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Fundamentalismo Islâmico na ribalta

M. Yiossuf Mohamed Adamgy

“Não há coerção na religião” – (Alcorão, 2:256)

“O conhecimento das pessoas acerca umas das outras deve ser promovido; sem o conhecimento mútuo não haverá a compreensão mútua e sem a compreensão mútua não haverá respeito mútuo e sem respeito mútuo não haverá confiança mútua, e sem confiança mútua não haverá paz, mas sim inevitáveis conflitos entre as civilizações”. (Roman Hertzog, Político Alemão).

O fundamentalismo Islâmico dominou e domina os meios de comunicação ocidentais ao seguirem as actividades dos militantes muçulmanos. Quem é o fundamentalista e o que significa este termo? é o muçulmano com o turbante o muçulmano com a grande barba o muçulmano com as calças a três quartos ou os muçulmanos suprimidos lutando pela liberdade?

Segundo a Enciclopédia de Cambridge, fundamentalismo significa: uma tendência teológica que procura preservar o que é considerado as doutrinas essenciais (fundamentais) da fé Cristã. O termo foi usado, originalmente, pelo movimento protestante dos Estados Unidos nos anos 20, caracterizado por uma interpretação literal da Bíblia, e revivido pelos movimentos cristãos conservadores nos finais do século XX. Habitualmente é qualquer posição teológica que se oponha ao liberalismo. De acordo com o Dicionário de Oxford, fundamentalismo significa: (no pensamento cristão) crença que a Bíblia é literalmente verdade e deve formar a base do pensamento e prática religiosos. Por conseguinte, é uma expressão usada para descrever a estrita aderência às doutrinas Cristãs (ausência de erro na Bíblia, nascimento virginal e divindade de Jesus Cristo, remissão dos pecados através da sua morte, ressurreição física de Jesus), baseada numa interpretação literal da Bíblia.

Como se vê, o conceito de fundamentalismo surge em ambiente Cristão, sendo completamente estranho ao Islão: nada existe na Doutrina Islâmica que se lhe possa assemelhar. Não existe Fundamentalismo no Islão, pela simples razão de que não existe no Islão um “conjunto mínimo de conceitos fundamentais” tudo nele é fundamental. Praticar oração, fazer jejum, dormir, acordar, comer, beber, cumprimentar o Muçulmano que se encontra, trabalhar, não cometer adultério, lutar pelo Bem e rejeitar o Mal, etc… Não existem pontos mais fundamentais que outros… Como é que então a palavra fundamentalismo acabou associada ao Islão?

É o ressurgimento dos militantes muçulmanos suprimidos nas várias partes do mundo que lutam pela liberdade ou independência do seu País, ou para criar estados islâmicos (salvaguardando a tolerância exigida pelo Alcorão para com os não Islâmicos)? Estas pessoas seguem somente os ditados das doutrinas da sua religião. Há vários Ahadice e versículos do Alcorão que mandam os muçulmanos esforçarem-se de modo a divulgarem o Islão e estabelecerem a Chari’ah. Deus os enriqueceu com directivas referentes ao método, termos de referência e ponto de partida para o diálogo inter-cultural. Assim o método do diálogo seria baseado na sabedoria e pregação bondosa, como é articulado no seguinte versículo do Alcorão:

“Convida (todos) para o caminho do teu Senhor, com sabedoria e uma bela exortação.” (16:125).

Abu Hurairah (Companheiro do Profeta) disse que o Mensageiro de Deus (paz esteja com ele) disse: “Quem quer que morra sem se esforçar pela Causa Islâmica e sem o sentir como seu dever, morre numa espécie de hipocrisia.” Muçlim (Compilador das tradições do Profeta, a sua obra foi apelidada de verdadeira).

Depois de uma cuidadosa análise da Enciclopédia de Cambridge, todos os pontos tendem a centrar-se na implementação prática das doutrinas religiosas e na oposição ao liberalismo. Depois de ver a explicação da palavra no Dicionário de Oxford creio que os novos meios de comunicação ocidentais devem substituir as palavras Cristãos por Muçulmanos e Bíblia por Alcorão para darem aos Muçulmanos o rótulo de fundamentalistas. No entanto, se rejeitarmos o rótulo fundamentalista, estaríamos a rejeitar a doutrina do Islão.

O Islão rejeita o extremismo mas concilia fundamentalismo como uma irrejeitável parte da fé (fé Islâmica). Nesse caso, os verdadeiros Muçulmanos são automaticamente fundamentalistas tal como o Profeta (paz esteja com ele), os Companheiros e todos os verdadeiros Imames e Ulamas ao acreditarem nos Mandamentos de Deus de que devem governar e ser governados pela Chariah (Lei Divina). De facto, a implementação da Chariah principalmente em países onde os Muçulmanos formam a maioria é uma parte significante de Tawheed al-ibadah (Unicidade da Adoração).

Os meios de comunicação ocidentais tratam o fundamentalismo como se ele fosse uma parte desnecessária de qualquer religião (considerada monoteísta). Contudo, é frequente a comunicação social ocidental falar, erradamente, em “Fundamentalismo Islâmico” para caracterizar a acção violenta de certos grupos. Mais uma ilustração da confusão existente sobre o Islão… Sendo o Islão a Religião da paz proporcionada pela submissão (Islão) a Deus, é impensável que a violência constitua um traço característico da doutrina Islâmica.

Todos sabemos que para manter a dignidade humana se torna por vezes imperioso combater outros seres humanos. (Por exemplo, a guerra contra o nazismo, as guerras de libertação colonial, a guerra contra os criminosos sérvios nos Balcãs…). Por maioria de razão se justifica a guerra contra os que impedem os crentes de adorar Deus e de alcançar, portanto, o mais alto grau de dignidade humana. Guerra defensiva, pois.

O Islão não permite nunca guerras ofensivas. A forma de conduzir a guerra defensiva no Islão está também regulamentada e os seus limites “fundamentais” não podem ser ultrapassados. Um dos aspectos essenciais da forma de conduzir a guerra no Islão, é a ilegitimidade de produzir danos em civis e destruir a natureza. São assim rejeitadas as guerras químicas ou bacteriológicas, a bomba atómica… supremas criações da tecnologia Ocidental, fruto de uma civilização Cristã… Igualmente rejeitada é a utilização de bombas em cidades, desvios de aviões, etc.

Consequentemente, todos os grupos que utilizam formas de luta proíbidas pelos princípios Islâmicos, colocam-se à margem do Islão e deverão ser chamados “marginais do Islão”, ou algo equivalente, mas nunca “fundamentalistas Islâmicos”. Porque é que a palavra “fundamentalista” irrita os Muçulmanos? A razão é, esteve, e está associada com grupos militantes suprimidos que lutam pela liberdade política. A maior parte dos sequestros, bombardeamentos ou mortes que acontecem no mundo são-lhes atribuídos. Uma vez que a natureza interior do homem não gosta de violência e a palavra “fundamentalismo” (neste caso) é associada a violência, as pessoas tendem a desaprovar a palavra. Isto teve como resultado que Muçulmanos fracos ficassem impacientes com qualquer organização rotulada de fundamentalista pelos meios de comunicação. Porque é que os membros Muçulmanos do Islão se tornaram militantes em várias partes do mundo? As razões são numerosas e variam de lugar para lugar.

Um dos factores que encoraja o crescimento do extremismo no Médio Oriente é a manipulação política pelos poderes investidos. Eles frustraram com sucesso (manobrado) tentativas da parte de partidos islâmicos legítimos de obterem poder através de votação. De igual modo, houve prisões em massa de trabalhadores islâmicos sob acusação de conspiração para deitar abaixo governos “legalmente estabelecidos”. Todos estes factores fortaleceram as forças de extremismo, dando ênfase aos sintomas em vez da causa na raíz do mal. Interessantemente, o fundamentalismo religioso foi firmemente estabelecido entre os militantes judeus de Israel. Mas os meios de comunicação controlados pelos judeus ignoram as suas actividades e escolheram em vez disso encorajar o que eles chamam “fundamentalismo Muçulmano”. Porque se teme o Islão? Porquê o ataque violento contra o Islão?

Com estas questões à minha frente, lembrei-me do que escreveu o Dr. Omar Lufti Al Alim em Risalat-Al-Jihad edição nº 18: “O Ocidente desperto apercebeu-se pelo seu instinto e olhos sempre abertos que a mente Islâmica é um enorme arsenal e um bloco não eruptível. Mais especificamente, o Ocidente compreende que os Muçulmanos sofrem de uma ruptura de pensamento e conduta.” A ruptura é temporal na maior parte dos casos. No entanto, o Ocidente tentou e tentará sempre forçar uma separação entre o nosso pensamento e a nossa conduta para criar uma ruptura permanente. Não devemos permitir que nos divorciemos tanto do Alcorão como do Hadice ou de outra doutrina islâmica essencial. É o que cria a nossa diferença em relação a eles.

O que é mais estranho é que a palavra fundamentalista foi dissociada dos grupos cristãos fundamentalistas. Um exemplo claro é o grupo rebelde fundamentalista do Uganda: o Exército da Resistência do Senhor que luta contra o governo e tenciona governar o Uganda segundo os Dez Mandamentos da Bíblia. Esta propaganda calculada teve um sucesso significativo ao dividir os Muçulmanos em dois grupos. Os que aceitam o rótulo porque conhecem a sua religião e os Muçulmanos ignorantes que o rejeitam. Estes últimos criticam mesmo os grupos legítimos Muçulmanos rotulados pelos meios de comunicação como fundamentalistas. Uma vez que seja dado a uma organização Islâmica ou a um país este rótulo, passam por um rápido processo de metamorfose para o extremismo e finalmente para o terrorismo. Com este estado final, a organização está pronta para se juntar à lista de grupos ou países terroristas marcados para a destruição… Por isso, apelo aos meus irmãos Muçulmanos que se descontraiam com o rótulo de “fundamentalistas”.

É tudo uma estratégia calculada no sentido de dividir para reinar, apontada à unidade dos muçulmanos. Como o “inimigo” faz horas extraordinárias interior e exteriormente, rezo a Deus Todo Poderoso para que nos ajude a manter firmes na nossa fé, sensatamente. Aos não-Muçulmanos chamo a sua atenção para o seguinte: Conflito é a verdadeira coisa desejada por aqueles que forjam e manipulam factos com intenções malévolas, domínio sobre os outros, e corrupção sobre a Terra, apesar do facto de agora o mundo se ter tornado mais pequeno, nas distâncias, e diferenças de tempos e espaços grandemente reduzidas. Este facto só por si seria mais que suficiente para um diálogo inter-civilizacional do que para conflitos culturais, e para o estabelecimento da coexistência pacífica baseada na justiça, não no medo e no terror?

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