Emir Sader
Quatro dos mais conhecidos intelectuais ocidentais divulgaram uma carta denunciando o que chamam de ‘moral dupla do Ocidente’ em relação ao que vem acontecendo no Médio Oriente, no conflito entre Israel e Palestina. Noam Chomsky e os escritores Harold Pinter, José Saramago e John Berger assinam o texto que denuncia ‘uma prática militar, económica e geográfica de longo prazo, cujo objectivo político é nada menos do que a extinção da nação palestina’. A íntegra do documento é a seguinte:
‘O último capítulo do conflito entre Israel e Palestina começou quando as forças armadas israelitas seqüestraram dois civis, um médico e seu irmão, em Gaza. Um incidente que teve escassa repercussão nos meios de opinião de qualquer parte do mundo, com excepção da imprensa turca. No dia seguinte, os palestinos tomaram como prisioneiro um soldado israelita – e propuseram libertá-lo negociando um intercâmbio de prisioneiros em mãos dos israelitas. Há aproximadamente 10 mil palestinos detidos nas prisões de Israel’.
‘Que este ‘seqüestro’ seja considerado uma atrocidade, enquanto que a ocupação militar ilegal da Cisjordânia e a apropriação sistemática dos recursos naturais dos palestinos – principalmente a água – por parte das forças armadas israelenses é considerada um facto da vida, lamentável mas realista, é típico da dupla moral que com freqüência emprega o Ocidente frente ao que ocorreu aos palestinos, na terra que lhes foi adjudicada mediante acordos internacionais, durante os últimos setenta anos’.
‘Hoje, a uma atrocidade segue-se outra atrocidade; os mísseis improvisados se cruzam com outros sofisticados. Estes últimos, em geral, encontram o seu alvo onde vivem os pobres despossuídos e morando empilhados, esperando o que alguma vez se chamou Justiça. Ambas categorias de mísseis dilaceram corpos de maneira horrorosa – quem senão os comandantes de campo podem esquecer isto por um momento?’
‘Cada provocação e contra-provocação é objectada e dá lugar a um sermão. Mas todos os argumentos, acusações e promessas subseqüentes servem como uma distração para desviar a atenção mundial de uma prática militar, económica e geográfica de longo prazo, cujo objectivo político é nada menos do que a extinção da nação palestina’.
Isso deve ser dito em voz alta e clara já que a prática, declarada somente metade das vezes e freqüentemente encoberta, avança a passos acelerados nestes dias e, em nossa opinião, é preciso reconhecê-la constante e eternamente como o que é, e opor resistência a ela’.