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O espírito de tolerância no Islão

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

A intolerância está a aumentar no mundo actual, causando a morte, o genocídio, a violência, a perseguição religiosa, bem como confrontos a outros níveis. Por vezes, é de natureza racial ou étnica, noutras de teor religioso e ideológico e noutras ainda de carácter social e político. Mas, em todas as circunstâncias, é sempre condenável e dolorosa. Como poderemos resolver o problema da intolerância? Como poderemos defende as nossas crenças e pon-tos de vista sem sermos intolerantes para com os outros? Como poderemos alcançar a tolerância no mundo actual?

Gostaria de debater estas questões de acordo com a perspectiva islâmica.

O que significa a palavra “tolerância”? Literalmente, a palavra significa “suportar”. Enquanto conceito, a “tolerância” representa “respeito, aceitação e apreciação pela rica diversidade das culturas do mundo, das formas de ex-pressão e costumes humanos”. Em língua árabe, a palavra que designa a tole-rância é “Tasamuh”. Existem, para além dessa, outras palavras com significados semelhantes, tais como “Hilm” (indulgência) ou “`Afu” (perdão, indulto) ou “Safh” (fechar os olhos a, não prestar atenção). Nas línguas persa e urdu, usamos a palavra “rawadari”, que deriva de “rawa” e significa “aceitável ou suportável” e “dashtan”, que significa “considerar”. Assim sendo, significa considerar algo aceitável ou suportável.

A tolerância é um princípio básico do Islão. É um dever moral e religioso. Não implica “concessão, condescendência ou indulgência”. Não remete para a perda de princípios ou falta de seriedade em relação aos mesmos.

Por vezes, diz-se que “as pessoas são tolerantes relativamente às coisas pelas quais têm interesse”. Mas não é isto que acontece no Islão. Na perspectiva do Islão, a tolerância não significa que todas as religiões sejam iguais. Não significa que não acreditamos na supremacia do Islão sobre todas as outras fés e ideologias. Não quer dizer que abdicamos de transmitir a mensagem do Islão aos outros e que não desejamos que eles se tornem muçulmanos.

Os princípios da UNESCO respeitantes à tolerância são os seguintes:

“Consistente com o respeito pelos direitos humanos, a prática da tole-rância não significa a tolerância da injustiça social, o abandono ou debilitar das convicções do indivíduo. Significa que somos livres para defender as nossas próprias convicções e aceitamos que os outros defendam as deles. Implica aceitar que os seres humanos, naturalmente diferentes entre si na sua aparência, situação, discurso, comportamento e valores, têm o direito de viver em paz e ser como são. Significa também que os nossos pontos de vista não devem ser impostos aos outros”.

A tolerância advém do facto de reconhecermos:

  1. a dignidade dos seres humanos,
  2. a igualdade básica entre todos os seres humanos,
  3. a universalidade dos direitos humanos, e
  4. a liberdade fundamental de pensamento, consciência e religião.

O Alcorão fala acerca da dignidade básica dos seres humanos. O Profeta, que a paz e a bênção de Deus estejam com ele, abordou a questão da igualdade dos seres humanos, independentemente da sua raça, cor, língua ou origem étnica. A Chari’ah reconhece o direito à vida de todos os seres humanos, bem como o seu direito à propriedade, família, honra e consciência.

O Islão acentua a importância da instituição da igualdade e justiça, sendo que nenhum destes valores pode ser instituído sem algum grau de tolerância. O Islão reconheceu desde o início o princípio da liberdade em relação à crença, ou liberdade religiosa. Defende, muito claramente, que não é permitido exercer qualquer coerção no que respeita às questões da fé e da crença. O Alcorão afirma: “Não existe imposição na religião”. (Al-Baqarah, 2:256)

Se em questões religiosas a coerção não é permitida, então, implicitamente, poder-se-á dizer que na cultura ou outras práticas mundanas também não será lícita. Na Surat Ach-Chura, Deus (ár. Allah) disse o seguinte ao Profeta (p.e.c.e.): “Mas se eles se afastarem, Nós não te enviamos junto deles como guardião. O teu dever é apenas transmitir (a Mensagem)…” (Ach-Chura, 42:48).

Noutra passagem, Deus afirma: “Convida (todos) a seguir o Caminho do teu Senhor com sabedoria e pregação bela, e dialoga com eles da melhor e mais graciosa forma. O teu Senhor sabe bem quem são aqueles se afastam do Seu Caminho e aqueles que aceitam a orientação.” (An-Nahl, 16:125)

Além disso, Deus disse aos crentes: “Obedecei a Deus, obedecei ao Mensageiro e precavei-vos; mas se vos desviardes, sabei que ao Nosso Mensageiro só cabe a proclamação da mensagem lúcida.” (Al-Ma’idah, 5:92)

Podemos igualmente citar outras palavras de Deus: “Obedecei a Deus e obedecei ao Mensageiro. Porém, se vos recusardes, sabei que ele (o Mensageiro) é só responsável pelo que lhe está encomendado, assim como vós sereis responsáveis pelo que vos está encomendado. Mas se obedecerdes, encaminhar-vos-eis, porque não incumbe ao Mensageiro mais do que a proclamação da lúcida Mensagem. (An-Nur, 24:54)

Todos estes versículos denotam que os muçulmanos não exercem coerção sobre as pessoas. De-vem apresentar a mensagem da forma mais convincente e explícita e convidá-las para a verdade, dando o seu melhor na transmissão e apresentação da mensagem de Deus às pessoas. No entanto, cabe às pessoas aceitar ou não essa mensagem. De

us afirma: “E diz: ‘A verdade vem do Vosso Senhor; assim, aquele que o entender acredite, enquanto aquele que assim o desejar o renegue.”

Surge então a seguinte questão:

Se Deus concedeu a escolha de acreditar ou não acreditar, então por que razão castigou Ele o povo do Profeta Nuh, o Ad, o Thamud, o povo do Profeta Lut e o povo do Profeta Shu`aib, bem como o Faraó e os seus seguidores?

A resposta está no próprio Alcorão. Estes povos não foram castigados pela simples razão de não serem crentes. Foram castigados por se terem tornado opressores. Cometeram agressões contra os indivíduos virtuosos e impediram outros de seguirem o caminho de Deus. Muitos foram aqueles que, em todo o mundo, renegaram a Deus, e Deus não os castigou a todos. Ibn Taymiyah, o notável escolástico Muçulmano, afirmou o seguinte: “As nações poderão continuar a viver por longos anos apesar da descrença do seu povo (kufr), mas não poderão sobreviver muito, caso este se torne num agressor.”

Outra questão se levanta, relacionada com a Jihad. Há pessoas que perguntam o seguinte:

“Não é um dever dos muçulmanos fazer a Jihad?”

Mas o propósito da Jihad não é a conversão das pessoas ao Islão. Deus afirma: “Não existe imposição na religião.” (Al-Baqarah:256). O verdadeiro propósito da Jihad é acabar com a injustiça e com a agressão. É permitido aos muçulmanos manterem boas relações com os não-muçulmanos. Deus afirma: “Deus não vos proíbe de mostrar bondade e de agirem de forma justa com aqueles que não se opuseram à vossa religião e que não vos despojaram das vossas casas… “(Al-Mumtahanah, 60 : 8)

O Islão ensina que apenas se deve lutar contra aqueles que nos fazem luta. Deus afirma: ” Combatei, pela causa de Deus, aqueles que vos combatem; porém, não pratiqueis agressão, porque Deus não estima os agressores.” (Al-Baqarah, 2:190)

O Islão pode tolerar tudo, mas ensina a ter tolerância zero para com a injustiça, a opressão e a violação dos direitos dos outros seres humanos. Deus afirma: “E o que vos impede de combater pe-la causa de Deus e dos indefesos, homens, mulheres e crianças que dizem: Ó Senhor nosso, tira-nos desta cidade (Makkah), cujos habitantes são opressores. Designa-nos, de Tua parte, um protector e um socorredor!” (An-Nisa’, 4: 75)

O Islão ensina a tolerância a todos os níveis: individual, colectiva e entre nações. A tolerância deveria ser considerada um requisito político e legal. A tolerância é o mecanismo que sustenta os direitos humanos, o pluralismo (incluindo o pluralismo cultural) e o estado de direito. O Alcorão afirma muito explicitamente: “Temos prescrito a cada povo ritos a serem observados. Que não te refutem a este respeito! E invoca o teu Senhor, porque segues uma orientação correcta. Porém, se te refutam, dize-lhes: Deus sabe melhor do que ninguém o que fazeis! Deus julgará entre vós, no Dia da Ressurreição, a respeito de vossas divergências. (Al-Hajj, 22:67-69)

Existem muitos níveis de tolerância:

  • Entre familiares, entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos, etc.
  • Tolerância entre membros da comunidade: no que respeita a perspectivas e opiniões e tolerância entre as Madhahib (Escolas Jurídicas Islâmicas).
  • Tolerância entre os Muçulmanos e os crentes de outras fés (relações entre fés, diálogo e cooperação).

Os Muçulmanos foram sempre, geralmente, um povo tolerante. Devemos realçar esta virtude entre nós e no mundo actual. As nossas comunidades necessitam de tolerância: devemos fomentá-la através de políticas e esforços intencionais. Os nossos centros devem ser multiétnicos. Devemos ensinar os nossos filhos a respeitar o próximo. Não devemos generalizar acerca de outras raças e culturas. Devermos realizar mais visitas de intercâmbio e encontros uns com os outros. Até os casamentos entre muçulmanos de diferentes grupos étnicos deverão ser encorajados.

Com os não-muçulmanos, devemos manter o diálogo e boas relações, mas não podemos aceitar coisas que vão contra a nossa religião. Devemos informá-los, adequadamente, sobre o que é ou não aceitável para nós.

Se houver mais informação, estou certo de que o respeito se intensificará, assim como a cooperação.

Que Deus nos oriente para a senda recta.

Wassalam.

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