Publicado na Revista Única de 19 de Junho de 2010
Azul. Profundamente azul. Daquele que voa. Rosa. Femininamente rosa. Daquele que choca. Negro. Lusitanamente negro. Daquele que oculta. Creme. Serenamente creme. Daquele que ora. São as cores dos véus das portuguesas que se tapam pelo Islão.
Convertidas ou já nascidas no seio desta religião, elas decidiram a certa altura que só mostrariam os seus corpos a quem quisessem. Acusadas pela sociedade ocidental de se terem convertido em símbolos da submissão, batalham diariamente para professar a sua fé. Escondem-se nos quartos, enfiam os lenços para o fundo das malas. Ousam-se nos transportes públicos. Sem um fio de cabelo à mostra. Mas dando a cara pela fé que abraçaram.
Karimah, a generosa
Se olhar pela janela, vejo o cemitério do Alto de São João. Mas se olhar para dentro daquela casa em Lisboa, descubro o sol de Marrocos. As paredes estão pintadas com cores quentes, o chão coberto com pequenos tapetes também coloridos. Lá reina a suave Karimah, que atende por Vera Soares quando quem chama são não-islâmicos.
O véu de Karimah é azul, fino e transparente. Por baixo, tem uma fita que disciplina qualquer fio de cabelo mais impertinente. No quarto, ao lado da cama e em baixo do espelho, tem um cesto de vime, cheio de véus e lenços, de várias cores. Compra-os em lojas de pronto-a-vestir, são feitos por uma amiga da mãe, são comprados às “irmãs” ou oferecidos e, neste caso, vieram de Marrocos, do Dubai e da Tunísia.
Varia tons e texturas. Só não prescinde daquilo que já não é um adereço, é parte dela. “O lenço é a minha roupa. Sem ele, sinto-me despida! Em relação à minha personalidade, fico mais confiante e, em relação ao meu comportamento, com maior responsabilidade. Porque, ao sair de lenço, não estou a dar a cara só por mim, mas por uma comunidade. Sei que tudo o que faço é controlado e, à pequena falha, as pessoas aproveitam logo. Não vão apontar o dedo e dizer ‘aquela mulher, isso ou aquilo’, mas sim ‘aquela gente, assim ou assado’…”, afirma.
Artista plástica, é ela que decora os cantinhos daquele ninho. Aos 30 anos, as mãos redondinhas afagam repetidamente a barriga de cinco meses de gravidez. Quando o bebé nascer, Karimah descobrirá o sexo da criança. Não tem pressa nem curiosidade. Deus já sabe, e é quanto basta. Mais importante será soprar-lhe a oração corânica, ainda na sala de partos. Assim manda a tradição de uma religião que permite o aborto até que a gravidez complete 120 dias. Depois não, que a alma já foi soprada para aquele novo corpo. Mas esta questão não se coloca para Karimah. O bebé é desejado por ela e pelo marido, um músico marroquino.
Naquele dia, em que conta baixinho a sua história, temperada pela timidez de quem se abre, Karimah explica que nasceu numa família católica não praticante. Foi baptizada e fez a primeira comunhão. Mas foi perdendo o gosto pelas idas à igreja, porque se cansou de ouvir “as conversas maledicentes” dos crentes da Foz do Arelho, onde vivia na altura. A sua ligação à transcendência passava por outros caminhos. “Tinha muito preconceito em usar a palavra Deus”, explica. Gostava de olhar o céu, ouvir os pássaros. Não precisava de um templo.
Passou por uma adolescência difícil, desintegrada. Preferia ficar em casa. “Sempre achei muito bonito o papel da mulher como alicerce da família”, sussurra, enquanto lembra um tempo em que era “completamente ignorante do Islão”. Veio para Lisboa com a ideia de abrir uma loja de artesanato. Não era fácil e, para juntar dinheiro, começou a trabalhar numa cooperativa cultural. Lavava a loiça, apanhava os copos sobre a mesa.
O lugar era frequentado por alguns muçulmanos que tocavam num grupo musical marroquino. Fez um amigo que lhe foi explicando os nós que compõem o tecido da fé islâmica. Dali foi um passo até começar a ter aulas de árabe na mesquita central de Lisboa. Deram-lhe um Alcorão em português. Foi-se deixando fascinar e começou a estudar: “Percebi que aquela religião ia ao encontro do que eu sou. Lia o Livro Sagrado e chorava, sem saber porquê.”
Este amigo disse-lhe, e ela nunca esqueceu: “Segue o Islão, não os muçulmanos.” Assim tem sido e há-de ser. Tanto que, depois de convertida, se casou com um dos músicos marroquinos. Não aquele que a apresentou ao Islão. “Sempre tive muita vontade de ir a Marrocos. Nunca fui até lá, mas Marrocos veio até mim, mas de maneira nenhuma me converti por causa dele!”, garante.
A conversão de Karimah aconteceu em Julho de 2008. O casamento veio mais tarde. “Pedi ao xeque: quero ser muçulmana! Arrepia-me ver a fé daquelas pessoas. Que força as move a rezar?”, pergunta, como quem ainda constrói a sua própria identidade religiosa. “Dias antes da conversão, já saía de véu e ia toda feliz pela rua”, diz Karimah, ainda a sorrir. Mas não foi fácil. Como no dia em que um homem entra no metro e, ao vê-la toda coberta, beija ostensivamente uma medalha de Fátima, a mãe do Deus cristão, que tem o mesmo nome da filha do Profeta. Ou como no dia em que, também no metro, uma mulher, já com alguma idade, lhe pergunta: “É católica?” Perante a resposta afirmativa de Karimah, explode em resposta: “Então, há-de morrer católica!”
“As mulheres não-muçulmanas são piores para as convertidas que se cobrem com o véu. Nós fazemos-lhes muita comichão. Acham que somos submissas, não conseguem compreender que optámos”, ri-se Karimah, com o à-vontade de quem já não se deixa magoar.
Hanifa, a monoteísta mais jovem
Não pode usar o seu nome cristão porque ainda não se assumiu perante a família. Aqui será apenas Hanifa Ruqayya, a monoteísta, filha do Profeta. Uma talibã para o xeque Munir, imã da mesquita central de Lisboa, que assim a trata num encontro de corredor. Perante o frisson que causa a palavra maldita entre os presentes, o xeque explica e tranquiliza: “Talibã é apenas estudante.” E ela é uma estudiosa.
Converteu-se em Dezembro de 2009. Cresceu Testemunha de Jeová, mas aos 18 anos começou a ser assaltada por dúvidas. “Sentia que havia incoerência entre as normas e os comportamentos dos crentes”, explica. A insatisfação cresceu: “Sentia que não podia pensar pela minha cabeça.” Foi o início de um processo solitário. Hanifa deixou de acreditar em religiões, embora “sempre tenha acreditado em Deus”. Começou a estudar todas as crenças. Foram três anos de duro questionamento. E então chegou ao Islão.
A certa altura, saiu de Portugal para se aperfeiçoar profissionalmente e, num país europeu que pede para não identificar, para que não a possam reconhecer, encontra uma vasta comunidade muçulmana. “Fui bem acolhida e fiquei muito impressionada com a modéstia das mulheres e com a religiosidade dos homens. Senti paz, nunca submissão, e aquela era uma imagem desejável para mim”, explica.
O YouTube abriu-lhe a porta do Islão. Entrou para um fórum da comunidade islâmica na Internet, contou a sua história e recebeu um convite para assistir às aulas do xeque Zabir. Um fórum de discussão do Islão, aberto a quem quiser participar, aos sábados à tarde, na mesquita central da capital.
Hanifa não se assume porque diz que, se o fizesse, “sofreria represálias”. Mas nada a impede de orar, à porta fechada, no quarto da casa dos pais, onde ainda vive aos 22 anos. O véu traz-lhe “segurança”. Sem ele, sente “falta de poder, vergonha”. “Sou eu que quero decidir que exposição dou à minha imagem”, explica. Afinal, a falta do véu é “um incómodo”, conclui. Na mesquita, sente-se em casa. Usa o véu. E questiona: “Uma freira usa o véu por opção religiosa, porque é que com as muçulmanas não pode ser o mesmo?”
“Ao usar o véu tenho descoberto que sou muito mais forte do que pensava ser. O conceito de hijab é mais do que um lenço na cabeça, é uma atitude. É um lembrete físico e uma grande ajuda para cultivar a modéstia e a paciência”, afirma. Os seus véus são escolhidos “de acordo com necessidades práticas de cada estação, de tecidos respiráveis, confortáveis”. Prefere as cores neutras, “como creme, preto ou branco, conjugados com toucas e fitas de cores diferentes”.
E Hanifa levanta a ponta da tradição que abraçou: “O hijab esconde a awrah feminina, sendo este termo o conceito islâmico de áreas privadas a serem protegidas dos olhares dos homens que não são da família e que compreendem todo o corpo, excepto mãos, cara e porventura pés.” Esta regra deve ser seguida – “sem imposição, porque na fé islâmica não há compulsão” – a partir da puberdade. “Ao não mostrar os seus atributos físicos em público e deixar à mostra apenas o necessário para actividades práticas, a mulher evidencia a sua recusa em obter reconhecimento através do seu sex-appeal, deixa mais explicitamente à vista os seus tributos pessoais, ideias e capacidades, porque o véu tapa o cabelo, mas não o cérebro”, defende.
Quando pensa no futuro, explica que gostava de ir viver para Inglaterra, país onde, afirma, não se sentem os olhares “de pena, gozo, curiosidade, raiva, medo ou crítica”, que, diz, ainda se sentem em Portugal. “O meu maior desejo é ter liberdade para praticar a minha religião”, afirma, convicta.
Maryam, apenas Maria
Nasceu em Vila Real, mas foi em Lisboa que se fez muçulmana. Aos 26 anos, a Maria ex-cristã, ex-surfista, licenciada em Engenharia do Ambiente, com os pés tatuados com algo que não me revela, escolheu seguir o Alcorão e tapar-se por ele. Abandonou o mar, adoptou o jejum de alimentos sólidos e líquidos durante o Ramadão. Estudou e vai partir em Agosto, por sete ou oito meses, para a Indonésia, onde pretende estudar a religião que abraçou e o idioma do país. Uma mulher de fé.
Foi há quatro anos que contactou com o Islão, através de um amigo que a apresentou à religião “de forma inspiradora”. Cozinhou aquela fé durante dois anos. Depois foi para Inglaterra e lá os horizontes abriram-se de forma irreversível. “Conheci uma comunidade com práticas estabelecidas, e o Islão surgiu-me como uma resposta”, explica. Não desembarcou em Lisboa usando o hijab, mas, antes do Ramadão de 2007, já o usava. “Quando se aceita uma religião, aceita-se as suas práticas”, prostra-se. Mas a adaptação vai sendo gradual. Todos os dias, são mais uns minutos que se vai cobrindo: “É um processo contínuo, que não acaba.”
A mãe era catequista. Custou-lhe ver a filha partir para outra doutrina. Mas soube aceitar. “Tenho a sorte de ter bons pais, nunca tive de esconder a minha fé da família”, afirma Maria, tranquila, como só ela parece conseguir ser. Já saiu de véu, acompanhada pelos pais. Diz que não se sente nem discriminada nem objecto de atenção especial. No início, os olhares incomodavam-na mais. O certo é que “cada vez faz mais sentido usar o véu”. Diz ainda que “as pessoas têm de ser educadas. Esta nunca será uma situação normal, porque não somos tantas, mas há que banalizar o uso do hijab”.
Para Maryam, o véu é sinónimo de modéstia e da necessidade de dizer: “Sou muçulmana e este é o sinal.” Diz que sempre lhe fez confusão “como alguém se sente na liberdade de invadir a liberdade dos outros com o olhar.” Rejeita qualquer sugestão de que o uso do lenço implique alguma submissão da sua parte: “Vejo a religião de forma libertadora e, se a mulher é obrigada e não se sente bem, mais vale não usar.” Sabe que essa é uma “jihad pessoal”, a sua luta interna: “Está sempre presente.”
Não se maquilha, não usa verniz – cria uma capa sobre as unhas, o que impediria a sua limpeza total, obrigatória para as orações diárias e para poder tocar no Livro Sagrado -, procura a modéstia e a discrição. Só tem três ou quatro véus. Não os muda todos os dias, trouxe-os todos de Inglaterra. “Para quem crê, o véu é a nossa casa. Somos o Islão”, resume. E não aceita proibições: “Estamos a falar de liberdade religiosa, algo tão básico como os direitos humanos.”
Aminah, a confiável e segura
Magra e muito alta, inquieta, será apenas Aminah, mais uma das que não se sente ainda confortável para assumir a sua conversão perante a família. Foi sozinha à mesquita pela primeira vez há três anos. Ninguém a levou. Nenhum marido impositor, nenhum familiar opressor. Foi em busca da libertação de uma fé protestante que não a preenchia.
“Queria algo que realmente me levasse à salvação”, afirma, com as mãos inquietas no colo. Toda coberta de negro, com o véu muito bem atado sob o queixo. Diz que sempre foi recatada, não se revia nos comportamentos dos jovens com a sua idade, 23 anos. Começou por fazer amizade com muçulmanos na Internet, através das redes sociais: “Sempre achei que havia algo de especial no Islão.”
Os conceitos de decência e modéstia atraíam-na, porque, acredita, “para adorar Deus, a pessoa deve estar despojada de vaidade”. E o véu foi a “parte fácil” da conversão. Mais difícil foi separar-se dos amigos da sua crença anterior: “Éramos como uma família.”
Aminah só usa o hijab na mesquita. “Não estou preparada para ter mais conflitos”, afirma. Afectuosa, abraça e beija as “irmãs” carinhosamente quando as encontra. E diz que, quando se cobre, sente-se “protegida, em paz”. Porque, garante, “ama o Islão de todo o coração”.
Gostava de casar com um convertido e sonha ir viver para Inglaterra. É que, embora saiba que “não é por usar o véu que uma pessoa deixa de ser ocidental”, gostaria de viver num país que não se assustasse tanto com a comunidade muçulmana. “A Europa é tão democrática que devia aceitar o Islão como uma religião – e não como uma cultura invasora”, defende. Talvez por isso seja contra o uso da burqua ou do niqab nos países ocidentais: “Tem de haver equilíbrio, e o isolamento excessivo dá má imagem da religião. Não posso falar à sociedade de dentro de uma caixa.”
Hanifa, a monoteísta mais velha
Não acredita no acaso. Para tudo haverá uma razão de ser, mesmo que incompreensível à partida. Tem 43 anos e sente que descobriu o seu caminho. Esta Hanifa é Cristina Almeida de baptismo. Solteira, mãe de uma rapariga de 21 anos que, uma vez por outra, já a acompanha à mesquita. Nasceu católica e foi Testemunha de Jeová. Hoje abraçou a fé islâmica e diz que já não muda.
As viagens a Marrocos e ao Egipto fazem parte deste percurso de revelação. A chamada para a oração marcou-a. “Mudou algo quando ouvi aquele som”, afirma. Sente o véu como uma escolha íntima da mulher. Explica que “ser muçulmano significa submeter-se à vontade de Deus, aceitar o Bem e o Mal que Ele determina e saber que Ele quer o Bem, mesmo que na altura pareça ser o Mal”. Começou a estudar o Islão durante o Ramadão de 2009. Achou o Alcorão “complicado” e começou a estudar a língua árabe. A 30 de Outubro do ano passado tinha-se convertido. “Fiz a minha escolha”, afirma.
Só usa o véu para ir à mesquita: “Na nossa cultura, é complicado.” Está desempregada. É técnica de cartografia e sabe que “usar o hijab era meio caminho para um despedimento”. Por isso, aguarda. Mas diz que tem “muita vontade de usar o lenço na rua”. A família sabe da sua conversão, mas tem a “certeza de que, se usasse o véu com eles, eles se ririam”. E conclui de forma simples: “Não tenho estofo para usar o véu a tempo inteiro.”
Reconhece que a sua vontade acaba por resultar numa contradição. Quer usar o véu para ser discreta, mas ao fazê-lo num país ocidental sabe que chama ainda mais atenção sobre si. Nunca se sentiu feia com o hijab, mas diz que os homens ocidentais não olham para uma mulher coberta. Isso, garante, não a incomoda. Dividida entre a sua vontade e a sua circunstância, Hanifa chora quando confrontada com a possibilidade de um dia ver o uso do véu proibido. “Se tal acontecesse, sairia de Portugal. Estariam a privar-me da minha liberdade.” Isto porque diz ter chegado ao seu “porto de abrigo”. “E daqui já não saio”, conclui.
Bibi Fátima, a que se abstém do mal
Serena e determinada, não fala à toa. Tem os seus limites. Evita os excessos de linguagem e de revelações. É especial: foi a única muçulmana de nascença que aceitou falar sobre o uso do hijab. Especial será também, em breve, a primeira licenciada portuguesa que usa o véu em permanência. Não abre mão do que a identifica, mas recusa a exposição excessiva. É Bibi, nome que sinaliza a sua origem indiana, mas é, sobretudo, Fátima, a que leva o nome da filha de Maomé.
Nasceu em Moçambique há 27 anos e foi há dez que decidiu cobrir os cabelos. A mãe, também muçulmana, não o faz como ela. Cumpre apenas a tradição nas cerimónias, nos locais sagrados e durante as orações. Mas não usa o véu diariamente. Este é o caminho de Bibi Fátima.
“Comecei a sentir que fazia sentido. Comecei a usá-lo no Ramadão e, depois, já não o consegui tirar”, recorda. Diz que esta decisão faz parte da liberdade individual. E afirma, olhar certeiro no interlocutor: “Sou a prova de que não somos oprimidas.” Quer ser conhecida pelas suas “capacidades intelectuais, pela moralidade e não pelo aspecto físico”. Ela que provavelmente não teria qualquer problema em ser aceite pela parte estética de uma mulher. Tem olhos tão especiais quanto a sua história, que vai contando de forma parcimoniosa. Há pormenores que prefere deixar para trás.
Gosta de cores escuras, véus opacos. Prefere os negros, azuis-escuros, castanhos ou grenás. Com uma fita grossa por baixo. Esconde os cabelos longos. Quem já viu diz que são bonitos os cabelos de Bibi Fátima. Estuda no Instituto Superior de Educação e Ciências, onde diz que nunca foi discriminada. Nem por colegas nem por professores. Nem pelas crianças do primeiro ano no estágio, que frequenta actualmente no Colégio Paula Frassinetti. Também já estagiou, com crianças dos 6 aos 10 anos, no ensino público e, garante, nunca foi molestada. E, avisa, não irá trabalhar para um local onde não possa usar o seu lenço: “Vai contra os meus princípios.”
“Sou muçulmana e sou portuguesa e estou apenas a exteriorizar a minha devoção”, afirma. Bibi Fátima não acredita na separação entre vida pessoal e profissional. É por isso que se realiza a dar aulas, mas não abre mão de querer constituir a sua família, seguindo os preceitos do Islão. Às sete da manhã, quando esta futura professora do Ensino Básico sai de casa, cobre os cabelos e só voltará a soltá-los à noite, quando voltar.
São as mulheres do Islão que falam português e vivem em Portugal. São jovens, estudam, trabalham. São devotas e fizeram a sua opção. Tapam-se e é assim que gostam de viver, garantem. Antes de se deitarem, rezam: “Deus! Não há mais divindade além d’Ele, Vivente, Subsistente, a Quem jamais alcança a inactividade ou o sono; d’Ele é quanto existe nos céus e na terra. Quem poderá interceder junto d’Ele, sem a Sua anuência? Ele conhece tanto o passado como o futuro. E eles (humanos) nada conhecem da Sua ciência senão o que Ele permite. O seu trono abrange os céus e a terra, cuja preservação não O abate, porque é o Ingente, o Altíssimo” (Alcorão, 2:255).