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Mesquita (maçjid)

A Mesquita é um lugar sagrado para os muçulmanos, onde estes se congregam para realizar as suas orações quotidianas.

 

A palavra “Mesquita” em português é tradução da palavra árabe Maçjid, que quer dizer lugar de prostração.

 

O PAPEL DA MESQUITA NO ISLÃO

 

As Mesquitas foram as primeiras instituições de ensino para os muçulmanos;

 

A Mesquita é o lugar onde se aprende a sabedoria e as virtudes.

 

A Mesquita é, pois, “o lugar da prostração, adoração, reunião, consultação, educação, promoção da espiritualidade islâmica, enfim, de discussão de problemas religiosos, sociais, económicos, políticos e outros…”.

 

– “… Para tal o Imame da Mesquita não pode estar sentado em casa. Os não-Muçulmanos podem vir visitar a Mesquita ou aprender algo mais sobre o Islão… O Imame não pode deixar de falar verdade e defendê-la justamente; não pode ser empregado deste ou daquele grupo; se o fizer, ele não presta”. “…Para os que trabalham pela causa islâmica, para os estudiosos e divulgadores do Islão e para os Imames deve ser providenciada todas as facilidades e condições para o desempenho das suas missões”. – Dr. Ahmad H. Sakr, da Fundação para Os Estudos Islâmicos de Lombard (Illionis – EUA), in ‘Estudiosos Discutem em Espanha O Papel da Mesquita no Islão’.

– “A Mesquita é o símbolo da existência, do Islão, da Herança e da identidade; onde há Mesquita, pode dizer-se que há Muçulmanos. O Minarete é sinal de união, de ‘Ummah’, de Sociedade Islâmica imbuída na Unicidade de Deus (Tawid)”. “…A Mesquita, e por inerência a Comunidade, é uma estação geradora do poder espiritual islâmico; mas quem estiver à sua frente (Imame, líder, presidente…) deverá ser uma pessoa capaz, justa, verdadeira, com carácter e personalidade islâmicas, enfim, com conhecimento de temática islâmica e gerais. Se assim não acontecer, a estação geradora de força espiritual islâmica não terá carga para poder funcionar convenientemente…”. – Dr. Mustufa, Mufti de Cyprus, in ‘Estudiosos Discutem em Espanha O Papel da Mesquita no Islão’.

 

– “A Mesquita deve ser o sustentáculo da congregação, do conselho, da opinião, da discussão sobre a evolução do Homem até Deus …, é a fonte da qual emana a solução dos problemas de toda a Comunidade Islâmica, o lugar de onde procede o conhecimento, e, enfim, o de consciencialização”. – M. Yiossuf Adamgy, Director da Revista Islâmica Portuguesa Al Furqán, in ‘Estudiosos Discutem em Espanha O Papel da Mesquita no Islão’.

 

As Mesquitas são, na verdade, as casas de Deus na terra para congregar os Homens a fim de cumprirem os preceitos divinos da Oração (Salát). É o local aonde os muçulmanos se congregam para realizar as suas orações diárias e para as orações de Sexta-feira.

 

A oração em congregação é uma notável demonstração de unidade, de objectivo e de acção, da piedade e humildade colectiva perante Deus, e de solidariedade afectiva entre muçulmanos.

 

No ofício da oração islâmica, em congregação, não há reis e súbditos, nem ricos e pobres, nem brancos e negros; não há primeira ou segunda classe, nem lugares reservados ou públicos. Todos os crentes ficam de pé e de ombros dados, lado a lado; é, na verdade, a maneira mais disciplinada e exemplar, longe de qualquer consideração mundana.

 

As orações prescritas ao muçulmano são em número de cinco, se não há possibilidade de realizá-las nas Mesquitas, podem ser efectuadas em qualquer lugar onde o crente se encontrar quando a oração estiver no seu horário definido.

 

ALGUMAS CARACTERÍSTICAS ESSENCIAIS E COMUNS NUMA MESQUITA

 

Mihrab

 

No interior de uma Mesquita, há um sala de culto, constituído somente pelos artigos básicos necessários para a adoração dos muçulmanos. Uma característica comum de um sala de oração é um mihrab, um nicho decorativo, na parede, que indica a Qibla que deve estar voltado para a Caaba (Ka’bah) em Meca (Makkah).

 

Minbar

 

Na maioria das Mesquitas há um minbar,que é um púlpito, ao lado do mihrab, usado pelo Imame (dirigente da Oração) para o sermão (Khutbah), antes da Oração. O minbar pode ser feito de madeira, de pedra, de mármore … .

 

Características comuns às Mesquitas também são os pátios ligados a elas, onde se encontra a sala de ablução para os crentes se purificarem (wudhu) antes das orações. Pode existir, ainda, um Minarete (ou vários), mas pelo menos uma torre delgada, alta, unida a Mesquita, que é usado pelo Muazzin para fazer o Chamamento para oração (Adhan).

 

A CONSTRUÇÃO DAS MESQUITAS

 

As mesquitas (locais de oração) foram construídas entre os séculos VI e VIII, seguindo o modelo da casa do Profeta Muhammad (s.a.w.), em Medina: uma planta quadrangular, com um pátio voltado para o sul e duas galerias com tecto de palha e colunas de tronco de palmeira. A área de oração era coberta, enquanto no pátio estavam as fontes para as abluções.

 

No entanto, a arquitectura sagrada não manteve a simplicidade e a rusticidade dos materiais da casa do Profeta.

 

O desafio de expressar um “Deus omnipresente e invisível”, para Garaudy, foi encontrada num forte simbolismo, em que a Mesquita seria a verdadeira porta entre a realidade sensível e a realidade transcendente. Para ele, três elementos sintetizam este simbolismo: a ordem geométrica e harmónica, o uso da luz e a caligrafia que ornamenta os detalhes.

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A religião como denominador comum

Por: M. Yiossuf M. Adamgy

O Ocidente e o Mundo Muçulmano são universos multi-facetados, multi-culturais e multi-religiosos, apesar de serem considerados ou descritos como sendo tacanhos. Existem milhares de muçulmanos no Ocidente, assim como existem milhares de indivíduos de outras tradições religiosas no “mundo muçulmano”. Existem relações subjacentes entre estes mundos, supostamente separados, e que se manifestam nos alicerces mais profundos das suas culturas, da mesma forma que o renascer permanente da religiosidade está no íntimo de ambas e é observável ao longo das suas histórias.

O objectivo da religião é a piedade e uma consequência temporal da piedade é a constante transformação do desejo individual e colectivo nos valores e ética que são, universalmente, acalentados por todos os seres humanos. Dada esta relação entre a piedade e o tempo, se for louvada a ética e os valores, qualquer indivíduo de boa vontade, seja ou não ocidental, deverá sentir-se encorajado pela vertente da doutrina islâmica que apoia o culto da piedade através da prática religiosa e faz sobressair no praticante uma ética inter-humana, também partilhada pelas tradi- ções judaica, cristã ou outras.

Nessa ordem de ideias, podemos encontrar semelhanças entre todas as culturas e religiões do sistema teocêntrico. Com efeito, até nas culturas que, aparentemente, estão em conflito podem encontrar-se bases comuns. E este é um conceito que está indiscutivelmente presente no Alcorão, assim como a concepção de que as instituições de poder executivo, legislativo e judicial devem manter-se neutrais, mas, simultaneamente, reconhecendo a divindade e cultivando a piedade e a santidade, independentemente do procedimento formal que seja escolhido para o fazer (seja cristão, budista, islâmico, etc.). O objectivo destas instituições deve ser acompanhar o entendimento operacional do governo, tal como defendem os princípios do Alcorão.

Estes foram os princípios criados pelo Profeta Muhammad (a paz esteja cm ele) e segundo os quais ele próprio e os seus companheiros viveram.

Embora possam ser deslindadas semelhanças, as culturas do Oriente conservaram uma essência mais teocêntrica nas suas religiões, enquanto as culturas ocidentais advogam religiões progressivamente mais seculares. A concepção ideológica de um governo e sociedade sadios tem por base a aplicação da Sharia do próprio Ocidente, um código de leis definido pelo Alcorão que adopta o pluralismo. Se essa vertente da Sharia é ou não posteriormente representada, protegida e apoiada pelo forças do poder nacional dominante ou pelos agentes do poder geopolítico transnacional é uma questão totalmente diferente.

O carimbo do Ocidente, que tem por base o humanismo secular, que considera a expressão pública da fé ou a menção de Deus uma imposição perniciosa da religião, é incompatível com o paradigma islâmico. Ainda assim, espera-se que os muçulmanos do Ocidente obedeçam ao sistema de leis e costumes do país onde se encontram. Dando um exemplo exagerado, se houvesse uma lei que decretasse que a prática religiosa e a referência a Deus deveria passar a ser mantida apenas na esfera privada, o muçulmano deveria obedecer, pela lei da ética ditada pela Shari’a, ou então, deveria encontrar outro local para viver.

No Mundo Muçulmano, tal como no restante terceiro mundo, existem imposições dos regimes de clientelismo e aristocracia colectivos ocidentais que se manifestam através do uso de operações de guerra declaradas ou dissimuladas. Com a auto-determinação enfraquecida, muitos segmentos da população são naturalmente prejudicados pelas consequências nocivas a nível sócio-político e económico, sentindo -ss profundamente lesados. Quando esta população do “mundo muçulmano” se expressa intelectual e verbalmente contra as injustiças que são verdadeiramente reais, fá-lo através da fraseologia e paradigmas intelectuais da Shari’a, ética que lhes promete o direito à vida, liberdade, propriedade, segurança e a distribuição justa da riqueza e oportunidades. A Shari’a tem base na religião, por isso, o revivalismo religioso neste contexto é análogo aquele que está presente na exigência de um determinado “direito constitucional”, feita por um ocidental, perante uma hipotética opressão de carácter sócio-político ou financeiro. Vários movimentos reaccionários têm base nesta dinâmica. A relação entre as actuais operações de guerra e os crimes atribuídos a esses diferentes grupos, por um lado, e as empresas internacionais e os interesses ocidentais, por outro, torna necessária uma reflexão mais profunda.

A religião, quando é praticada com autenticidade, cria, por definição, pontes entre os seus praticantes, independentemente do tipo de religião que pratiquem. O Alcorão refere explicitamente este fenómeno em vários versículos. Uma das teses mais inaptas (da qual mesmo os religiosos melhor intencionados são vítimas) é a tese que defende que existe algo nas religiões autênticas (seja qual for a sua forma) que se torna na causa principal dos conflitos que ocorrem ao longo da linha que separa as várias religiões. Defender esta tese é o mesmo que argumentar que é algo de inerente à existência de várias raças e etnias que causa o conflito sectário a nível racial e étnico.

O fanatismo religioso, racial, étnico ou qualquer outra forma de fanatismo é, por definição, uma depravação psicológica. Embora a religião, a raça e a etnia estejam semanticamente associadas de uma forma existencial à sua respectiva forma de fanatismo, estas características não são, em si próprias, a causa de qualquer forma do mesmo. Um judeu devoto, um cristão ou um muçulmano terão, ideologicamente, o mesmo tipo de comportamento face à sua ética inter-pessoal. As formas de veneração podem variar, mas o comportamento que um cristão devoto, um judeu, hindu, persa ou budista, terá em relação ao próximo será idêntico.

Todos os seres humanos, sejam teocêntricos ou teofóbicos, desejam viver a sua vida tendo os seus direitos salvaguardados e sendo livres para levarem a cabo a sua jornada numa sociedade pacífica e ordeira. E é este o elo de ligação entre os religiosos e os não-religiosos. Existe um substrato próprio do ser humano que é comum a todas as pessoas, culturas e religiões deste mundo. Uma campanha pública massiva deve ser desenvolvida no sentido de derrubar as barreiras existentes entre os “dois mundos”. Devemos encorajar o jornalismo honesto e devemos também promover a educação e o entendimento culturais. Está na altura de pararmos de procurar diferenças e de começar a prestar atenção às semelhanças.

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A liberdade religiosa no Islão

Coord. por: M. Yiossuf Mohamed Adamgy
(Dezembro de 2009, in revista Al Furqán, nº. 165/166)

Esclarecimento de dúvidas e interrogações sobre o Islão

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

Uma das bases fundamentais do Islão, citada claramente no Alcorão, é a liberdade religiosa. Diz o Livro Sagrado na Surata 2, versículo 256: “Não há imposição quanto à religião”. Por tal motivo, o Islão submete a questão da crença e da incredulidade à vontade e à satisfação do ser humano. Diz o Alcorão na Surata 18, versículo 29: “Quem quiser crer, que creia e quem quiser negar-se a crer, que não creia”.

O Alcorão revela esta questão com clareza ao Profeta Muhammad [Maomé], paz esteja com ele, ao dizer-lhe que a parte que lhe toca é comunicar a mensagem de Deus à Humanidade e que ele não tem nenhum poder para converter as pessoas ao Islão, já que a verdadeira conversão provém de Deus. Na surata 10, versículo 99, diz Deus: “Poderás, por acaso, obrigar as pessoas a serem fiéis?”; na surata 88, versículo 22, diz: “Não és, de maneira alguma, guardião deles” e, na surata 42, versículo 48, diz: “E se porém desdenharem, não te enviamos para seu guardião. A ti só te está incumbido a proclamação”. Tudo isto assegura que o Alcorão recusa-se, de forma definitiva, a obrigar as pessoas a converterem-se ao Islão. Por essa razão é que o seu servo durante os programas de Esclarecimento de Conceitos, nunca disse: Convertam-se ao Islão! Podemos informar sobre a verdade do Islão; comunicamos os seus ensinamentos, mas não fazemos proselitismo. A pessoa é quem, de forma voluntária, aceita o Islão. Não podemos coagi-la; nem oferecer-lhe ensinamentos de salvação automática, nem sequer a pressionarmos a aceitar o Islão.

O Islão definiu o método que os muçulmanos deverão seguir para divulgar o Islão, que é a sabedoria e a boa exortação. Diz o Alcorão na surata 16, versículo 125: “Chama para o caminho do teu Senhor através da sabedoria e através de uma boa exortação, convencendo-os da melhor maneira”. Diz também na surrata 2, versículo 83: “Fala com o próximo da melhor maneira”. A este res- peito podem ser citados do Alcorão mais de 120 versículos que chamam a atenção de todos para a divulgação do Islão através do conhecimento, da sabedoria e do respeito pela liberdade humana em aceitar ou recusar a religião.

Depois de conquistar Meca (ár. Makkah) e atingir o triunfo definitivo, o Profeta Muhammad (p.e.c.e.) libertou todos os presos e não obrigou ninguém a acreditar no Islão ao dizer-lhes: Ide. Todos sois livres.

Não se conhece, em toda a história do Islão, que os muçulmanos tenham obrigado ninguém, cristão ou judeu, a adoptar o Islão.

Prova disto é a primeira constituição disposta pelo Profeta Muhammad (p.e.c.e.) depois de ter emigrado para Medina, na qual refere que os judeus compõem uma parte da sociedade da Medina em conjunto com os muçulmanos e que os primeiros têm direito a permanecer fiéis à sua religião.

Também o segundo Califa, Omar B. Khattab (r.a.), ao entrar em Jerusalém, estabeleceu um convénio de segurança com os cristãos, em que confirma que estes, as suas igrejas e as suas cruzes estão seguros e não devem ser obrigados a deixar a sua religião. Prova disto é que as Igrejas cristãs na Terra Santa mantiveram-se intactas.

Mahatma Gandhi, o herói da independência da Índia, escreveu:

“Os muçulmanos nunca caíram na arrogância, mesmo nos tempos de maior grandeza e triunfo. O Islão acalenta a admiração pelo Criador do mundo e das suas obras. Quando o Ocidente vivia um período de terrível escuridão, a resplandecente estrela do Islão, que brilhava a Este, trouxe luz, paz e alívio ao nosso mundo sofrido. O Islão não é uma religião falsa. Quando os hindus estudarem esta religião com o devido respeito, irão sentir também a mesma simpatia que eu sinto para com o Islão”. E continua. “Cheguei à conclusão de que a rápida expansão do Islão não se realizou por força da espada. Pelo contrário, deveu-se, sobretudo, à sua notável simplicidade, à sua lógica, à grande mo- déstia do seu Profeta, ao seu escrupuloso respeito das promessas realizadas, à sua ilimitada devoção para com os muçulmanos, ao seu carácter intrépido, à sua falta de medo, à sua absoluta confiança em Deus e à sua própria missão. Estas qualidades, e não a espada, foram as que permitiram vencer todos os obstáculos”.

Um muçulmano deve tratar o não-muçulmano de forma amável e deve apenas evitar travar amizades com os que tenham animosidades contra o Islão. No caso de esta animosidade causar ataques violentos contra a existência dos muçulmanos, isto é, em caso de guerra contra eles, então, os muçulmanos devem responder com justiça, tendo em consideração a dimensão humana da situação. Todas as formas de atrocidades, actos desnecessários de violência e agressão injusta estão proibidos no Islão.

Noutro versículo, Deus adverte os muçulmanos contra isto e explica que a raiva sentida contra os inimigos não deve ser motivo para se cair em actos injustos: “Vós que sois crentes! Sede perseverantes na causa de Deus e prestai testemunho com equidade. E que o ódio que possais sentir contra os demais não vos leve ao extremo de não serdes justos. Sejais justos! Isso está mais próximo da piedade e temei a Deus, pois Ele conhece bem tudo aquilo que fazeis.” (Alcorão, 5:8)

A palavra Islão provém da raiz árabe Salam, que significa paz e o Alcorão condena a guerra como um estado anormal de situações opostas à vontade de Deus.

O Islão não justifica uma guerra totalmente agressiva ou de extermínio, uma vez que o Islão reco- nhece que a guerra, em certas situações, é inevitável e que, algumas vezes, é um dever positivo provocado pelas opressões e pelo sofrimento. O Alcorão ensina que a guerra deve ser limitada e conduzida da forma mais humana possível. O Profeta Muhammad (p.e.c.e.) não teve apenas que lutar com as pessoas de Meca, como também com algumas tribos judaicas da região, bem como com algumas tribos cristãs na Síria que planearam uma ofensiva contra os muçulmanos. Mas isto não levou o Profeta Muhammad (p.e.c.e.) a denunciar o Povo do Livro (judeus e cristãos) ou a guerrear contra todos, apenas se limitou a defender-se das tribos atacantes. Os muçulmanos viram-se forçados a se defender, não estavam a executar uma guerra santa contra a religião dos seus inimigos. Quando Muhammad (p.e.c.e.) mandou Zaid como líder do exército muçulmano na guerra contra os cristãos, disse-lhe: guerreiem pela causa de Deus, valentemente, mas façam-no de forma humana. Não devem molestar sacerdotes, religiosas, monges, nem sequer civis frágeis ou pessoas inaptas para a guerra. Não deverá existir um massacre de civis, como também não deverá ser cortada uma única árvore nem nenhum edifício poderá ser destruído.

Depois disto, foi ditada uma aclamação do Profeta Muhammad (p.e.c.e.), válida até ao final dos tempos, de larga tolerância para com as religiões, especialmente para com os judeus e cristãos, os que são chamados de “Ahl al kitab”, o Povo do Livro; dizer que o Alcorão fomenta o terrorismo é um erro perigosíssimo e faz jus ao terrorismo, que é uma minoria violenta, existente na história e nos tempos presentes em todas as religiões.

No caso do Islão, condenamos o terrorismo venha este de onde vier; mas aqueles que dizem o contrário, estão a justificar teologicamente o terrorismo islâmico e invalidam a grande maioria de muçulmanos pacíficos como nós. Desta forma, outorgam de forma incorrecta uma base Alcorânica do terrorismo, que os converte em cumpridores da religião islâmica e os 99.99% dos muçulmanos pacíficos ficaríamos desacreditados de uma forma incorrecta.

Uma tremenda ousadia, mas também um tremendo erro!

*texto originalmente publicado como editorial da Clacso por Emir Sader, secretário executivo da Clacso (Conselho Latino-americano de Ciências Sociais

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Reflectindo de forma islâmica

Por M. Yiossuf Adamgy

Enquanto que, uma vez mais, os Muçulmanos auto-permitem-se cair na ratoeira reaccionária que lhes foi montada, confirmando, assim, a tese dos “cartoons” ofensivos, ao reagirem furiosa e violentamente, consideremos preferível reflectir sobre a súplica do Profeta (s.a.w.), proferida nos primórdios do Islão, em Ta’if. Esta é a súplica (duá) por ele proferida, com as sandálias cobertas de sangue, feridas espalhadas pelo corpo e terrivelmente insultado, caluniado e ridicularizado pelos habitantes de Ta’if. O mais importante a reter, é que isto teve lugar após um longo boicote de três anos sofrido às mãos dos Coraichitas, em consequência do qual os Muçulmanos viram-se obrigados a comer erva e a viver em árvores.

O que foi dito pelo Profeta (a paz esteja com ele), ao abandonar a cidade de Ta’if:

“A Oração de Ta’if”

“Ó Allah! A Ti me queixo da minha fraqueza,
Da minha falta de recursos e da humilhação a que fui sujeito.
Ó Todo-Misericordioso para com aqueles que são misericordiosos;
Ó Senhor dos fracos e meu Senhor também.

A quem me confiaste Tu?
A uma pessoa distante, que me recebeu com hostilidade?
Ou a um inimigo, a quem concedeste poderes sobre aquilo que é a minha missão?
Nada me preocupa, desde que não estejas zangado comigo.

A Tua protecção é o que eu tenho de mais precioso.
É sob a luz do Teu Rosto que procuro refúgio,
Esse Rosto que faz com que toda a escuridão se dissipe
E regula todo e qualquer assunto deste e do Outro Mundo.

Receio ter-Te desagradado e que a Tua fúria recaia sobre mim.
É meu desejo agradar-Te e satisfazer-Te.
Não existe outro poder para além do Teu,
E ninguém é tão poderoso como Tu”.

Se aqueles que afirmam amar tanto o(s) Profeta(s), ao ponto de estarem dispostos a infringir o comportamento profético devido à raiva e à fúria cega que sentem, reflectissem um pouco a respeito desta oração, isso seria para eles uma luz orientadora e uma indicação clara de como um Muçulmano deve agir face à actual situação. Este é também o único caminho que permite a almas e corações atormentados encontrarem a paz, pois não será em piquetes ou em manifestações exageradas e com violência que a encontrarão. Tais actos não podem e não devem ser usados como métodos para a clarificação da nossa reverência para com o sagrado e o divino.

A quem foi que o Profeta (s.a.w.) disse o seguinte: “O Islão nada mais significa, a não ser possuidor de um bom carácter?”.

Estamos a readoptar as normas tribais pré-Islâmicas, as quais defendiam a vingança e a retaliação, quando devíamos encarar o sucedido como uma oportunidade para alterarmos a nossa maneira de sentir e agir, seguindo o exemplo do nosso bem amado Profeta, que se manteve calmo e compassivo face ao ódio e à inimizade de que era alvo.

Estaremos nós a ceder ao pior dos pecados, que é a violência gerada pela falta de esperança? Isto quando devíamos seguir o exemplo do Profeta (s.a.w.), que nunca a perdeu? E que, já fora de Ta’if, respondeu da seguinte forma: “Não, espero que um dia este povo adore a Allah somente”, quando o Anjo, em resposta à sua súplica, se ofereceu para destruir todas as montanhas em redor da cidade, reduzindo-a a pó?

A menos que possuamos a calma e a consciência do Profeta (s.a.w.) de Allah, segundo a qual, todo e qualquer acontecimento, favorável ou não, é representativo da oportunidade de fortalecermos o relacionamento que mantemos com Deus, continuaremos a ser vítima de todo e qualquer estratagema ou truque.

Em lugar de reagirmos com violência e fúria, deveríamos intensificar o nosso trabalho na partilha da bonita e misericordiosa mensagem do Islão, especialmente agora, que o Profeta (s.a.w.) é notícia nos meios de comunicação em massa. Permitamos que a oração proferida pelo Profeta (s.a.w.) em Taif seja publicada em jornais Europeus, como exemplo da sua magnanimidade e paciência.

Violência, ameaças de morte e fúria servem apenas para denunciar a falta de confiança no poder e na luz do Sagrado; confiança, essa, perfeitamente ilustrada pela experiência do Profeta (s.a.w.) no jardim exterior a Taif, quando pessoas que ouviram a sua oração sentiram-se movidas a aderir ao Islão. Além disso, e após este incidente, quando regressava a Meca, muitos que haviam ouvido a recitação do Alcorão por parte do Profeta (s.a.w.), aquando da sua oração nocturna, converteram-se também ao Islão. E, pouco depois da sua oração nocturna, o Profeta (s.a.w.) ascendeu ao Céu. De facto, após a tempestade vem a bonança.

Contudo, com o anúncio ontem feito por eminentes eruditos do Islão, intitulado “Um Dia de Ofensas”, receio que nada mais sejamos, a não ser sabotadores. Porque não “Um Dia para Recordar o Profeta”, ou “Um Dia de Características tremendamente Proféticas”? Porque não “Um Dia da Oração de Ta’if”?

Dado o momento que vivemos, recomendo que façamos circular “A Oração de Ta’if”, a qual servirá como antídoto de toda a loucura e veneno do turbilhão emocional a que assistimos. E manifestemos sim, forte e firmemente, o nosso protesto. Mas dentro da lei.

Que Allah nos oriente para aquilo que é justo e nos conceda a sorte imensa de olharmos os nossos inimigos como se de amigos chegados se tratassem (ver Alcorão, 41:34-36), e aos quais temos o dever de transmitir o amor e a mensagem de Allah e do Seu Profeta (s.a.w.). Ámen.

– “Jamais poderão equiparar-se a bondade e a maldade! Retribui (ó Muhammad) o mal da melhor forma possível, e eis que aquele que nutria inimizade por ti converter-se-á em íntimo amigo!
Porém a ninguém se concederá isso, senão aos tolerantes, e a ninguém se concederá isso, senão aos bem-aventurados. Quando Satanás te incitar à discórdia, ampara-te em Deus, porque Ele é o Omniouvinte, o Omnisciente.” – Alcorão, 41:34-36.

– “É possível que Deus restabeleça a cordialidade entre vós e os vossos inimigos, porque Deus é Omnipotente. E Deus é Indulgente, Misericordioso”. – Alcorão, 60:7

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Jesus (p.e.c.e.) no hadice

O Hadice é outra das fontes de conhecimento que os estudiosos do Cristianismo têm tentado esconder, pois contém um conjunto de narrativas de testemunhas oculares, sobre aquilo que o Profeta Muhammad, a paz e a bençãos de Deus estejam com ele, disse e fez ao longo da sua vida. A Igreja Romana e os missionários Cristãos criaram uma sofisticada pseudo-sabedoria para desacreditar a literatura Hadice muçulmana, apesar de esta já ter sido submetida ao mais escrupuloso e rigoroso exame da história da sabedoria.

Ao contrário dos Evangelhos do Novo Testamento, o Hadice só foi aceite, depois de se verificar que o homem que está na origem da cadeia de transmissão é de confiança, ou seja, foi companheiro do Profeta Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, testemunhou directamente o acontecimento ou ouviu realmente as palavras que o Hadice contém.

Portanto, os homens que mais amaram e temeram Deus são os que maior confiança merecem. As colecções mais importantes do Hadice, as de Imam al-Bukhari e de Sahih (verdadeiro) Muçlim, foram reunidas cerca de cento e vinte anos depois da morte do Profeta Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, e cobrem todos os aspectos da sua vida e doutrina, constituindo uma parte essencial dos ensinamentos de Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele. Aliás, foi a partir das

narrativas de testemunhas oculares contemporâneas do Profeta, que se compilaram as colecções de Imam al-Bukhari e Sahih (verdadeiro) Muçlim.

Além do Hadice, também há muitas tradições Muçulmanas que contam o que Jesus disse e fez, a partir do testemunho original dos primeiros seguidores de Jesus, especialmente daqueles que se espalharam pela Arábia e pelo Norte de África. Quando o Profeta Muhammad apareceu, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, muitos dos seguidores destes seguidores abraçaram o Islão, transmitindo tudo o que sabiam acerca de Jesus, inclusivé que tinha anunciado a chegada do Profeta Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele. Assim, as tradições foram transmitidas de geração em geração pelos Muçulmanos, tendo muitas delas sido reunidas em Histórias dos Profetas (Stories of the Prophets), de Tha’labí’s e em Renovação das Ciências Religiosas (Revival of the Life-Transaction Sciences) de Al-Ghazzali. É interessante notar como as tradições dão uma imagem clara e unânime do ascético Profeta que preparou o caminho para o Último Mensageiro:

Ka’b al-Akbar disse:
“Jesus, filho de Maria, era um homem ruivo, quase branco; não usava cabelo comprido, nunca curvava a cabeça e costumava caminhar descalço. Não tinha casa, adornos, bens, roupas, nem sequer provisões, para além dos alimentos desse dia. Onde quer que estivesse, quando o sol se punha, rezava, preparando-se para o nascer do novo dia. Curava os cegos de nascença, os leprosos, ressuscitava os mortos com a permissão de Deus e dizia às pessoas o que estavam a comer em suas casas e o que armazenavam para os dias seguintes, e caminhava à superfície da água do mar. Os seus cabelos estavam em desordem e a sua cara era pequena; era um ascético, que só desejava entrar no outro mundo e adorar Deus. Peregrino, andava de terra em terra, até os Judeus o perseguirem e quererem matar. Então, Deus levou-o para o céu. Deus sabe melhor”.

Abd’Allah bin Amr contou que Muhammad, a paz e a benção de Deus estejam com ele, disse:
“Jesus, filho de Maria, descerá à terra, casará, terá filhos e permanecerá na terra durante quarenta e cinco anos, findos os quais morrerá e será enterrado junto de mim, na minha sepultura. Então Jesus, filho de Maria, e eu, levantar-nos-emos de uma sepultura entre Abu Bakr e Umar(Primeiro e segundo lider, respectivamente, a seguir ao falecimento do Profeta Muhamamd, P.E.C.E.”. Transmitido por Ibn al-Jauzi no Kitab al-Wafa.

Abu Huraira contou que o Profeta Muhammad, a paz e a benção de Deus estejam com ele, disse:
“Eu sou o parente mais próximo de Jesus, filho de Maria, neste mundo e no outro. Os Profetas são irmãos, filhos do mesmo pai. As suas mães são diferentes, mas a sua religião é só uma. Não houve mais nenhum Profeta entre nós”. De Bukhari e Muçlim

Neste famoso testemunho, o último dos Profetas e Mensageiros, o nosso Mestre Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, resumiu toda a questão da seguinte forma:

Os profetas são irmãos, portanto, são todos iguais; entre eles não há qualquer diferença. Filhos de um só pai, todos proclamam uma Doutrina La ilaha ill’Allah. Não existe outro deus além de Deus, (o Único). A Sua Divindade é única. As suas mães são diferentes, pois cada Profeta foi enviado a um povo em particular, numa época específica, tendo-lhe sido revelado uma Sunna, ou estilo de vida, uma prática, um modelo segundo o qual a sua comunidade deveria viver. Quando um novo Profeta chegava a um povo, revelava uma nova Sunna, de acordo com a nova época. Esta é a Chari’a ou Estrada dos Profetas. Assim, com a chegada de Sayyidina Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, a Transmissão Divina fica completa. A Mensagem é selada no último Livro revelado, o Glorioso Alcorão.

A Mensagem é selada com a Chari’a (lei Islâmica) e a Sunna (tradições) do bondoso Profeta, Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele. A ciência da adoração e a maneira como devemos dirigir-nos a Deus, tudo está selado no Livro e na Sunna dos primeiros filhos de Adão, a paz esteja com ele. O caminho de Jesus, Profeta do Islão, está acabado. O percurso de Muhammad, Profeta do Islão, começou.

A passagem seguinte do Sagrado Alcorão dá conta deste importante facto:

“Aperfeiçoei hoje a vossa Religião para vós, completei o Meu favor para vós, e escolhi o Islão para vós como vossa Religião”.(5:3)