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Aproximar-se de Allah durante o Ramadão

Por: M. Yiossuf Adamgy

Já conhecem a rotina. O nosso corpo sofre um choque no primeiro dia do Ramadão. De repente, numa manhã em que acordamos antes da hora de fazermos a oração de Fajr (salat-ul-Fajr), tomamos o Sehri praticamente até ao último segundo antes de chegar a hora da oração de Fajr, rezamos a oração de Fajr e depois, antes mesmo que alguém sequer seja capaz de pronunciar “Ramadhan Mubarak”, estamos de volta ao conforto dos nossos cobertores quentes e a sonhar com a iftar.

Quando mais tarde voltamos a acordar para começarmos o nosso dia, o nosso corpo fica em choque pois não consegue de todo perceber porque razão não saciamos a nossa sede ou porque não devoramos aquele determinada tablete de chocolate, aquele que sob a primeira camada de chocolate tem uma de caramelo, uma de amendoim, outra de chocolate e, algures, bolacha. Ficamos com água na boca, a salivar incontrolavelmente, apesar de sabermos que não os poderemos comer, pois é Ramadão e é tempo de jejuar!

é verdade, esquecemo-nos de avisar os nossos corpos de que durante um mês viveremos uma diferente rotina de preces, jejum e leituras do Alcorão, devendo ser mais generosos e praticar o auto-domínio.

Notícia de última hora: estamos quase no início do Ramadão e todos precisamos de nos começar a preparar!

Acreditamos que será positivo começar por recordar o significado do Ramadão tal como ele é expresso no próprio Alcorão. Allah Subhaanahu wa Ta’aala afirma no Alcorão: Foi no mês do Ramadão que foi revelado o Alcorão, que é um guia que a humanidade deve acatar e que nos dá provas concretas da orientação que devemos seguir, bem como do critério que devemos assumir para distinguir o certo do errado. Assim sendo, todo aquele que observar o quarto crescente da Lua durante o mês do Ramadão, deve jejuar durante todo esse mês.

Daí, podemos concluir:

  1. O Alcorão foi revelado durante o mês do Ramadão.
  2. O Alcorão é um guia para a humanidade.
  3. O Alcorão contém provas concretas da orientação que devemos seguir, bem como do critério que devemos assumir para distinguir o certo do errado.

Assim que avistarmos o quarto crescente da Lua, devemos iniciar o jejum.
Entre as inúmeras bênçãos que estão associadas ao Ramadão, uma que não devemos descurar prende-se com o facto de ter sido no mês do Ramadão que o Alcorão foi revelado. Este maravilhoso Livro de orientação é nosso, por isso empenhemo-nos para nos aproximarmos de Allah no Ramadão que se inicia, lendo mais o Alcorão e fazendo mais preces voluntariamente. Com efeito, este é um mês abençoado, pois são incontáveis as oportunidades que temos de mencionar o nome de Allah Subhaanahu wa Ta’aala. O Profeta sall Allaahu ‘alayhi wa sallam afirmou: “É impossível que as pessoas se juntem numa casa que pertença a Allah para recitar o Livro d’Ele e para o estudarem entre si, a menos que a tranquilidade ascenda sobre elas, que a misericórdia as envolva, que os anjos as rodeiem e que Allah as refira àqueles que estão próximos d’Ele.” (Sahih Muslim).

A Leitura do Sagardo Alcorão

Recordemos o ano que passou, até ao último Ramadão. Que tipo de relação temos tido com o Alcorão? Com que frequência o lemos? Temo-nos esforçado para memorizar algumas das suas passagens? Que suras ou versículos tiveram sobre nós especial influência durante o ano que passou?

Dediquemos algum tempo à escrita da resposta a estas perguntas como forma de nos prepararmos para o Ramadão. Devemos ser francos connosco próprios, pois estas respostas serão um segredo que ficará apenas entre nós e Allah S. T.

Estas respostas devem servir igualmente para desencadear algum tipo de reflexão da nossa parte, para que as possamos comparar com o actual Ramadão. O Ramadão constitui para todos nós uma oportunidade de desenvolvermos as nossas rotinas pessoais em resultado dos esforços que empreendemos no sentido de optimizarmos o nosso auto-domínio e de aprofundarmos o nosso desenvolvimento pessoal.

Por que razão concreta é importante que dediquemos algum tempo à leitura do Alcorão?

Em primeiro lugar, porque o ambiente à nossa volta é propício à leitura e reflexão. Durante o ano, podemos lê-lo por nossa própria iniciativa, por vezes apressadamente, outras vezes descuidadamente. Durante o Ramadão, as pessoas tentam completar a sua leitura do Alcorão, tentando fazer a leitura integral do Livro num mês. Acrescente-se ainda que abstermo-nos da comida e bebida é algo que nos ajuda a reprimir os nossos instintos mais condenáveis e a buscar um plano superior a nível intelectual e espiritual que nos permitirá, com efeito, reflectir sobre o real significado dos versículos do Alcorão que estamos a ler. Essa reflexão tem como objectivo ajudar-nos a interiorizar a tal ponto os ensinamentos do Alcorão que todos os passos que dermos na nossa vida passem a estar em concordância com os seus ensinamentos.

Em segundo lugar, a leitura consistente do Alcorão vai ajudar-nos igualmente a estabelecer uma rotina de que poderemos tirar proveitos durante todo o ano e que terá consequências directas e práticas no nosso quotidiano. Tomemos como exemplo as actividades rotineiras como o comer e beber ou o falar e dormir. Não seria impossível que a fome e a sede levassem o indivíduo a ter um comportamento irascível e a tornar-se um pouco impaciente em relação aos outros. Mas a verdade é que tanto os ensinamentos do Alcorão como os do Profeta Muhammad sall Allaahu ‘alayhi wa sallam nos incitam a concentrarmo-nos nos elevados benefícios do jejum.

Um dos benefícios associados ao jejum e que é referido no Alcorão é que o mesmo nos ajuda a fortalecer a nossa consciência relativamente a Allah Subhaanahu wa Ta’aala.

Mas a combinação do auto-domínio físico com a leitura e interiorização dos ensinamentos do Alcorão permite-nos alcançar um estado superior de consciência relativamente a Allah, o Maior. O nosso amado Profeta Muhammad sall Allaahu ‘alayhi wa sallam ensinou-nos que: “jejuar não é apenas abstermo-nos de comer e beber. Pelo contrário, é abstermo-nos igualmente do discurso que é ignorante e impróprio. Assim sendo, se alguém tiver perante vós um comportamento ignorante ou impróprio, dizei-lhe: “Estou a jejuar, estou a jejuar.” (Sahih Ibn Khuzaymah and Al-Hakim).

Por último, ler o Alcorão ajuda-nos a consolidar e a rever as passagens que já pudéssemos ter memorizado ou ainda as passagens que andamos a tentar memorizar. Está provado que durante cada Ramadão, o anjo Gabriel (Jibril a.s.) costumava rever o Alcorão com o Profeta Muhammad sall Allaahu ‘alayhi wa sallam. E no último Ramadão que o Profeta Muhammad sall Allaahu ‘alayhi wa sallam viveu, sabemos que o anjo Jibril reviu com ele o Alcorão duas vezes. É inequivocamente dada uma grande importância à repetição e revisão como forma de consolidar e memorizar o Alcorão. Devemos arranjar uma forma de gravar as passagens que andamos a ler, aquelas que andamos a rever e também as que andamos a memorizar. Incha’ Allah, quando chegarmos ao fim do Ramadão, teremos forma de avaliar o nosso estudo!

Fazer mais preces voluntariamente

O Profeta Muhammad sall Allaahu ‘alayhi wa sallam empreendia mais acções voluntariamente durante as semanas que precediam o Ramadão, tais como jejuar mais, rezar mais e doar mais para a caridade. Devemos ter em mente que o maratonista não começa a corrida só no momento em que se posiciona na linha de partida e ouve: “Às vossas posições, preparados, sigam!”. Pelo contrário, a corrida começa muitos dias, semanas e mesmo meses antes do momento em que verdadeiramente é dada a partida. A preparação exige esforço, mas permite que o atleta adquira a resistência necessária para que se possa concentrar na corrida e não se distrair pelo cansaço das pernas ou pela sensação de boca seca.

Da mesma forma, se começarmos o Ramadão apenas na sua primeira noite, no momento das Orações de Tarawih, estaremos a agir tal como o maratonista que não se prepara convenientemente. É por isso que é tão importante que comecemos a empreender desde já preces individuais e voluntárias.

Aprender a ler passagens extensas no Ramadão nos momentos da oração é algo que nos ajudará a desenvolver a nossa resistência, bem como nos ajudará a concentrarmo-nos naquilo que estamos a ler. Com efeito, Abu Hurayrah conta-nos que: “o Mensageiro de Allah, sall Allaahu ‘alayhi wa sallam, costumava incitar-nos a rezar nas noites do Ramadão, mas não fazendo dessas orações algo de obrigatório. E depois disse: “Todos aqueles que rezarem nas noites do Ramadão, movidos pela fé e pela esperança numa recompensa, verão todos os pecados cometidos no passado perdoados.” E quem entre nós não precisa de ver os seus pecados perdoados?” Ao rezarmos diariamente durante o período do Ramadão, acabamos por desenvolver a resistência que, incha’ Allah, nos permitirá chegar ao próximo Ramadão.

Uma das melhores formas de praticarmos a nossa récita é empreendermos orações voluntárias e recitarmos o Alcorão. Obviamente, é sempre recomendável que alguém verifique a nossa récita, mas se já tivermos conhecimentos suficientes de leitura em árabe, a leitura de passagens durante a oração ajudar-nos-á a melhorar a nossa récita. Embora a leitura individual seja permitida, é recomendável que o indivíduo se associe a uma congregação e seja orientado na sua oração por um Imame.

Se tivermos em mente que o nosso grande objectivo é agradar a Allah Subhaanahu wa Ta’aala para vermos os nossos pecados do passado perdoados, incha’ Allah, todos nós teremos forças para fazermos mais preces voluntárias.

Conclusões finais

Se ainda não perguntou a si próprio se está ou não preparado, uma vez que o Ramadão está prestes a começar, então comece hoje mesmo a pensar nisso e prepare-se para o receber. É essencial que se esforce ao máximo para preparar o acto do jejum, da oração, da leitura do Alcorão e da doação para a caridade. Dessa forma, incha’ Allah será capaz de se concentrar nas bênçãos desse mês e não se deixar distrair pela sua própria incapacidade de auto-domínio ou de permanecer, por exemplo, de pé durante longos períodos na salah, etc.

Treine o equilíbrio e lembre-se que está a tentar agradar a um Senhor que é misericordioso. Pratique uma veneração com fé e esforce-se incessantemente, esperando a recompensa de Allah Subhaanahu wa Ta’aala. Torne este Ramadão melhor que o anterior, incha’ Allah!

A todos, um Ramadhan Mubarak! Com um pedido deste humilde servidor de Allah: que se lembrem de mim nas vossas preces. Jazak’Allah.

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