Por: M. Yiossuf Mohamed Adamgy
Artigo Publicado no Diário de Noticias em 3 partes.
Publicado no dia 10/10/2001
O Islão denuncia o terrorismo, pois o Alcorão é categórico a dizer: ” … Aqueles que causam corrupção na terra, sobre eles pesará a maldição e obterão a pior morada!” (Versículo Ar Ra’d, 13:25).
Durante as duas últimas décadas em particular, o conceito do “terror Islâmico” tem sido frequentemente discutido. Na manhã do dia 11 de Setembro de 2001, terroristas atacaram alvos em Nova Iorque e em Washington, o que provocou a morte de milhares de civis inocentes, e esse conceito, uma vez mais, regressou ao topo da agenda internacional.
Como Muçulmanos, condenamos completamente estes ataques bárbaros e oferecemos as nossas condolências ao povo Americano, curvando-nos com a mesma dor que sentimos diante de todos os povos injustiçados do mundo.
Neste apontamento, explicaremos que o Islão não é de forma alguma a fonte desta violência e que esta violência não tem qualquer lugar no Islão.
Condenamos fortemente os cruéis actos terroristas que atingiram o povo inocente dos Estados Unidos.
Um ponto a sublinhar logo no início é o de que as identidades dos perpetradores dos actos de terrorismo que atingiram os Estados Unidos, não foram ainda determinadas. Existe a possibilidade de que estes horríveis atacantes estejam ligados a centros muito diferentes. Pode bem ser uma organização que abriga raiva e ódio contra os valores Americanos, uma organização fascista que se opõe à administração federal ou uma facção secreta num outro estado. Mesmo que os piratas do ar possuam identidades Muçulmanas, as questões relativas a por quem e com que objectivos estas pessoas foram usadas, provavelmente permanecerão um mistério.
A realidade que permanece no entanto, é a de que, mesmo que os terroristas possuam identidades Muçulmanas, o terror por eles perpetrado não pode ser classificado de “terror Islâmico”, da mesma forma que não seria chamado de “terror Judaico” se os perpetradores fossem Judeus, ou de “terror Cristão” se fossem Cristãos.
Isto porque, como o verificaremos no seguimento deste apontamento, assassinar pessoas inocentes em nome da religião é inaceitável. Devemos ter em mente que, entre aqueles que foram mortos em Washington ou em Nova Iorque, havia pessoas que amavam Jesus (Cristãos), o Profeta Moisés (Judeus) e Muçulmanos (que amavam todos os Profetas, incluindo Moisés, Jesus e culminando em Muhammad (a paz esteja com todos eles). Segundo o Islão, assassinar pessoas inocentes é um grande pecado que, a menos que seja perdoado por DEUS, conduz ao tormento do Inferno.
Assim, uma pessoa religiosa que tenha receio a DEUS não pode nunca cometer um tal acto.
De facto, os agressores podem cometer uma tal violência apenas com a intenção de atacar a própria religião. Pode bem ser que tenham executado esta violência para apresentar a religião como maléfica aos olhos das pessoas, para divorciar as pessoas da religião e para originar ódio e reacção contra as pessoas piedosas. Consequentemente, cada ataque, ao ter uma fachada “religiosa” contra cidadãos Americanos ou contra outros povos inocentes é, na realidade, um ataque feito contra a religião.
Todas as três religiões monoteístas ordenam o amor, a misericórdia e a paz. O terror, por outro lado, é o oposto da religião; é cruel, impiedoso e exige o derramamento de sangue e a miséria. Sendo este o caso, enquanto se procuram os perpetradores de um acto terrorista, as suas origens devem ser procuradas na descrença em lugar de o serem na religião. Pessoas com uma concepção de vida racista ou materialista podem ser suspeitas como potenciais perpetradores. O nome ou a identidade do assassino não é importante. Se ele consegue matar pessoas inocentes sem pestanejar, qualquer que seja o seu rótulo, então, ele é um descrente, e não um crente, é um assassino sem receio a DEUS, cuja ambição principal é derramar sangue e causar o mal.
Por este motivo, “terror Islâmico” e “ameaça do Islão” é um conceito muito erróneo, o qual contradiz a mensagem do Islão. Isto deve-se ao facto de que, a religião do Islão, não pode, de forma alguma, concordar com o terror. Pelo contrário, os Muçulmanos são responsáveis por impe- dimento de actos terroristas e por trazerem a paz e a justiça ao mundo.
É igualmente frequente a comunicação social ocidental falar, erradamente, em “Fundamentalismo Islâmico” para caracterizar a acção violenta dos grupos terroristas. Mais uma ilustração da confusão, quiçá premeditada, existente sobre o Islão… E dizemos premeditada, porque é raro falar-se de “Fundamentalismo Cristão” ou de “Fundamentalismo Judaico”, que, nessa ordem de ideias, também existe… . Sendo o Islão a Religião de paz (islam) proporcionada pela submissão a DEUS, é impensável que a violência constitua um traço característico da Dou- trina Islâmica. Todos sabemos que para manter a dignidade humana se torna por vezes imperioso combater ou- tros seres humanos. (Por exemplo, a guerra contra o nazis- mo, as guerras de libertação colonial, a guerra contra os criminosos sérvios nos Balcãs…). Por maioria de razão se justifica a guerra contra os que impedem os crentes de adorar DEUS e de alcançar, portanto, o mais alto grau de dignidade humana. Guerra defensiva, pois. O Islão não permite nunca guerras ofensivas.
A forma de conduzir a guerra DEFENSIVA no Islão está também regulamentada e os seus limites “fundamentais” não podem ser ultrapassados. Um dos aspectos essenciais da forma de conduzir a guerra no Islão, é a ilegitimidade de produzir danos em civis e destruir a natureza. São assim rejeitadas as guerras químicas ou bacteriológicas, a bomba atómica… supremas criações da tecnologia Ocidental…
Igualmente rejeitada é a utilização de bombas em cidades, desvios de aviões, etc.
Consequentemente, todos os grupos islâmicos que utilizam formas de luta proíbidas pelos princípios Islâmicos, colocam-se à margem do Islão e deverão ser chamados “marginais do Islão”, ou algo equivalente, mas nunca “fundamentalistas Islâmicos”.
Os Valores do Alcorão exigem, Bondade, Justiça e Paz.
O terror, no seu sentido mais amplo, é a violência cometida contra alvos não militares devido a fins políticos. Dizendo isto de outra forma, os alvos do terror são civis completamente inocentes, cujo único crime é, aos olhos dos terroristas, representarem “o outro”. Isto é um acto desprovido de qualquer justificação moral. Isso, como no caso dos crimes cometidos por Hitler ou Estaline, é um crime cometido contra a “humanidade”.
O Alcorão é um Livro revelado às pessoas como um guia para o verdadeiro caminho e nele, DEUS ordena ao homem que adopte bons princípios morais. Esta moralidade encontra-se baseada em conceitos como o amor, a compaixão, a tolerância e a misericórdia. DEUS chama todas as pessoas para os princípios morais Islâmicos, através dos quais a compaixão, a misericórdia, a paz e a tolerância podem ser sentidas em todo o mundo:
“Ó vós que credes! Abraçai a paz (Islão), integralmente. E não sigais os passos de Satanás. Pois ele é o vosso inimigo declarado”. (Versículo al-Baqara, 2:208).
Os valores do Alcorão tornam um Muçulmano responsável por tratar todas as pessoas, quer sejam ou não Muçulmanas, amavelmente e justamente, protegendo os necessitados e os inocentes e impedindo a “disseminação do mal “. O mal compreende todas as formas de anarquia e de terror que aniquilam a segurança, o conforto e a paz. Como DEUS diz num versículo:
“Deus não ama os que praticam o mal”. (Versículo al-Qassas, 28: 77).