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A alma e as suas características

Quando lemos no Alcorão a respeito da natureza do homem, frequentemente encontramos o termo “alma”. Alma, em árabe é “nafç” e significa o “eu”, “a personalidade”.

O Alcorão diz que a alma do homem tem dois lados: um que governa o mal e o outro que cuida de evitar este mal. O capítulo “O Sol” diz o seguinte:

“Pela alma e por Quem a aperfeiçoou, e lhe imprimiu a distinção entre o que é certo e o que é errado, que será venturoso quem a purificar (a alma), e desventurado quem a corromper.” (Alcorão 91:7-10)

o discernimento para o errado. Errado, isto é, “fucur” em árabe, quer dizer “romper o limite do certo”. No sentido religioso, quer dizer: “experimentar o pecado e se rebelar (mentira, desobediência, transgressão, adultério, corrupção moral, etc.)”

Conforme citado nos versículos atrás citados, Deus inspira a distinção entre o bem e o mal. A pessoa que admite o mal na sua alma e que o impede, obedecendo à inspiração de Deus, e purifica a sua alma, será salva. Receber a vontade de Deus, a Sua Misericórdia e o Seu Paraíso é a única forma para se alcançar a salvação, ao passo que a pessoa que esconde a sua alma e não a purifica do mal que nela existe, será levado para a corrupção. Esta corrupção é a maldição de Deus e o fim é o Inferno.

Neste ponto, vemos uma consequência importante: há um lado mau em cada alma humana. A única forma de se purificar deste mal é aceitar o que Deus ordena e impedir que este mal encontre abrigo dentro de nós.

Uma das mais importantes diferenças entre os crentes e os descrentes aparece justamente aqui. Uma pessoa sabe, e aceita, que a sua alma tem um lado mau e que ela precisa impedi-lo com atitudes morais e com os conhecimentos por ela adquiridos do Islão. Um dos maiores aspectos da religião, e do mensageiro que comunica esta religião, é revelar a existência do mal na alma e a forma de purificá-la. O Capítulo 2:87 assim se dirige aos judeus:

“…Cada vez que vos era apresentado um mensageiro, contrário aos vossos interesses, vós vos ensoberbecíeis! Desmentíeis uns e assassináveis outros.”

Os descrentes abrigam o mal nas suas almas e não aceitam o que a religião verdadeira lhe traz, nem a pessoa que a revela, porque contrariam os seus próprios interesses. Tais pessoas não conseguem purificar as suas almas, antes pelo contrário, abrigam este mal e o mantêm lá, conforme mencionado nos versículos.

Portanto, podemos dizer que os descrentes acatam o mal que existe nas suas almas e assim, não têm uma consciência verdadeira. é, de alguma forma, uma vida instintiva. Neste caso, todos os comportamentos e pensamentos são ditados pelos instintos emanados do mal existente na alma. Esta é uma das razões pelas quais o Alcorão define os descrentes como “animais”.

Diferentemente dos descrentes, os crentes conhecem Deus, temem-No e evitam desobedecer às Suas regras. Por isto, os crentes não obedecem àquele lado mal de suas almas, mas o enfrentam, conforme Deus ordena. No Capítulo 12, versículo 53, José (ár. Yussuf a.s.) diz: “Porém, eu não me absolvo, a mim mesmo, porquanto o ser é propenso ao mal, excepto aqueles de quem o meu Senhor estendeu a Sua Misericórdia, porque o meu Senhor é Indulgente, Misericordioso.” Este versículo ensina-nos como devemos pensar: o crente deve ser cuidadoso e ter em mente que a sua alma tentará desviá-lo do verdadeiro caminho.

Até agora, lemos sobre o lado “mau” da alma. Dentro do mesmo versículo vimos que também é inspirado à alma impedir o mal. Este lado da alma, que guia o ser humano para Deus e para as verdades da religião e para as boas acções, é, vulgarmente, chamado de espírito.

Contudo, o sentido que o Alcorão dá para o espírito é muito diferente do sentido vulgarmente conhecido. O significado para o espírito mais vulgarmente conhecido inclui somente o dar aos pobres ou apoiar os direitos dos animais, ou amar os animais, etc. Contudo, o espírito do crente faz com que ele obedeça às regras determinadas pelo Alcorão. é o espírito que o capacita a compreender os conceitos mencionados no Alcorão, de um modo genérico.

O Alcorão, por exemplo, orienta os crentes a gastarem dos seus bens mais do que o necessário. é claro que cada pessoa define esse “mais do que necessário”. Uma pessoa desprovida de um espírito forte não concordará com esse mandamento de Deus e, portanto, será incapaz de agradá-Lo.

O crente faz muitas escolhas durante a vida. Entre as alternativas que se lhe apresentam, ele é obrigado a escolher aquela que está mais de acordo com a vontade de Deus e aquela que é mais benéfica para a sua religião. Quando ele faz a sua escolha, em primeiro lugar ele volta-se para o seu espírito, que lhe dirá o que mais agrada a Deus. Em segundo lugar, os seus interesses particulares estarão envolvidos e tentarão desviá-lo para outras alternativas. Então, a alma lhe sussurra as razões e as desculpas adequadas. O Alcorão, em muitos versículos, chama a nossa atenção para essas “desculpas”:

“Neste dia, a desculpa dos iníquos de nada lhes valerá, nem serão resgatados.” (Alcorão 30:57)

“No dia em que aos iníquos de nada valerão as suas desculpas: deles será a maldição, e deles será a pior morada.” (Alcorão 40:52)

O crente não deve dar ouvidos a esta espécie de desculpa e sim ao que o seu espírito lhe diz para fazer. Os exemplos dados no Alcorão, com relação ao espírito dos crentes, levam-nos a pensar sobre a questão. No caso do crente, que está preocupado porque não encontra um meio de lutar contra, o Alcorão diz num dos versículos:

‘Não há faltas a imputar aos fracos, aos doentes e aos que não possuem recursos para gastar (pela Causa), se eles forem sinceros com Deus e Seu Mensageiro. Não há procedimento para constranger os que praticam o bem; e Deus é Indulgente e Misericordioso. E nem aos que, quando vieram ter contigo e te pediram montadas, tu lhes dissestes: “Não tenho montadas para vos dar”. Eles foram-se embora com os olhos rasos de lágrimas, penalizados por não terem posses que pudessem contribuir.’ (Alcorão, 9:91-92)

Lutar contra os inimigos pode parecer muito perigoso. A pessoa que começa lutando (numa guerra) sabe que pode morrer ou se ferir. Não obstante, o crente quer lutar pela causa justa e fica triste quando ele não consegue. Este é um exemplo notável de espírito, a que se refere o Alcorão. A alma pode não provocar o extravio do crente num primeiro momento, mas tenta sempre desviá-lo da religião, sugerindo compensações menores. Por exemplo, ela tenta induzi-lo a adiar alguma coisa que ele teria que fazer pela causa de Deus. Apresentando algumas razões, a alma tenta abalar a sua determinação, fazendo algumas pequenas considerações. Neste caso, as pequenas desculpas da alma são compensadas, o seu impacto se torna maior e pode, mesmo, levar o homem a abandonar a sua crença em Deus. O crente é obrigado a se comportar de acordo com os mandamentos de Deus em cada caso, e não de acordo com a sua alma, anulando os desejos egoístas de sua alma. Diz o Alcorão:

“Temei, pois, a Deus, tanto quanto possais. Escutai-O, obedecei-Lhe e fazei a caridade, que isso será preferível para vós! Aqueles que se preservarem da avareza serão os bem-aventurados.” (Alcorão 64:16)

Neste versículo, os crentes são orientados a temer a Deus, a obedecê-Lo, a ouvir os Seus conselhos e a gastar por conta d’Ele, uma vez que isto salva a pessoa “dos desejos egoístas da sua alma” e o possibilita alcançar a verdadeira bem-aventurança.

Um outro versículo a respeito deste assunto, é o que se segue:

“Ao contrário, quanto àquele que temeu vir à presença do seu Senhor e refreou a sua alma em relação à luxúria, terá o Paraíso por abrigo.” (Alcorão 79:40-41)

Se, pelo contrário, uma pessoa só atende aos desejos egoístas da sua alma e inicia a sua vida depois da morte sem a ter purificado, será tomada por um profundo arrependimento e não usufruirá de qualquer benefício. Esta é a grande e inevitável realidade que espera os descrentes.

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Homossexualidade!

NA

O Islão ensina que os actos homossexuais são pecaminosos e punidos por Deus. Este ensinamento não vem dos seres humanos mas do Criador de todos os humanos. DEUS diz-nos nas suas próprias palavras como Ele castigou o povo de Profeta Lot (Lut a.s.) pelo seu comportamento homossexual. A história do Profeta Lot, a paz esteja com ele, é mencionada em várias passagens do Alcorão. Aqui, apenas se transcrevem os versículos 80-84 do 7º. Sura:

“E (enviamos) Lot, ( 1 ) que disse ao seu povo: Cometeis abominação como ninguém no mundo jamais cometeu antes de vós, acercando-vos licenciosamente dos homens, em vez das mulheres. Realmente, sóis um povo transgressor. E respsota do seu povo só constituíu em dizer (uns aos outros): Expulsai-os da vossa cidade porque são pessoas que desejam ser puras ( 2 ). Porém, salvamo-lo, juntamente com sua família, excepto a sua mulher, que se contou entre os que foram deixados para trás ( 3 ). E desencadeamos sobre eles uma tempestade ( 4 ). Repara, pois, qual foi o destino dos pecadores!”.

Nestas passagens aprendemos que Deus salvou Lot e os membros cumpridores da sua família, e fez cair sobre o resto uma chuva de enxofre, sendo estes completamente destruídos. Isto é mencionado no Alcorão não só como informação, mas principalmente para servir de aviso a quem ousar repetir tais actos. Os Muçulmanos acreditam que todas as acções humanas têm consequências. As boas acções implicam bons resultados, e as más acções ocasionam más consequências. Algumas destas consequências podem não se tornar conhecidas durante muitos anos após uma certa acção. As consequências de algumas acções só se manifestarão depois da morte quando se entra numa nova vida eterna. Para compreender este ponto, tenham em conta o facto que muitas vezes as pessoas contraem uma doença mortal que é diagnosticada muitos anos depois. Um erro comum entre os humanos é que, se não vêem nenhumas consequências negativas pelas suas acções, consideram-nas inofensivas.

A experiência humana ensinou-nos que uma fonte de conhecimento superior pode ser de um grande benefício para os humanos. No passado recente, médicos involuntariamente deram sangue contaminado com o vírus da SIDA a milhares de pacientes. Se uma fonte de conhecimento superior nos tivesse avisado antecipadamente, e tivéssemos tomado atenção a esse aviso, podíamos ter salvo muitas pessoas dessa doença mortal. DEUS, a fonte de todo o conhecimento, avisa-nos do Seu castigo se as pessoas cometerem actos homossexuais. Tenhamos atenção e aprendamos o caminho sem dificuldades. Alguns dirão que uma pessoa pode nascer com tendências homossexuais. Nós dizemos que toda a gente é um agente livre.

Deus põe à nossa frente dois caminhos e deu-nos conhecimento para onde esses caminhos nos conduzem. Um é o caminho para onde o diabo nos chama. Devemos evitá-lo. O outro é o caminho que leva ao Paraíso. Devemos fixar-nos nesse. Todos sentem a instigação do mal de vez em quando. Devemos resistir-lhe com toda a nossa força. Se alguém sente uma tendência para fazer alguma coisa que DEUS proíbe, ele ou ela deve procurar ajuda de uma comunidade de crentes afectuosos e solícitos que compreenderão a sua dificuldade e ajudarão a ultrapassá-la. Uma ocupação comum do diabo é convencer as pessoas que não podem evitar o pecado. Então eles nem sequer experimentam. Mas DEUS promete que o diabo não mais terá poder sobre aqueles que sinceramente procuram DEUS (ver o Alcorão 15:42). Finalmente, os nossos corpos foram-nos dados na verdade por DEUS. Ninguém deve usar o seu corpo de modo contrário ao que foi estabelecido pelo seu Criador. Os adultos também necessitam do consentimento de DEUS.

NOTAS

  1. A história de Lot é bíblica, mas destituída de algumas característas vergonhosa, o que constitui uma rasura na narrativa bíblica (ver Gênesis 19-30-36). Ele era sobrinho de Abraão, e foi enviado como profeta e admoestador ao povo de Sodoma e Gomorra, cidades sumariamente destruídas por seus inenarráveis pecados. Esse povo ainda não pôde ser localizado com precisão, mas supõe-se que viva algures nas planícies a leste do Mar Morto. A história da sua destruição é narrada no capítulo 19 do Gênesi.
  2. Uma instância do aviltante sarcasmo que os pecadores empedernidos usavam contra os virtuosos. Eles feriam com opalavras e reforçavam o insulto com actos de injustiça, pensando que, com isso, levassem os virtuosos à desgraça. No entanto, é bom que se saiba que DEUS vela pelos Seus e, no final, os iníquos, por si só, se destroem, quando a taça da sua iniquidade está cheia.
  3. Na narrativa bìblica ela olha para trás uma acção física. Aqui, ela constitui o tipo daqueles retardários, ou seja, aqueles que, por suas atitudes mentais ou morais, a despeito das suas ligações com os virtuosos, são induzidos a olhar para trás, para a rutilação da iniquidade e do pecado.
  4. A tempestade está explicitamente relatada (11:82) como tendo sido de pedras. Em 15:73-74 é-nos dito que houve uma terrível detonação ou estrondo, em adição à chuva de pedras. Comparando estas passagens com a passagem bíblica (Gênesis, 19:24), nós julgamos que a tempestade foi “uma chuva de enxofre”.
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Fontes do Islão

Al Furqán

NA

As fontes do Islão estão contidas no Alcorão e nos “Ahadice”.
O Alcorão é a original e autêntica Palavra de Deus preservada para a eternidade. O “Hadice” é a relação das palavras, das acções e das decisões do Profeta Muhammad (p.e.c.e.). Os ditos e as acções são chamados “Sunnah”. A “Sirah” é o conjunto de escritos dos companheiros de Muhammad sobre a vida do Profeta. Assim, a história da vida do Profeta Muhammad (p.e.c.e.) que proporciona exemplos de vida quotidiana para os Muçulmanos.

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O espírito de tolerância no Islão

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

A intolerância está a aumentar no mundo actual, causando a morte, o genocídio, a violência, a perseguição religiosa, bem como confrontos a outros níveis. Por vezes, é de natureza racial ou étnica, noutras de teor religioso e ideológico e noutras ainda de carácter social e político. Mas, em todas as circunstâncias, é sempre condenável e dolorosa. Como poderemos resolver o problema da intolerância? Como poderemos defende as nossas crenças e pon-tos de vista sem sermos intolerantes para com os outros? Como poderemos alcançar a tolerância no mundo actual?

Gostaria de debater estas questões de acordo com a perspectiva islâmica.

O que significa a palavra “tolerância”? Literalmente, a palavra significa “suportar”. Enquanto conceito, a “tolerância” representa “respeito, aceitação e apreciação pela rica diversidade das culturas do mundo, das formas de ex-pressão e costumes humanos”. Em língua árabe, a palavra que designa a tole-rância é “Tasamuh”. Existem, para além dessa, outras palavras com significados semelhantes, tais como “Hilm” (indulgência) ou “`Afu” (perdão, indulto) ou “Safh” (fechar os olhos a, não prestar atenção). Nas línguas persa e urdu, usamos a palavra “rawadari”, que deriva de “rawa” e significa “aceitável ou suportável” e “dashtan”, que significa “considerar”. Assim sendo, significa considerar algo aceitável ou suportável.

A tolerância é um princípio básico do Islão. É um dever moral e religioso. Não implica “concessão, condescendência ou indulgência”. Não remete para a perda de princípios ou falta de seriedade em relação aos mesmos.

Por vezes, diz-se que “as pessoas são tolerantes relativamente às coisas pelas quais têm interesse”. Mas não é isto que acontece no Islão. Na perspectiva do Islão, a tolerância não significa que todas as religiões sejam iguais. Não significa que não acreditamos na supremacia do Islão sobre todas as outras fés e ideologias. Não quer dizer que abdicamos de transmitir a mensagem do Islão aos outros e que não desejamos que eles se tornem muçulmanos.

Os princípios da UNESCO respeitantes à tolerância são os seguintes:

“Consistente com o respeito pelos direitos humanos, a prática da tole-rância não significa a tolerância da injustiça social, o abandono ou debilitar das convicções do indivíduo. Significa que somos livres para defender as nossas próprias convicções e aceitamos que os outros defendam as deles. Implica aceitar que os seres humanos, naturalmente diferentes entre si na sua aparência, situação, discurso, comportamento e valores, têm o direito de viver em paz e ser como são. Significa também que os nossos pontos de vista não devem ser impostos aos outros”.

A tolerância advém do facto de reconhecermos:

  1. a dignidade dos seres humanos,
  2. a igualdade básica entre todos os seres humanos,
  3. a universalidade dos direitos humanos, e
  4. a liberdade fundamental de pensamento, consciência e religião.

O Alcorão fala acerca da dignidade básica dos seres humanos. O Profeta, que a paz e a bênção de Deus estejam com ele, abordou a questão da igualdade dos seres humanos, independentemente da sua raça, cor, língua ou origem étnica. A Chari’ah reconhece o direito à vida de todos os seres humanos, bem como o seu direito à propriedade, família, honra e consciência.

O Islão acentua a importância da instituição da igualdade e justiça, sendo que nenhum destes valores pode ser instituído sem algum grau de tolerância. O Islão reconheceu desde o início o princípio da liberdade em relação à crença, ou liberdade religiosa. Defende, muito claramente, que não é permitido exercer qualquer coerção no que respeita às questões da fé e da crença. O Alcorão afirma: “Não existe imposição na religião”. (Al-Baqarah, 2:256)

Se em questões religiosas a coerção não é permitida, então, implicitamente, poder-se-á dizer que na cultura ou outras práticas mundanas também não será lícita. Na Surat Ach-Chura, Deus (ár. Allah) disse o seguinte ao Profeta (p.e.c.e.): “Mas se eles se afastarem, Nós não te enviamos junto deles como guardião. O teu dever é apenas transmitir (a Mensagem)…” (Ach-Chura, 42:48).

Noutra passagem, Deus afirma: “Convida (todos) a seguir o Caminho do teu Senhor com sabedoria e pregação bela, e dialoga com eles da melhor e mais graciosa forma. O teu Senhor sabe bem quem são aqueles se afastam do Seu Caminho e aqueles que aceitam a orientação.” (An-Nahl, 16:125)

Além disso, Deus disse aos crentes: “Obedecei a Deus, obedecei ao Mensageiro e precavei-vos; mas se vos desviardes, sabei que ao Nosso Mensageiro só cabe a proclamação da mensagem lúcida.” (Al-Ma’idah, 5:92)

Podemos igualmente citar outras palavras de Deus: “Obedecei a Deus e obedecei ao Mensageiro. Porém, se vos recusardes, sabei que ele (o Mensageiro) é só responsável pelo que lhe está encomendado, assim como vós sereis responsáveis pelo que vos está encomendado. Mas se obedecerdes, encaminhar-vos-eis, porque não incumbe ao Mensageiro mais do que a proclamação da lúcida Mensagem. (An-Nur, 24:54)

Todos estes versículos denotam que os muçulmanos não exercem coerção sobre as pessoas. De-vem apresentar a mensagem da forma mais convincente e explícita e convidá-las para a verdade, dando o seu melhor na transmissão e apresentação da mensagem de Deus às pessoas. No entanto, cabe às pessoas aceitar ou não essa mensagem. De

us afirma: “E diz: ‘A verdade vem do Vosso Senhor; assim, aquele que o entender acredite, enquanto aquele que assim o desejar o renegue.”

Surge então a seguinte questão:

Se Deus concedeu a escolha de acreditar ou não acreditar, então por que razão castigou Ele o povo do Profeta Nuh, o Ad, o Thamud, o povo do Profeta Lut e o povo do Profeta Shu`aib, bem como o Faraó e os seus seguidores?

A resposta está no próprio Alcorão. Estes povos não foram castigados pela simples razão de não serem crentes. Foram castigados por se terem tornado opressores. Cometeram agressões contra os indivíduos virtuosos e impediram outros de seguirem o caminho de Deus. Muitos foram aqueles que, em todo o mundo, renegaram a Deus, e Deus não os castigou a todos. Ibn Taymiyah, o notável escolástico Muçulmano, afirmou o seguinte: “As nações poderão continuar a viver por longos anos apesar da descrença do seu povo (kufr), mas não poderão sobreviver muito, caso este se torne num agressor.”

Outra questão se levanta, relacionada com a Jihad. Há pessoas que perguntam o seguinte:

“Não é um dever dos muçulmanos fazer a Jihad?”

Mas o propósito da Jihad não é a conversão das pessoas ao Islão. Deus afirma: “Não existe imposição na religião.” (Al-Baqarah:256). O verdadeiro propósito da Jihad é acabar com a injustiça e com a agressão. É permitido aos muçulmanos manterem boas relações com os não-muçulmanos. Deus afirma: “Deus não vos proíbe de mostrar bondade e de agirem de forma justa com aqueles que não se opuseram à vossa religião e que não vos despojaram das vossas casas… “(Al-Mumtahanah, 60 : 8)

O Islão ensina que apenas se deve lutar contra aqueles que nos fazem luta. Deus afirma: ” Combatei, pela causa de Deus, aqueles que vos combatem; porém, não pratiqueis agressão, porque Deus não estima os agressores.” (Al-Baqarah, 2:190)

O Islão pode tolerar tudo, mas ensina a ter tolerância zero para com a injustiça, a opressão e a violação dos direitos dos outros seres humanos. Deus afirma: “E o que vos impede de combater pe-la causa de Deus e dos indefesos, homens, mulheres e crianças que dizem: Ó Senhor nosso, tira-nos desta cidade (Makkah), cujos habitantes são opressores. Designa-nos, de Tua parte, um protector e um socorredor!” (An-Nisa’, 4: 75)

O Islão ensina a tolerância a todos os níveis: individual, colectiva e entre nações. A tolerância deveria ser considerada um requisito político e legal. A tolerância é o mecanismo que sustenta os direitos humanos, o pluralismo (incluindo o pluralismo cultural) e o estado de direito. O Alcorão afirma muito explicitamente: “Temos prescrito a cada povo ritos a serem observados. Que não te refutem a este respeito! E invoca o teu Senhor, porque segues uma orientação correcta. Porém, se te refutam, dize-lhes: Deus sabe melhor do que ninguém o que fazeis! Deus julgará entre vós, no Dia da Ressurreição, a respeito de vossas divergências. (Al-Hajj, 22:67-69)

Existem muitos níveis de tolerância:

  • Entre familiares, entre marido e mulher, entre pais e filhos, entre irmãos, etc.
  • Tolerância entre membros da comunidade: no que respeita a perspectivas e opiniões e tolerância entre as Madhahib (Escolas Jurídicas Islâmicas).
  • Tolerância entre os Muçulmanos e os crentes de outras fés (relações entre fés, diálogo e cooperação).

Os Muçulmanos foram sempre, geralmente, um povo tolerante. Devemos realçar esta virtude entre nós e no mundo actual. As nossas comunidades necessitam de tolerância: devemos fomentá-la através de políticas e esforços intencionais. Os nossos centros devem ser multiétnicos. Devemos ensinar os nossos filhos a respeitar o próximo. Não devemos generalizar acerca de outras raças e culturas. Devermos realizar mais visitas de intercâmbio e encontros uns com os outros. Até os casamentos entre muçulmanos de diferentes grupos étnicos deverão ser encorajados.

Com os não-muçulmanos, devemos manter o diálogo e boas relações, mas não podemos aceitar coisas que vão contra a nossa religião. Devemos informá-los, adequadamente, sobre o que é ou não aceitável para nós.

Se houver mais informação, estou certo de que o respeito se intensificará, assim como a cooperação.

Que Deus nos oriente para a senda recta.

Wassalam.

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A consciência no Islão

Por: M. Yiossuf Adamgy

Quando o ser humano é guiado pela inspiração e pelos verdadeiros incentivos religiosos, automaticamente, gera dentro de si o desejo de fazer o bem, usando, deste modo, a mais alta moral e um carácter exemplar.

Estes incentivos, convencem o seu possuidor que a religião, na sua forma mas básica, é carácter e comportamento. E é esta conduta justa que traz a felicidade tanto nesta vida como na outra. A este incentivo chamamos consciência.

As leis humanas exigem um elevado nível de comportamento mas carecem de meios para incentivar a sua colocação em prática. Tais leis, apesar de promoverem a moral, são incapazes de motivar a consciência, já que esta actua por si mesma. As leis devem fazer finca pé na moral e os seus princípios devem basear-se na sua aplicação.

“A moral sem religião é desnecessária”. Para qualquer líder religioso sincero, a religião deve cultivar o carácter e criar uma sociedade virtuosa, em que não haja desigualdade, pobreza, divisão ou fraqueza.

Deus diz no Sagrado Alcorão: “E ajudai-vos uns aos outros na virtude e no temor (a Deus), não na desobediência nem na transgressão” (5:2).

Omar (r.a.), o segundo Califa do Islão, depois da morte de Muhammad (s.a.- w.), ordenou que as ruas estreitas de Medina se mantivessem livres da obs- trução que os mercadores provocavam com as suas mercadorias, para permitir que as pessoas pudessem transitar livremente por elas. Apesar desta ordem, um mercador continuou a vender as suas mercadorias na rua. Ao ver isto, Omar golpeou o feirante pela sua desobediência. Durante as noites seguintes, quando Omar tentava dormir, a sua consciência torturava-o devido ao seu comportamento e não o deixava conciliar o sono. Depois de muitos dias de remorsos, Omar procurou o feirante e pediu-lhe desculpa pelo seu comportamento. Ao escutar as suas desculpas, o feirante disse: “Já o tinha esquecido”, ao que Omar contestou: “Tu pudeste esquecê-lo mas Omar não pôde”.

Outro acontecimento ilustra esta consciência altamente refinada: quando o governador de Homs renunciou ao seu cargo, durante o Califado de Omar, perguntaram-lhe a razão da sua demissão. O governador respondeu: “Temo a ira de Deus por ter-me dirigido a uma cristã, sob minha responsabilidade, dizendo-lhe: “Que a ira de Deus caia sobre ti”.”

Estas duas histórias demonstram o que a religião pode trazer a uma sociedade que goza de um alto grau de consciência e quão positivo é o papel que desempenha na construção de uma sociedade sã e justa. Esta ideia não se limita só ao Islão, mas também inclui todas as religiões reveladas que dão ênfase ao culto da consciência.

O Sagrado Alcorão diz: “Aquele que tem êxito é quem se purifica a si mesmo e recorda o nome do Seu Senhor e reza. Mas vós (ó incrédulos) preferis a vida deste mundo, apesar da vida do outro mundo ser melhor e mais duradoira!”( 87:14 -19).

A realidade da fé em Deus é acreditar que Ele está connosco, estejamos onde estivermos e que Ele nos observa e está à nossa volta, em todos os momentos e em todas as nossas acções.

Deus diz no Sagrado Alcorão: “Em qualquer situação em que vos encontrardes, qualquer parte do Alcorão que recitardes, seja qual for a tarefa que empreenderdes, seremos Testemunha quando nisso estiverdes absortos …” (10-61 ).

E também: “Não reparas em que Deus conhece tudo quanto existe nos céus e na terra? (Sagrado Alcorão, 58-7).

Assim o ser humano é responsável por todos os seus assuntos, sejam públicos ou privados, incluindo até os seus mais íntimos pensamentos: “Quer manifesteis o que vai dentro de vós mesmos, quer o oculteis, Deus pedir-vos-à contas disso” (Sagrado Alcorão, 2-284).

O Profeta Muhammad (s.a.w.) disse mais sobre a respeito disto: “Adora a Deus como se O visses, porque ainda que O não possas ver, Ele, sim, vê-te a ti”.

Por isso se deve procurar levar uma vida com uma consciência alerta, que aumente a compaixão e proiba a opressão, que guie e não desvie e que mostre o caminho até à verdade e à bondade.

Uma tradição do Profeta Muhammad (s.a.w.) descreve este caminho da seguinte maneira: “Deus dá o exemplo de um caminho recto limitado a duas paredes, nas quais há portas abertas, cobertas por véus. No início do caminho há uma pessoa a chamar para esse caminho recto e avisando que não se desviem dele, admoestando aqueles que se sentem tentados a tirar os véus que cobrem as portas, que se o fizerem se encontrarão dentro delas”. Muhammad (s.a.w.) continuou, dizendo: “O caminho recto é o Islão, as portas abertas são as proibições estabelecidas por Deus, e os espaços entre as paredes, as margens que Deus permite. O sinal que há no inicio do caminho representa o Sagrado Alcorão e o que está no caminho é a consciência de cada crente. Quem seguir este caminho, será um exemplo de pureza, castidade e conduta justa”.

O Profeta (s.a.w.) também disse: “Todas as criaturas dependem de Deus, e a mais apreciada por Deus, é aquela que é mais benéfica para estas”.

Diz-se que era uma vez um pastor do deserto, que tinha estado nesta escola que dá vida à consciência do homem e que Abdullah ibn Omar lhe pediu que sacrificasse um cordeiro para ele, mas o pastor negou-se. A sua razão era que o dono do rebanho o tinha autorizado a dar a estranhos apenas o leite do rebanho, não a alimentá-los com a sua carne. Abdullah disse-lhe então que lhe pagaria pelo sacrifício do cordeiro e que o pastor poderia dizer ao dono que este tinha sido devorado pelos lobos. Ao ouvir isto, o pastor gritou: Então, onde está Deus? Onde está Deus?… Muitas vezes.

Este pastor tinha-se submetido à sua própria cons ciência, inclusive antes de ter de se enfrentar com o seu patrão e em última instância a Deus. Isto aconteceu assim porque ele tinha compreendido perfeitamente os ensinamentos do Profeta Muhammad (s.a.w.): “Peçam contas a vós mesmos antes que ve- nham pedi-las, e avaliem as vossas obras antes que sejais avaliados por elas”.

É a religião que cultiva essa consciência, como no caso do pastor, quem, apesar da ausência do seu patrão, se manteve fiel à confiança que nele tinha sido depositada. O Sagrado Alcorão diz: “Com certeza que criamos o homem e sabemos o que a sua alma lhe sussurra e estamos mais perto dele que a sua veia jugular” (50:16 ).

Na verdade, há duas consciências: uma aparente, que é conhecida por toda a gente e é susceptível de cometer erros, e uma consciência superior, esta última é a consciência das religiões reveladas, que não pode errar por estar vinculada com o seu Criador. A religião diz que cada ser humano possui uma tendência inata para o bem; sem dúvida, esta natureza inata requer um mestre, ou um jardineiro, pois é o mesmo que acontece a uma semente que é plantada na terra e que requer água e fertilizante para germinar, cedo ganha raízes, cresce e floresce, convertendo-se logo em árvore, grande e cheia de frutos e sombra para que outros possam beneficiar dela.

Este é o caso da consciência do ser humano, que floresce quando é alimentada com as águas da observação e da obediência, das leis e ordens do Omnipotente Criador.

A prova disso encontra-se na tradição de Muhammad (s.a.w.) que diz: “Por acaso não há no coração do homem um ouvido que escuta os conselhos dum anjo que lhe promete tudo de bom e confirma a verdade e também o sussurro de um demónio que lhe promete o mal e proíbe a piedade? Quem escutar o conselho angelical deve saber que vem do seu Se- nhor e que exige a sua gratidão; e quem escutar o segundo, deve saber que este provem da negligência perante o seu Senhor e por isso deve pedir-Lhe perdão”.

O Islão educa a consciência para que o ser humano seja cuidadoso nas suas acções, no seu comportamento para com as pessoas e com as outras criaturas de Deus.

Muhammad (s.a.w.), o último Mensageiro de Deus, narrou a história de duas mulheres:

A primeira entrou no Inferno por maltratar um gatinho ao qual prendeu, não alimentou, não permitiu que se alimentasse pelos seus próprios meios, até que morreu de fome.

A segunda mulher, apesar de ser uma prostituta, foi perdoada e foi para o céu graças a um cão se-dento que encontrou lambendo a terra à procura de água, perto de um poço. Ao ver as tentativas desesperadas do cão, sentiu que a sede que afligia o cão era a mesma que a afligia a ela, assim desceu ao poço, saciou a sua sede e encheu os sapatos de água para saciar a sede do cão.

O Profeta Muhammad (s.a.w.) pregou o critério da crença e da conduta correcta através da seguinte tradição: “Se vos sentis felizes com as boas acções que realizais e infelizes com os maus actos que cometeis, deveis saber que sois crentes”.

Este critério pode apenas ser entendido num ambiente de consciências cultivadas. Sem dúvida, o Islão não se fica por este ponto, mas pede ao ser humano que vá mais além, dirigindo-se até um ponto em que seja capaz de reconhecer os direitos dos demais e de ajudar aqueles que estão oprimidos.

O Sagrado Alcorão diz: “Ó vós que credes! Sede firmes em estabelecer a justiça dando testemunho de Deus, mesmo que isso seja contra vós mesmos” (4:135).

O Profeta Muhammad (s.a.w.) disse: “há três atributos, que se se encontrarem num homem farão com que a sua fé seja completa: dá caridade apesar da sua extrema pobreza, espalha a paz pelo mundo e respeita os direitos das pessoas sem necessidade da mediação de um juiz”. Sob quaisquer circunstâncias, é nossa responsabilidade educar e polir as nossas consciências.

Deus diz no Sagrado Alcorão: “…o ouvido, a vista e o coração, cada um deles, será interrogado”. (17:36 ).

Como conclusão, pode-se dizer que o verdadeiro ser humano é aquele em que se tenha estabelecido uma fé verdadeira e forte, e no qual habita, no fundo do seu coração, a verdadeira consciência. Essa pessoa respeitará a lei e preocupar-se-á com a sociedade, com a sua estabilidade e estrutura e com a harmonia entre as pessoas. Uma sociedade sem consciência não conhece a paz e não existe consciência sem fé.

Que a paz esteja com todos nós.