeta”.

Ele fez então o juramento de fidelidade a Abu Bakr as-Siddiq. Continuou a ser um conselheiro íntimo de Abu Bakr e seu forte apoiante na causa da verdade e da virtude. Depois surgiu o Califado de Umar, e Abu Ubaydah deu-lhe igualmente o seu apoio e obediência. Não lhe desobedeceu em nenhum assunto, excepto num.

O incidente aconteceu quando Abu Ubaydah se encontrava na Síria liderando as forças Muçulmanas duma vitória a outra até a totalidade da Síria se encontrar sob o controlo Muçulmano. O rio Eufrates dispunha-se à sua direita e a Ásia Menor à sua esquerda. Foi então que uma praga atacou a terra de Síria, como nunca ninguém tinha visto antes. Devastou a população. O Califa Umar enviou um mensageiro para Abu Ubaydah com uma carta que dizia: “Preciso de ti urgentemente. Se a minha carta chegar a ti de noite, solicito-te veementemente para que partas antes da madrugada. Se esta carta chegar a ti durante o dia, solicito-te veementemente para que partas antes do anoitecer e venhas ter comigo depressa”.

Quando Abu Ubaydah recebeu a carta do Califa Umar (r.a.), ele disse: “Sei porque o Amir al-Muminin precisa de mim. Ele quer preservar a sobrevivência daquele que, contudo, não é eterno”.Então ele escreveu a Umar:

“Eu sei que precisas de mim. Mas eu estou num exército de Muçulmanos e não desejo salvar-me daquilo que os aflige. Não me quero separar deles até à vontade de Deus. Por isso, quando esta carta chegar a ti, liberta-me da tua ordem e dá-me permissão para aqui ficar”.

Quando Umar leu esta carta os seus olhos encheram-se de lágrimas e aqueles que estavam com ele perguntaram: “Abu Ubaydah morreu, ó Amir al-Muminin?”

“Não”, disse ele. “Mas a morte anda perto dele”.

A intuição de Umar não estava errada. Em pouco tempo, Abu Ubaydah foi afectado pela praga. Enquanto a morte o rodeava ele falou ao seu exército:

“Deixem-me dar-vos alguns conselhos que vos conduzirão sempre pelo caminho da bondade. Estabelecei a Oração. Jejuai no mês de Ramadan. Dai Sadaqah. Fazei Hajj e Umrah. Permanecei unidos e apoiei-vos uns aos outros. Sejais sinceros com vossos chefes e não escondei nada deles. Não deixeis o mundo destruir-vos pois mesmo que o homem vivesse mil anos ele acabaria sempre neste estado que vedes em mim. Que a paz e a misericórdia de Deus estejam convosco”.

Abu Ubaydah virou-se então para Muadh ibn Jabal e disse: “Ó Muadh, faz a Oração com o povo (sê o seu líder)”. Aí, a sua pura alma partiu. Muadh levantou-se e disse:

“Ó Povo! Vós estais impressionados com a morte de um homem. Por Deus, eu não sei se alguma vez terei visto um homem com um coração mais justo, que estivesse além de todo o mal e que fosse mais sincero para o povo que ele. Pedí a Deus que derrame a Sua misericórdia sobre ele e Deus será misericordioso convosco”.

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