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Carta aberta aos intelectuais ocidentais

Por: M. Yiossuf Adamgy

Aos ilustres intelectuais, Judeus, Cristãos, laicos e outros, é minha intenção dizer-lhes algo, mas algo que contenha algum significado. O objectivo, ainda que relativo, será possível de se atingir? Conseguirão ouvir, compreender?

Aquilo que se passa no Médio Oriente, de uma gravidade extrema e mais do que premeditado, está para além do entendimento.

Se as reacções dos extremistas político-religiosos, usurpadores do nome do Islão, especialmente após o 11 de Setembro, arruinaram os esforços daqueles que trabalham pelo diálogo e pela coexistência entre o Oriente e o Ocidente, a política belicista e as agressões do Governo de Israel, conduzido pelo extremismo Sionista,

cava a sepultura, não apenas da possibilidade de paz na região, mas do futuro da humanidade.

Terrorismo de um Estado poderoso, dotado de armas de destruição em massa; estado diferente dos outros, de fronteiras desconhecidas, que não cumpre dezenas das Resoluções da ONU, que age na impunidade, contra uma resistência legítima, que defende o direito à vida e visa as forças armadas ocupantes, contra um terrorismo dos fracos, enquanto este último tem como objectivo os civis.

O povo Judeu tem o direito à segurança e à paz. Mas Israel não tem o direito de transgredir as leis universais, ao manter uma ordem colonial desumana. Trata-se de clara “extinção duma nação”, conforme quatro dos mais conhecidos intelectuais ocidentais divulgaram numa recente carta denunciando o que chamam de “moral dupla do Ocidente” em relação ao que vem acontecendo no Médio Oriente, no conflito entre Israel e Palestina. Noam Chomsky e os escritores Harold Pinter, José Saramago e John Berger assinam o texto que denuncia “uma prática militar, económica e geográfica de longo prazo, cujo objectivo político é nada menos do que a extinção da nação palestiniana”.

A actual desordem internacional encontra-se fundamentada sobre a lei do mais forte. Israel recusa toda e qualquer negociação com os países Árabes, multiplicando os actos unilaterais e a espoliação de terras. [b]Age em contradição às leis, à natureza e à moral, ergue um muro de separação, e mantém as populações Palestinianas presas num perfeito apartheid, assassinando personalidades políticas em pleno dia. Aprisiona, extremista e excessivamente, militantes nacionalistas e responsáveis Palestinianos, sendo que são já mais de dez mil. Destrói casas e infra-estruturas sem cessar, bombardeia bairros civis, tortura, priva de alimento todo um povo e bloqueia todas as suas receitas, por mais pequenas e magras que sejam.”

Neste contexto de morte, a principal potência mundial, os Estados Unidos, apoiam Israel incondicionalmente. Os países Europeus fecham os olhos, ou pedem às vítimas que reconheçam sem condições o seu carrasco. Cúmulo do absurdo, os países Ocidentais punem o povo Palestiniano por este ter escolhido democraticamente os seus representantes. A política dos dois pesos e das duas medidas ultrapassou todos os limites.

Porquê esta obstinação e esta quezília? Qual é a repressão e quais são as suas causas, sobre as quais o Ocidente não pretende pensar? Onde está a Democracia, onde estão os valores da modernidade? Onde está a Justiça e o Direito? Quem fez do Mundo refém?

Antes que a humanidade naufrague num sistema faustiano, que não oculta mais as suas intenções, dizemos nós, especialmente àqueles de entre nós, a grande maioria, que acreditam por força da razão, nas virtudes do diálogo e na necessidade do viver em conjunto: a repressão brutal e as odiosas agressões a que submetem quase diariamente os povos Palestiniano e Iraquiano e, agora, Libanês, representam uma trágica realidade. Realidade de um cancro que, aparentemente, ninguém pretende curar.

Como o realça o historiador pacifista, Ilan Pappe, docente da Universidade de Haifa, levar a cabo represálias contra uma operação de uma tão fraca amplitude, recorrendo a actos de guerra total e de destruição em massa, prova que o que se tem em conta não é o pretexto, mas sim um projecto de dominação. Os dirigentes Israelitas continuam com as operações de repressão programada, as quais depois de cinquenta anos provocaram a expulsão da maioria da população autóctone da Palestina, destruíram a maioria das suas cidades e mergulharam o mundo Árabe num conflito extenuante com o Ocidente. O que em uns, agravou o ódio pelo Islão, esse desconhecido, e, em outros, criou um sentimento sem igual.

Além disso, o poder militar Israelita desenvolve-se e a comunidade internacional mantém-se passiva ou cúmplice; mais, é fácil terminar o que começou em 1948: a colocação sob tutela progressiva de todo o mundo Árabe, rico em energia e o alargamento da fractura entre as duas margens do Mediterrâneo. Tudo isto em detrimento dos interesses de todos os povos do Mundo, incluindo o povo Judeu. Não é demasiado tarde para parar este plano. “

Certo, as reacções desesperadas de determinados grupos extremistas, assim como as contradições, as incoerências e os arcaísmos dos regimes Árabes e Islâmicos, em nada contribuem para a credibilidade e popularidade internacional da resistência. Opor a ocupação de Gaza e da Cisjordânia, à do Iraque por parte do EUA e à agressão sofrida pelo Líbano, na conjectura mundial actual, necessita, tendo em conta o plano metodológico, de usar antes de mais todos os recursos da razão e da diplomacia e, no quadro das acções de legítima defesa, de fazer prova de estratégia e do respeito pelos Direitos Humanos.

Sobre o plano de fundo, a democratização das nossas sociedades e a aposta na secularização, sem perdermos as nossas marcas de referência, são estes a via para revelarmos os desafios. Tanto mais que, o objectivo das forças ocupantes, é o de destruir a vontade de resistir dos povos, de modo a aniquilarem os ferrolhos que se opõem à hegemonia imperial mundial. Esta encontra-se condenada ao fracasso. Não apenas pelos homens da guerrilha, os quais lutam por uma causa justa e no seu território, que são mais fortes, mas também por ser impossível mudar a consciência dos povos. Eles sabem o que é viver uma situação terrivelmente injusta. A história dos povos reza que nada e ninguém no Mundo conseguirá vencer a resistência: nem os Exércitos sofisticados, e nem centenas de anos de repressão.

Contudo, caso todos aqueles que amam a paz e a justiça não se aliarem, de modo a recusarem os comportamentos desviantes, venham estes de onde vierem, desde a desumanização e o “tudo sob controlo”, às reminiscências fascistas, estes comportamentos proliferarão, um pouco por todo o Mundo, sob as formas mais insidiosas. Dois ou três soldados Israelitas capturados em território Libanês ocupado…foi este o pretexto para que um verdadeiro dilúvio se abatesse sobre todo um país …, para além de ter causado o maior desastre ambiental no Mar Mediterrâneo, em todos os tempos.

Os meios de comunicação em massa que dominam o Mundo negam que o Exército Israelita está a ocupar por meio da violência os territórios Palestinianos e que tenha violado o território Libanês. Os discursos invertem a ordem das coisas e afirmam ter sido os resistentes Árabes a ter violado a soberania Israelita.

Quantos mais mortos Palestinianos, Libaneses e Israelitas serão necessários para que o Mundo reconheça os factos? Todos nós somos seres humanos, Judeus e Palestinianos, Orientais e Ocidentais. É chegado o momento de contarmos os mortos e os prisioneiros da mesma maneira. O futuro do Mundo joga-se no Médio Oriente e depende igualmente de nós.

Há imensas fotografias que jamais serão vistas nas páginas de jornais ocidentais: bebés decapitados e mulheres sem pernas ou braços, ou anciãos despedaçados. As incursões aéreas israelitas são promíscuas – quando se enxergam os resultados como temos visto- e obscenas. Sem dúvida, as poucas vítimas igualmente inocentes do Hezbollah em Israel terão, provavelmente, o mesmo aspecto, mas a matança em Gaza e no Líbano é de uma magnitude muito mais terrível.

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