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Histórias de Ramadan – A Árvore do Pastor

Escrito por Cüneyd Suavi. Traduzido por Yiossuf Adamgy.

Sempre que o idoso pastor ia aos prados para alimentar as suas ovelhas, descansava debaixo de uma macieira perto de um monte, e se estivesse em Outono ele dirigia-se à árvore dizendo-lhe: ‘Vem, estimada árvore, dá uma maçã a este velho’. E, em seguida, uma maçã deliciosa e madura caía da árvore. O ancião pegava na sua faca, com seu punho trabalhado em madrepérola, e cortava a maçã em pedaços. Depois misturava esses pedaços com o iogurte e comia-o com grande apetite.

O idoso pastor havia plantado a árvore já fazia vinte anos e o regava frequentemente, ao princípio. Depois de fazer as abluções, regava a árvore com água que tinha na sua jarra. A árvore de maçã cresceu e começou a dar fruta. Naquela época, o pastor era jovem e colhia as maçãs, não era nenhum problema para ele. Com os anos, naturalmente, a árvore cresceu em altura e o pastor se envelheceu. Não importa quantos anos passaram, a verdade é que a mesma árvore, de que o pastor havia cuidado como se de um bebé se tratasse, proporcionava ao ancião as suas frutas. Quando o pastor acariciava a árvore, dizia-lhe: ‘Filho meu, envia-me minha peça de fruta para hoje!’, e uma maçã cairia sem necessidade de que ele tivesse de repetir o seu pedido.

Isto continuou durante anos sem interrupção. Os aldeões podiam contemplar este acontecimento à distância e corria o rumor que o velho era um santo. Consequentemen-te, não deixavam a mais ninguém recolher a fruta da ‘árvore do pastor’ e se alguém ousasse fazê-lo em segredo seria repreendido. Um dia, o pastor, já mais idoso, pediu uma maçã como de costume. Embora os ramos estivessem cheios de maçãs, nenhuma delas se deixou cair. O ancião repetiu o seu pedido, uma e outra vez. A árvore não respondeu. O ancião se afastou da árvore, as lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto, molhando a sua barba branca; procurou, então, o consolo entre as suas ovelhas. Era a primeira vez que seu menino o tinha rejeitado.

O pastor caminhava curvado, pois o seu corpo se tinha tornado demasiado pesado para as suas pernas fracas, e é que o tempo não passava em vão. Quando reuniu às ovelhas e foi para a aldeia, se surpreendeu quando escutou o adhan do pôr-do-sol a chamada para a oração que se dirigia a todos do minarete da mesquita da aldeia. Foi como ter nascido de novo e … deu conta de algo. Sem prestar muita atenção ao seu velho coração, o pastor, cheio de alegria, correu em direcção à árvore de maçãs. Quando abraçou a árvore, com compaixão, disse-lhe: ‘Querido meu! Antes de permitires que este velho lamentasse da sua sorte, porque não me avisaste que hoje era o primeiro dia do Ramadán e que tinha que jejuar?’.

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