Por Yiossuf Adamgy
Segundo a Comunicação Social, Van Gog era “um desbocado – ganhou cartel como livre-pensador, foi sistematicamente despedido dos principais jornais de referência holandeses. Ofensas aos leitores. O próprio Van Gogh gostava de exemplificar: “escrevi um dia que sou muito religioso e que o meu ser supremo é um porco cujo nome é Alá”.”. Agente provocador, qualificou um Imame de Amesterdão como “Chulo de Alá”. Definia os Muçulmanos como “fornicadores de cabras”, afirmação que é seguramente deveras forte, quiçá abusiva e insultuosa. Mas – como dizia Joaquim Vieira num artigo publicado na revista mensal da Grande Reportagem – “só deve viver na Europa e na democracia quem aceita que tais termos fazem parte da liberdade de expressão que assiste a qualquer cidadão, e que é legítimo rebatê-los por meios pacíficos, mas não pelo assassínio”. A violência gera violência. Por outro lado, deverá ter-se em conta, também, que a nossa liberdade termina onde co- meça a do outro.
Veja-se a conjuntura actual do mundo Islâmico. Veja-se a conjuntura actual do que é a actual Comunicação Social, dita ocidental e poderosa. Todos os dias, na Comunicação Social ouvimos, vimos e lemos o seguinte: ‘Um bombista suicida faz-se explodir num autocarro cheio de mulheres e crianças, em Telavive: Turistas estrangeiros são massacrados, pelos fundamentalistas islâmicos, numa estância balnear em Luxor. Carro armadilhado explode em Falluja, Iraque. Etc. etc.. A lista dos acontecimentos em todo o mundo que vieram a simbolizar o “Terror Islâmico”, são infindáveis. Desde os anos 70 e 80 todos estes incidentes viriam a ser identificados com a religião do Islão. Tais incidentes desde o passado até ao presente têm, sem dúvida, afectado os Muçulmanos em todo o Mundo e ainda mais no Ocidente. Qualquer Muçulmano que queira praticar a sua religião e expressar o desejo pio de viver islâmicamente é catalogado de fundamentalista ou extremista. Qualquer homem Muçulmano que cami- nhe ao longo de uma movimentada rua em Londres ou Paris (e em Paris ainda mais) com uma barba e um topi ou outra coberta na sua cabeça, é olhado como “terrorista islâmico” …. As mulheres Muçulmanas que usem véu (lenço) não podem ir a nenhum lado no mundo Ocidental sem serem criticadas como sendo oprimidas ou estarem loucas ou atrazadas (pelo facto de se cobrirem).
Uma das grandes falhas que tem surgido no Ocidente é julgarem o Islão pela conduta de uma minoria de pessoas islâmicas. Segmentos da sociedade Ocidental têm muitas vezes empolado as acções desesperadas de alguns Muçulmanos e deram-lhe o nome do Islão. Tal catalogação claramente que não é objectiva e procura distorcer a percepção do Islão. São tais crenças e opiniões sobre o Islão realmente justificadas? E como devem ser combatidas?
É certo que, com a ocupação ilegal do território Palestiniano e com a invasão ilegítima do Iraque, porque foi ao arrepio das leis internacionais, a Co- munidade Islâmica mundial também se sente, pelo seu lado, humilhada e violada, o que só veio agra- var as tensões civilizacionais e culturais, originando um perigoso espírito de cruzada e anticruzada.
Os Muçulmanos e as Comunidades Islâmicas devem combater tudo isso com informação correcta, através de todos os meios de difusão, do que verdadeiramente diz a mensagem do Islão: uma religião de tolerância, amor, fraternidade, justiça e compaixão, rejeitando a violência, o extremismo e o terrorismo.
Por sua vez, os governos na Europa devem tomar as medidas para um maior e equilibrado acompanhamento da comunidade imigrante. Não há dúvidas de que o caminho do extremismo começa quando outros são marginalizados da sociedade.
Está de parabéns, pois, Portugal que, recentemente, por intermédio do secretário de Estado Adjunto do ministro da Presidência, Feliciano Barreiras Duarte, anunciou em Argel a criação em Portugal de uma unidade de missão para o diálogo com as religiões, que, na verdade, “poderá revelar-se um instrumento precioso para a compreensão da diversidade religiosa e para o fomento de um espírito de tolerância religiosa no nosso país”.