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Reformas islâmicas – diferentes abordagens

Coord. por: M. Yiossuf Mohamed Adamgy
In Revista Al Furqán, nº. 161, de Janº./Fevº. 2008

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

DEFINIçãO DE REFORMA:

Através da reforma devemos conseguir interpretar quer um texto, quer um manifesto de carácter ideológico, para que estes permaneçam relevantes para o público e adequados ao momento presente, que se insere num determinado contexto histórico.

O Islão não é excepção ao que atrás foi dito, sendo uma religião que tem os seus fundamentos num texto delineado por um Mensageiro de Deus há 1400 anos, texto que pretende ser pertinente nas diversas eras da sua história, onde vai ocorrendo um processo de adaptação contínua.

Por exemplo, há vinte anos ninguém pensaria que os muçulmanos voltassem ao seu Texto, QUESTIONANDO-SE SOBRE O TRANSPLANTE DE ÓRGÃOS, tendo tal só acontecido nessa altura, porque antes esses transplantes não existiam. Aqueles que defendem que a religião islâmica proíbe o transplante de órgãos citam Iman Shafi que afirmou: “é haram (ilícito) deformar o corpo humano”. Mas poderemos considerar o transplante de órgãos uma deformação do corpo humano? A resposta é: não.

A reforma é isto mesmo. A palavra “reforma” choca alguns muçulmanos que consideram que o seu objectivo é alterar a religião, mas ela é necessária e indispensável ao Islão, visto que O ISLÃO FOI A ÚLTIMA MENSAGEM ENVIADA POR DEUS E DEVE ADAPTAR-SE À CERTA MUDANÇA ATÉ QUE CHEGUE O DIA DO JULGAMENTO. A Religião Islâmica foi criada para retirar da escuridão e trazer à luz a Humanidade.

“ALIF, LAM, RA. UM LIVRO QUE TE TEMOS REVELADO PARA QUE RETIRES A HUMANIDADE DAS TREVAS (E OS CONDUZAS) PARA A LUZ, COM A ANUêNCIA DE SEU SENHOR, E OS ENCAMINHES ATÉ À SENDA DO PODEROSO E DIGNO DE TODOS OS LOUVORES.” – (Alcorão 14:1).

“… QUANTO À ESPUMA ELA DESAPARECE COMO A ESCÓRIA DOS METAIS NA AREIA, ENQUANTO QUE ISSO, QUE É ÚTIL PARA OS HOMENS, PERMANECE NA TERRA. E ASSIM ALLAH EXEMPLIFICA AS SUAS PARÁBOLAS”. – (Alcorão 13:17).

Neste mundo, há coisas que são passageiras, outras que perduram e outras que ficam, sendo as últimas as que são boas para a humanidade. “SOIS A MELHOR COMUNIDADE QUE SURGIU NA HUMANIDADE, PORQUE RECOMENDAIS O BEM, PROIBIS O ILÍCITO E CREDES EM DEUS” – (Alcorão 3:110).

Não obstante ser uma tradição profética, usar ou não barba NÃO é uma questão do interesse da humanidade, pois não é um assunto que diga respeito à humanidade em geral, não é algo que vá alterar o modo de vida das pessoas. A não existir reforma, cairemos nas profundezas da irrelevância e o Islão será mais uma religião da antiguidade.

O Islão passaria à história se não interagisse com as próprias células da vida de forma a intervir nela.

A PERGUNTA É: COMO DEVE SER FEITA A REFORMA?

Deus ao revelar o Islão integrou nele um instrumento ou mecanismo capaz de fazer a reforma sem quebrar a sua estrutura. NÃO É NECESSÁRIO SAIRMOS DA RELIGIÃO ISLÂMICA PARA A FAZERMOS. A reforma tem por base o Alcorão, os Ahadice e a história.

A REFORMA É MENCIONADA NO ALCORÃO:

“Ó CRENTES! TEMEI A DEUS E QUE CADA ALMA CONSIDERE O QUE TIVER OFERECIDO, PARA O DIA DE AMANHÃ; TEMEI, POIS, A DEUS, POIS ELE ESTÁ INTEIRADO DE TUDO QUANTO FAZEIS” – (Alcorão, 59:18).

O dia de amanhã é o futuro que separa o dia de hoje do Dia do Julgamento. O Alcorão diz-nos para nos prepararmos para o futuro nesta vida e para o que virá depois.

A REFORMA É MENCIONADA NO HADICE:

A reforma tal como é referida no hadice do Profeta (s.a.w.) permitia ao povo interpretar as coisas que consideravam serem boas. Numa determinada ocasião, havia um homem que tinha de tomar um banho purificante (ghusl), mas que preferia fazer uma limpeza simbólica através do pó (Taymmum) porque a água estava muito fria. Houve um membro do grupo que argumentou que o homem não podia fazer Taymmum quando ali existia água e, assim sendo, o homem tomou um ghusl e morreu em consequência dele. O Profeta Muhammad (paz esteja com ele) repreendeu o grupo quando soube do sucedido. Uma hadith com as mesmas consequências é relatada por Abu Daud e Ibn Majah.

A REFORMA É MENCIONADA NO CONTEXTO HISTÓRICO:

No contexto histórico, por exemplo a reforma do Califa Umar (r.a.) consistiu em grandes adaptações para que houvesse uma adequação à realidade. O castigo por roubo era adiado se a sua causa fosse a pobreza. O saque proveniente da guerra costumava ser dividido pelos soldados, mas quando estes tomaram o Iraque, as terras do país não foram divididas com base nessa regra existente porque a mesma iria criar um sistema feudal e Umar interpretou o seguinte versículo: “A riqueza não deve circular apenas entre os abastados.” (Alcorão 59:7).

Imame Shafii concebeu duas correntes ou teorias válidas durante a sua vida. A Antiga e a Nova. Ele próprio aconselhou o abandono da Antiga e a aprendizagem da Nova. Ele terá escrito a Antiga no Iraque e, mais tarde, quando voltou a ser colocado no Egipto, escreveu a Nova e alterou toda a teoria, afirmando que a Antiga era boa para aquelas pessoas naquele lugar, mas que esta era desadequada a quem estava no Egipto.

Ainda hoje alguns dos seus seguidores se opõem a qualquer espécie de reforma.

AS DIFERENTES CORRENTES DE PROPOSTAS DE REFORMA:

  1. A Reforma da Hegemonia Ocidental:
    Pede-se um esforço no sentido de haver uma maior aceitação da parte do Islão de determinadas normas e práticas que são impostas pela hegemonia ocidental. Esta é a reforma para a exploração das massas. Se alguém nos pedir para, por exemplo, analisar se o Islão é compatível com a democracia, não há qualquer problema nisso, mas se, por outro lado, nos disserem: “Desejamos um Islão que não se oponha à forma como a riqueza é distribuída no nosso país”, aí sim, já haveria um problema. É problemático quando afirmam: “Desejamos um Islão que não se oponha às políticas estrangeiras que beneficiam a opressão.”
  2. Definições:
    O debate sobre a definição de reforma é para se tornar moderado, sendo que o conceito de moderação não é definido por nós, mas definido por outros, para nós. Um muçulmano moderado é, por exemplo, “aquele que bebe álcool com moderação”, mas “um muçulmano moderado pode ser também aquele que apoia as medidas do governo de Israel”. Eles pretendem que a palavra “Jihad” seja apagada do texto. Mas para os muçulmanos, a “Jihad” é um todo que inclui a purificação espiritual, gastar dinheiro na prática do bem e ter o direito de defesa se formos atacados. Isto é algo que não é aceite no Ocidente. Basta definirmos o conceito de “Jihad” e somos considerados extremistas.

Um muçulmano não praticante é considerado Muçulmano progressista, enquanto que a pessoa que reza cinco vezes por dia e não tem relações extra-matrimoniais é rotulada como inflexível e fundamentalista.

3- Os falsos Profetas da Reforma: São os muçulmanos que rejeitam o Islão e que conseguem reconhecimento e riqueza denunciando outros muçulmanos, são aqueles que ofendem o Islão e que são considerados muçulmanos reformistas. Essas pessoas sentem algum ressentimento, pois nem são considerados muçulmanos, nem têm a credibilidade para liderar uma mudança.

A Reforma de que estamos a falar É A REFORMA QUE EMANA DA ESTRUTURA DO PRÓPRIO ISLÃO.

  1. A natureza do Alcorão fala-nos do espírito, de comportamento, mas, proporcionalmente, fala-nos de regras, recomendando normalmente bases de regras. Por exemplo: “… ELES DEVEM RESOLVER OS SEUS ASSUNTOS, CONSULTANDO-SE UNS AOS OUTROS” – (Alcorão, 42:38). Esta regra significa a INEXISTêNCIA DE UMA DITADURA, que as pessoas devem ter o direito de intervir (democracia) e que a forma deve ser ajustada à especificidade de cada contexto. De acordo com esta perspectiva defende-se a existência de um parlamento, congresso ou qualquer instituição adequada em termos temporais e de localização. Ora este é um esforço humano e não divino, seremos assim flexíveis sem quebrarmos as estruturas do Islão.
  2. Os objectivos/finalidades finais da Charia (para a compreensão dos cinco objectivos finais):
    • a preservação da vida;
    • a liberdade religiosa;
    • o direito de ter uma estrutura familiar;
    • o direito à propriedade;
    • o direito a manter impoluta a mente e o espírito.

Por exemplo, se a lei da família no Paquistão não se adequa ao reconhecimento do direito à justiça da mulher, então que a mesma seja alterada. Essa lei não é sagrada. A jurisprudência deve procurar o bem das pessoas.

Assim, tendo em conta os objectivos e finalidades do Islão, podemos, com efeito, devemos, desenvolver um movimento de reforma, que parta de dentro do Islão e que tenha por base a sua estrutura e espírito.

E Deus é Quem sabe melhor.

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