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As Madrassas no Reino Unido: uma ponte para a juventude muçulmana?

Por Asim Siddiqui – Fonte: oumma (versão portuguesa de Al Furqán)

Segundo os especialistas, verifica-se, frequentemente, um fraco nível de escolaridade e uma falta de sucesso profissional entre os jovens muçulmanos britânicos.

Segundo a Josepf Rowntree Foundation, um organismo benévolo independente que se con-sagra ao desenvolvimento e à pesquisa social, o elevador social dos muçulmanos britânicos sobe mais lentamente do que o dos seus homólogos hindus, cristãos e judeus. Esta tendência verifica-se sistematicamente em toda a Europa, onde os Muçulmanos são três vezes mais ameaçados pelo desemprego de que os restantes.

Os muçulmanos são, na Europa, um dos grupos sociais mais retraídos e um dos mais desfa-vorecidos a nível económico. É, portanto, indispensável elevar as suas aspirações, aumentar as suas oportunidades de sucesso e fazer com que os jovens muçulmanos estejam envolvidos na sociedade. Neste sentido, as mesquitas e as madrassas podem revelar-se úteis.

O Reino Unido tem cerca de 1600 madrassas, sendo que estes centros de ensino religioso funcionam durante o fim-de-semana ou após a escola e que a maioria está associada a mesquitas. Nada menos do que 200.000 crianças muçulmanas de diversas etnias, com quatro a quinze anos de idade, as frequentam.

Estes estabelecimentos oferecem os dois extremos da pedagogia, desde a aprendizagem de cor dos textos religiosos até um ensinamento interactivo, onde as disciplinas islâmicas e as dis-ciplinas escolares habituais são ensinadas num ambiente onde se verifica diversão e criatividade.

As famílias muçulmanas britânicas apreciam estas madrassas associadas a uma mesquita por-que é o único lugar onde as crianças podem aceder a uma educação islâmica essencial e por-que, por outro lado, apresentam a vantagem de poder desenvolver, nesse reservatório muitas vezes inexplorado de jovens alunos, a ambição e o sucesso profissional.

Infelizmente, algumas madrassas estão desligadas do mundo real, o que impede que as crianças possam alcançar o seu pleno potencial. Um relatório do Open Society Institute, “Muslims in Europe: A Report on 11 EU Cities”, confirmava que os métodos de ensino utilizados em muitas madrassas, baseados na aprendizagem de cor e na disciplina severa, não estão em sintonia com o pensamento e a prática pedagógicos contemporâneos, e não conseguem desenvolver as competências essenciais para o sucesso na vida activa da época actual.

Outro relatório, publicado pelo Policy Resear-ch Centre da Islamic Foundation salienta a necessidade de uma melhor articulação entre as mensagens emitidas pelas madrassas e as da es-cola comum. É também indispensável favorecer uma aproximação entre as mesquitas e os sec-tores profissionais para criar confiança e alargar os horizontes dos muçulmanos no Reino Unido e em toda a Europa.

Assim, a CEDAR (www.thecedarnetwork.com), uma rede profissional Islâmica na Europa, lan-çou um programa nesse sentido. Associando-se numa parceria com a Young Enterprise, a prin-cipal organização benévola no âmbito da forma-ção profissional e empresarial, oferece, em colaboração com as mesquitas e no recinto destas últimas, cursos de orientação profissional. Esta abordagem inovadora valoriza as sinergias que os jovens muçulmanos mantêm frequentemente com as mesquitas do bairro e a grande experiência profissional dos orientadores da CEDAR. Cria-se, desta forma, uma experiência de aprendizagem na qual os jovens muçulmanos podem realmente participar.

O programa de orientação visa, não somente, engrandecer as ambições dos jovens, mas tam-bém criar vínculos com os profissionais muçulmanos, que podem, seguidamente, servir-lhes de exemplo e com os quais podem estabelecer contactos duradoiros.

Assim, durante um seminário organizado recentemente na mesquita Tawhid, em Londres, uma sessão interactiva apresentando um conjunto de experiências de aprendiagem reuniu os alunos da madrassa e outros jovens do bairro. A estes jovens foram apresentadas ferramentas e técnicas que lhes permitam construir o seu percurso de vida em consonância com as suas próprias expectativas, e com o desenvolvimento das suas competências. Um concurso destinado à apresentação do melhor business plan para uma empresa social, envolvendo a construção de um centro comunitário, incentivava os alunos a reflectir acerca das necessidades práticas da comunidade local, muçulmana e não muçulmana, além do seu próprio mundo confessional.

A mesquita Tawhid, sobejamente conhecida pelo seu conservadorismo social, permitiu que um grupo de rapazes e raparigas trabalhassem em conjunto. Percebeu o valor de um programa que possibilita que crianças muçulmanas sejam produtivas num ambiente mais relacionado com o mundo real.

Bassim el-Sheikh, uma criança de 13 anos de idade, declarou no final do seminário: ‘Sou uma pessoa muito mais confiante, sei doravante trabalhar melhor em equipa; sei ouvir mais os outros e expressar-me.’

As mesquitas britânicas procuram, lentamente, aproximar-se dos jovens, das mulheres e dos não muçulmanos. As maiores, ultrapassando o seu papel estritamente cultural, pretendem transformar-se em centros holísticos, propondo aulas de inglês, um curso de iniciação à infor-mática, salas de desporto e eventos inter-confessionais regulares.

Se as mesquitas e as madrassas conseguirem ligar-se à sociedade comum, se desenvolverem as suas aspirações e as competências de vida dos jovens que as frequentam, será então possível evitar a “guetização” que assola algumas comunidades muçulmanas britânicas e europeias e favorecer a promoção educativa e profissional dos jovens muçulmanos.

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