(Coord. por M. Yiossuf Adamgy – in Revista Al Furqán, nº. 177, de Set. /Out. 2010)
Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:
Um pastor de uma pequena Igreja não-denominacional, na Florida, recebeu uma cobertura mundial sem precedentes devido ao seu plano de queimar algumas cópias do Alcorão.
Quer ele decidisse ou não levar em frente esta façanha, o facto de uma pessoa que alega ser um homem de Deus querer queimar uma escritura sagrada de outra religião é desprezível.
O Sr. Terry Jones, o pastor desta Igreja, acredita que o Alcorão é coisa do Diabo e por esse motivo deverá ser destruído. O que ele não sabe é que está, infelizmente, a profanar e a incendiar o espírito e a essência das grandes mentes da humanidade: Jesus, Moisés e todos os outros Profetas, neste processo.
Esta Igreja da Florida tem apenas cinquenta membros, contudo o impacto que criaram em todo o mundo foi imenso. Apesar de tudo, desejávamos que a nossa ‘imprensa livre’ não tivesse dado tanta atenção a este grupo insignificante, mas sim que deixasse que isto fosse um momento de ensinamento.
Este pequeno grupo de Cristãos radicais alega ser verdadeiros Cristãos da mesma forma que aqueles que destruíram as Torres Gémeas em 2001 alegavam ser verdadeiros Muçulmanos.
A comunidade Muçulmana de todo o mundo está revoltada com esta intenção de queimar o Alcorão. A melhor forma de responder a tal acto seria ignorá-lo, contudo já é demasiado tarde para isso e agora os líderes religiosos, desde os EUA até à Indonésia, foram forçados a entrar neste ‘circo’.
O que é importante nesta situação é que um grande número de líderes religiosos de todas as tradições e oficiais governamentais nos EUA manifestaram uma condenação enfática à tentativa de queimarem o Texto Sagrado.
Os Muçulmanos deverão prezar esses líderes religiosos e governamentais que deram a cara para condenar Terry Jones.
Os Muçulmanos não deverão cair na armadilha que a maioria dos islamofóbicos caiu julgando a fé pelas perversões de alguns.
Os Muçulmanos devem lembrar-se que o Islão lhes exige que demonstrem respeito pelas pessoas de todas as religiões e que promovam o pluralismo que não é definido pela política do dia.
Qualquer um que queira queimar o Alcorão não conseguirá queimar a mensagem do Alcorão. O Alcorão é preservado nos corações e nas mentes das pessoas e existem mais de três milhões de Muçulmanos em todo o mundo que já memorizaram o Alcorão.
Os Muçulmanos deverão manter os altos valores morais e quando os outros falarem em queimar o Alcorão, deveremos perder algum tempo a memorizar mais alguns versículos do Alcorão e a preencher a nossa obrigação mais importante, a de ler e compreender o Alcorão.
História sobre a Queima de Livros
É habitual que o clero, exércitos invasores e outras pessoas queimem livros, conforme pode-mos testemunhar ao longo da história da humanidade. Tal acto poderá ser feito devido:
- Às pessoas poderem estar paranóicas em relação a ideias emergentes que desafiam a sua compreensão do mundo ou
- Às pessoas poderem estar inseguras na compreensão da sua própria fé.
Um olhar pela história da queima de textos religiosos dar-nos-á uma compreensão do ódio e da ignorância que existiu nos nossos círculos seculares e religiosos. Fica aqui uma revisão de alguns incidentes famosos de queima de livros:
A história testemunhou a queima da Biblioteca de Alexandria pelas forças Cristãs, da Biblioteca de Bagdad pelos Mongóis, a queima de livros e o enterrar de estudiosos na Dinastia de Qin na China, a destruição dos códices Maias pelos conquistadores e padres Cristãos espa-nhóis, a queima de livros Muçulmanos e Judeus por Católicos durante a Inquisição, a queima da Torah pelos Cristãos na Alemanha e a destruição da Biblioteca Nacional de Sarajevo. Em 1193, após derrotar Jai Chand, diz-se que o exército de Ghauri, maioritariamente Muçulmano, queimou a Biblioteca de Nalanda, conhecida como Dharma Gunj, Montanha da Verdade.
Há registos de que em 367 D. C., Atanásio, o bispo de Alexandria, emitiu uma carta pascoal que exigia que os monges egípcios destruíssem todos os livros excepto os que constituíam o ‘Novo testamento’.
Na sua peça de 1821, intitulada Almansor, o escritor alemão Heinrich Heine, referindo-se à queima do Alcorão durante a Inquisição espanhola, escreveu: ‘Aqueles que queimam livros acabam, cedo ou tarde, por queimar seres humanos’ (“Dort, wo man Bücher verbrennt, verbrennt man auch am Ende Menschen.”). Os livros de Heine estavam entre os milhares de volumes que foram queimados pelos cristãos na Alemanha.
A New York Society for the Suppression of Vice (Sociedade Nova-Iorquina para a Supres-são de Vícios), fundada em 1873, inscreveu a queima de livro no seu selo, como sendo um objectivo a cumprir. A Sociedade destruiu cerca de 15 toneladas de livros, 128 toneladas de chapas de impressão e quase 4.000.000 de imagens. A Sociedade também manietou o Congresso norte-americano para incorporar os seus objectivos na Comstock Law.
Após o conselho do Ministro Li Si, o Imperador Qin Shi Huang da China ordenou a queima de todos os livros sobre filosofia e história. A isto seguiu-se o facto de um grande número de intelectuais ter sido enterrado vivo, por não acompanhar o dogma do estado.
Em 168 A.C., o monarca Antíoco IV ordenou a queima do ‘Livro das Leis’ dos Judeus, que havia sido encontrado em Jerusalém.
Por volta do ano 50 D.C. um soldado romano apreendeu um rolo da Torah e queimou-o em público. Este incidente quase levou a uma revolta judaica contra o domínio romano.
Os livros de alquimia egípcia de Alexandria foram queimados pelo imperador Diocleciano, em 292. Em 303 Diocleciano também queimou livros cristãos. Em 1242, a coroa francesa quei-mou todas as cópias do Talmud em Paris, cerca de 12.000, depois de o livro ter sido “acusado” e “considerado culpado” no julgamento de Paris.
Por volta de 1480, Tomas Torquemada pro-moveu a queima da literatura não-católica, com particular atenção para o Talmud judeu e os livros árabes, após a expulsão de muçulmanos e judeus.
Em 1490 uma série de Bíblias hebraicas e outros livros judaicos foram queimados por ordem da Inquisição Espanhola. Em 1499, cerca de 5.000 manuscritos árabes foram consumidos pelas chamas na praça pública de Gra-nada sob as ordens de Ximenez de Cisneros, Arcebispo de Toledo. Em 1526, a tradução inglesa do Novo Testamento, de William Tyndale, foi queimada em Londres por Cuthbert Tunstal, bispo de Londres. A tradução alemã da Bíblia, feita por Martinho Lutero foi queimada nas partes da Alemanha que estavam sob domínio católico em 1624, por ordem do Papa.
Em 1656, as autoridades de Boston apreen-deram o livro Quaker em público.
Em 1731, o conde Anton von Firmian Leopold – Arcebispo de Salzburg – queimou os livros luteranos.
Em 1933, os cristãos queimaram obras de autores judeus e outros trabalhos considerados “não-alemães”.
A 10 de Maio de 1933, alguns jovens cristãos influenciados pela filosofia nazi queimaram có-pias da Torah.
A 23 de Março de 1984, centenas de cópias do Novo Testamento foram queimadas em forma de cerimónia pelos judeus ortodoxos em Jerusalém.
Na história recente, tem havido vários incidentes de queima de CD’s de música e outros livros de ficção e não-ficção.
Houve vários incidentes com livros do Harry Potter a serem queimados, incluindo aqueles dirigidos por igrejas em Alamogordo, Novo México e Charleston, Carolina do Sul. Discos dos Beatles foram queimados após uma obser-vação de John Lemon a respeito de Jesus Cris-to.
Em 1988, um grupo de cidadãos muçulmanos britânicos queimaram o livro de Salman Rushdie Versículos Satânicos em Londres, seguindo-se a queima do CD de Yusuf Islam, após este ter feito algumas declarações sobre Salman Rushdie.
Em Maio de 2008, um grupo de jovens judeus queimou um grande número de cópias do Novo Testamento Or Yehuda, Israel.
Este é um lado escuro da nossa humanidade. Devemos todos fazer votos no sentido de se tra-balhar para extinguir o fogo do ódio e da intolerância. (Fonte: Religious Social Interfaith – Article Ref:IC1009-4290).