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O pecado (dzamb) no Islão‏â€

Fonte: Instituto de Informação Islâmica e Educação (EUA) e Webislam (Espanha)
(in Revista Al Furqán, nº. 184, de Novembro/Dezembro.2011)

O Islão rejeita a teoria do “pecado original” e, portanto, toda a metafísica e o conceito historicista associados a ela.

Para entender o lugar do pecado no Islão deve partir-se de uma das ideias centrais na antropologia Alcorânica. O Alcorão ensina que Deus criou o homem em estado de ‘fitrah’, num estado de natureza, e a natureza primitiva do ser humano é essencialmente nobre, saudável e inocente. Um desenvolvimento humano normal levou-o a promulgar as suas qualidades inatas, como o desejo de justiça, a generosidade, a compaixão, o amor, a verdade, a sinceridade, a coragem, a humildade, a paciência e a cortesia para com os outros.

Um pecado é, então, qualquer acção que fazemos contra nós mesmos, uma traição da nossa natureza original. Então, ao invés de “pecados”, nós gostamos de falar de “transgressões”. O homem que rouba por ganância sabe, dentro de si mesmo, que esta o destrói, está a fazer mal não só ao outro mas a si mesmo. Orgulho, vaidade, luxúria, ira, gula… deixam a descoberto as nossas carências, o quão desviados estamos de nós mesmos, como que desorientados, sem um objectivo a preencher-nos. O homem que vive orientado para Deus, livra-se do pecado naturalmente, não por repressão, mas porque nesta orientação para o divino se realiza como ser humano. É ao colocar em acção as suas nobres qualidades que o separa de cometer atos vis.

Ainda assim, há consciência de que o ser humano é uma criatura limitada, longe de ser perfeita. O hadith diz: “Toda criatura de Deus comete erros”. O pecado é visto como parte da vida quotidiana, como algo que deve ser tratado normalmente, como parte do decreto de Deus, não gera grandes sentimentos de culpa e atitudes trágicas. Quando um homem vai ao Profeta Muhammad (s.a.w.) e confessa que cometeu adultério, a resposta imediata é: você pediu a Deus perdão? Quando o homem balança a cabeça, Muhammad (s.a.w.) diz: “então, cobre-o com o véu de Al-lâh (Deus em arábico).” Isto é, sendo o pecado de uma traição a nós mesmos, é na intimidade da consciência que se encontra a sua resolução de uma forma natural, e não ganhamos nada na aeração. Daí a importância de ‘magfirat’ (pedindo perdão a Deus) e ‘tauba’ (retorno a Deus ou arrependimento), central para as práticas religiosas dos muçulmanos.

O Profeta Muhammad (s.a.w.) pediu a Deus o perdão uma centena de vezes por dia, sendo a pessoa mais bondosa que se pode imaginar. No entanto, ele estava perfeitamente consciente de que pertence exclusivamente a Deus e que o homem vive sujeito a forças além dela. Portanto, o pecado é considerado normal. Disse o Mensageiro de Allah (paz e bênçãos estejam com ele), que aquele que se arrepende de seus pecados é como aquele que não pecou. Também disse: Quando Deus sabe o seu Servo se arrepende daquilo que fez, ainda que não o tenha dito, perdoa-o antes mesmo que ele se arrependa. E mais: Mesmo aqueles que pecaram tanto que os seus pecados empilhados chegassem ao céu… Deus irá aceitar o seu arrependimento.

Indulgente (al-Gafur) é um dos atributos ou nomes de Deus no Alcorão. Abu Ayyub al-Ansa-ri, quando estava em seu leito de morte, recordou a seguinte tradição profética: “Se a humanidade não tivesse pecado, Deus a teria levado e trocado por pecadores para poder perdoá-los”.

As acções consideradas ‘dzunub’ (pecados ou transgressões) no Islão são basicamente o mesmo que em outras religiões: a cobiça, luxúria, ira, gula… Agora há uma diferença fundamental em relação ao cristianismo: o Islão rejeita a teoria do “pecado original” e, portanto, toda a concepção metafísica e historicista ligado a ele. No Alcorão, Deus diz que todos somos criados num estado de bem, e que perdoou a Adão e Eva. Ele diz-nos que todos são responsáveis pelos seus próprios pecados e acções, ninguém tem a culpa do pecado do outro e que a salvação vem de Deus somente. A ideia de que os seres humanos têm o pecado de Adão (paz esteja com ele) é estranha para nós, e inclusivamente, consideramo-la como um mito. O Islão também é estranho à ideia de que através do sacrifício de Jesus (paz esteja com ele) a humanidade está redimida.

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