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Islão e Ocidente deveriam aprender um com o outro

Por Fatema Hassan (in The Muslim News, U.K., nº. 120)
Tradução de: M. Yiossuf Adamgy

O Dr. Mustafa Ceric, Rais al-‘Ulama e Grande Mufti da Bósnia, foi convidado a orar na Conferência do Islão e do Ocidente que teve lugar na London School of Economics.

O Dr. Ceric abordou assuntos relacionados com os Muçulmanos que habitam no Ocidente. Ele afirmou ‘Actualmente, quando alguém fala em nome do Islão, é acusado de tentar converter ou avançar com uma justificação para o Islão. Não tenho poder para influenciar a conversão, nem tenho a intenção de justificar o meu Islão.’

Ele criticou o Ocidente por permitir o abuso dos direitos humanos dos Bósnios e dos Albaneses do Kosovo, tendo argumentado que a Declaração Universal dos Direitos Humanos terá sido esquecida no caso dos Bósnios e dos Albaneses.

O Dr. Ceric disse ainda: ‘Para os meus companheiros Bósnios e para os meus companheiros Albaneses é de menos tarde demais. Parece que a Arca (comparando com a arca de Noé e a salvação de uma nação de gente do Dilúvio) da Declaração Universal dos Direitos Humanos não é espaçosa o suficiente para albergar certas espécies de humanidade. A sua planta foi desenhada no papel em Nova Iorque, mas não construída na montanha nos Balcãs ou na Europa.’

Seguidamente afirmou: ‘Imagens como a igualdade perante a lei, protecção de aprisionamentos arbitrários, o direito a um julgamento justo… são imagens deveras co

loridas mas pedaços de madeira demasiado corrompida para que a partir deles se possa construir a forte Arca universal para a salvação humana.’

Enfatizou, contudo, que nem ‘o Ocidente está contra o Islão nem o Islão contra o Ocidente’, unicamente aquilo a que o Islão se opõe é a jahiliyyah (ignorância), seja no Ocidente ou no Oriente.
Os Muçulmanos não devem encarar o Ocidente como uma ameaça: ‘Não pretendo dizer às gentes do Ocidente que continuem a encarar o Islão como uma ameaça ou o contrário. Têm o direito às suas próprias percepções e ilusões. Quero, sim, afirmar aos Muçulmanos que é um grande erro considerar o Ocidente como um mal e confrontá-lo com o Islão.’ Portanto, os Muçulmanos não deverão utilizar o Islão em sua defesa, antes defenderem-se a si próprios: ‘os Muçulmanos têm de ser honestos e reconhecer que necessitam que o Islão os defenda, mais do que o Islão necessita da sua defesa. O Islão precisa de uma compreensão genuína e sincera ao invés de um grito apologético.”

Por fim, terminou com uma análise à necessidade que os Muçulmanos e o Ocidente têm de viver juntos. Disse: ‘A ameaça não está no Islão, mas sim na nossa incapacidade espiritual de estar à altura dos valores morais universais; o mal não está no Ocidente, mas sim na nossa insegurança cultural. É chegada a altura do Islão ser visto como uma benção espiritual para o Ocidente e do Ocidente ser encarado como um apelo ao despertar intelectual para o Oriente Muçulmano.”

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Islão e o novo milénio

‘Quem não é grato pelas Graças Divinas, corre o risco de as perder;
E quem é grato, prende-as com as suas próprias cordas’ (Ibn Ata’illah, in Kitab al-Hikam)

 

O Islão e o Novo Milénio – um assunto grandioso para um editorial, e que, para os Muçulmanos, requer pelo menos dois requesitos antes de iniciarmos a questão:

 

  1. O Novo Milénio não é o nosso milénio. Lamentavelmente, a maioria dos Países Muçulmanos hoje em dia usa o Calendário Cristão inventado pelo Papa Gregório. Muitos confundem e pessoas muçulmanas secularizadas em países Muçulmanos já estão expressando bastante excitação. Esta semi-histeria deveria ser de pouco interesse para nós: como Muçulmanos temos o nosso próprio Calendário. O ano 2000 começará, de facto, durante o ano 1420 da Hégira (ár. Hijrah).
  2. mais imponderável diz respeito à nossa habilidade para falar confiantemente sobre o futuro, no fim de contas. Neste apontamento propõe-se especular sobre as direcções que o Islão pode tomar, seguindo o grande e muito exagerado aniversário. Mas a questão teológica é das pontuais: poderemos nós fazer isto de um modo halal (lícito)? O futuro está no Ghayb (Oculto); só é conhecido por Deus. E pode até acontecer que a raça humana não alcançe o ano 2000 … Deus põe e dispõe do mundo …

O Hadice de Gabriel (Jibrail a.s.) descreve como o anjo veio ao Profeta Muhammad (que a paz esteja com ele) perguntando-lhe quando seria o Dia de Julgamento; e ele só respondeu: “a respeito disso, o questionado não sabe mais do que o questionador”. Mas, segundo o Sagrado Alcorão, pode ser bem amanhã. Expectativas apocalípticas não são novas na história Islâmica: por exemplo, eles também surgiram em conexão com o milênio Islâmico. Imame al-Suyuti, o maior estudioso do Egipto Medieval, preocupara-se pelas expectativas nervosas que muitos muçulmanos tiveram a respeito do ano 1000 da Hégira. Anunciaria isso o fim do mundo, como muitos pensaram? Imame al-Suyuti acalmou estes receios ao examinar todos os Ahadice que ele conseguiu encontrar a respeito do tempo de vida desta Ummah. Ele escreveu um livro pequeno intitulado “Al-Kashf an mujawazat hadhihi al-umma al-Alf” (Prova de que esta Ummah sobreviverá o milénio). Nele, concluiu que não havia nenhuma evidência que o primeiro milénio do Islão terminaria a história humana. Mas, para à nossa geração, muito serenamente ele considera que os Ahadice que se encontram à sua disposição indicam que os sinais que precederão o retorno de Jesus (Issa a.s.), e o anti-Cristo (al-Massih al-Dajjal), são propensos a aparecerem no décimo quinto século Islâmico; por outras palavras, no nosso próprio século decorrente. Mas todas estas considerações, que estavam submissas à profunda consciência Islâmica do Imame al-Suyuti, queriam dizer que o conhecimento do Futuro está com Deus; e só Profetas podem profetizar. O que eu estarei a fazer nas páginas que seguem, então, não é nenhuma previsão, mas extrapolação. Allah ta’ala (Deus) é capaz de mudar o curso de história totalmente, por algum desastre natural, ou uma série de guerras desastrosas. Ele pode terminar a história até mesmo para o bem. Se isso acontecer a um passo do milénio, então as minhas previsões serão inúteis. Tudo o que eu estou a fazer é, de certo modo, falar sobre o presente, visto que as tendências presentes, ininterrompidas através de catástrofes, parecem determinadas a continuar nos próximos anos e décadas. Por que é útil reflectir sobre estas tendências? Porque eu penso que todos nós reconhecemos que o Muçulmanos, infelizmente, responderam em grande parte mal aos desafios do século XX; nomeadamente dos últimos três séculos. Por exemplo, no princípio do século XIX o império Otomano perdeu uma série de guerras desastrosas contra a Rússia. A razão principal foi a disciplina e o equipamento superior mantido por exércitos europeus modernos. Mas os Ulamas e o exército turco resistiram a qualquer mudança. Eles acreditavam que batalhas foram ganhas por fé, e aquelas armas de fogo e praças de armas diminuíam a virtude do código pessoal do guerreiro muçulmano. Atirar a um inimigo de uma grande distância, em lugar de olhar para ele no olho e lutar com uma espada, foi visto como uma forma de covardia. Consequentemente, o exército Otomano continuou a sofrer derrota atrás de derrota às mãos de seus inimigos Cristãos, bem-equipados. Outro caso intricado era a controvérsia sobre a impressão. Até ao século XVIII (e não só), uma maioria dos Ulamas (eruditos religiosos Islâmicos) acreditou que a impressão era haram (ilícita). Um texto, particularmente ligado com a religião, era algo sagrado, para ser criado pelas artes tradicionais de caligrafia e encadernação. Uma disponibilidade fácil de livros idênticos – pensavam os eruditos – baixaria o preço de aprendizagem Islâmica, e também tornariam preguiçosos os estudantes no que respeita a decorar ideias e textos. Mais adiante, foi pensado que o processo de estampar e apertar páginas eram desrespeitosos para os textos que podiam conter o nome da Fonte de todo o ser. Foi um húngaro convertido ao Islão, Ibrahim Muteferrika, que conseguiu mudar tudo isso. Muteferrika obteve a permissão do Califa Otomano para imprimir livros seculares e científicos e, em 1720, ele fundou a primeira imprensa Islâmica em Istanbul. Muteferrika foi um sincero convertido e explicou profundamente as suas convicções religiosas num livro que ele intitulou Rissale-yi Islamiye. Também se preocupou deveras com o atraso técnico e administrativo do Império Otomano. Por isso, igualmente escreveu um livro intitulado Ussul al-Hikam fi Nizam al-Umam e publicou-o em 1731. Neste livro descreve os governos e sistemas de exército que prevaleciam na Europa, e disse à elite Otomana que os estados Muçulmanos independentes só poderiam sobreviver se eles obtivessem emprestado não só a tecnologia militar, mas também optar por estilos de admi- nistração e conhecimento científico Europeu. As advertências de Ibrahim Muteferrika sobre a contorversa questão do Estado Otomano se modernizar foram lentamente consideradas, tentando no entanto preservar o que era essencial para sua identidade Islâmica. A história de Muteferrika faz-nos relembrar o seguinte: se os muçulmanos não tiverem consciência das tendências globais da sua era, eles continuarão a ser os perdedores.
Esta ignorância, às vezes, pode ser espantosa. É que conhecem-se alguns dirigentes Islâmicos, chefes de facções activistas, líderes de grupos religiosos que nos deixam chocados pela sua constante falta de conhecimento e diplomacia. Quantos podem sequer nomear os sistemas intelectuais principais de nosso tempo? Pós-modernismo, realismo, filosofia analítica, teoria crítica, e tudo o resto que são livros fechados para eles. Ao invés, eles divagam sobre “a Conspiração Internacional Sionista”, ou “Baha’ismo”, ou “Nova Invasão dos Cruzados”, ou fantasmas semelhantes. Se nós quisermos entender por que tantos movimentos Islâmicos falham, deveríamos talvez começar por reconhecer que os seus líderes simplesmente não têm o poder de compreensão intelectual do mundo moderno, que é um requisito prévio para superar os obstáculos, com bom êxito.
Um activista Muçulmano que não entende as ideologias do modernismo sadio dificilmente poderá superar os obstáculos da vida actual.

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Iraque – a política dos E.U.A. é baseada na ganância

In The Mercury, (África do Sul) de 20/02/98
Artigo enviado por Faruk Tarmamade (África do Sul) – Tradução de Yiossuf Adamgy

A preocupação àcerca das “armas para destruição em massa” de Saddam não é mais do que um desviar de atenção, argumenta Dumisani Makhaye, da ANC KwaZulu Natal (Membro de Parlamento Sul Afriacano)

Quanto mais as coisas mudam, mais ficam na mesma. Com o fim da guerra fria, houve um suspiro de alívio que tivesse sido por fim encontrada uma solução permanente para os conflitos internacionais e regionais. Acreditou-se que os conflitos armados como uma solução para os conflitos regionais e internacionais seriam substituídos por soluções pacíficas e diplomáticas. A história está a provar que o optimismo foi ingénuo. No início da semana passada eu estava a sintonizar a rádio BBC. Desde esse dia a principal história em África é o derrube da Junta Militar da Serra Leoa. As forças nigerianas tomaram finalmente Freetown e estão a ser levadas a cabo operações de limpeza pelo país. O crime do antigo chefe da camarilha militar da Serra Leoa, Major John Koroma, é que ele destituiu um governo eleito democraticamente. Como é que a Nigéria, ela própria governada por um ditador militar, Gen. Sani Abacha, se atreve a intervir na Serra Leoa para destituir outro militar forte? O mundo ficou calado. O mal triunfa onde bons homens e mulheres ficam calados.

A outra notícia é a crise do Golfo. A crise não é nova. A última crise culminou uma década de guerra entre o Iraque e as forças internacionais lideradas e dominadas pelos Estados Unidos. De acordo com a propaganda dos Estados Unidos, a defesa de Saddam Hussein tinha sido finalmente quebrada. Generais foram condecorados e os soldados americanos voltaram para casa vitoriosos. Mas à medida que os anos passaram, tornou-se claro que nem tudo o que foi divulgado pela propaganda americana era verdade. A guerra do Golfo começou com a invasão e ocupação do Kuwait pelo Iraque. Anteriormente, houve uma guerra sem sentido durante seis anos entre o Irão do Ayatollah Khomeini e o Iraque. O revolucionário Irão, que derrubou o regime pro-Estados Unidos do Shah do Irão, era considerado pela América como um inimigo. Houve a crise dos reféns americanos no Irão. Na guerra Irão-Iraque, os Estados Unidos defenderam o Iraque e ajudaram a armá-lo. Mesmo nessa altura, o Iraque usou armas de destruição em massa mas os Estados Unidos aquiesceram (e a Europa assistiu “num silêncio dos calados” …).

Depois desta guerra, o Iraque ficou fortalecido militarmente. Viu-se a ele próprio como um polícia regional e um protector dos interesses árabes na região contra Israel. Foi então necessário um aumento no preço do petróleo para levantar a sua economia que estava devastada pela guerra. Os países árabes acederam a esta exigência, mas mais tarde o Kuwait negou e baixou os seus preços do petróleo. Então o Iraque invadiu o Kuwait. Os EUA tomam o partido de Kuwait porque têm um estratégico interesse em que baixem os preços do petróleo. Os EUA são o maior consumidor de petróleo do mundo.

Isto conduziu à acção militar contra o antigo aliado da América, o Iraque. Claro, a América não tem amigos permanentes mas sim interesses permanentes. A actual crise no Golfo, disseram-nos, é por causa da inspecção das armas de destruição em massa no Iraque. O problema do Iraque é o facto da equipa de inspecção das Nações Unidas ser dominada e conduzida pelos EUA. O Iraque acusa os inspectores americanos de serem espiões. Os inspectores dos EUA pedem autorização para inspeccionar os palácios presidenciais. O Iraque, correctamente, vê isto como uma tentativa para humilhar o Iraque e espiar o Presidente Saddam Hussein para futuros ataques.

Terão os EUA um direito moral de proceder assim? O que leva os EUA a proceder como um fanfarrão, mesmo com o risco de condenação internacional? Os seus parceiros no Conselho de Segurança das Nações Unidas França, China e Rússia não concordam com a resolução dos EUA de atacar o Iraque militarmente. Mesmo a Turquia disse que não ofereceria as suas bases para o ataque contra o Iraque, e outros importantes países árabes discordaram dos Estados Unidos da América. Quando se torna claro que o Iraque não tem mesmo armas de destruição em massa, os EUA dizem-nos que o Iraque já exportou essas armas para os países Árabes como o Sudão e a Líbia. É claro que os Estados Unidos não querem uma solução pacífica. É o desejo ardente pela guerra.

É estranho que os EUA estejam tão preocupados àcerca das armas para destruição em massa possivelmente em poder do Iraque, quando os próprios EUA dispõem de de toneladas e toneladas de armas para destruição em massa, incluindo armas nucleares, não só no solo dos EUA mas também no dos países estrangeiros. Os EUA foram o único país que já usou bombas atómicas na História em Hiroshima e Nagasaki. Na década de 60 os EUA invadiram literalmente Congo Brazaville de Patrice Lumumba, usandomercenários. A Coreia, Vietname e Cuba foram vítimas da intervenção militar americana. A pequena ilha de Grenada foi invadida pelos Estados Unidos há menos de duas décadas. A desestabilização do governo Sandinista na Nicarágua pelo apoio militar aos contra-revolucionários foi da responsabilidade dos EUA. Há pouco mais de cinco anos, os EUA atacaram o Panamá e rigorosamente raptaram o seu chefe, General Noriega que, presentemente está a cumprir uma longa pena numa prisão dos Estados Unidos. Onde está a moral deste país?

Vejamos agora o comportamento do mais próximo aliado dos EUA no Médio Oriente, Israel, e a sua reacção em relação a este comportamento. Israel ocupa parte de países Árabes, incluindo a Palestina, pela força das armas. Israel tornou-se a origem de todo o terrorismo no Médio Oriente. Uma grande faixa de terra do Líbano está ocupada por Israel e é considerada como uma zona de segurança Israelita.

Mesmo a Jordânia, aliada dos Estados Unidos, não está imune ao terrorismo Israelita. Em vez de actuar contra Israel, os Estados Unidos de América dão cada vez mais apoio a Israel, incluindo sofisticadas armas de destruição em massa, tal como a capacidade nuclear israelita, e apoio financeiro e diplomático. Os EUA vetaram todas as acções do Conselho de Segurança das Nações Unidas contra Israel.

As razões do interesse americano na acção militar contra o Iraque são outras. Com o fim da Guerra Fria, os interesses económicos do complexo militar-industrial dos Estados Unidos estavam ameaçados. Já não havia mercado florescente para estas forças. Para justificar o gasto massivo em armamento sofisticado tornou-se importante criar pontos de conflito armado. Algumas das armas de destruição em massa dos Estados Unidos não foram testadas. O Iraque pode ser o local de teste dessas armas.

O Presidente Bill Clinton recentemente revelou um segredo quando declarou que não poderia haver paz enquanto Saddam Hussein fosse o presidente do Iraque. Assim, o problema não são as armas de destruição em massa que o Iraque possui, mas Saddam Hussein. Isto foi seguido por um elaborado exercício de controle de custos. A guerra pode também ajudar a desviar a atenção dos problemas pessoais de Bill Clinton.

É apropriado que os países no Golfo assumam a liderança do processo de resolução da crise do Golfo. Infelizmente, o comportamento de Saddam Hussein às vezes cai directamente nas mãos das forças reaccionárias nos Estados Unidos de América.

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Fundamentalismo Islâmico na ribalta

M. Yiossuf Mohamed Adamgy

“Não há coerção na religião” – (Alcorão, 2:256)

“O conhecimento das pessoas acerca umas das outras deve ser promovido; sem o conhecimento mútuo não haverá a compreensão mútua e sem a compreensão mútua não haverá respeito mútuo e sem respeito mútuo não haverá confiança mútua, e sem confiança mútua não haverá paz, mas sim inevitáveis conflitos entre as civilizações”. (Roman Hertzog, Político Alemão).

O fundamentalismo Islâmico dominou e domina os meios de comunicação ocidentais ao seguirem as actividades dos militantes muçulmanos. Quem é o fundamentalista e o que significa este termo? é o muçulmano com o turbante o muçulmano com a grande barba o muçulmano com as calças a três quartos ou os muçulmanos suprimidos lutando pela liberdade?

Segundo a Enciclopédia de Cambridge, fundamentalismo significa: uma tendência teológica que procura preservar o que é considerado as doutrinas essenciais (fundamentais) da fé Cristã. O termo foi usado, originalmente, pelo movimento protestante dos Estados Unidos nos anos 20, caracterizado por uma interpretação literal da Bíblia, e revivido pelos movimentos cristãos conservadores nos finais do século XX. Habitualmente é qualquer posição teológica que se oponha ao liberalismo. De acordo com o Dicionário de Oxford, fundamentalismo significa: (no pensamento cristão) crença que a Bíblia é literalmente verdade e deve formar a base do pensamento e prática religiosos. Por conseguinte, é uma expressão usada para descrever a estrita aderência às doutrinas Cristãs (ausência de erro na Bíblia, nascimento virginal e divindade de Jesus Cristo, remissão dos pecados através da sua morte, ressurreição física de Jesus), baseada numa interpretação literal da Bíblia.

Como se vê, o conceito de fundamentalismo surge em ambiente Cristão, sendo completamente estranho ao Islão: nada existe na Doutrina Islâmica que se lhe possa assemelhar. Não existe Fundamentalismo no Islão, pela simples razão de que não existe no Islão um “conjunto mínimo de conceitos fundamentais” tudo nele é fundamental. Praticar oração, fazer jejum, dormir, acordar, comer, beber, cumprimentar o Muçulmano que se encontra, trabalhar, não cometer adultério, lutar pelo Bem e rejeitar o Mal, etc… Não existem pontos mais fundamentais que outros… Como é que então a palavra fundamentalismo acabou associada ao Islão?

É o ressurgimento dos militantes muçulmanos suprimidos nas várias partes do mundo que lutam pela liberdade ou independência do seu País, ou para criar estados islâmicos (salvaguardando a tolerância exigida pelo Alcorão para com os não Islâmicos)? Estas pessoas seguem somente os ditados das doutrinas da sua religião. Há vários Ahadice e versículos do Alcorão que mandam os muçulmanos esforçarem-se de modo a divulgarem o Islão e estabelecerem a Chari’ah. Deus os enriqueceu com directivas referentes ao método, termos de referência e ponto de partida para o diálogo inter-cultural. Assim o método do diálogo seria baseado na sabedoria e pregação bondosa, como é articulado no seguinte versículo do Alcorão:

“Convida (todos) para o caminho do teu Senhor, com sabedoria e uma bela exortação.” (16:125).

Abu Hurairah (Companheiro do Profeta) disse que o Mensageiro de Deus (paz esteja com ele) disse: “Quem quer que morra sem se esforçar pela Causa Islâmica e sem o sentir como seu dever, morre numa espécie de hipocrisia.” Muçlim (Compilador das tradições do Profeta, a sua obra foi apelidada de verdadeira).

Depois de uma cuidadosa análise da Enciclopédia de Cambridge, todos os pontos tendem a centrar-se na implementação prática das doutrinas religiosas e na oposição ao liberalismo. Depois de ver a explicação da palavra no Dicionário de Oxford creio que os novos meios de comunicação ocidentais devem substituir as palavras Cristãos por Muçulmanos e Bíblia por Alcorão para darem aos Muçulmanos o rótulo de fundamentalistas. No entanto, se rejeitarmos o rótulo fundamentalista, estaríamos a rejeitar a doutrina do Islão.

O Islão rejeita o extremismo mas concilia fundamentalismo como uma irrejeitável parte da fé (fé Islâmica). Nesse caso, os verdadeiros Muçulmanos são automaticamente fundamentalistas tal como o Profeta (paz esteja com ele), os Companheiros e todos os verdadeiros Imames e Ulamas ao acreditarem nos Mandamentos de Deus de que devem governar e ser governados pela Chariah (Lei Divina). De facto, a implementação da Chariah principalmente em países onde os Muçulmanos formam a maioria é uma parte significante de Tawheed al-ibadah (Unicidade da Adoração).

Os meios de comunicação ocidentais tratam o fundamentalismo como se ele fosse uma parte desnecessária de qualquer religião (considerada monoteísta). Contudo, é frequente a comunicação social ocidental falar, erradamente, em “Fundamentalismo Islâmico” para caracterizar a acção violenta de certos grupos. Mais uma ilustração da confusão existente sobre o Islão… Sendo o Islão a Religião da paz proporcionada pela submissão (Islão) a Deus, é impensável que a violência constitua um traço característico da doutrina Islâmica.

Todos sabemos que para manter a dignidade humana se torna por vezes imperioso combater outros seres humanos. (Por exemplo, a guerra contra o nazismo, as guerras de libertação colonial, a guerra contra os criminosos sérvios nos Balcãs…). Por maioria de razão se justifica a guerra contra os que impedem os crentes de adorar Deus e de alcançar, portanto, o mais alto grau de dignidade humana. Guerra defensiva, pois.

O Islão não permite nunca guerras ofensivas. A forma de conduzir a guerra defensiva no Islão está também regulamentada e os seus limites “fundamentais” não podem ser ultrapassados. Um dos aspectos essenciais da forma de conduzir a guerra no Islão, é a ilegitimidade de produzir danos em civis e destruir a natureza. São assim rejeitadas as guerras químicas ou bacteriológicas, a bomba atómica… supremas criações da tecnologia Ocidental, fruto de uma civilização Cristã… Igualmente rejeitada é a utilização de bombas em cidades, desvios de aviões, etc.

Consequentemente, todos os grupos que utilizam formas de luta proíbidas pelos princípios Islâmicos, colocam-se à margem do Islão e deverão ser chamados “marginais do Islão”, ou algo equivalente, mas nunca “fundamentalistas Islâmicos”. Porque é que a palavra “fundamentalista” irrita os Muçulmanos? A razão é, esteve, e está associada com grupos militantes suprimidos que lutam pela liberdade política. A maior parte dos sequestros, bombardeamentos ou mortes que acontecem no mundo são-lhes atribuídos. Uma vez que a natureza interior do homem não gosta de violência e a palavra “fundamentalismo” (neste caso) é associada a violência, as pessoas tendem a desaprovar a palavra. Isto teve como resultado que Muçulmanos fracos ficassem impacientes com qualquer organização rotulada de fundamentalista pelos meios de comunicação. Porque é que os membros Muçulmanos do Islão se tornaram militantes em várias partes do mundo? As razões são numerosas e variam de lugar para lugar.

Um dos factores que encoraja o crescimento do extremismo no Médio Oriente é a manipulação política pelos poderes investidos. Eles frustraram com sucesso (manobrado) tentativas da parte de partidos islâmicos legítimos de obterem poder através de votação. De igual modo, houve prisões em massa de trabalhadores islâmicos sob acusação de conspiração para deitar abaixo governos “legalmente estabelecidos”. Todos estes factores fortaleceram as forças de extremismo, dando ênfase aos sintomas em vez da causa na raíz do mal. Interessantemente, o fundamentalismo religioso foi firmemente estabelecido entre os militantes judeus de Israel. Mas os meios de comunicação controlados pelos judeus ignoram as suas actividades e escolheram em vez disso encorajar o que eles chamam “fundamentalismo Muçulmano”. Porque se teme o Islão? Porquê o ataque violento contra o Islão?

Com estas questões à minha frente, lembrei-me do que escreveu o Dr. Omar Lufti Al Alim em Risalat-Al-Jihad edição nº 18: “O Ocidente desperto apercebeu-se pelo seu instinto e olhos sempre abertos que a mente Islâmica é um enorme arsenal e um bloco não eruptível. Mais especificamente, o Ocidente compreende que os Muçulmanos sofrem de uma ruptura de pensamento e conduta.” A ruptura é temporal na maior parte dos casos. No entanto, o Ocidente tentou e tentará sempre forçar uma separação entre o nosso pensamento e a nossa conduta para criar uma ruptura permanente. Não devemos permitir que nos divorciemos tanto do Alcorão como do Hadice ou de outra doutrina islâmica essencial. É o que cria a nossa diferença em relação a eles.

O que é mais estranho é que a palavra fundamentalista foi dissociada dos grupos cristãos fundamentalistas. Um exemplo claro é o grupo rebelde fundamentalista do Uganda: o Exército da Resistência do Senhor que luta contra o governo e tenciona governar o Uganda segundo os Dez Mandamentos da Bíblia. Esta propaganda calculada teve um sucesso significativo ao dividir os Muçulmanos em dois grupos. Os que aceitam o rótulo porque conhecem a sua religião e os Muçulmanos ignorantes que o rejeitam. Estes últimos criticam mesmo os grupos legítimos Muçulmanos rotulados pelos meios de comunicação como fundamentalistas. Uma vez que seja dado a uma organização Islâmica ou a um país este rótulo, passam por um rápido processo de metamorfose para o extremismo e finalmente para o terrorismo. Com este estado final, a organização está pronta para se juntar à lista de grupos ou países terroristas marcados para a destruição… Por isso, apelo aos meus irmãos Muçulmanos que se descontraiam com o rótulo de “fundamentalistas”.

É tudo uma estratégia calculada no sentido de dividir para reinar, apontada à unidade dos muçulmanos. Como o “inimigo” faz horas extraordinárias interior e exteriormente, rezo a Deus Todo Poderoso para que nos ajude a manter firmes na nossa fé, sensatamente. Aos não-Muçulmanos chamo a sua atenção para o seguinte: Conflito é a verdadeira coisa desejada por aqueles que forjam e manipulam factos com intenções malévolas, domínio sobre os outros, e corrupção sobre a Terra, apesar do facto de agora o mundo se ter tornado mais pequeno, nas distâncias, e diferenças de tempos e espaços grandemente reduzidas. Este facto só por si seria mais que suficiente para um diálogo inter-civilizacional do que para conflitos culturais, e para o estabelecimento da coexistência pacífica baseada na justiça, não no medo e no terror?

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Acabe com a injustiça, dizem personalidades muçulmanas a Obama

(Versão Portuguesa de Al Furqán)

CAIRO – Uma panóplia de pensadores escolásticos muçulmanos, activistas políticos e académicos escreveram uma carta aberta ao Presidente norte-americano Barack Obama, incentivando-o a iniciar o seu reinado com a remediação das injustiças infligidas aos árabes e muçulmanos, para que a paz possa prevalecer e que a América recupere a sua imagem.

“A civilização não pode prosperar e a paz e a segurança não podem ser desfrutadas pelo mundo, a menos que a justiça prevaleça na terra e seja dominante nas relações internacionais,” dizia a carta, da qual o IslamOnline.net obteve uma cópia.

A carta fazia uma lista das injustiças que deverão ser mitigadas de forma a pôr fim às hostilidades e a promover a paz no mundo.

Os líderes muçulmanos acrescentaram: “Nenhuma outra nação da história sofreu tamanha injustiça como aquela que foi infligida ao povo palestiniano”.

“Este facto tem sido ignorado pelos E.U.A. de forma a responder a pressões de índole financeira, política ou dos media, ou então a ilusões ideológicas, lendas ou ambições eleitorais.”

Entre os signatários encontram-se o Sheikh Yusuf al-Qaradawi, presidente da International Union of Muslim Scholars (IUMS), Rashid Al-Ghanoushi, Secretário-Geral do Al-Nahdha Movement da Tunísia, Qazi Hussein Ahmad, líder do Jamaat-e-Islami, do Paquistão, e Ali Sadruddin Al-Bayanoni, Presidente da Irmandade Muçulmana da Síria.

A carta afirma que não podem ser retomadas as relações normais com árabes e muçulmanos, “a menos que a injustiça infligida à nação palestiniana” seja levantada e “a não ser que as soberanias iraquianas e afegãs sejam preservadas.”

Obama, que prestou juramento como o 44º presidente norte-americano, e o primeiro de raça negra, na terça-feira, dia 20 de Janeiro, prometeu um recomeço nas relações com o mundo islâmico.

No seu discurso de nomeação, que foi visto por milhões em todo o mundo, Obama afirmou o seguinte: “Em relação ao mundo muçulmano, procuramos um novo caminho, com base no interesse e respeito mútuos.”

Os líderes muçulmanos lamentaram o facto de uma grande parte das injustiças do mundo actual ser perpetuada ou ignorada pelos Estados Unidos, tendo afirmado: “Embora os Estados Unidos sejam, de todos os países do mundo, o que mais clama pela liberdade e respeito pelos direitos humanos, somos da opinião de que, na prática, os governos norte-americanos são aqueles que mais violam os direitos humanos e que mais confiscam a liberdade dos outros.”

“Além do mais, mostrou ter a parte de leão no que diz respeito ao apoio a regimes ditatoriais, à conspiração contra democracias em desenvolvimento, ao planeamento de golpes militares e ao desrespeito face às organizações internacionais.”

A carta alertava para o facto de as tentativas de impor um modelo americano através da força e da pressão teriam apenas como consequência o efeito oposto ao pretendido.

“Quem primeiro sofre as consequências destes métodos são os próprios Estados Unidos.”

A imagem dos Estados Unidos foi severamente denegrida durante os oito anos de presidência de George Bush, o antecessor de Obama.

A chamada “guerra ao terrorismo” de Bush, uma série de escândalos relativamente a abusos de detidos no Afeganistão, Iraque e no conhecido centro de detenção de Guantanamo, empolaram os sentimentos anti-americanos pelo mundo fora, especialmente nos países islâmicos.

Os líderes muçulmanos incentivaram Obama a assegurar que os Estados Unidos, durante a sua governação, iriam reconsiderar com seriedade a sua abordagem na relação com o mundo.

“No entanto, esta posição requer, da parte da liderança norte-americana, uma coragem que transcende interesses políticos e partidários.

“Irá ser um homem de ética, princípios e sonhos, tal como prometeu ao seu povo e ao mundo?”