Por: M. Yiossuf Adamgy
Solicitado por alguns amigos, leitores e teólogos islâmicos para comentar e esclarecer, em livro a publicar, a temática islâmica focada no romance recém-publicado, intitulado “Fúria Divina”, da autoria de José Rodrigues dos Santos, pareceu-me que deveria escrever – à luz da verdadeira Fonte do Islão – esclarecendo sobre os muitos mitos do Islão: a metodologia de compreender o Alcorão, o muito incompreendido conceito de Jihád e os relevantes conceitos de “paz” e “guerra” no Islão, o conceito de Kafir, de Compaixão, de Apóstata, de Lapidação, de Tolerância, de Fundamentalismo, de Extremismo, de Terrorismo, de Democracia, da Mulher no Islão, se o Islão foi divulgado pela espada, etc., etc. .
Num esforço para dissipar todas essas falácias, este livro, intitulado “Misericórdia Divina”, concentrar-se-á na investigação destes conceitos contextualizados no Alcorão. O Alcorão é a indiscutível fonte e autoridade de todos os aspectos da religião do Islão. No livro citarei alguns ditos Proféticos (Ahadices) que estão em linha com os versículos Alcorânicos que trato. No entanto, evitei conscientemente o uso de ditos Proféticos ou de outras fontes para a obtenção de conclusões que o Alcorão não apoia explicitamente.(1) O uso apenas do Alcorão assegura a revelação da verdade sobre os conceitos em causa, a qual se revela muito diferente da imagem comum que se tem destes conceitos.
Naturalmente, o livro citará extensivamente o Alcorão. De facto, pretende-se que em muitas partes seja lido como um comentário a versículos Alcorânicos. Dada a natureza e a estrutura do Alcorão, é comum que um mesmo assunto seja abordado em diferentes partes do Livro. Por conseguinte, é necessário que versículos relevantes sejam reunidos e observados em conjunto. Esta abordagem, a qual irei seguir neste estudo, permite ao pesquisador ver nesses versículos temas comuns e significados complementares que podem não ser visíveis quando os versículos são estudados separadamente.
Darei o meu melhor para fazer deste livro um livro autónomo, que não exige um conhecimento prévio do Alcorão ou da História ou pensamento Islâmicos. Toda a informação e explicações necessárias serão fornecidas onde importam de modo a tornar este estudo profundo e focalizada uma leitura fácil.
Ao apresentar factos claros e verificáveis e ao afastar sofismas infundados a respeito dos conceitos em causa, rezo para que este livro possa alcançar dois objectivos para dois diferentes públicos:
Em primeiro lugar, que prove ser uma fonte de informação útil para Muçulmanos e pesquisadores da verdade que consideram ou venham a considerar abraçar o Islão, voluntariamente. Assim como entre os seguidores de qualquer outra Fé, existem muçulmanos que apresentam uma falta de conhecimento dos fundamentos da sua religião.
Em segundo lugar, que convença outros que não estão interessados em adoptar o Islão como religião por uma razão ou por outra, de que o Islão é uma religião excepcionalmente pacífica, com que se pode coexistir.
Muitos reconhecerão, infelizmente, que o abismo entre Muçulmanos e não-Muçulmanos se tem vindo a alargar. Igualmente triste, é o facto de muitos não saberem que, embora este conflito implique crentes do Islão, não teve origem na religião do Islão. Eu, como muitos outros pelo mundo fora, sinto partilhar da responsabilidade em ajudar à dissipação deste crescente distanciamento entre Muçulmanos e não-Muçulmanos. Estas tentativas, se feitas correctamente, são, na verdade, uma forma de jihád, como veremos neste estudo.
(1) – Este válido critério foi observado pelos grandes eruditos do Islão, desde o início. Continua a ser o fio condutor dos pensadores actuais. Ibn Khaldun escreveu: “Não acredito em nenhum Hadice ou relato de um companheiro do Profeta, paz esteja com ele, como sendo verdadeiro se diferir do sentido do Alcorão, por muito fidedignos que tenham sido os seus narradores. Não é impossível que um narrador pareça fidedigno embora seja movido por outros motivos. Se os Ahadice fossem analisados pelos seus conteúdos como o foram relativamente à cadeia de narrado- res que os transmitiram, grande parte deveria ter sido rejeitado. Um princípio aceite é o de que um Hadice pode ser rejeitado se divergir do sentido do Alcorão, dos princípios da Chariah, das leis da lógica, ou de qualquer outra verdade evidente”. Este critério, que foi apresentado pelo Profeta (s.a.w.), e seguido por ibn Khaldun, está em perfeita harmonia com a análise científica moderna.