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Ano novo islâmico . 1429

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

No próximo dia 9/10 de Janeiro de 2008, inicia-se o Ano Novo Islâmico, ou seja o 1º. dia do mês de Muharram de 1429. A todos os Muçulmanos desejamos um Ano Novo Próspero.

Por outro lado, no dia 10 de Muharram celebra-se o Dia de Ashura, o qual, no ano de 2008, corresponde ao dia 18/19 de Janeiro.

Vários são os motivos que justificam jejuar neste dia. Quando o Mensageiro de Allah (s.a.w.) chegou a Medina (ár. Madinah), constatou que os judeus jejuavam. nesse dia Ao perguntar-lhes o porquê do jejum, responderam-lhe que comemoravam o dia em que o Profeta Moisés (a.s.) e o seu povo haviam atravessado o Mar Vermelho, o dia em que as águas se abriram e os Judeus puderam abandonar o Egipto, e o dia em que as águas voltaram a fechar-se e afogaram o exército do Faraó. O Profeta Muhammad (s.a.w.) identificou-se com a razão apresentada para o jejum. Na altura, os Muçulmanos que fugiam de Meca encarnavam o povo Judeu na sua fuga da tirania. Por outro lado, para os Judeus de Medina tratava-se apenas de uma festa, da celebração de uma história que atingira os seus antepassados. Eram incapazes de dar-se conta que esta mesma história se reproduzia agora, perante os seus olhos. O Profeta (s.a.w.) disse-lhes: “Então, temos nós mais o direito de jejuar do que vós”.

Para que a nossa celebração do Dia de Ashura não fique reduzida a um acto folclórico, há que penetrar nas conotações desse dia, reconhecer em todos os povos perseguidos o povo de Israel e empreender o caminho da libertação.

Segundo a tradição Islâmica, o dia 10 do mês de Muharram é um dia proeminente no processo da Criação.

é o dia em que Allah criou o Seu Trono;
é o dia em que Allah criou o Seu Escabelo:
é o dia em que Allah criou a Sua Tábua;
é o dia em que Allah criou o Seu Cálamo:
é o dia em que Allah criou o anjo Gabriel e todos os Seus Anjos;
é o dia em que Allah criou os Céus;
é o dia em que Allah criou as estrelas;
é o dia em que Allah criou a Terra.
É também o dia em que se produziram alguns dos acontecimentos mais transcendentes da história espiritual da Humanidade, do ciclo da Profecia.
É o dia em que Allah criou o Profeta Adão (a.s.);
é o dia em que o profeta Adão (a.s.) desceu à Terra;
é o dia em que Allah perdoou a Adão (a.s.) e abriu-lhe de novo as portas do Paraíso;
é o dia em que Jonas (a.s.) foi libertado do ventre da baleia;
é o dia em que a Arca de Noé (a.s.) tocou terra;
é o dia em que Abraão (a.s.) foi resgatado do fogo;
é o dia em que Allah perdoou a David (a.s.);
é o dia em que Allah entregou a Salomão (a.s.) os reinos do visível e do invisível;
é o dia em que Allah curou as feridas de Job (a.s.);
é o dia em que Moisés (a.s.) atravessou o Mar Vermelho;
é o dia em que Jesus (a.s.) foi elevado ao Céu.

Por último, no Dia de Ashura caiu a primeira chuva sobre a Terra, foi o dia do martírio do Imame Hussein (r.a.) em Karbala e será este o dia em que o Mundo terá fim.

Por tudo isto, o Dia de Ashura é tido como o mais especial do ano, aquele em que os Profetas foram libertados, superando as duras provas a que foram submetidos. O Dia de Ashura é uma festa, um dia propício para o perdão e para o regresso.

O que significa perdoar? Significa que a Misericórdia de Deus precede a Sua Ira, e que os crentes superam a sua miséria e elevam-se para a Fonte da profecia, aceitando tudo o que acontece enquanto Vontade Divina, como um acto de amor cuja origem e destino outra não é, que não Allah S.T.. Significa que tomamos consciência de que não existe outra divindade, a não ser Deus (ár. Allah), e que tudo aconteceu exactamente como estava escrito, que transbor- damos, que todos os nossos ódios e carências nada são frente ao mar da Misericórdia. Significa abandonar a ira, esquecer as ofensas, reconhecer que nada somos para acusar os demais, que todos somos Filhos de Adão e partilhamos todos a mesma situação.

Qual a relação entre o perdão e todos os acontecimentos proféticos ocorridos neste dia? O Perdão é a libertação dos nós mais fortes que nos atormentam. Abraão (a.s.) foi atirado ao Fogo pelo tirano Nimrod. Allah salvou-o, ordenando ao fogo que ficasse frio. O “fogo frio” é uma metáfora da união dos contrários, a qual se consumou em Abraão (a.s.). O que é o fogo? A paixão em que se consome, o seu ódio para com os seus concidadãos manifesta-se externamente, e Abraão (a.s.) é atirado ao fogo. Paradoxalmente, o fogo que a ira de Abraão (a.s.) havia causado converte-se numa fonte de paz interior para Abraão (a.s.), termina a sua inimizade para com os seus perseguidores e pode fugir das cadeias que o prendem e ao seu povo, em busca de uma terra abençoada. Allah salva Abraão (a.s.) mostrando-lhe o segredo da união dos contrários, do “fogo frio” cujo contacto permite-nos transcender as condições espacio-temporais em que nos encontramos, elevar-nos como ao Profeta Jesus (a.s.) da Cruz, alcançar o Perdão de Allah no meio do fogo deste Mundo.

É assim como Deus forja os Seus servos no fogo, abrasa-os para apagar todas as impurezas, como curou com água de uma nascente o Profeta Job (a.s.), retirou Jonas (a.s.) do ventre da baleia, devolveu o Paraíso ao Profeta Adão (a.s.), libertou da opressão o Profeta Moisés (a.s.) e o Povo de Israel. Deus permitiu ao Profeta Noé (a.s.) pisar terra, regressar da sua lenta travessia. Todos os episódios que celebramos no Dia de Ashura remetem-nos para a entrada no Reino dos Céus, para o despertar da consciência de que o todo é Um, para a libertação de toda a oposição, de todo o dualismo. Todos os episódios remetem-nos para a saída interior do dilema da nossa dualidade desesperada, do nosso carácter fragmentário. Nada somos, a não ser sombra à deriva, sombra que projecta sombra e que luta. Toda a peleja é sinal de que estamos divididos, de que nos vimos separados do nosso semelhante por barreiras de orgulho, mas também de ideologia, de religião ou de doutrina. A vaidade é a pior das doenças. Somente Allah pode arrebatar-nos, arrancar-nos da Cruz e devolver-nos à Realidade. O Perdão é a libertação do Fogo.

O Perdão é a chuva. A salvação é a primeira chuva sobre a Terra partilhada, o Retorno à unidade da vida depois da separação. O ser humano que não consegue perdoar encontra-se preso na fogueira das suas vaidades, prossegue vendo tudo através de si mesmo. É incapaz de transcender a dialéctica do teu ou meu, do eles e nós. Não pode sair do ventre da baleia, incendiar-se-á no fogo, Allah não curará as suas feridas, não verá brotar a fonte, não pisará terra. A incapacidade de perdoar é a enfermidade das enfermidades, a incapacidade de aceitar que o outro reflicta as nossas limitações, que os nossos inimigos somos nós próprios, que tudo na Criação é nosso espelho. A minha querela contigo denuncia-me, denuncia a minha miséria, a minha própria projecção na tua querela. Quem nos ofendeu, quem foi que nós ofendemos? Allah é a causa, o causador e o causado. Os servos do Compassivo são aqueles que vão pela terra e quando os repreendem respondem apenas: Paz. Não há lugar para o ódio em seus corações, pois apenas vêem em tudo o que os rodeia uma teofania, a forma do mistério da Criação em toda a sua grandeza.

Por isso, peço perdão a todos aqueles que se sentiram ofendidos pelas minhas palavras ou pela minha respiração. Peço perdão por pretender existir, por possuir uma consciência que se afirma separada. Peço perdão pelas provocações, por todo o pensamento não enraizado na consciência de que somos todos um. Peço perdão pelo fogo e pela névoa, pela ordem sem formas desta mão, pela ambição sem fundamento.

Ó Allah, liberta-me do ventre desta obscura baleia, que é o meu ego.
Erradica dos meus actos a arrogância, a busca do muro.
Liberta-me do Fogo, suaviza um instante e fixa-me no Teu sorriso.
Eleva as minhas carícias em direcção ao Céu.
Perdoa a minha miséria, as minhas pequenas querelas de homem mortal.
Ajuda-me a ajudar, a alcançar o Perdão …

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