Coordenado por: M. Yiossuf Adamgy (16/06/2008)
Poderei não estar a exagerar se afirmar que, nos anais da humanidade, não houve outro homem que fosse tão amado ou vilipendiado quanto Muhammad (s.a.w. = a paz e as bênçãos de Deus estejam com ele), o Profeta do Islão. Para os muçulmanos que se mantêm fiéis, ele foi o melhor homem que Deus criou no seio de toda a humanidade.
O poema que apresento abaixo, da autoria de Hassan ibn Thabit (r.a. = que Deus esteja satisfeito com ele) mostra o que sentiam os Companheiros do Profeta Muhammad (s.a.w.) por ele:
Por Deus, jamais alguma mulher concebeu ou deu à luz
A alguém comparável ao Apóstolo, o Profeta e guia do seu povo;
Nem jamais criou Deus, entre todas as suas criaturas,
Um ser que se mantivesse mais fiel aos seus visitantes e às suas promessas,
Do que aquele que foi a fonte de luz,
Abençoado nas suas acções, justo e honesto.
– (Sirat Rassulallah, por Muhammad Ibn Ishaq).
Muçulmanos não pronunciam o nome de Muhammad (s.a.w.) sem que antes lhe façam a seguinte saudação: sal-lal lahu alayhi wa sal-lam (que significa: que a paz e a bênção de Deus estejam com ele, que aqui se abrevia através da utilização do [s.a.w.]). O testemunho de fé dos muçulmanos inclui a seguinte frase: “Não existe outra divindade além de Deus e Muhammad é o Mensageiro de Deus”. Durante o chamamento para a oração (ad’han), que é realizada cinco vezes por dia, desde as horas que antecedem o amanhecer até ao anoitecer, estas mesmas palavras são repetidas nos minaretes das Mesquitas, exortando os muçulmanos a irem rezar a Deus. O muçulmano ou muçulmana deve terminar a sua oração com uma súplica a Deus, pedindo as bênçãos e dádivas para o Profeta e para a sua família que Deus concedeu a Abraão e à sua família (Ibrahim alayhis salam). Para os cristãos fiéis, Muhammad (s.a.w.) é, por outro lado, o blasfemo de Cristo. Não é assim surpreendente que não tenha existido na história da Europa e dos Estados Unidos um único período desde a Idade Média em que se tenha discutido ou reflectido globalmente o Islão fora do contexto movido pelo ódio, preconceito ou interesses políticos (vide “O Islão visto pelos olhos do Ocidente”, da autoria do falecido Professor Edward Said). A verdade é que a difamação anti-islâmica é mais antiga que as próprias Cruzadas.
Com efeito, desde o tempo de John of Damascus (c.675-c.749), o Islão tem sido descrito como uma heresia cristã, sendo o seu fundador considerado um falso Profeta. John defendeu que o Alcorão não foi revelado como escritura, sendo sim uma criação do Profeta Muhammad (s.a.w.), concebida com o auxílio de um monge cristão. (Ver a dissertação deste autor “A Análise da Difamação Anti-islâmica” para ficar a par de um debate minucioso sobre esta questão).
Nos últimos anos, em consequência do 11 de Setembro, o ataque contra o Islão e o Profeta Muhammad (s.a.w.), nos países não-muçulmanos, teve tendência a aumentar exponencialmente. No seio deste novo ódio, a maioria dos cristãos tem tendência a esquecer a Carta de privilégios que foi concedida pelo Profeta (s.a.w.):
“Esta é uma mensagem de Muhammad ibn Abdullah, representando um pacto estabelecido com todos aqueles que adoptarem a cristandade, perto ou longe, garantindo que estaremos a seu lado. Na verdade, tanto eu como os meus servos, os meus ajudantes e seguidores os auxiliarão, pois os cristãos são meus cidadãos e, por Allah, eu defendê-los-ei de tudo quanto for do seu desagrado.
Não devem ser obrigados a nada e os seus juízes deverão permanecer nos seus postos, tal como os monges nos seus mosteiros. Nenhuma das suas casas deverá ser destruída ou danificada, nem nada deverá ser retirado do seu interior para ser levado para a casa de muçulmanos.
Se algum bem for retirado, tal procedimento irá pôr em causa o pacto de Deus e constituir desobediência face ao Seu Profeta. Eles são, na verdade, meus aliados, e têm a minha carta de segurança. Ninguém os poderá obrigar a viajar ou forçá-los a lutar, pois os muçulmanos deverão lutar por eles. O casamento de uma mulher cristã com um muçulmano só se deverá efectuar mediante a aprovação dela. E, caso tal aconteça, ela não deve ser impedida de frequentar a sua igreja todos os dias para rezar. As suas igrejas devem ser respeitadas. Não devem ser impedidos de procederem a reparações nestes templos, nem devem ser despojados da inviolabilidade dos seus pactos. Nenhum indivíduo da nação muçulmana deverá desobedecer ao pacto até ao Último Dia (o fim do mundo).”
Foram estas as preciosas palavras que o Profeta Muhammad (s.a.w.) proferiu no ano de 628 D.C., quando outorgou aos monges do Mosteiro de Sta. Catarina, no Monte Sinai, este documento histórico, também conhecido por Carta de Princípios. Tal como podemos constatar, esta Carta de Princípios, concebida 13 séculos antes da promulgação da (moderna) Carta Universal dos Direitos Humanos, era constituída por várias cláusulas que abordavam todas as vertentes dos direitos humanos, inclusivamente tópicos como a protecção dos cristãos (a minoria) que viviam sob as regras muçulmanas: o seu direito à liberdade religiosa, de deslocação, de nomeação de juízes próprios, o seu direito de aquisição e manutenção de bens, bem como a sua isenção relativamente ao serviço militar e o direito à protecção em caso de guerra.
Parece estranho? Deixará de o ser se nos lembrarmos que em 622 D.C., o ano da migração do Profeta (Hijrah) desde Makkah (Meca) a Madinah (Medina), Muhammad (s.a.w.) assinou um Tratado entre os muçulmanos, os árabes não-muçulmanos e os judeus de Medina, que foi passado à escrita e ratificado por todas as partes envolvidas. Este tratado estipulava o seguinte:
“Em nome de Allah, o Beneficente, o Misericordioso. Este é um documento de Muhammad, o Profeta de Deus, que tem como objectivo administrar a relação entre os crentes que vivem entre os Coraixitas (os emigrantes de Meca, por exemplo) e os Yathribitas (por exemplo, os habitantes de Yathrib, Medina) e aqueles que os seguem, tendo-se unido a eles e, em consequência de tal, encetado esforços para os ajudar. Todos eles formam uma única comunidade que se opõe ao resto de toda a humanidade. Todos aqueles que, entre o povo judeu, optarem por nos seguirem, terão a nossa ajuda e serão tratados como iguais. Não lhes deverá ser feita nenhuma ofensa, não devendo ser auxiliado qualquer dos seus inimigos. Deve ser-lhes dado o direito de manterem a sua religião, e o mesmo direito deve ser dado aos muçulmanos. A lealdade é uma forma de protecção contra a traição… O Vale de Yathrib (Medina) deverá ser considerado sagrado e inviolável para todos aqueles que assinarem este Tratado. Allah é o Garante da piedade e da bondade que estão implícitas neste Tratado. Deus aprova a verdade e boa vontade presentes neste Tratado. Este tratado não protegerá os criminosos e injustos. Todos aqueles que partirem para lutar, bem como aqueles que ficarem em casa, estarão a salvo e em segurança nesta cidade, a menos que tenham cometido uma injustiça ou praticado um crime. Deus protege as pessoas virtuosas e tementes a Deus”.
Assim era Muhammad (s.a.w.), que nunca faltou ao prometido. Ele era o indivíduo mais digno de confiança, sendo igualmente o mais generoso dos homens. Fosse um dinar (moeda de ouro), fosse um dirham (moeda de prata), nenhum deles ficaria em sua posse sem que fosse gasto com os mais necessitados. Nunca deixou de dar algo que lhe tenham pedido. Dava prioridade aos necessitados em detrimento da sua própria pessoa e família.
Ali (r.a.), um dos Companheiros mais chegados do Profeta, afirmou o seguinte:
“Ele (o Profeta Muhammad) foi o homem mais generoso de todos os homens, o mais sincero e verdadeiro. Foi também o mais cumpridor e aquele que possuiu a personalidade mais nobre, sendo o homem que mais bondoso foi para com a família. Todos aqueles que com ele tinham contacto, sem disso estarem à espera, foram inundados por um enorme respeito; todos aqueles que com ele privavam, respeitavam-no. O Profeta confortava aqueles que ficavam demasiado inibidos na sua presença: “Está à vontade. Não sou um rei, nada mais sou do que o filho duma mulher do povo de Coraixe, que come carne seca”. Era tão humilde que, quando alguém o chamava pelo nome, respondia: “Ao seu serviço!” Quando lhe faziam perguntas sobre a sua humildade, ele respondia: “Fui enviado para desenvolver as mais nobres carac-terísticas de personalidade”.” [Ihya Ulum al-Din, de Imam al-Ghazzali (R)].
Muhammad não frequentou qualquer grau de escolaridade; ainda assim, foi o sábio com mais conhecimentos da sua era. Que a paz e a bênção de Deus estejam com ele.