M. Yiossuf M. Adamgy
Preazados Irmãos,
Assalamu Alaikum W. W.:
Em nome de Allah (Deus), Clemente e Misericordioso, viajamos pelo tempo, um ano mais nas nossas vidas, regressando ao nosso interior mediante a prescrição divina do jejum, prática de adoração que, como disse o nosso amado Profeta Muhammad, paz e bênção estejam com ele, ‘quando o Ramadan chega, abrem-se as portas do Jardim’.
Todos os anos, os Muçulmanos e as Muçulmanas do mundo alegram-se com a chegada deste abençoado mês de Ramadan que nos recorda a nossa verdadeira condição, o nosso vazio e a nossa precariedade, ajudando-nos a regressar, desta forma, à Única Realidade, que nos diz: ‘Deixa a tua comida e a tua bebida por Minha causa. O jejum é para Mim e sou Eu que recompenso por ele e a boa acção (nesse período) vale por dez’.
O mérito do jejum, a oração e a hospitalidade no Ramadão.
A maior recompensa, o grau mais elevado neste nosso mundo inferior, é a fé à qual devemos a ajuda e o favor da bondade de Allah. A nós, foi-nos dada a honra de termos sido feitos Seus servos e a Sua Comunidade bem-amada, e de termos recebido um lugar no Alcorão.
Temos agora mais uma bênção: Uma vez a cada ano, chega o mês do Ramadão, no qual “o começo é a misericórdia, o meio é o perdão, e o final é a salvação do Fogo”.
Sempre que o Ramadão chegar, na nossa vida, devemos apreciá-lo! Ele passa muito rapidamente. A própria vida passa num ápice, assim como acontece com o tempo da oração. Não devemos dizer: “O Ramadão voltará outra vez”, porque um Ramadão que tenha passado não voltará novamente. O próximo Ramadão, se voltar na nossa vida, será um Ramadão diferente. É possível que o Ramadão continue a chegar até à Ressurreição, mas este Ramadão pode ser, para alguns de nós, o último.
Não se deve dizer: “eu perdi esta oração, mas outra virá”. Quem sabe se esta oração não é a tua última.
Não se deve dizer: ‘Quando me aposentar e começar a ganhar a minha pensão, então me dedicarei à adoração!” Quem sabe se não farás a tua última viagem antes de chegar a receber a tua pensão… Vestir-te-ão uma mortalha, de modo a preparar-te para a acção imediata. Lamenta-te, copiosamente, pelos teus pecados. Mantém a vigilância pelo teu Senhor, recitando o Alcorão. Sorrindo, homenageia a Sua presença. Reflecte na tua própria natureza transitória, recordando que Ele é eterno… Reflecte nas tuas próprias debilidades, recordando-te que Ele é o Todo-Poderoso…
Que coisa bela encontrar o Senhor! Como poderei fazer chegar-te o Seu sabor? Pode falar-se aos cegos sobre a cor, aos surdos sobre a música, aos impotentes sobre o deleite da relação sexual, mas é possível realmente fazer com que eles compreendam essas experiências? Se o cego não pode ver, como pode ele descobrir a cor através das palavras? Como se pode mostrar a um olho que não vê as flores multicolores, as árvores, o sol, o céu, a dança dos peixes nos riachos? Ao que não tem o sentido do olfacto, como lhe poderemos descrever o cheiro da rosa, a fragrância do jacinto, ou o perfume do junquilho? Como poderemos contar ao surdo acerca do chilrear dos pássaros, do murmúrio do fluir das águas, ou das cadências do Nobre Alcorão e as da chamada à oração (Azan)?
Se passares algum tempo a sós com o Senhor, um dia levantar-se-á o véu dos teus olhos e verás as cores. Adquirirás o sentido do olfacto e detectarás a fragrância das rosas, dos jacintos, dos junquilhos e dos narcisos. A tua surdez irá desaparecer e ouvirás a constante lembrança de Allah. Os ouvidos do teu coração abrir-se-ão e deleitar-te-ás com a recitação do Alcorão. Sob os cantos dos rouxinóis e do murmúrio das águas, ouvirás o som da afirmação da Unidade Divina.
São estas as dádivas que serás capaz de obter neste mundo e que um dia terminarão. Quanto às dádivas que obterás no Além, incha Allah, não têm fim, são eternas…
Quando o Ramadão chega, não consegues ouvir aquela Voz chamando todas as noites: “Ninguém Nos quer, ninguém Nos ama? Nós os amaríamos também!”. Este apelo faz-se em todos os entardeceres e em todas as noites. Esta é outra dádiva divina característica do nobre mês do Ramadão. Observa a conversa de que desfrutou o Profeta Moisés (a.s.). Moisés, o Kalimullah, aquele que falava com Allah, quando costumava ir ao Monte Sinai (tu tens o teu próprio ‘Monte Sinai’ no momento de romper o jejum, quando podes suster mil e uma conversas). Quando Moisés dizia: “Ó meu Senhor, Tu falas comigo, Tu diriges-Te a mim. Não me mostrarás a beleza do Teu semblante? Deixa-me ver a Tua beleza!” Recebeu a resposta do Senhor: Lan taraani: “Não poderás ver-Me”. [Alcorão, 7:143].
“Moisés! Como poderás ver a Minha beleza, quando há setenta mil cortinas entre nós? Serias incapaz de Me ver. Mas na altura da Ressurreição dar-te-ei um mês, como um presente à Comunidade do meu bem-amado Muhammad. Esse mês chamar-se-á Ramadan. E a Comunidade de Muhammad deverá jejuar durante todo esse mês, e Eu Me manifestarei de forma tal na altura de romper o jejum, que não haverá absolutamente nenhum véu entre mim e a Comunidade de Muhammad, enquanto agora, entre Mim e tu, há setenta mil véus”.
Numa Tradição Sagrada, o Altíssimo disse: “O jejum é para Mim e Eu sou quem o recompensa”.
A recompensa do jejum é a visão da Beleza Divina. O emblema do Ramadão é o perdão. O jejum deverá fazer-se com sinceridade e com afecto ardente. O nosso abençoado Mestre Muhammad (s.a.w.) disse: “Se a minha Comunidade soubesse que êxito e salvação residem no Ramadão, rogariam a Allah que lhe deixasse viver para sempre nesse mês!”.
Queira Allah S. T. conceder a Sua Misericórdia sobre os nossos corações e facilitar-nos o Jejum. Ámin.
Wassalam W. W.
M. Yiossuf M. Adamgy