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Al-Mawlid Annabawi – O Nascimento do Selo dos Profetas

Por: M.Yiossuf Adamgy

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

é com imensa alegria que recebemos a celebração do nascimento do Profeta (s.a.w.), facto comummente designado por Al-Mawlid Annabawi.

Desde há séculos que os Muçulmanos celebram o nascimento do Profeta Muhammad (s.a.w.), o último Mensageiro do Islão, em quase todos os países do Mundo. Este é para eles um acontecimento de extrema importância; trata-se do momento precioso para invocar a vida e o comportamento maravilhosos deste feliz eleito de Deus. (1) Para além disso, muitos são os Muçulmanos que aproveitam a altura para renovar o seu pacto, o seu amor e a sua visão relativamente ao Profeta (s.a.w.) e à sua Suna.(2) O amor do Profeta (s.a.w.) não faz senão que aumentar o regresso à religião, que é detectável a olho nu por todos os observadores.

Para nós, ricos em experiências são os acontecimentos relativos ao seu nascimento, ao seu contexto familiar e à sua primeira infância, e dos quais apresentamos a seguir um breve resumo.

O ANO DO ELEFANTE

O elefante ajoelhou-se, recusando-se a avançar. Abrahah, chefe de um exército temível e furioso, construíra uma enorme Igreja em Sanaa no Iémen, e vinha agora para destruir a Santa Ka’aba de Meca, na ideia de edificar uma nova Ka’aba. Subitamente, um bando de pássaros enviados por Deus aparece e atira-lhes pedras,(3) que os trespassam como setas, fazendo-os tombar. O acontecimento desta viagem do elefante chama a nossa atenção para a nobreza da Ka’aba, a Casa de Deus, ocorrência, essa, que teve lugar cerca de cinquenta dias antes do nascimento do Profeta (s.a.w.).

A GENEALOGIA DO PROFETA (S.A.W.)

Muhammad (s.a.w.) nasceu em Meca, na manhã de uma segunda-feira, décimo segundo dia do mês de Rabi’-Al-Awwal,(4) por volta de 571 D.C., filho de Abdallah e de Aminah bint Wahb.(5) Era membro da tribo dos Banou Hachim, cujas raízes provinham da linhagem dos Árabes Adnan. Assim sendo, tratava-se de uma família nobre de Meca em primeiro grau.

A sua genealogia, conforme rezam as crónicas, (6) é a seguinte: Muhammad é o enviado de Deus, sendo filho de Abdallah, filho de Abdelmottalib, filho de Hachim, filho de Koussaie, filho de Kilab, filho de Mourrah, filho de Kaab, filho de Louae, da linhagem de Ismael, filho de Abraão, servo devoto de Deus.

Por conseguinte, a sua árvore genealógica é pura, não conspurcada por qualquer acto de incesto ou adultério (7).

Abdallah, pai de Muhammad (s.a.w.), era famoso pela sua pureza e bons hábitos. Faleceu, estava a sua esposa grávida, aquando de uma viagem de negócios a Medina (8).

O NASCIMENTO DA LUZ BRILHANTE

Quando Aminah bint Wahb deu à luz, Abdelmot- talib, avô do Profeta (s.a.w.), encheu-se de alegria, tendo celebrado o seu nascimento. O nome por ele escolhido foi “Muhammad”.

“Espero, disse Abdelmottalib, pela graça de Deus, que ele seja louvado e glorificado no Céu por este nome, e que o seja também na Terra” (9)

A mãe do Profeta (s.a.w.) não sentiu quaisquer dores de parto e ele nasceu já circuncidado. Os Anjos lavaram-no de toda a mácula e marcaram-no nas costas, entre os ombros, com o selo da profecia.

Nesse mesmo instante, uma luz brilhante iluminou todas as regiões circundantes, o fogo sagrado dos Persas, acesso desde há mil anos, apagou-se, como que por encanto.

A PRIMEIRA INFÂNCIA E A FENDA NO SEU PEITO

Os primeiros anos de vida do Profeta (s.a.w.) foram passados ao lado da mãe, Aminah. Era hábito entre os habitantes de Meca confiarem as crianças de tenra idade a amas beduínas. No entanto, visto tratar–se de uma criança órfã e de poucas posses, ama alguma pretendia cuidar dele. Por não pretenderem regressar de mãos vazias, Halima e o seu marido aceitaram ficar com o bebé.

“Aceitamo-lo! Talvez Deus nos abençoe e a Sua bênção regresse à nossa tenda.” (10)

De facto, a prosperidade não mais abandonou a tenda deste casal.

Consciente desta bênção e dois anos após ter aceite cuidar de Muhammad (s.a.w.), Halima suplicou à mãe dele, Aminah, a qual pretendia o filho de volta, para que o deixasse ficar por mais alguns anos. Foi nesta altura, e antes de Muhammad (s.a.w.) ter completado o seu terceiro ano de vida, que ocorreu um incidente deveras importante. Um dia, um irmão de leite do Profeta (s.a.w.), muito assustado, correu para junto dos pais e informou-os que pessoas vestidas de branco tinham agarrado Muhammad (s.a.w.), o tinham deitado no chão e aberto o seu peito. Os pais correram para junto do Profeta (s.a.w.) e encon- traram-no pálido e com os olhos fixos no Céu. Questionado sobre o que sucedera, ele disse-lhes que dois homens vindos do Céu abriram-lhe o peito, retira- ram-lhe o coração, removeram um coágulo negro (a parte pertencente a Satanás) e tornaram a meter-lhe o coração no peito, depois de o ter lavado com a água de Zamzam (11), da qual sentia ainda a frescura (12).

Halima ficou de tal forma assustada, que entregou a criança à mãe.

Aos seis anos, Muhammad (s.a.w.) ficou órfão de mãe, falecida no caminho de regresso após ter visitado o túmulo do marido, Abdallah, nas proximidades de Medina. A tutela da criança passou, então, para o benevolente avô. Mais tarde, aos oito anos, Muhammad (s.a.w.) perderia o avô e passaria a estar sob a tutela do tio, Abou Taleb, com o qual trabalhava como pastor de modo a contribuir para o magro orçamento familiar.

Maravilhoso é este relato, ainda que breve, e feliz é aquele que souber beneficiar por sentir com o coração, a palavra e o gesto o seu amor para com o Profeta (s.a.w.).

AMAR E SEGUIR SIMPATICAMENTE O PROFETA (S.A.W.)

Toda a comunidade Muçulmana (a Ummah) honra o Profeta (s.a.w.) e sente por ele um respeito imenso.

Todo o Muçulmano carrega no seu coração e no seu espírito uma parcela não negligenciável deste amor para com a pessoa do Profeta (s.a.w.), deste afecto, e guarda na memória várias recitações das suas sábias palavras ou de episódios da sua vida.

Os eruditos, pela sua ciência e pelo seu envolvimento na Escritura, contribuíram para a redacção da história da sua vida (13), para a compilação dos seus Hadices e, inclusive, para a consagração de poemas em seu louvor. Não lhes escapou pormenor algum da vida do Profeta (s.a.w.) e nem personalidade alguma da história humana retém tanta atenção ou “historicidade”, tanto amor e tanto acompanhamento. Ao longo dos séculos, os Muçulmanos têm recitado o Alcorão e ensinado aos seus filhos a vida do Profeta Muhammad (s.a.w.), tal como também eles a aprenderam.

é dever de todo o Muçulmano expressar este amor; de facto, é esta a melhor forma de aceder à transcendência. Se a companhia efectiva lhe falta, a companhia espiritual (a Sohba) (14) está sempre disponível, de dia e de noite, e isto até ao fim da vida na Terra. Muçulmano algum sentirá cansaço por relatar a sua vida ou as suas “máximas” sábias e inigualáveis que, para além do mais, revelam tratar-se de um Enviado de Deus.

Meditemos neste Hadice, da mais alta importância, esquecido nas compilações de Ahadices, e que resume o respeito e a afeição que devemos ter para com esta pessoa, que eu classificaria de “pureza universal”.

O Profeta (s.a.w.) disse: “Quando verei eu os meus irmãos?”. Não somos nós teus irmãos? “Vós sois os meus Companheiros e os meus irmãos são aqueles que acreditam em mim sem nunca me terem visto.” (15).

O Profeta (s.a.w.) encarna a Mensagem que transmitiu à Humanidade para a retirar das trevas, em direcção à luz (16). Deus quis que o Seu Enviado encarregue desta missão fosse um homem detentor das mais elevadas qualidades. O Mensageiro permanece, no entanto, um ser humano, pelo que é, e em todas as circunstâncias da sua vida, um modelo. Em todo o caso, não devemos privarmo-nos desta fonte inesgotável, pois isso seria uma perda.

Para além do mais, o espaço de que aqui dispomos é demasiado pequeno para uma personagem tão grandiosa que, na verdade, merecia sessões regulares em torno do nosso Bem-Amado.

Mas, seguidamente, escutemos com atenção as palavras, tanto de Deus, como do Seu Enviado, as quais superam qualquer outro discurso…

Deus disse:

“Na verdade, Deus e os Seus anjos abençoam o Profeta. Ó fiéis, abençoai-o e saudai-o reverentemente” (17).

Segundo Al-Hussayn, o Profeta (s.a.w.) disse o seguinte:

“O egoísta é aquele que não reza por mim, quando o meu nome é pronunciado na sua presença.” (18)

Ó Deus! Concede as Tuas graças unitivas, a Tua paz e a Tua bênção à mais nobre das Tuas criaturas, o nosso Senhor e Mestre Muhammad (s.a.w.), o oceano da Tua luz!

Ó Deus! Concede-lhe, pois, uma graça e uma saudação pela qual desfazes os nossos nós (existenciais), dissipas a nossa aflição, cumpres o nosso desígnio e terminas o nosso caminho!

NOTAS:

  1. Neste nosso artigo, utilizamos a palavra “Deus” e não a palavra Árabe “Allah”, de modo a explicarmos aos Muçulmanos e aos não-Muçulmanos que o nosso Senhor chama-se Deus em Português, Allah em Árabe e God em Inglês. é uma maneira sábia de evitar confusões, visto tratar-se sempre do mesmo e único Deus. Durante muito tempo, os Orientalistas brincaram com esta diapasão. Após o 11 de Setembro, um jornalista intitulou o seu artigo da seguinte forma: “O Deus de Jesus contra Allah dos Árabes”. Para além disso, vejamos o que escreveram os seguintes autores, Sue Grabham e Tara Benson, no livro “A enciclopédia das crianças”, edição France Loisirs, ano de 1999, página 127: “O Islão é a religião dos Muçulmanos, os quais acreditam num Deus denominado Allah, cujas palavras foram escritas por Muhammad no Alcorão. Os Muçulmanos rezam na cidade santa de Meca.”.
  2. A Suna é o conjunto dos ensinamentos do Profeta (s.a.w.).
  3. Cf.. o Alcorão, Sura do Elefante.
  4. Segundo Ibn Hicham, há que ter em conta que o calendário de Meca era lunar.
  5. Conservamos vários poemas de Aminah, bem como de outros membros da família de Abdelmouttalib (cf. Ibn Hicham).
  6. Ibn Hicham, Ibn Saad, Abou Nou’aym, Qadi Ayyad, Attirmidi e outros.
  7. Há um Hadice que se refere a isto, narrado por Muslim e Tirmidhi. Ver também Ibn Hicham.
  8. O túmulo do seu pai encontra-se em Medina, entre a tribo dos banou An-najjar, família de Abdelmottalib. Mais tarde, o Profeta (s.a.w.) recordar-se-ia que fora num local pertencente a esta tribo que ele aprendera a nadar, local esse a poucos passos da Mesquita de Qoba, a primeira Mesquita do Islão.
  9. Ibn Hicham, “A Biografia do Profeta (s.a.w.)”.
  10. Ibn Hicham, “A Biografia do Profeta (s.a.w.)”.
  11. A água de Zamzam é uma água que brota ao lado da Ka’aba, em Meca.
  12. A história da “fenda no peito” é referida por várias compilações de Hadices autênticos. Citam-se, entre outros, Boukhari e Muslim, segundo Anas Ibn Mal.
  13. Os primeiros que escreveram sobre a biografia – Sirah – do Profeta (s.a.w.) foram: Ibn-Is’haq, Ibn Hicham, Ibn Sa’d, Al-Waqidi, Ibn-Al-Kalbi, Al-Baladhuri, Ibn Bakkar e outros.
  14. A Sohba é a boa companhia e o amor daqueles que possuem o saber e a alta espiritualidade.
  15. Hadice narrado por Ahmed.
  16. Em dez anos, o Profeta (s.a.w.) edificou um Es- tado com mais de 3 milhões km², o qual legou aos seus sucessores, que em apenas quinze anos o estenderam por três continentes: Europa, África e Ásia. Este feito miraculoso não pode ser interpretado apenas pela lei da “causa e efeito”.
  17. Alcorão, Sura “Os partidos”, versículo 56.
  18. Hadice referido por Ahmed, Attirmizi e An-Nas- sa-i.
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