Al Furqán
Intervenção do Director da Al Furqán no Seminário do Centro Ecuménico Reconcialiação
Figueira da Foz, em 12/12/1996
“A Allah pertence o Oriente
E também o Ocidente,
O Hemisfério Norte
E o Sul.
Estão calma e pacifìcamente perante Ele;
Só Ele é o Justo;
Ele deseja o bem para os Seus adoradores;
De entre centenas de nomes Seus,
Tomem este para vós.”
Ámen.
Sim! Quanto mais desapontado fica um qualquer estudioso humanista e civilizado, pelas políticas injustas, o egoísmo, e os excessos dos poderes mundiais dominantes, mais ele se convence de que não há cura contra esta doença da injustiça sobre a Terra com os seus consequentes perigos para a humanidade excepto através dos ensinamentos da Religião, sobretudo do Islão, que removem barreiras, colmatam brechas e estreitam as diferenças entre as nações pela graça absoluta de DEUS sobre a humanidade.
Quanto mais frustrado me sinto com as políticas e os excessos dos poderes mundiais dominantes e suas posições em relação aos oprimidos da Terra especialmente em relação aos Muçulmanos de todo o mundo, que agora estão submersos na mira do retrocesso civilizacional mais me convenço do facto de que não há cura contra a doença humana de atitudes egoístas e arrogantes e seus consequentes perigos para a humanidade senão no recurso às leis e métodos correctos do Islão.
O Islão constata que as diferenças de crença e pensamento são de facto reflexos da livre vontade do ser humano. Assim foi a lei instituída por DEUS quando destinou o homem para ser Seu representante na terra. Esta Divina ordenação seguiu-se ao diálogo iluminante Alcorânico entre Deus, Seus anjos, Adão e Satanás; este diálogo culminou na predestinação da humanidade para a liberdade de vontade e concluiu que só Deus tem o supremo direito de julgamento sobre a crença e actos do homem no Dia do Juízo Final. O Alcorão acentua esta ideia em mais de um Capítulo (Sura):
“Diz: Todos agem de acordo com a sua própria disposição. Mas o teu Senhor sabe melhor quem é e está Melhor guiado no caminho.” Capítulo 17 vers. 4
“Diz: … O teu dever é proclamar a Mensagem.” Capítulo 3 vers. 20
“Para Nós será o regresso deles. Então caberá a Nós chamá-los para as contas.” Capítulo 88 vers. 26
“Não há compulsão na religião.” Sura 2 vers. 256
Esta liberdade de escolha é garantida dentro do quadro de dois piedosos princípios: primeiro, há o facto de todos nós sermos membros da raça humana, em todos os continentes e em todas as épocas, no tempo. Descendemos de Adão que foi criado da lama; assim, todos são irmãos e irmãs e o homem é irmão do homem quer queira quer não. Em segundo lugar, o reconhecimento mútuo e a amizade (não a matança mútua, o ódio e a vingança) são os termos Islâmicos para o diálogo inter-civilizacional e inter-cultural:
“Ó humanidade! Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em tribos e nações, para que se conheçam uns aos outros.” Capítulo 49 vers. 13
Deus indicou-nos o ponto de partida no nosso diálogo com as outras nações e culturas espalhando o chamamento para todos:
“Ó Povos do Livro! Vinde a termos comum entre nós e vós: que não adoremos ninguém senão Deus; que não Lhe associemos nenhum parceiro; e que não aceitemos outros por senhores além de Deus.” Capítulo 3 vers. 64
Deus lembrou também a todas as outras nações que Ele é o Senhor de todos, que Ele é o Criador da vida e da morte, e que Ele enviou todos os profetas e mensageiros para estabelecer a justiça a nível individual, social e internacional:
“Na verdade, Nós mandamos os Nossos apóstolos com provas claras, e enviámos com eles o Livro e a balança (do bem e do mal) para que os homens possam observar a medida justa.” Capítulo 57 vers. 25
O estabelecimento da justiça foi o último objectivo que estava por detrás do envio de todos os mensageiros a todas nações:
“E não há uma nação pela qual não tenha passado um conselheiro” Capítulo 35 vers. 24, e como as nações ao longo dos tempos começaram a ficar próximas umas das outras e todo o mundo se tornou como que uma pequena aldeia, o último mensageiro foi enviado para todas as nações:
“Dize: Ó homens, fui enviado para todos vós, como Mensageiro de Deus.” Capítulo 7 vers. 158
Deus Todo-Poderoso chama a Si a preservação desta última e conclusiva Mensagem:
“Nós enviamos, sem dúvida, a mensagem e Nós certamente guarda-la-emos (da corrupção).” Capítulo 10 vers. 9
A conclusiva mensagem Divina demonstrou a todas as nações da Terra que Deus enviou os Seus mensageiros com versículos claros e deu-lhes o Livro para permitir às pessoas instalar e estabelecer a justiça. Deste modo devemos mencionar que os nossos antepassados na erudição Islâmica lançaram um grande princípio para o diálogo inter-cultural que diz:
“Sempre que a Justiça ceda, o julgamento aí reinante será o de Deus.”
Deus também os enriqueceu com directivas referentes ao método, termos de referência, e ponto de partida para o diálogo inter-cultural. Assim o método do diálogo seria baseado na sabedoria e pregação bondosa, como é articulado no seguinte versículo do Alcorão:
“Convida (todos) para o caminho do teu Senhor com sabedoria e uma bela exortação.” Capítulo 16 vers. 12
Igualmente o quadro de referência para o diálogo deverá ser baseado na razão e na racionalidade, pois o Alcorão reza: Dize:
“Produzi a vossa prova se sois verdadeiros.” Capítulo 2 vers.111
Finalmente, o ponto de partida do diálogo inter-cultural deveria assentar na posição relativa da nação Islâmica que qualifica-o para desempenhar um papel de uma testemunha imparcial para outras nações, não para as indiciar ou as ridiculanzar ao descrevê-las como pagãs:
“E, deste modo, fizemos de vós uma nação justamente equilibrada, para que pudésseis ser testemunhas contra as nações (descrentes) e o Mensageiro pudesse testemunhar as vossas acções.” Capítulo 2 vers. 143
Sim! Quanto mais qualquer estudioso humanista e civilizado se sente desapontado pelas políticas injustas, o snobismo, e os excessos dos poderes dominantes do mundo, mais se convence de que não há cura contra esta doença da injustiça sobre a Terra com os seus consequentes perigos para a humanidade excepto através dos ensinamentos da Religião, sobretudo do Islão, que remove barreiras, estabelece contactos, e estreita as diferenças entre nações pela graça absoluta de Deus sobre a humanidade:
“E não te enviamos, senão como misericórdia para a humanidade.” Capítulo 21 vers.107
“E a fraternidade humana universal que recorda a humanidade da sua única origem: “Ele que vos criou de uma só ser.” Capítulo 7 vers. 189
Baseado nesta graça absoluta sobre a humanidade seja amigo ou inimigo, vivendo próximo ou longe, homem ou mulher, preto ou branco, Muçulmano ou não-Muçulmano nós alinhamos no diálogo inter-cultural com outras civilizações e nações. Deus descreveu mesmo as nações Islâmicas dentro desta graça absoluta, quando diz no Alcorão:
“Vós sois o melhor dos povos, que surgiu para a humanidade, porque ordenais o bem, proibis o ilícito, e credes em Deus.” Capítulo 3 vers. 110
A nação Islâmica mereceu esta descrição porque é esperado ela actuar na prática das seguintes acções: incutir nas pessoas fazerem (e dizerem) o bem quando se relacionam umas com as outras, quer como indivíduos, grupos sociais ou nações; instar com as pessoas para refrearem a prática de más acções quer contra si próprias, quer contra outros indivíduos ou outras nações; crer em Allah, que é a negação de todos os tipos de esclavagismo e todos os tipos de restrições da liberdade de pensamento, o que é um prerequisito básico para o diálogo. Por isso o Alcorão diz:
“E se os Povos do Livro tiverem fé, tanto melhor para eles.” Capítulo 3, vers. 110
Assim o relacionamento da nação Islâmica com as outras nações, baseado na graça absoluta e paz compreensiva, é guiado, como mencionado inicialmente, pelo princípio de justiça, que é um princípio universal humanista que cobre e se aplica igualmente a todas as nações habitantes da Terra. De acordo com este grande princípio indicado por Deus como supremo objectivo das mensagens dos Seus apóstolos, nós definimos as nossas relações com todos os poderes e nações do mundo. A pedra angular todavia nas nossas relações com todas as nações é a piedade, a graça, a justiça, o reconhecimento mútuo, e a integração positiva, como se vê no versículo seguinte do Alcorão:
“Mas não transgredi os limites, pois Deus não ama os transgressores.” Capítulo 2 vers. 190
As relações internacionais sobre estes princípios ajudarão o homem a gozar uma liberdade estabelecida, tão vasta como o universo, eradicando a agressão da terra e espalhando paz e segurança a todas as pessoas e a todas as terras, e assegurando que a humandade no seu presente esteja melhor do que no passado, sendo possível ter um futuro melhor do que o presente. Desta forma, será assegurado um sustentável, auto-gerador e enérgico progresso humano.
A presevação da dignidade de todos os povos e de todas as terras é o dever de todas as pessoas as quais deviam expressar a sua preocupação pelos direitos humanos e pela dignidade humana; e isso é o primeiro prerequisito para qualquer diálogo inter-cultural. O homem foi dignificado por Deus que diz no Alcorão:
“Nós honramos os filhos de Adão.” Capítulo 17 vers. 70
Abstenção da resistência à injustiça é equivalente a tomar o partido dos injustos, cujas vidas serão tiradas pelos anjos da morte enquanto estão no estado de injustiça para consigo próprios:
“Àqueles a quem os anjos tiram a vida em estado de iniquidade, perguntam: ‘em que vos ocupáveis’? Eles dizem: ‘Nós estávamos oprimidos na terra”. (Os anjos) perguntam: ‘Não era a terra de Allah bastante grande, para que pudésseis emigrar’? Tais pessoas terão por morada o Inferno. Que terrível destino!” Capítulo 4 vers. 97
O reconhecimento e a amizade mútuos entre as nações ou o diálogo inter-cultural não terá o curso certo sem que sejam aplicáveis os princípios e padrões preconizados pela graça das religiões e pela paz. A abertura deste glorioso capítulo de diálogo inter-civilizacional demonstra a todos os estudiosos e homens de razão o ponto de vista do Islão sobre os assuntos da guerra e da paz. Isto é muito importante contra as campanhas de falsificação e manipulação que são desencadeadas contra o Islão numa tentativa para distorcer os seus nobres princípios. Está claro que algumas forças do mal no Ocidente tentam activamente desenhar uma similaritude entre o Islão e o Comunismo, explorando oportunisticamente incidentes violentos que ocorrem nalguns países Muçulmanos que estão quer sob ocupação quer sob governos tirânicos. O sucesso do nosso diálogo com as outras nações depende enormemente na aplicação do princípio do tratamento justo a todos os povos do mundo. O Alcorão diz:
“E não consintais que o vosso ressentimento contra aqueles que dantes se opuseram à vossa ida à Mesquita Sagrada, vos leve a transgredir (provocando-os). Pelo contrário, ajudai-vos uns aos outros a praticar a virtude e o temor a Deus; e não vos ajudeis uns aos outros no pecado e na hostilidade.” Capítulo 5, vers. 3
Por este princípio nós toleramos, e ao mesmo tempo, com este princípio defendemo-nos; só poderemos fazer isso se nos submetermos às regras preconizadas por Deus, dando forma a nossa relação com Ele do modo que Ele deseja que seja, e formando as nossas relações com os outros de acordo com os princípios e vias que os fazem ajudar-nos a defendermo-nos contra a agressão, ou pelo menos assegurar a sua não intervenção.
Coexistência mútua ou diálogo civilizacional é uma das metas pelas quais Deus criou o homem. Por isso, Deus dirige-se a todos os povos da Terra, nestes termos no Alcorão:
“Ó humanidade! Na verdade, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em tribos e nações, para que se conheçam uns aos outros.” Capítulo 49, vers. 13, na base da justiça, que é uma boa e frutífera palavra:”Como a árvore nobre, cuja raiz está profundamente firme, e cujos ramos se elevam até ao céu.” Capítulo 14, vers. 24
Deixemos que a divisa do diálogo civilizacional seja o vers. 83 do Cap 2 do Alcorão que diz:
“Falai com brandura a todas as pessoas”, e deixemos que a finalidade do diálogo seja a de adquirir a liberdade tão vasta como o universo. “Cheguemos a termos comum entre nós e vós: que não adoraremos ninguém senão Deus; que não Lhe associemos nenhum parceiro; e que não aceitemos outros por senhores além de Deus: E se depois eles se afastarem, dize-lhes: “sede testemunhas que nós (pelo menos} submetemo-nos à Vontade de Deus.” Capítulo 3 vers. 64
Cooperemos com toda a espécie de bem e piedade, o que significa trabalharmos juntos para preservar o homem e a sua civilização de toda a espécie de mal que possa acontecer-lhe; isto também exige a necessidade de juntarmos as mãos para acabar com todas as espécies de alianças por levarem a cabo actos pecaminosos e agressivos. Deste modo, o sol de uma nova humanidade irradiará a sua luz por todo o globo. Um dos exemplos mais sublimes de pessoas que tratam com cuidado a verdade nos seus diálogos inter-civilizacionais é a Senhora Anne Mary Schmael, que recebeu, recentemente, o Prémio da Paz num festival de Frankfurt organizado à volta da maior feira do livro do mundo. A feira foi visitada por um grupo de políticos de elite, estudiosos, filósofos e eminentes homens das letras, para além de representantes de credos religiosos e homens de valor de todas os quadrantes intelectuais e filosóficos. Este festival foi organizado em honra da Senhora Schmael, que passou meio século a escrever e a levar a cabo pesquisas sobre o Islão, e explorou a sua dimensão intelectual e defendeu os seus valores humanistas. Entre os presentes no festival estava o Senhor Roman Hertzog, presidente da República Alemã, a Senhora Petordoat, presidente da Câmara de Frankfurt, e o Senhor Gerhard Greche, Presidente da Associação dos Escritores Alemães. Também presentes estavam os meios de comunicação social, os quais falharam em representar o diálogo inter-cultural, pois preferiram propagar os conceitos de conflitos entre as culturas para servir a continuidade da agressão do homem ao própno homem, seu congénere. A mais apta e eloquente conclusão acerca de tais manipulações da comunicação social foi tirada pela própria Senhora Schmael, que falou do “diálogo anti-inter-cultural da comunicação social”, acrescentando que: “A Comunicação Social não chama a si a tarefa e o dever de alertar a nossa consciência, mas tende mais a moldar-nos num estado de medo e terror, proibindo-nos de desenvolver uma relação positiva com a civilização Islâmica, a qual é figurada pela maior parte dos Europeus como estranha, nebulosa, atrasada e estagnada.”.
Quão espectacular seria fazermos o nosso mote para o diálogo inter-cultural com o versículo sagrado indicado pela Senhora Schmael:
“Não reparas em como Deus exemplifica (numa pa- rábola)? Uma boa palavra é como uma árvore nobre, cuja raiz está profundamente firme, e cujos ramos se elevam até ao céu. Frutifica em todas as estações com o beneplácito do seu Senhor.” Capítulo 14, vers 24-25
Do mesmo modo, a ideia do choque de culturas propagada pelas forças do mal pode mesmo ser descrita como: “”Por outra, há a parábola de uma palavra vil, comparada a uma árvore vil, que foi desarraigada da terra e carece de estabilidade.” Capítulo 14, vers. 26
O Dr. Nadim Atallah, que escreve no AI-Ra’id, que é publicado na Alemanha sob o título de “Colisão ou Coexistência de Culturas” relata que “a civilização Islâmica conseguiu existir e assimilar a herança cultural das civilizações antigas, assim como coexistir e interagir com outras civilizações com uma consciência e uma abertura que lhe permitiu conservar os aspectos positivos dessas civilizações e evitar os seus aspectos negativos sem perder as suas características distintas e identidade. Também, a Europa foi capaz de construir a sua moderna civilização sobre as fundações lançadas pela interacção civilizacional com os Árabes da Andaluzia. Livros de intelectuais tais como Avicena eram os textos médicos básicos em uso no início da história moderna da Europa. Também os livros de Avirus contribuiram enormemente para os debates religiosos e filosóficos que conduziram o Iluminismo na Europa. Além disso as traduções de Tolaitela, em que Judeus, Cristãos e Muçulrnanos viviam lado a lado, trouxeram a ciência Árabe para o Ocidente.”
Na sua mensagem do festival, o Presidente Hertzog indicou os princípios sob os quais o diálogo inter-civilizacional devia ser erguido: “O conhecimento das pessoas acerca umas das outras deve ser promovido; sem o conhecimento mútuo não haverá a compreensão mútua e sem a compreensão mútua não haverá respeito mútuo e sem respeito mútuo não haverá confiança mútua, e sem confiança mútua não haverá paz, mas sim inevitáveis conflitos entre as civilizações.”
Conflito é a verdadeira coisa desejada por aqueles que forjam e manipulam factos com intenções malévolas, domínio sobre os outros, e corrupção sobre a Terra, apesar do facto de agora o mundo se ter tornado mais pequeno, nas distâncias, e diferenças de tempos e espaços grandemente reduzidas. Este facto só por si seria mais que suficiente para um diálogo inte-civilizacional do que para conflitos culturais, e para o estabelecimento da coexistência pacífica baseada na justiça, não no medo e no terror.
O mundo está agora a passar por uma fase em que há necessidade de respostas ao Alcorão da parte daqueles que crêem na bondade da humanidade: aqueles que evitam actos pecaminosos e agressões.
A melhor conclusão para esta intervenção sobre o diálogo inter-civilizacional seriam as palavras da Senhora Schmael, quando terminou o seu discurso dizendo:
“O meu hábito não é o de fazer declarações ou escrever panfletos e não é o da excitação e dos discursos tormentosos. Eu creio que a água pura no seu incessante correr irá, através do tempo que passa, vencer as rochas sólidas. Mas eu acrescento a minha gratidão enquanto desejo obter ajuda para a causa da paz à qual Goethe faz a sua alusão nos seus Poemas Orientais”
“A Allah pertence o Oriente
E também o Ocidente,
O Hemisfério Norte
E o Sul.
Estão calma e pacifìcamente perante Ele;
Só Ele é o Justo;
Ele deseja o bem para os Seus adoradores;
De entre centenas de nomes Seus,
Tomem este para vós.”
Ámen.