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Uma verdadeira história de amor

(01/Junho/2009, 08, Jamad’al-Akhir, 1430)
Por Hesham Hassaballa, traduzido e adaptado por M. Yiossuf Adamgy

Ela era uma das mulheres mais nobres das redondezas, oriunda de uma família muito poderosa. Era igualmente muito bela e possuía uma riqueza considerável, sendo uma notável mulher de negócios. Casar com ela seria um enorme feito para qualquer homem e, com efeito, foram vários os homens distintos e abastados pertencentes à sociedade que pediram a sua mão. No entanto, ela rejeitou-os a todos, pois, sendo já viúva, não desejava casar novamente.

Até ao dia em que ele entrou na sua vida. Era um jovem de apenas 25 anos e, apesar de pertencer a famílias nobres, era órfão e não possuía muita riqueza. Tinha arranjado um parco meio de subsistência, guardando ovelhas nas montanhas que cercavam a cidade.

Contudo, ele era possuidor de um notável carácter moral, sendo largamente reconhecido como um dos homens mais honestos das redondezas. Foi isso que a atraiu nele – ela dava à procura de uma pessoa honesta que pudesse gerir os seus negócios, visto que ela, por se encontrar no seio de uma sociedade fervorosamente patriarcal, não o podia fazer. Foi por isso que ele começou a trabalhar para ela.

Depois de ele ter regressado da sua primeira viagem de negócios, ela perguntou ao responsável da sua confiança, que o tinha acompanhado, sobre a sua conduta. E a verdade é que ficou maravilhada com o relato do responsável: este jovem era o homem mais bondoso e gentil que ele alguma vez conhecera. Jamais tratava os seus inferiores com rispidez, como o faziam outros. Mas ainda havia mais: o responsável reparou que havia uma nuvem que os seguia o tempo todo enquanto viajavam pelo calor do deserto, trazendo-lhes a sombra que os resguardava do sol abrasador. A mulher de negócios ficou deveras impressionada com o seu novo empregado.

Para além do mais, o novo empregado demonstrou ser um astuto homem de negócios por mérito próprio. Levou a mercadoria da patroa, vendeu-a e com os lucros comprou outras mercadorias que voltou a vender; desta forma, conseguiu lucrar duas vezes. Foi quanto bastou para as brasas do amor, outrora extintas do seu coração, voltassem a reacender-se; ela resolveu casar-se com este jovem, que era 15 anos mais novo que ela.

Nesse sentido, ela resolveu mandar a irmã falar com o homem; no âmbito dessa conversa, a mulher perguntou-lhe: “Porque é que ainda não se casou?”

“Por falta de recursos” – respondeu o homem.

A mulher perguntou, então: “E se eu lhe conseguisse arranjar uma esposa nobre, bela e rica? Estaria interessado nela?”

O homem respondeu afirmativamente, mas sorriu, surpreso, quando a mulher disse que a esposa prometida seria a sua irmã.

“Como posso eu casar com ela? Ela recusou os homens mais nobres da cidade, muito mais ricos e importantes do que eu, que não passo de um pobre pastor.”

A mulher disse-lhe, então, o seguinte: “Não se preocupe. Eu trato do assunto.”

Pouco tempo depois, a rica mulher de negócios casou com o jovem empregado, dando assim início a um dos matrimónios com mais amor, felicidade e sacralidade de toda a história da humanidade. Com efeito, este foi o casamento que uniu o Profeta Muhammad a Khadijah, filha de Khuwaylid. Quando se casaram, Muhammad tinha apenas 25 anos e ela 40 anos, mas essa situação em nada incomodou Muhammad. Ele amava profundamente a sua esposa e ela nutria por ele o mesmo sentimento. O casamento durou 25 anos e Khadijah deu ao Profeta (paz esteja com ele) 7 filhos: 3 rapazes e 4 raparigas. No entanto, todos os filhos vieram a falecer em tenra idade. Khadijah representava para o Profeta uma fonte de imenso amor, força e conforto. E foi deste amor e apoio que o Profeta se socorreu, na mais importante noite da sua vida.

Quando ele se encontrava a meditar na cave de Hira, o Anjo Gabriel apareceu a Muhammad e revelou-lhe os primeiros versículos do Alcorão, declarando-lhe que ele viria a ser Profeta. Esta experiência deixou Muhammad (s.a.w.) aterrorizado, tendo ele por isso ido a correr para casa, para os braços de Khadijah (r.a.), gritando: “Cobre-me, Cobre-me!”. Khadijah (r.a.) ficou assustada pelo terror do marido e, depois de o confortar e acalmar durante algum tempo, o Profeta (s.a.w.) lá foi capaz de se controlar e contar-lhe o que lhe tinha acontecido.

O Profeta (s.a.w.) tinha medo de estar possuído ou de ter enlouquecido.

Khadijah (r.a.) acalmou-o face aos seus medos, dizendo-lhe:

“Não te preocupes, pois por Aquele que tem domínio sobre a alma de Khadijah, espero que te venhas a tornar no Profeta da nação. Deus (ár. Allah) jamais te humilharia, pois és bondoso para os teus familiares, manténs-te fiel à tua palavra, ajudas os necessitados, apoias os fracos, recebes os teus convidados com boa comida e respondes aos apelos daqueles que te chamam quando estão em dificuldades.”

Khadijah (r.a.) levou então Muhammad (s.a.w.) ao seu primo, Waraqah ibn Nawfal, um escolástico com um conhecimento profundo da escritura judaico-cristã, tendo o sábio dito a Muhammad que a sua experiência havia sido Divina e que ele seria, de facto, o Último dos Profetas.

Depois de o seu ministério se ter iniciado e de a oposição feita pelo seu povo se ter mostrado impiedosa e brutal, Khadijah (r.a.) esteve sempre ao lado do seu marido para o apoiar, sacrificando toda a sua riqueza para favorecer a causa do Islão. Quando o Profeta (s.a.w.) e a sua família foram banidos para as montanhas no exterior da cidade de Meca, ela foi com ele, sendo que foram esses três anos de sofrimento e privação que eventualmente lhe terão causado a morte. Foi profundo o luto de Muhammad (s.a.w.) pela morte da sua mulher e, mesmo depois de ela ter morrido, o Profeta (s.a.w.) continuou a enviar comida e sustento aos amigos e familiares de Khadijah (r.a.), movido pelo amor que sentiu pela sua primeira esposa.

Certa vez, passados muitos anos da morte de Khadijah (r.a.), Muhammad (s.a.w.) encontrou um colar que ela usara. Ao contemplar o objecto, ele lembrou-se dela, começou a chorar, emocionando-se. O amor que sentia por Khadijah (r.a.) nunca morreu, de tal forma que a sua última esposa, A`isha (r.a.), até teve ciúmes dela.

Com efeito, A`isha (r.a.) chegou a perguntar ao Profeta (s.a.w.), em determinada ocasião, se Khadijah (r.a.) tinha sido a única mulher digna do seu amor. O Profeta (s.a.w.) respondeu-lhe o seguinte:

“Ela acreditou em mim quando mais ninguém acreditava. Ela aceitou o Islão quando todos me rejeitaram e ajudou-me e reconfortou-me quando mais ninguém me deu a mão”.

Muito se tem falado e relatado acerca dos muitos casamentos de Muhammad (s.a.w.). E muitos são aqueles que difamam o Profeta (s.a.w.), considerando-o um galanteador mulherengo, devido aos seus vários casamentos. No entanto, tal não passa de demagogia. Em resposta àqueles que caluniam o Profeta, dizemos o seguinte: SE o Profeta (s.a.w.) fosse esse tipo de homem, ele teria tirado partido da sua juventude para ter esse tipo de comportamento. Mas não o fez! Numa altura em que era prática comum ter-se várias mulheres, o Profeta (s.a.w.) não casou com mais nenhuma enquanto esteve casado com Khadijah (r.a.). Só após a morte da sua primeira esposa, é que ele casou com outras mulheres. A maioria das suas esposas eram viúvas, com quem o Profeta casou para as proteger, ou então eram as filhas de poderosos chefes árabes, com quem o Profeta casava a fim de converter uma aguerrida, tribal e bárbara sociedade numa sociedade árabe harmoniosa. As infâmias que dizem acerca do Profeta (s.a.w.) caem redondas sobre os difamadores assim que a luz da verdade brilha sobre eles.

Numa canção que fala sobre o Profeta e Khadijah, os rappers muçulmanos Native Deen afirmam o seguinte:

“Procuramos em lugares negros e frios por histórias de amor, quando todo o mundo tem uma luz para se orientar com fervor”.

Com efeito, muitas daquelas histórias que actualmente consideramos serem de amor, nada mais são do que histórias de luxúria e desejo, de atracção física disfarçada de amor.

Apesar de tudo, não conheço história de amor mais poderosa e que seja capaz de elevar mais o nosso espírito ou de nos inspirar mais respeito que a de Muhammad (s.a.w.) e Khadijah (r.a.). Com efeito, esta história apresenta-se como o exemplo brilhante de como deverá ser o casamento ideal e, se eu afirmar que amo a minha esposa, devo aferir as minhas acções pelas do Profeta (s.a.w.).

No momento em que o país comemora o Dia de São Valentim e no mês em que, para onde quer que nos viremos, “o amor anda no ar”, não posso deixar de reflectir sobre aquela que considero ser a maior história de amor de todos os tempos – a de Muhammad (s.a.w.) e Khadijah (r.a.).

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