Da autoria de Monsenhor Michael L. Fitzgerald
Pres. do Cons. Pontífice para o Diálogo Religioso
sexta-feira, 12/11/2004
Caros amigos Muçulmanos,
Agora que se preparam para festejar o fim do mês do Ramadão, com a celebração da ‘Id al- Fitr, uma vez mais, como faço anualmente, apresento-vos os melhores votos do Conselho Pontífice para o Diálogo Inter-Religioso, ministério de Sua Santidade, o Papa, para as relações com pessoas de outras religiões. Nas suas preces, muitos foram os Cristãos que pensaram em vós e vos acompanharam neste período de jejum, o qual ocupa uma posição tão importante na vida da vossa comunidade. Logo que possível, vós ensinais aos vossos filhos a respeitarem este mês de jejum, assim desenvolvendo neles o sentido de Deus, a submissão à religião e, ao mesmo tempo, a vontade e o domínio de si mesmo. Deste modo, a família constitui o lugar de excelência para a educação religiosa inicial dos vossos filhos.
Hoje, gostaria de chamar a atenção para as crianças em geral e para o acolhimento que estas deverão receber, nas diversas etapas da sua vida, por parte dos seus pais, da sua família e de toda a sociedade. A criança tem o direito imprescindível à vida e, dentro do possível, de ser acolhida por uma família natural e estável. Do mesmo modo, tem o direito de ser alimentada, vestida e protegida. Além disso, tem o direito de ser educada, de modo a que todas as suas capacidades se desenvolvam e, mais tarde, ela própria proceda a esse mesmo desenvolvimento. Nesta perspectiva, a criança tem o direito a receber tratamento, caso adoeça ou seja vítima de algum acidente. A vida da criança, assim como a vida de qualquer outro ser humano, é sagrada.
Vós entendeis as crianças como uma benção de Deus, especialmente para os pais das mesmas. Nós, Cristãos, partilhamos desta mesma perspectiva religiosa. Mas, a nossa fé Cristã, ensina-nos também a descobrir na criança um modelo para as nossas relações para com Deus. Jesus indicou-nos, como exemplo, a simplicidade da criança, a sua confiança, a sua docilidade, a sua alegria de viver, dizendo-nos, assim, que devemos viver numa submissão confiante em relação a Deus, vendo n’Ele um Pai.
Nos últimos anos, e em diversas ocasiões, encontrámo-nos lado a lado em várias instâncias internacionais, onde confirmámos ou defendemos os valores humanos e religiosos fundamentais. Muitas vezes, o que estava em causa era a defesa dos direitos dos mais fracos, especialmente os da criança, desde o momento em que esta é concebida, até ao momento em que nasce.
Se pelo em diversas partes do Mundo, e relativamente a determinados aspectos, a criança beneficiou do respeito para com os Direitos do Homem, ela continua, todavia, a ser vítima de diversos males. Muitas são as crianças ainda sujeitas a trabalhos penosos, os quais comprometem o seu desenvolvimento físico e psicológico, impedindo-as de frequentar a escola e receberem a instrução a que têm direito. Muitas outras são recrutadas e envolvidas em guerras e conflitos. E foi nelas que o aumento dos abusos sexuais e da prostituição, verificados nos últimos anos, encontrou as suas principais vítimas. A criança tornou-se, principalmente, a nova vítima de determinadas mutações verificadas nas nossas sociedades. De facto, quando a família se separa, é a criança a primeira a sofrer. O desenvolvimento do tráfico e o consumo de droga, especialmente em países pobres, faz-se, muitas vezes, às suas custas. O ignóbil tráfico de órgãos humanos atinge particularmente as crianças. Frequentemente, a tragédia da Sida faz delas pequenos seres contaminados assim que nascem.
Face a todos estes males que atingem as nossas crianças, prezados amigos Muçulmanos, devemos unir esforços, recordando a dignidade de todo o ser humano, cuja existência é da vontade do próprio Deus, denunciando ininterruptamente tudo aquilo que degrade a criança e lutando, com todas as nossas forças, contra estas “estruturas de pecado”, citando, aqui, uma expressão utilizada pelo Papa João Paulo II. Temos perfeita consciência de que o futuro de toda a Humanidade depende do futuro das crianças. Assim sendo, espero que a nossa cooperação ao serviço das crianças continue e, inclusive, se desenvolva, proporcionando, assim, à Humanidade de hoje, uma das provas do carácter benéfico da religião para toda a comunidade humana.
Que neste mês do Ramadão, possam as vossas crianças sair fortalecidas com o cumprimento de obras be- néficas! Que elas aprendam, também, a resistir às felicidades ilusórias e aos prazeres efémeros, de modo a conquistarem uma liberdade interior e a melhor se submeterem a Deus! Que elas concedam, assim, um testemu- nho da importância dos valores religiosos! Uma vez mais, afirmo a minha oração a Deus Todo-Poderoso e Misericordioso, por vós e pelas vossas crianças em particular. Que Ele derrame sobre vós as Suas benções, fortifique as vossas famílias e as torne magnânimas e que Ele conceda, a cada um de vós, a Sua paz!