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Reflectindo de forma islâmica

Por M. Yiossuf Adamgy

Enquanto que, uma vez mais, os Muçulmanos auto-permitem-se cair na ratoeira reaccionária que lhes foi montada, confirmando, assim, a tese dos “cartoons” ofensivos, ao reagirem furiosa e violentamente, consideremos preferível reflectir sobre a súplica do Profeta (s.a.w.), proferida nos primórdios do Islão, em Ta’if. Esta é a súplica (duá) por ele proferida, com as sandálias cobertas de sangue, feridas espalhadas pelo corpo e terrivelmente insultado, caluniado e ridicularizado pelos habitantes de Ta’if. O mais importante a reter, é que isto teve lugar após um longo boicote de três anos sofrido às mãos dos Coraichitas, em consequência do qual os Muçulmanos viram-se obrigados a comer erva e a viver em árvores.

O que foi dito pelo Profeta (a paz esteja com ele), ao abandonar a cidade de Ta’if:

“A Oração de Ta’if”

“Ó Allah! A Ti me queixo da minha fraqueza,
Da minha falta de recursos e da humilhação a que fui sujeito.
Ó Todo-Misericordioso para com aqueles que são misericordiosos;
Ó Senhor dos fracos e meu Senhor também.

A quem me confiaste Tu?
A uma pessoa distante, que me recebeu com hostilidade?
Ou a um inimigo, a quem concedeste poderes sobre aquilo que é a minha missão?
Nada me preocupa, desde que não estejas zangado comigo.

A Tua protecção é o que eu tenho de mais precioso.
É sob a luz do Teu Rosto que procuro refúgio,
Esse Rosto que faz com que toda a escuridão se dissipe
E regula todo e qualquer assunto deste e do Outro Mundo.

Receio ter-Te desagradado e que a Tua fúria recaia sobre mim.
É meu desejo agradar-Te e satisfazer-Te.
Não existe outro poder para além do Teu,
E ninguém é tão poderoso como Tu”.

Se aqueles que afirmam amar tanto o(s) Profeta(s), ao ponto de estarem dispostos a infringir o comportamento profético devido à raiva e à fúria cega que sentem, reflectissem um pouco a respeito desta oração, isso seria para eles uma luz orientadora e uma indicação clara de como um Muçulmano deve agir face à actual situação. Este é também o único caminho que permite a almas e corações atormentados encontrarem a paz, pois não será em piquetes ou em manifestações exageradas e com violência que a encontrarão. Tais actos não podem e não devem ser usados como métodos para a clarificação da nossa reverência para com o sagrado e o divino.

A quem foi que o Profeta (s.a.w.) disse o seguinte: “O Islão nada mais significa, a não ser possuidor de um bom carácter?”.

Estamos a readoptar as normas tribais pré-Islâmicas, as quais defendiam a vingança e a retaliação, quando devíamos encarar o sucedido como uma oportunidade para alterarmos a nossa maneira de sentir e agir, seguindo o exemplo do nosso bem amado Profeta, que se manteve calmo e compassivo face ao ódio e à inimizade de que era alvo.

Estaremos nós a ceder ao pior dos pecados, que é a violência gerada pela falta de esperança? Isto quando devíamos seguir o exemplo do Profeta (s.a.w.), que nunca a perdeu? E que, já fora de Ta’if, respondeu da seguinte forma: “Não, espero que um dia este povo adore a Allah somente”, quando o Anjo, em resposta à sua súplica, se ofereceu para destruir todas as montanhas em redor da cidade, reduzindo-a a pó?

A menos que possuamos a calma e a consciência do Profeta (s.a.w.) de Allah, segundo a qual, todo e qualquer acontecimento, favorável ou não, é representativo da oportunidade de fortalecermos o relacionamento que mantemos com Deus, continuaremos a ser vítima de todo e qualquer estratagema ou truque.

Em lugar de reagirmos com violência e fúria, deveríamos intensificar o nosso trabalho na partilha da bonita e misericordiosa mensagem do Islão, especialmente agora, que o Profeta (s.a.w.) é notícia nos meios de comunicação em massa. Permitamos que a oração proferida pelo Profeta (s.a.w.) em Taif seja publicada em jornais Europeus, como exemplo da sua magnanimidade e paciência.

Violência, ameaças de morte e fúria servem apenas para denunciar a falta de confiança no poder e na luz do Sagrado; confiança, essa, perfeitamente ilustrada pela experiência do Profeta (s.a.w.) no jardim exterior a Taif, quando pessoas que ouviram a sua oração sentiram-se movidas a aderir ao Islão. Além disso, e após este incidente, quando regressava a Meca, muitos que haviam ouvido a recitação do Alcorão por parte do Profeta (s.a.w.), aquando da sua oração nocturna, converteram-se também ao Islão. E, pouco depois da sua oração nocturna, o Profeta (s.a.w.) ascendeu ao Céu. De facto, após a tempestade vem a bonança.

Contudo, com o anúncio ontem feito por eminentes eruditos do Islão, intitulado “Um Dia de Ofensas”, receio que nada mais sejamos, a não ser sabotadores. Porque não “Um Dia para Recordar o Profeta”, ou “Um Dia de Características tremendamente Proféticas”? Porque não “Um Dia da Oração de Ta’if”?

Dado o momento que vivemos, recomendo que façamos circular “A Oração de Ta’if”, a qual servirá como antídoto de toda a loucura e veneno do turbilhão emocional a que assistimos. E manifestemos sim, forte e firmemente, o nosso protesto. Mas dentro da lei.

Que Allah nos oriente para aquilo que é justo e nos conceda a sorte imensa de olharmos os nossos inimigos como se de amigos chegados se tratassem (ver Alcorão, 41:34-36), e aos quais temos o dever de transmitir o amor e a mensagem de Allah e do Seu Profeta (s.a.w.). Ámen.

– “Jamais poderão equiparar-se a bondade e a maldade! Retribui (ó Muhammad) o mal da melhor forma possível, e eis que aquele que nutria inimizade por ti converter-se-á em íntimo amigo!
Porém a ninguém se concederá isso, senão aos tolerantes, e a ninguém se concederá isso, senão aos bem-aventurados. Quando Satanás te incitar à discórdia, ampara-te em Deus, porque Ele é o Omniouvinte, o Omnisciente.” – Alcorão, 41:34-36.

– “É possível que Deus restabeleça a cordialidade entre vós e os vossos inimigos, porque Deus é Omnipotente. E Deus é Indulgente, Misericordioso”. – Alcorão, 60:7

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Jesus (p.e.c.e.) no hadice

O Hadice é outra das fontes de conhecimento que os estudiosos do Cristianismo têm tentado esconder, pois contém um conjunto de narrativas de testemunhas oculares, sobre aquilo que o Profeta Muhammad, a paz e a bençãos de Deus estejam com ele, disse e fez ao longo da sua vida. A Igreja Romana e os missionários Cristãos criaram uma sofisticada pseudo-sabedoria para desacreditar a literatura Hadice muçulmana, apesar de esta já ter sido submetida ao mais escrupuloso e rigoroso exame da história da sabedoria.

Ao contrário dos Evangelhos do Novo Testamento, o Hadice só foi aceite, depois de se verificar que o homem que está na origem da cadeia de transmissão é de confiança, ou seja, foi companheiro do Profeta Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, testemunhou directamente o acontecimento ou ouviu realmente as palavras que o Hadice contém.

Portanto, os homens que mais amaram e temeram Deus são os que maior confiança merecem. As colecções mais importantes do Hadice, as de Imam al-Bukhari e de Sahih (verdadeiro) Muçlim, foram reunidas cerca de cento e vinte anos depois da morte do Profeta Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, e cobrem todos os aspectos da sua vida e doutrina, constituindo uma parte essencial dos ensinamentos de Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele. Aliás, foi a partir das

narrativas de testemunhas oculares contemporâneas do Profeta, que se compilaram as colecções de Imam al-Bukhari e Sahih (verdadeiro) Muçlim.

Além do Hadice, também há muitas tradições Muçulmanas que contam o que Jesus disse e fez, a partir do testemunho original dos primeiros seguidores de Jesus, especialmente daqueles que se espalharam pela Arábia e pelo Norte de África. Quando o Profeta Muhammad apareceu, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, muitos dos seguidores destes seguidores abraçaram o Islão, transmitindo tudo o que sabiam acerca de Jesus, inclusivé que tinha anunciado a chegada do Profeta Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele. Assim, as tradições foram transmitidas de geração em geração pelos Muçulmanos, tendo muitas delas sido reunidas em Histórias dos Profetas (Stories of the Prophets), de Tha’labí’s e em Renovação das Ciências Religiosas (Revival of the Life-Transaction Sciences) de Al-Ghazzali. É interessante notar como as tradições dão uma imagem clara e unânime do ascético Profeta que preparou o caminho para o Último Mensageiro:

Ka’b al-Akbar disse:
“Jesus, filho de Maria, era um homem ruivo, quase branco; não usava cabelo comprido, nunca curvava a cabeça e costumava caminhar descalço. Não tinha casa, adornos, bens, roupas, nem sequer provisões, para além dos alimentos desse dia. Onde quer que estivesse, quando o sol se punha, rezava, preparando-se para o nascer do novo dia. Curava os cegos de nascença, os leprosos, ressuscitava os mortos com a permissão de Deus e dizia às pessoas o que estavam a comer em suas casas e o que armazenavam para os dias seguintes, e caminhava à superfície da água do mar. Os seus cabelos estavam em desordem e a sua cara era pequena; era um ascético, que só desejava entrar no outro mundo e adorar Deus. Peregrino, andava de terra em terra, até os Judeus o perseguirem e quererem matar. Então, Deus levou-o para o céu. Deus sabe melhor”.

Abd’Allah bin Amr contou que Muhammad, a paz e a benção de Deus estejam com ele, disse:
“Jesus, filho de Maria, descerá à terra, casará, terá filhos e permanecerá na terra durante quarenta e cinco anos, findos os quais morrerá e será enterrado junto de mim, na minha sepultura. Então Jesus, filho de Maria, e eu, levantar-nos-emos de uma sepultura entre Abu Bakr e Umar(Primeiro e segundo lider, respectivamente, a seguir ao falecimento do Profeta Muhamamd, P.E.C.E.”. Transmitido por Ibn al-Jauzi no Kitab al-Wafa.

Abu Huraira contou que o Profeta Muhammad, a paz e a benção de Deus estejam com ele, disse:
“Eu sou o parente mais próximo de Jesus, filho de Maria, neste mundo e no outro. Os Profetas são irmãos, filhos do mesmo pai. As suas mães são diferentes, mas a sua religião é só uma. Não houve mais nenhum Profeta entre nós”. De Bukhari e Muçlim

Neste famoso testemunho, o último dos Profetas e Mensageiros, o nosso Mestre Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, resumiu toda a questão da seguinte forma:

Os profetas são irmãos, portanto, são todos iguais; entre eles não há qualquer diferença. Filhos de um só pai, todos proclamam uma Doutrina La ilaha ill’Allah. Não existe outro deus além de Deus, (o Único). A Sua Divindade é única. As suas mães são diferentes, pois cada Profeta foi enviado a um povo em particular, numa época específica, tendo-lhe sido revelado uma Sunna, ou estilo de vida, uma prática, um modelo segundo o qual a sua comunidade deveria viver. Quando um novo Profeta chegava a um povo, revelava uma nova Sunna, de acordo com a nova época. Esta é a Chari’a ou Estrada dos Profetas. Assim, com a chegada de Sayyidina Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, a Transmissão Divina fica completa. A Mensagem é selada no último Livro revelado, o Glorioso Alcorão.

A Mensagem é selada com a Chari’a (lei Islâmica) e a Sunna (tradições) do bondoso Profeta, Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele. A ciência da adoração e a maneira como devemos dirigir-nos a Deus, tudo está selado no Livro e na Sunna dos primeiros filhos de Adão, a paz esteja com ele. O caminho de Jesus, Profeta do Islão, está acabado. O percurso de Muhammad, Profeta do Islão, começou.

A passagem seguinte do Sagrado Alcorão dá conta deste importante facto:

“Aperfeiçoei hoje a vossa Religião para vós, completei o Meu favor para vós, e escolhi o Islão para vós como vossa Religião”.(5:3)

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Que falta de vergonha!

Por Tariq Ramadan – 25 de Julho de 2006, in Oumma
Versão Portuguesa de Yiossuf Adamgy para Revista Al Furqán

“A partir de que momento poderemos nós começar a utilizar o termo “Crime de Guerra”? Quantas mais crianças terão de perecer entre os escombros causados pelos ataques aéreos Israelitas, para que rejeitemos a obscena fórmula de “danos colaterais”, e comecemos a falar de perseguições e de crimes contra a humanidade?” – Depois de Beirute – Robert Fisk, jornalista, The Independent, 20 de Julho de 2006

O poeta Francês Charles Baudelaire era dono de uma determinada fórmula feliz de dizer as coisas: ‘A mais bela astúcia do Diabo consiste em persuadir-nos que não existe’. Tendo em conta o mesmo ponto de vista, podemos afirmar que o mais diabólico sucesso dos conspiradores de hoje consiste em persuadir-nos que os cons

piradores e respectivas conspirações não existem…

A instrumentalização da ‘guerra contra o terrorismo’ obteve inúmeras respostas, incluindo a hipocrisia e o terror intelectual e político, como nunca antes vistos. Todos ouvimos, e desconfiámos, dos objectivos de Ariel Sharon logo após os ataques do 11 de Setembro de 2001, ao afirmar que Yasser Arafat era o ‘(seu) terrorista’ , dizendo – com se de uma premonição se tratasse – que um dia os Palestinianos haveriam de pagar o preço pelo que Nova Iorque estava a sofrer. Havia, então, que meditar na perda de alguns civis inocentes – ‘danos colaterais’ de uma estratégia de confronto global – no Afeganistão, seguidamente no Iraque, isto antes que a ira se abatesse sobre os Palestinianos, habitantes dos ‘territórios desbastados’.

Há já alguns meses que Israel previa atacar o Sul do Líbano . Os observadores sabiam-no, assim como o sabia o Hezbollah. Este último escolheu antecipar o ataque, de modo a transferir o centro de gravidade do conflito e fazer deste uma questão regional e global. Isto sem contar com a indolência dos governos Árabes e a sua cumplicidade silenciosa, enquanto centenas de civis inocentes perecem sob o peso das bombas.

Mas, tal nós bem o sabemos, o conceito de ‘civis inocentes’ não existe, a não ser marginalmente no léxico das autocracias Árabes.

Seria lógico esperarmos que as Nações Unidas, a voz proclamada da sabedoria das nações, interferisse e pusesse cobro ao massacre…São inúmeras as más memórias que nos é possível invocar. Há pouco mais de dez anos, em Srebrenica, as Forças da Paz abandonaram aqueles que deveriam proteger e que encontraram desarmados. No Ruanda, as forças das Nações Unidas foram enviadas para proteger e ajudar a fugir os Brancos, ‘os estrangeiros’, tendo ainda abandonado os Tutsis à loucura assassina dos Hutus. Há uma semana, famílias e civis Libaneses pediram refúgio no quartel-general das forças das Nações Unidas, composto por Ganianos, os quais se negaram a protegê-los…no caminho para o exílio, poucas horas depois, estas famílias – 27 pessoas no total – foram dizimadas pelas bombas Israelitas. A quem servem os representantes das Nações Unidas? A quem servem estas, afinal uma vergonha…a repetir.

Israel anunciou necessitar de uma semana a dez dias para completar as suas operações. O G8 pediu um cessar-fogo, depois, nada mais, seguindo-se o silêncio e o desconforto. Por um feliz acaso dos calendários assassinos, eis que Condolezza Rice anuncia a sua visita à região…precisamente dez dias depois das minúcias formuladas pelo Primeiro-Ministro Israelita. Isto a acreditar que Telavive possui a agenda da Secretária de Estado Norte-Americana. Não nos esqueceremos de aqui citar esta questão – e respectiva fórmula – de Nicolas Sarkozy ao Ministro Israelita para a Integração, o qual pretendia ‘abençoar’ de uma vez por todas, todos os Franceses que haviam decidido exilar-se em Israel e o corajoso Exército Israelita: ‘De quanto tempo necessita o Estado de Israel para dar a tarefa por terminada?’ (Le Monde, 20 de Julho). Dar a tarefa por terminada? Assassinar inocentes, saquear um país? Ao conjunto de fotos que recebemos relativamente às mortíferas consequências desta ‘tarefa a terminar’, os objectivos de Sarkozy são muito mais chocantes do que as fórmulas ‘rudes’ ou dignas da ‘ralé’. Uma vergonha, uma vez mais. Mas uma vergonha que tantos ecos teve nos meios de comunicação em massa.

A Agence France Presse acaba de informar-nos que, nos últimos dias, os Estados-Unidos têm vendido armas aos Israelitas: ‘uma encomenda de bombas de comando à distância’. Para evitar o assassinato de mais civis, sem dúvida alguma! Que bela é, a Humanidade! Tanto para os Estados-Unidos, como para a Grã-Bretanha, todos estes mortos são de vítimas de uma ‘guerra contra o terrorismo’, necessária e imperativa. De facto, esta guerra permite…o terrorismo de Estado, o assassinato, a tortura, os raptos, as leis liberticidas e, como se isso não fosse suficiente, a criminalização dos imigrantes e daqueles que procuram e pedem asilo.

Àqueles que observam e, mesmo assim permanecem impassíveis, aos horrores do Médio Oriente, à injusta opressão de que são vítimas os Palestinianos, ao sofrimento dos Libaneses, e que acreditam ser suficiente manterem-se neutros, pois assim estarão protegidos e salvos do marasmo, tal como o estão os ‘estrangeiros’ do Líbano, a quem o seu respectivo país protege e repatria aos milhares quando os ‘Libaneses’, os ‘Árabes’, são abandonados à sua miserável sorte…a esses, há que dizer que a loucura ou a cumplicidade assassina dos Estados-Unidos e dos seus aliados tem, e terá, consequências que não se deterão nas fronteiras dos seus ricos países, tal como aí detêm os imigrantes ‘de todo o lado’.

No nosso quotidiano, na nossa paz social, no nosso círculo de amizades, na nossa segurança, com as nossas leis, os nossos direitos, as nossas liberdades nas nossas vidas…depressa e concretamente sentiríamos as consequências da nossa cobardia perante a barbárie. O silêncio daqueles que não sabem mais como denunciar os ‘terrores oficiais’, ou erguer a voz contra tantas injustiças ou semelhantes horrores é, de facto, uma vergonha. Uma de muitas. Sem dúvida alguma, seremos um dia convidados – de uma maneira ou de outra – para a mesa daqueles que têm contas a prestar e teremos, tal como tantos outros, de beber a substância da nossa vergonha e da nossa resignação desumanizada.

Tenho estado pensativo nestes últimos dias. A quem pode interessar ‘vetar ao silêncio’ a Comunidade Internacional, face à opressão continuada do povo Palestiniano e aos massacres perpetuados no Líbano…A quem pode, de facto, interessar? Talvez se lhe auto-conceda o direito – em nome da coerência – ao silêncio, quando as potências mundiais se movimentarem para ‘condenarem’ as consequências do seu silêncio! Talvez…haja alguma lógica nisto.

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O Islão permite o planeamento familiar?

No Islão, o casamento é obrigatório sob certas condições. O Sagrado Alcorão diz: “E deixai que aqueles que não encontrem os meios para casar permaneçam castos, até que DEUS lhes forneça os meios (financeiros) segundo a Sua graça”.

O Profeta Muhammad disse: “Ó grupo de jovens! Aquele de vós que tiver as possibilidades para sustentar uma esposa deve se casar, pois este é o melhor meio de conservar o aspecto casto e de guardar a castidade, e o que não tem possibilidades, deixai-o jejuar, pois isso actuará como restrição”. Bukhari (Compilou um número considerável das tradições do Profeta).

Para os que são pobres, nem o Islão nem o senso comum aprovarão terem muitos filhos que não podem educar e alimentar convenientemente. Por isso o planeamento familiar é essencial, não apenas para benefício individual mas para benefício da sociedade também. O que significa planeamento familiar no Islão? Significa que o casal (marido e mulher) concordam, de livre vontade, em usar um método apropriado para retardar a gravidez, ou suspendê-la por um certo tempo, ou intervalar a gravidez para dar à mãe a oportunidade de recuperar a sua saúde, e dar à família menos crianças e assim ajudar o pai a sustentar os filhos sem privações ou dificuldades. De acordo com este princípio, o planeamento familiar é permitido legalmente se houver razões para tal.

Muitos faqihs ou juristas Islâmicos, no passado e no presente, mencionaram algumas das razões que permitem aos casais planear as suas famílias através do azl (coito interrompido). Foi praticado pelos companheiros do Sagrado Profeta (a paz esteja com ele) e ele não o proibiu.

Jaber narrou o seguinte hadith (Tradição do Profeta): “Costumavamos praticar o azl quando o Alcorão estava a ser revelado, então a informação chegou ao Profeta (s.a.w.) mas ele não nos proibiu” Bukhari e Muçlim (compilaram um número considerável das tradições do Profeta).

O Azl (coito interrompido) era praticado para evitar a concepção e devia ser feito com o acordo da esposa respectiva. Na mesma base não deverá haver objecção religiosa para os modernos e inofensivos métodos de contracepção. De facto, qualquer método de contracepção, excepto a esterilização, que seja mais seguro para o utente é permitido se praticado por razões pessoais não como uma política de Estado.

O planeamento familiar é também um benefício para a sociedade. O Imam Al-Ghazali menciona no seu Ihya Ulum El-Din as intenções do uso do azl (coito interrompido). A sua visão do assunto do azl foram acrescidas pelo Imam Mahmood Shaltoot no seu livro ‘Planeamento Familiar’. Ghazali acha queevitar a gravidez é permitido e legal, pelo que a proibição depende de um texto ou analogia textual. Não há texto acerca deste problema e não há analogia a ser seguida.

No seu livro Fiqh-ul-Sunnah, Sheikh Sayed Sabiq diz que o Islão não proibe planeamento da procriação através do uso de contraceptivos ou outros meios de evitar a gravidez.

Sob certas condições: família numerosa em que o pai não consegue oferecer uma vida decente ou a esposa está doente ou fraca, ou o marido é pobre ou, tanto o marido como a esposa, têm uma doença contagiosa, o planeamento familiar é permitido.

Shaikh Abdul Majeed Saleem (1937) diz que é permitido o uso de contraceptivos para evitar a gravidez tal como o azl, ou o uso de algo que evite a entrada do sémen no útero da mulher. Marido e mulher devem usar os contraceptivos de mútuo acordo.

Sheikh Mahmood Shaltoot (1959), diz que o planeamento pelos doentes, os que não podem suportar as pesadas responsabilidades ou que não conseguem qualquer ajuda do governo ou dos ricos, não é contraditório à natureza ou proibido pela Chariah ou lei Islâmica. De facto, é necessário, e o Alcorão aconselha um período de lactação de dois anos, e que nenhuma gravidez deve ocorrer durante a lactação. Sheikh Sayed Sabiq diz que o Islão não proíbe o planeamento: sob certas circunstâncias, tomando medicamentos ou usando contraceptivos para evitar a gravidez.

Bastantes declarações (fatwas) foram emitidas pelos Muftis (juristas), as quais na totalidade não vêem contradições entre o Islão e o planeamento familiar.

Outro método de contracepção que o Islão encara é o aborto. Chariah proíbe matar a criança antes do nascimento. O aborto é permitido somente quando um médico de confiança decide que a continuação da gravidez pode fazer mal e arruinar a vida da mulher. Shaikh Shaltoot disse: Os doutos Islâmicos proibem o aborto após quatro meses de gravidez. O aborto após os quatro meses é um crime contra uma criatura viva. Se esse tipo de gravidez significa a morte da mãe, então a lei Islâmica recomenda o menor dos males, nomeadamente o aborto.

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Religião é um Sentimento

Coord. por M. Yiossuf Adamgy, in Revista Al Furqán, nº. 182

A Religião não é apenas regras, deveres e obrigações, mas um sentimento e uma percepção que nos faz conscientes de que há uma força maior que lida com o Universo.

Caros leitores, queria compartilhar estas reflexões sobre religião e o seu verdadeiro significado convosco. Muitas pessoas entendem a religião em geral, e em particular o Islão, como uma série de deveres e obrigações e uma lista interminável de coisas lícitas e proibições com que se deve reger. Religião em árabe é derivado da palavra Dayn, din, o mesmo que dívida, e a religião em seu sentido mais profundo é ser grato a Deus. Tudo o que se tem é de Deus, e todas as criaturas, por si só, pertencem a Deus, pelo que se a pessoa reconhece esse facto pode ser chamada religiosa. O incrédulo, ao contrário, é aquele que nega os dons e graças com que foi abençoado por Deus. Na verdade, quem reconhece que todas as suas posses são de Deus tenta, na medida das suas capacidades, retornar a dívida, ou melhor, parte do cumprimento das ordens do seu Criador e Sustentador.

Uma vez que ninguém pode pagar a dívida na totalidade, porque ninguém merece entrar no Paraíso, a menos que Deus nos cubra de sua misericórdia infinita, como disse nosso nobre Profeta (Paz e bênçãos de Allah estejam com ele). É verdade que devemos cumprir as nossas obrigações religiosas, mas sem esquecer que tudo o que façamos nunca poderá pagar as nossas dívidas a Deus. No entanto, o facto de cumprir os nossos deveres religiosos é o que nos faz aproximar de Deus e, portanto, merece fazer a sua clemência. Para uma melhor com-preensão do que foi dito anteriormente, vamos dar um exemplo. Se um pai dá a seu filho um dólar e este último o dá na caridade, qual dos dois merece a recompensa? A resposta é: ambos merecem o prémio, mas graças ao pai a criança pode ser generosa. Porque, se o pai não tinha dado o dólar, a criança não teria hipótese de fazer caridade. Da mesma forma, se não fosse por Deus, não poderíamos ter feito nada; por isso temos de agradecer de forma constante, uma vez que é Ele que dá a todos a força e o poder que nos move. Ninguém e nada tem a sua própria força, mas a força vem de Deus, o Todo-Poderoso.

Religião não é apenas regras, deveres e obrigações, mas um sentimento e uma percepção que nos faz conscientes de que há uma força grande que corre no Universo e não é afectada pelo sono ou sonolência ou distraída por qualquer coisa. Este sentimento tem de ser manifestado em boas obras. Práticas de culto e as boas maneiras são, na verdade a consequência da fé e do sentimento de amor por Deus. Este sentimento de amor para com Deus é o que nos impulsiona a fazer o bem e nos arrasta de volta para evitar o mal. Sem sentimentos, o ser humano não daria um passo em frente. Nós, humanos, somos movidos pelo amor, ganância, medo e desejo. Somos movidos pelo desejo e dor e todos os sentimentos são sensações. Há muitos versículos do Alcorão e ditos do nobre Profeta (s.a.w.) salientando a importância dos sentimentos e do coração como o motor que impulsiona os outros órgãos.

A questão enfática neste ponto é: podemos controlar os nossos sentimentos ou algo que está além do nosso alcance e poder? Muitas pessoas acreditam que não podemos, mas a realidade é exactamente o oposto. A melhor prova disso é o que disse o nosso nobre Profeta (que Allah lhe conceda paz e bênçãos), quando um homem lhe pediu conselhos: “Não fique com raiva”, disse. Ele disse-lho três vezes porque sabia que é algo controlável, senão não o teria dito, e na verdade a raiva ou ira é um sentimento de irritação e alteração produzida na mente da pessoa e é um dos sentimentos mais fortes e, se se pode controlar a raiva, é muito mais fácil controlar os sentimentos que são menos fortes. O que não se pode controlar é o ambiente onde pode se mover, e assim por diante, mas a chave para o seu coração, caro leitor, está consigo, se você escolher ficar zangado ou não, escolher amar isto ou aquilo, você escolhe ser feliz ou não. Mas o que nos ajuda a ter esses sentimentos?

Há duas razões principais: por um lado ajuda-nos o amor e o desejo e, por outro o medo e a saudade. A primeira razão está relacionada ao prazer e alegria e faz com que a pessoa atenda os seus desejos; e a segunda tem a ver com dor e faz com que a pessoa evite qualquer coisa que possa causar sofrimento. Glorificado seja Deus que nos criou e fez inatos nos outros de quem nos aproximamos para disfrutar o prazer que obtemos e para nos afastarmos da dor e do sofrimento dos outros (no Alcorão) pelo estilo que queremos entender que o Paraíso é uma fonte de alegria e satisfação, e tememos o Inferno que é a fonte de dor e punição na vida após a morte.

Concluímos o nosso pequeno estudo, dizendo que a religião está no coração e o nobre Profeta (paz esteja com ele) disse uma vez: “A piedade é aqui” e apontou para seu coração, mas o que está no coração tem que ser traduzido por outros organismos. Quem afirma ser religioso e diz que ele é uma pessoa com fé terá que demons-trar, através de acções, cumprindo os mandamentos de Deus. Se você disser a alguém que você ama, mas não pergunta por ela, não a visita, não mostra interesse por ela e não se preocupa com ela, mentiria ao dizer que a ama. Como qualquer sentimento deve manifestar-se em factos, porque se não, o sentimento é inexistente ou muito fraco.