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Estão os Muçulmanos divididos entre “moderados” e “fundamentalistas”?

(in Revista Al Furqán, nº. 183, de Setembro/Outubro.2011)

A expressão integrista (enquanto sinónimo de fundamentalista) só se torna pejorativa quando se refere à religião; mas não quando se trata de medicina integrativa, ou quando se refere a uma pessoa íntegra.

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

Construiu-se, a nível mediático, uma distinção entre os muçulmanos considerados “radicais” e “moderados”, aonde a palavra “radical” rapidamente é substituída pela expressão “fundamentalista” ou “integrista”, apresentando-se estes termos sempre como sinónimos de retrógrado e fanático. Os “moderados” seriam aqueles que defendem a plena adaptação do Islão de acordo com a modernidade ocidental.

Nesta, e noutras classificações, fica latente a incapacidade de compreensão que o Islão gera, num mundo estruturado sobre imagens e estereótipos.

Para a maioria dos jornalistas, a religião não pode ser mais que algo primitivo face ao mundo civilizado. Quando nos chamam “muçulmanos moderados” na realidade estão a pensar “primitivos, mas pouco”. Nós sorrimos perante estas classificações. A submissão a Deus (e ao Islão) não pode ser outro senão um acto íntegro, no qual o ser humano abandona toda a idolatria, a começar pelo despojo de todo o dogmatismo, de todas as projecções realizadas sobre o mundo, para garantir a adesão ao incondicionável. Não há um Islão moderado, porque não há nenhum Islão não-moderado, pela mesma lógica: se alguém é fanático, significa que fez da sua religião uma barreira, um ídolo em desacordo com outras religiões, e, portanto, não aceitou a diversidade como um dos seus símbolos mais maravilhosos. No entanto, também não há um islâmico não-fundamentalista, se tomarmos a palavra no seu sentido mais preciso: ele quererá sempre preservar a sua integridade, a perspectiva da vida enquanto um todo indivisível. Dito de outra forma; o Islão é uma abertura integral para a Unicidade da diversidade, e essa integração exclui a sectorização.

A palavra integrista (fundamentalista) só é pejorativa quanto se fala de religião, mas não quando se trata de medicina integrativa, ou de uma concepção integrada na natureza, nem quando se remete a uma pessoa íntegra. Se ser integrista é tentar recuperar o Islão como um modo de vida orgânico, uma categoria de estilo de vida, que abrange todos os aspectos da vida, claro que somos fundamentalistas.

No entanto, para a imprensa, um fundamentalista é alguém que quer voltar ao mundo da Idade Média, da qual se tem uma imagem pré-fabricada. Pois de que Idade Média se trata? Dessa época em que Paris era um pântano e a Córdoba tinha um milhão de habitantes e uma biblioteca com milhares de volumes que foram perdidos para sempre? Quando ouvimos o termo “Idade Média” como sinónimo de escuridão, não podemos deixar de ficar surpresos, uma vez que essa época representa por exemplo o apogeu cultural de Espanha. Neste e noutros casos, é óbvio o colonialismo intelectual.

Para ilustrar a versão entre “moderados” e “fundamentalistas”, a imprensa só se refere ao wahhabismo; essa corrente originária da Península Arábica e que se caracteriza pelo fanatismo, pelo totalitarismo; um puritanismo extremo. A aplicação de castigos corporais, a discriminação das mulheres e das minorias religiosas… tudo isto é apresentado como a “ortodoxia” perante a qual os “moderados” apresentam uma corrente modernista. No entanto, este esquema, é, de novo, completamente falso. O wahhabismo não é senão uma corrente dentro do Islão, e assim foi reconhecida desde o início e a partir do seu nascimento.

A concepção da ortodoxia como algo rígido e imóvel perante a modernidade como a superação do dogmatismo faz parte integram-te da mitologia ocidental, mas no Islão sucede o oposto. O “ortodoxo” – de acordo com a mensagem do Alcorão e do exemplo do Profeta (paz e bênçãos estejam com eles) – seria o pleno reconhecimento das outras tradições e a ausência de fanatismos ou atitudes exageradas na prática Islâmica; a ausência de instituições hierárquicas; a tomada de decisões em assembleia; a igualdade entre homens e mulheres; a solidariedade e o apoio mútuo enquanto peças de articulação sociais; a liberdade de consciência e o direito de todos de se desenvolverem dentro dos limites estabelecidos por Deus.

A recuperação do Islão passa por viver plenamente esses valores, de forma íntegra. Poder-se-iam citar Ahadices e o Alcorão reforçando tudo isto… mas seria inútil, porque seremos sempre classificados como “muçulmanos moderados”, “heterodoxos” ou mesmo “progressistas”, por forma a salvaguardar a definição contrária. Que maçada!

Por outro lado, o termo kafir possui uma definição teológica e judicial, e outra definição popular, política e social, que não se devem confundir. Na consciência de muitos muçulmanos devotos, um cristão ou um judeu de-votos, são considerados crentes, enquanto um agnóstico de nome árabe ou persa é considerado descrente. E o anátema de kufr, deixa de referir-se somente às pessoas de fora, passando a incluir também vários grupos de dentro do próprio mundo islâmico. Actualmente, apesar de alguns muçulmanos alegarem que os “descrentes” serão responsáveis pelo massacre da cultura secular do ocidente, utilizam a mesma designação para aqueles que, dentro do próprio Islão, ainda que formalmente muçulmanos, aceitam e pregam ideias secularizadas que negam os próprios fundamentos da revelação islâmica. Na realidade, a laicidade é o inimigo comum de todas as tradições abraâmicas, e a erosão da autoridade moral nas sociedades seculares que observamos hoje em dia é problemática, tanto para judeus e cristãos, como para os muçulmanos.

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Sete em cada dez pessoas no mundo professam uma religião

Al Furqán

Uma pesquisa realizada pela Ipsos MORI, realizada com 18.473 pessoas de 24 países, revela as nuances de crenças religiosas actuais

Internacional – 09/07/2011: um estudo realizado pela Ipsos MORI, empresa número um de pesquisa do Reino Unido, revelou que sobre sete em cada dez pessoas no mundo pertencem a uma religião e a maioria dos habitantes do nosso planeta vê a religião como algo importante na sua vida.

A pesquisa da Ipsos MORI também revela que há acentuadas diferenças quanto a isso. Assim, 94% das pessoas religiosas dos países predominantemente muçulmanos apontou que a religião é importante nas suas vidas. Os países muçulmanos pesquisados foram a Arábia Sal-dita, Turquia e Indonésia.

Em comparação com, apenas 66 por cento das pessoas em países predominantemente cristãos – 19 Nações no total – note-se o que publica Ipsos MORI num comunicado:

A crença numa única fé verdadeira: Nos Estados Unidos, por sua vez, dentro dos 65 por cento dos inquiridos que se autodefiniram como “Cristãos”, 86% disseram que a sua fé foi importante nas suas vidas, enquanto que entre os cristãos da França e da Suécia, esta percentagem foi entre 36 e 42%. Em Espanha, a percentagem a este respeito foi de 44%.

Além dos países acima mencionados, outras nações estudadas foram as seguintes: Brasil, África do Sul, Índia, México, Itália, Polónia, Coreia do Sul, Argentina, Austrália, Canadá, China, Rússia, Grã-Bretanha, Hungria, Japão, Bélgica e Alemanha.

Os resultados desta pesquisa, que abrangeu, portanto, um total de 24 países e 18.473 adultos com idades compreendidos entre 16 e 64 anos, também indicam que entre os jovens, a religião também desempenha um papel importante nas suas vidas: quase três quartos dos inquiridos (73 por cento) abaixo dos 35 anoas, declarou que a sua religião ou a sua fé é a chave para a vida deles.

Por outro lado, as pessoas que vivem em países principalmente muçulmanos (61%) são mais propensas, do que as que vivem em principalmente países cristãos (19 por cento), a acreditar que a sua fé é o único verdadeiro caminho para a salvação, libertação ou paraíso.

O anexo a esta crença é diferente entre os países, com uma pequena minoria que detém na Europa Ocidental e uma grande maioria que mantém em países muçulmanos pesquisados.

Atenção para aqueles que precisam

Por outro lado, pessoas religiosas dos países predominantemente muçulmanos acreditam mais do que indivíduos de países cristãos que a sua religião é uma fonte de motivação para a dedicação de tempo e dinheiro para as pessoas necessitadas (61% no caso das nações muçulmanas, em comparação com 24 por cento nas sociedades predominantemente cristãs).

Em termos gerais, três de cada dez pessoas (30%) com uma religião ou fé afirmou que a religião os motiva para servir os necessitados. Mas cerca de metade dos entrevistados (52%), declarou que não havia nenhuma diferença no que a isto diz respeito, uma vez que eles sentem que ajudar os outros é necessário em qualquer caso.

Em outra direcção e, falando em geral, um terço dos participantes (33%) de todos os países pesquisados declararam não ter amigos ou ter poucos amigos que professassem outra religião que não a deles. Este ponto varia muito, dependendo do país e parece não estar relacionado com a crença do povo que a sua própria religião é a única verdadeira, diz o estudo.

Alguns criacionistas: No mês de Abril, a Ipsos MORI tornou públicos os resultados de outra pesquisa, neste caso a fé em Deus ou num Ser Supremo, bem como a crença em algum tipo de vida após a morte.

De acordo com a agência Reuters, em seguida publicado, os resultados do presente inquérito revelam que ambas as crenças permanecem fortes na maioria dos países do mundo.

Assim, 51% das 18.829 pessoas de 23 países pesquisados disse estar convencido da existência de uma vida após a morte e da existência de uma entidade divina, enquanto 18% disseram que não acreditam em nada disso e 17% disseram que não sabiam.

No entanto, a pesquisa também revelou que apenas 28 % desses questionados acreditavam no criacionismo (a terra e cada ser vivo que existe actualmente vem de um acto de criação de um ou mais seres divinos), contra 41% que acreditam na evolução humana e 31%, simplesmente não sabiam no que acreditam.

Por países, aqueles em que as pessoas mostraram mais propícias a acreditar no criacionismo foram África do Sul, Estados Unidos, Indonésia, Coreia do Sul e Brasil.

Outras crenças: Enquanto Indonésia, Turquia e Brasil foram revelados como os países com a maior proporção de pessoas com uma definitiva crença num Deus ou num Ser Supremo, na Índia, China e Rússia, por outro lado, 24, 14 e 10% dos entrevistados, respectivamente, eram mais favoráveis à crença em vários deuses.

No outro extremo do espectro, a maior percentagem de indivíduos que afirmou não acreditar em Deus ou num ser supremo, quase 40% dos inquiridos ocorreu na França, Suécia, Bélgica e Grã-Bretanha.

A pesquisa também analisou as percentagens de pessoas que acreditavam na reencarnação (crença em uma única essência de pessoas – ser/mente, alma, consciência ou energia – adopta um corpo material não só uma vez, mas várias). A tendência para acreditar neste conceito foi especialmente forte na Hungria, com 13% dos entrevistados. A este respeito, Coreia do Sul e Espanha foram os países em que os participantes afirmaram que eles acreditavam que na morte “simplesmente deixa de se existir”.

De acordo com os autores deste estudo, a natureza destas questões é em grande parte desconhecida, mas o facto é que elas permanecem em muitos dos habitantes do nosso planeta.

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O Islão aprova a violência contra não muçulmanos?

Coord. por M. Yiossuf Adamgy – Director da Revista Islâmica Portuguesa Al Furqán – 31/12/2011

A violência não é religiosa. É crime. É como se tivesse assassinado toda a humanidade.

‘Uma sequência de explosões abalou a Nigéria durante a celebração da Missa de Natal em igrejas católicas, dando origem a 40 vítimas. O primeiro e mais mortal dos ataques ocorreu quando uma forte explosão destruiu a igreja de Santa Teresa, na periferia de Abuja, capital nigeriana, onde os serviços de emergência informaram que haviam resgatado dezenas de corpos no interior do templo… O grupo radical islâmico Boko Haram (termo que na língua local da etnia Hausa significa “educação ocidental é pecado”) reivindicou os ataques’.

A primeira coisa que ocorre na mente de quem lê este parágrafo é “Os muçulmanos são terroristas, fanáticos da violência e fundamentalistas”. No entanto, eu tenho que dizer que essa ideia é baseada em preconceito e desconhecimento da realidade do Islão.

O Islão aprova a violência contra não muçulmanos?

Absolutamente NÃO. O Islão é uma religião de paz. Não há nada no Alcorão, na doutrina ou na ética islâmica que permita, incentive ou tolere a violência em qualquer forma e sob nenhuma circunstância. Embora a ideia que exista no Ocidente seja que a violência na religião muçulmana é parte da prática, o reconhecimento dos direitos humanos de homens e mulheres em pé de igualdade, independentemente da origem, raça ou crença religiosa encontra no Alcorão a sua fonte original.

O Islão reconhece aos dzimmíes (minorias não-muçulmanas dentro de uma sociedade islâmica) os mesmos direitos que aos muçulmanos. Disse o Profeta Muhammad (s.a.w. = paz e bênçãos de Deus estejam com ele):

“Quem faz mal a um dzimmí, faz mal a mim próprio, e quem me prejudica, prejudica Allah.” É um grande pecado prejudicar as minorias de qualquer tipo. Um muçulmano que incorporou no seu coração e vida a mensagem de Deus (ár. Allah), não vai perturbar a vida de alguém que pensa, vive, ou sente diferente.

Existe uma Declaração dos Direitos Humanos no Islão (DDHI), também conhecida como a Declaração do Cairo (1990), pelos Estados membros da Organização da Conferência Islâmica, que fornece uma visão geral da perspectiva muçulmana sobre os direitos dos seres humanos e define a Sharia – lei islâmica, em geral, como sua principal fonte. O DCDHI declara que a sua meta é ser um guia para os Estados membros do OIC no campo dos direitos humanos. Geralmente, esta declaração é considerada como equivalente e resposta à Declaração Universal dos Direitos Humanos elaborado pela ONU em 1948.

Mas, mesmo que esta declaração não existisse, não compromete de todo os direitos inalienáveis da humanidade. No Islão, todas as pessoas são profundamente iguais. Todo o ser humano é, portanto, semelhante aos seus pares, a humanidade é uma comunhão a serviço de um único Deus. Neste contexto espiritual, o conceito islâmico de singularidade é fundamental e central e inclui, necessariamente, o conceito de unidade humana e fraternidade entre os seres humanos.

Diz o Alcorão Sagrado:

‘Ó crentes! Sede perseverantes na causa de Deus e prestai testemunho, a bem da justiça; que o ódio aos demais não vos impulsione a serdes injustos para com eles. Sede justos, porque isso está mais próximo da piedade, e temei a Deus, porque Ele está bem inteirado de tudo quanto fazeis’. (5:8).

‘… E se Deus não tivesse repelido alguns homens por intermédio de outros, estariam demolidos os mosteiros e as igrejas, as sinagogas e as mesquitas, onde o nome de Deus é tantas vezes invocado …’. (22.40).

‘Deus ordena a justiça e a benevolência’. (16:90).

‘Quando julgardes as pessoas, fazei-o com justiça’. (4:58).

Em muitos outros versículos, este princípio é referido.

A vida humana é sagrada e não deve ser tomada ou abusada sem nenhum motivo. Quando alguém viola a santidade da vida por matar uma pessoa sem justificação, o Alcorão compara com a morte de toda a humanidade: ‘(…) Aquele que mata uma pessoa que não tenha morto ou feito danos na terra, é como se tivesse assassinado toda a humanidade’. (Alcorão, 5:32).

Disse o Profeta Muhammad (s.a.w.) que não há diferença entre um árabe e um estrangeiro (não árabe), entre um homem e uma mulher, entre ricos e pobres, excepto na piedade, na consciência de Deus. Qualquer pessoa que se respeite a si mesma é definitivamente a favor da implementação e monitoramento dos direitos humanos.

O Islão ordena, pela palavra de Deus, a respeitar o “Povo do Livro”, isto é, cristãos e judeus. Muçulmanos reconhecem a Torá e a Bíblia como revelações anteriores de Deus para a humanidade. Reconhecem Abraão, Moisés e Jesus (paz esteja com eles) como nossos Profetas e figuras-chave no desenvolvimento da nossa fé. Promover a coexistência pacífica baseada no respeito pelos direitos humanos é um mandato irrevogável para todo muçulmano que é digno do nome.

Um exemplo disso é a aliança do Profeta Muhammad (s.a.w.) com os cristãos de Najran, em 631, que gozavam de protecção “da sua vida, propriedade, terra, fé, templos e todos os seus pertences” como os muçulmanos. De acordo com este estatuto, as minorias religiosas no mundo muçulmano desfrutaram de uma autonomia quase completa e autogestão em assuntos religiosos, incluindo questões pessoais, família, direito sucessório e direito penal quando foram cometidos crimes dentro da minoria.

Outro exemplo disso é o histórico tratado com os Cristãos de Jerusalém assinado pelo Califa Omar (r.a.): ‘Esta é a protecção que o servo de Deus, Omar, o Chefe dos Crentes, garante ao povo de Eiliya (Jerusalém). A protecção diz respeito às suas vidas e propriedades, às suas igrejas e cruzes, às suas doenças e saúde, assim como para todos os seus correligionários. As suas igrejas não serão utilizadas como habitação, nem tão pouco serão demolidas; nem nenhuma injúria lhes será feita, nem as suas propriedades serão injuriadas de forma alguma. Não haverá compulsão para com estas pessoas em matéria religiosa, nem deverão, por isso, sofrer ou serem vítimas de injúria … Tudo o que aqui se encontra escrito é de acordo com a vontade de Deus e a responsabilidade do Seu último Mensageiro, dos califas e dos crentes, e deverá ser respeitado …’.

O uso da religião para justificar o ódio e a violência para dar uma aparência de santidade que não tem, é um recurso popular dos grupos cujo objectivo não é, em caso algum, honrar a Fé. Se assim fosse, apresentariam a sua conduta para a paz, não para a morte. Rancores pessoais, interesses culturais, estratos políticos e económicos, estão no fundo dessas atrocidades que em nada representam os muçulmanos em geral, e não são expressão do papel que Deus nos deu na terra. O confronto entre muçulmanos e cristãos não faz parte da nossa ética e devem ser rejeitados pelos verdadeiros crentes. O “ódio cego” não é islâmico, é um pecado mortal. A violência não é religiosa; é criminosa; é como se tivesse assassinado toda a Humanidade.

Que Deus ilumine a Humanidade no limiar deste Novo Ano, tornando-o Feliz e Próspero.

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Sete em cada dez pessoas no mundo professam uma religião

Internacional – 09/07/2011

Uma pesquisa realizada pela Ipsos MORI, realizada com 18.473 pessoas de 24 países, revela as nuances de crenças religiosas actuais

Um estudo realizado pela Ipsos MORI, empresa número um de pesquisa do Reino Unido, revelou que sobre sete em cada dez pessoas no mundo pertencem a uma religião e a maioria dos habitantes do nosso planeta vê a religião como algo importante na sua vida.

A pesquisa da Ipsos MORI também revela que há acentuadas diferenças quanto a isso. Assim, 94% das pessoas religiosas dos países predominantemente muçulmanos apontou que a religião é importante nas suas vidas. Os países muçulmanos pesquisados foram a Arábia Sal-dita, Turquia e Indonésia.

Em comparação com, apenas 66 por cento das pessoas em países predominantemente cristãos – 19 Nações no total – Note-se que o mesmo publica Ipsos MORI num comunicado.
A crença numa única fé verdadeira: Nos Estados Unidos, por sua vez, dentro dos 65 por cento dos inquiridos que se autodefiniram como “Cristãos”, 86% disseram que a sua fé foi importante nas suas vidas, enquanto que entre os cristãos da França e da Suécia, esta percentagem foi entre 36 e 42%. Em Espanha, a percentagem a este respeito foi de 44%.

Além dos países acima mencionados, outras nações estudadas foram as seguintes: Brasil, África do Sul, Índia, México, Itália, Polónia, Coreia do Sul, Argentina, Austrália, Canadá, China, Rússia, Grã-Bretanha, Hungria, Japão, Bélgica e Alemanha.

Os resultados desta pesquisa, que abrangeu, portanto, um total de 24 países e 18.473 adultos com idades compreendidos entre 16 e 64 anos, também indicam que entre os jovens, a religião também desempenha um papel importante nas suas vidas: quase três quartos dos inquiridos (73 por cento) abaixo dos 35 anoas, declarou que a sua religião ou a sua fé é a chave para a vida deles.

Por outro lado, as pessoas que vivem em países principalmente muçulmanos (61%) são mais propensas, do que as que vivem em principalmente países cristãos (19 por cento), a acreditar que a sua fé é o único verdadeiro caminho para a salvação, libertação ou paraíso.
O anexo a esta crença é diferente entre os países, com uma pequena minoria que detém na Europa Ocidental e uma grande maioria que mantém em países muçulmanos pesquisados.

Atenção para aqueles que precisam

Por outro lado, pessoas religiosas dos países predominantemente muçulmanos acreditam mais do que indivíduos de países cristãos que a sua religião é uma fonte de motivação para a dedicação de tempo e dinheiro para as pessoas necessitadas (61% no caso das nações muçulmanas, em comparação com 24 por cento nas sociedades predominantemente cristãs).

Em termos gerais, três de cada dez pessoas (30%) com uma religião ou fé afirmou que a religião os motiva para servir os necessitados. Mas cerca de metade dos entrevistados (52%), declarou que não havia nenhuma diferença no que a isto diz respeito, uma vez que eles sentem que ajudar os outros é necessário em qualquer caso.

Em outra direcção e, falando em geral, um terço dos participantes (33%) de todos os países pesquisados declararam não ter amigos ou ter poucos amigos que professassem outra religião que não a deles. Este ponto varia muito, dependendo do país e parece não estar relacionado com a crença do povo em que sua própria religião é a única verdadeira, diz o estudo.

Alguns criacionistas: No mês de Abril, a Ipsos MORI tornou públicos os resultados de outra pesquisa, neste caso a fé em Deus ou num Ser Supremo, bem como a crença em al-gum tipo de vida após a morte.

De acordo com a agência Reuters, em seguida publicado, os resultados do presente inquérito revelam que ambas as crenças permanecem fortes na maioria dos países do mundo.

Assim, 51% das 18.829 pessoas de 23 países pesquisados disse estar convencido da existência de uma vida após a morte e da existência de uma entidade divina, enquanto 18% disseram que não acreditam em nada disso e 17% disseram que não sabiam.

No entanto, a pesquisa também revelou que apenas 28 por cento desses questionados acreditavam no criacionismo (a terra e cada ser vivo que existe actualmente vem de um acto de criação de um ou mais seres divinos), contra 41% que acreditam na evolução humana e 31%, simplesmente não sabiam no que acreditam.

Por países, aqueles em que as pessoas mostraram mais propícias a acreditar no criacionismo foram África do Sul, Estados Unidos, Indonésia, Coreia do Sul e Brasil.

Outras crenças: Enquanto Indonésia, Turquia e Brasil foram revelados como os países com a maior proporção de pessoas com uma definitiva crença num Deus ou num Ser Supremo, na Índia, China e Rússia, por outro lado, 24, 14 e 10% dos entrevistados respectivamente, eram mais favoráveis à crença em vários deuses.

No outro extremo do espectro, a maior percentagem de indivíduos que afirmou não acreditar em Deus ou num ser supremo, quase 40% dos inquiridos ocorreu na França, Suécia, Bélgica e Grã-Bretanha.

A pesquisa também analisou as percentagens de pessoas que acreditavam na reencarnação (crença em uma única essência de pessoas – ser/mente, alma, consciência ou energia – adopta um corpo material não só uma vez, mas várias). A tendência para acreditar neste conceito foi especialmente forte na Hungria, com 13% dos entrevistados. A este respeito, Coreia do Sul e Espanha foram os países em que os participantes afirmaram que eles acreditavam que na morte “simplesmente deixa de se existir”.

De acordo com os autores deste estudo, a natureza destas questões é em grande parte desconhecida, mas o facto é que elas permanecem em muitos dos habitantes do nosso planeta.

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Banca Islâmica, a Banca Halal (Lícita)

Por: Vicente Sansano – Fonte: Webislam
Versão portuguesa: AlFurqán, nº. 181, de Maio/Junho.2011

O Doutorado em economia, Ernst. F. Schumacher, recolheu para no seu livro “O Pequeno é Belo”, a seguinte citação “A saúde espiritual e bem-estar material não são inimigos, mas sim aliados naturais”. O Oriente sabe que a matéria e o espírito são as extremidades de uma mesma linha, enquanto no Oeste são linhas de trabalho completamente distintas e independentes entre si.

O Ocidente criou uma economia sem consciência, uma economia violenta, que ataca a natureza e o ser humano, uma economia hipertrófica que está nos seus limites. Se este Titanic em processo de colisão não corrigir o rumo desenfreado que leva, acabará, como temos vindo a presenciar nos últimos dois anos, por colidir definitivamente contra a sua própria criação, sendo engolido por ela.

Os bancos, grandes responsáveis e elementos participativos deste sistema económico, são um reflexo fidedigno do que aqui dizemos, pois o seu objectivo é apenas maximizar os seus lucros e benefícios, e fazer com que estes sejam cada vez maiores, de ano para ano. Mas, nesta corrida que parece não ter fim, eles esqueceram-se de que não há nada no mundo, nem em todo o universo, que possa ter um crescimento contínuo, sempre em linha recta para cima até o infinito, pois tudo o que sobe, desce, assim como a noite segue o dia e a maré baixa segue a maré alta. O que acontece, o que está a acontecer neste momento, não é mais que um novo aviso perante esta ambição desmedida de um sistema financeiro especulativo, ganancioso e ao estilo do de casino.

É neste cenário de turbulência financeira e económica, que o sistema bancário islâmico tem algo a dizer, oferecendo uma alternativa à banca tradicional que temos vindo a conhecer até agora em Espanha. Não com intenção de a substituir, mas sim de dar uma outra oportunidade ao cidadão, seja ele muçulmano ou não, e às empresas que assim o desejarem, de poderem tomar uma opção diferente, com ética, transparente e responsável no que toca ao conjunto da sociedade.

Quando falamos em finanças islâmicas, estamos a referir-nos tacitamente, da banca halal, pois na realidade não podem ser dissociadas uma da outra. Isso significa que há normas a serem cumpridas, e regras e princípios éticos a serem respeitados, de acordo com a forma com que a ética Islâmica tem de compreender o mundo, em geral, e na área de finanças, em particular.

Desta forma, existem alguns princípios básicos que devem ficar claros desde o início, sem os quais este tipo de finanças não pode ser considerado islâmica ou halal. Não são autorizados investimentos em indústrias que a Charia entenda como prejudiciais para a comunidade, como as relacionadas com armas, álcool, tabaco, pornografia ou as dos mercados de carne de porco. Todos estes sectores são considerados haram. O Alcorão diz em 2:275: “Allah tornou lícito o comércio e proibiu a usura”. Ditou, desta forma, a proibição de juros, denominada de usura; e aqui é necessária uma clarificação semântica, pois tal como é entendida pelo sistema bancário ocidental, a usura é a definição de um interesse abusivo, enquanto no Islão, a usura é juro, por menor que este seja. A especulação não é permitida, pois o dinheiro é um meio e não um activo em si mesmo, e, portanto, para obter qualquer benefício monetário, o dinheiro tem de estar necessariamente vinculado ao trabalho. Desta forma é fácil concluir que no Islão, o desenvolvimento económico é uma relação entre capital e trabalho.

De acordo com o que foi dito anteriormente, surge imediatamente a seguinte pergunta: “se me dirigir a um banco islâmico e pedir um empréstimo, dão-mo sem que tenha de pagar nada mais que o capital que me for emprestado?”. Obviamente a resposta é não, pois mesmo os bancos islâmicos têm necessidade de obter retorno sobre o valor dos seus serviços, caso contrário a sua existência não seria possível. Então, onde está a diferença? O que o sistema bancário islâmico faz, é cobrar uma taxa fixa, pré-estabelecida, e não abusiva, como pagamento do serviço prestado. Se pretendemos adquirir um bem ou serviço, o banco compra-o para então o vender a um preço superior, e quem o pretenda adquirir paga o seu novo valor, diferido no tempo. Se pretendermos utilizar esse bem durante um determinado espaço de tempo determinado, o que o banco faz então é adquiri-lo e imediatamente alugá-lo a nós, determinando, antecipadamente, o montante das contribuições e o período de tempo durante as quais ocorrerão, isto é, durante o período que acreditamos que esta propriedade será necessária para uso ou lazer, o que será algo semelhante ao que nos bancos ocidentais é conhecido como leasing. Outra forma de aceder ao capital do banco é quando queremos montar um negócio, neste caso o que o banco faz é tornar-se nosso sócio, entrando participativamente como accionista da empresa, no total, ou em parte do risco envolvido, obtendo por seu turno benefícios e lucros quando os hajam e suportando perdas caso o negócio não seja lucrativo e estas ocorram.

Existe um elemento comum em todos estes exemplos que estamos a dar, pois o banco, contrariamente ao que estamos habituados, partilha o risco com o seu cliente. Pode ganhar, mas também pode perder, situação que não ocorre com os bancos tradicionais, onde este sempre sai com ganhos e nunca com perdas de capital.

Do que conhecemos, os empréstimos bancários são destinados àquelas pessoas que têm património próprio, porém nunca àquelas que têm boas e viáveis ideias de negócios, mas que carecem de capital. A estas últimas, a banca islâmica também pode dar crédito.

O sistema que a banca tradicional tem para garantir o reembolso do capital emprestado compromete os bens do devedor, os quais são por norma num valor muito superior ao valor do empréstimo solicitado. Ou seja, o resultado é sempre a celebração de contrato predatório, mas, paradoxalmente, legal e socialmente aceite. Se as coisas correrem mal, o devedor perde tudo. Relativamente a esta situação Marck Twain disse: “um banqueiro é alguém que, quando o sol brilha deixa um guarda-chuva; quando começa a chover retira-o”.

Em contrapartida, os bancos islâmicos, ao partilharem os riscos, e ao participarem na conta de ganhos e perdas, tornam o sistema económico-financeiro muito mais justo e equitativo. Por conseguinte o sistema bancário com base no interesse o que faz é ampliar as desigualdades sociais, contrariamente ao sistema bancário islâmico, que é muito mais equilibrado e responsável, uma vez que também se envolve no sucesso empresarial e de gestão, pois se o mutuário perde o banco também perde. De tudo isto, podemos deduzir que os empreendimentos levados a cabo com apoio de financiamento islâmico têm mais probabilidades de chegar a bom porto.

Como já mencionado, outra das diferenças substanciais no sistema bancário islâmico é a ausência de especulação financeira e, portanto, toda a actividade económica está focada na economia real, dando lugar à criação de capital para empresas e postos de trabalho. O que gera mais riqueza, mas menos ricos.
O sistema especulativo dos financiamentos tradicionais, o que faz é tornar os preços das matérias-primas e bens mais caros, (moradias, terra, cereais, petróleo, etc.), necessários para a subsistência digna da população do resto do mundo, principalmente aquela que ocupa o hemisfério sul, provocando, dessa forma, o incremento das bolsas de pobreza, promovendo um sistema injusto e desigual, aumentando o fosso entre ricos e pobres.

Outra característica da banca islâmica, é que a dívida não pode ser vendida, não pode mudar de mãos, o risco de a assumir desde o início até o final, tem de ser assumido pelo credor original, ou seja, pelo banco que cedeu os direitos do crédito. Esta prática está totalmente normalizada no sistema bancário que conhecemos e tem sido uma das principais razões que levaram ao colapso do castelo de cartas, à crise sistémica que experienciamos, com a venda de dívidas hipotecárias prime e suprime.

Dissemos que, quando nos referimos à banca islâmica, estamos a referir-nos a uma banca ética e, ainda que a união da banca e ética possa soar como um oximoro, e pareça uma contradição não só aos nossos ouvidos, mas também por experiências pessoais como clientes do sistema bancário que conhece-mos, é no entanto algo realmente possível dentro do sistema da banca islâmica, já que não só se interessam pelo lucro, mas também pelos indivíduos, pela comunidade, detendo um importante interesse social.

Vimos, no sistema bancário islâmico, que o dinheiro dos clientes nunca pode financiar projectos que estejam em desacordo ou vão contra o Islão, tais como a indústria de armamento, a de carne de porco, a da pornografia, etc., mas também não pode ser direccionado para empresas que super-exploram a natureza ou que façam recurso de trabalho infantil. Além disso, o cliente pode decidir a que tipo de investimento se destina o seu dinhei-ro, sabendo, a qualquer momento, qual é a situação do seu capital.

Poderíamos dizer, sem equívoco, que esta forma de trabalhar da banca representa um novo paradigma no que é o sistema financeiro tradicional que conhecemos. É um modelo de investimento socialmente responsável, que cuida não só do capital, mas também da sociedade.

Assim, relativamente ao sistema da usura e da especulação, a única alternativa é a banca ética, no nosso caso, a banca ética islâmica, para superar as injustiças sociais de um capitalismo voraz. (…).