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A religião como denominador comum

Por: M. Yiossuf M. Adamgy

O Ocidente e o Mundo Muçulmano são universos multi-facetados, multi-culturais e multi-religiosos, apesar de serem considerados ou descritos como sendo tacanhos. Existem milhares de muçulmanos no Ocidente, assim como existem milhares de indivíduos de outras tradições religiosas no “mundo muçulmano”. Existem relações subjacentes entre estes mundos, supostamente separados, e que se manifestam nos alicerces mais profundos das suas culturas, da mesma forma que o renascer permanente da religiosidade está no íntimo de ambas e é observável ao longo das suas histórias.

O objectivo da religião é a piedade e uma consequência temporal da piedade é a constante transformação do desejo individual e colectivo nos valores e ética que são, universalmente, acalentados por todos os seres humanos. Dada esta relação entre a piedade e o tempo, se for louvada a ética e os valores, qualquer indivíduo de boa vontade, seja ou não ocidental, deverá sentir-se encorajado pela vertente da doutrina islâmica que apoia o culto da piedade através da prática religiosa e faz sobressair no praticante uma ética inter-humana, também partilhada pelas tradi- ções judaica, cristã ou outras.

Nessa ordem de ideias, podemos encontrar semelhanças entre todas as culturas e religiões do sistema teocêntrico. Com efeito, até nas culturas que, aparentemente, estão em conflito podem encontrar-se bases comuns. E este é um conceito que está indiscutivelmente presente no Alcorão, assim como a concepção de que as instituições de poder executivo, legislativo e judicial devem manter-se neutrais, mas, simultaneamente, reconhecendo a divindade e cultivando a piedade e a santidade, independentemente do procedimento formal que seja escolhido para o fazer (seja cristão, budista, islâmico, etc.). O objectivo destas instituições deve ser acompanhar o entendimento operacional do governo, tal como defendem os princípios do Alcorão.

Estes foram os princípios criados pelo Profeta Muhammad (a paz esteja cm ele) e segundo os quais ele próprio e os seus companheiros viveram.

Embora possam ser deslindadas semelhanças, as culturas do Oriente conservaram uma essência mais teocêntrica nas suas religiões, enquanto as culturas ocidentais advogam religiões progressivamente mais seculares. A concepção ideológica de um governo e sociedade sadios tem por base a aplicação da Sharia do próprio Ocidente, um código de leis definido pelo Alcorão que adopta o pluralismo. Se essa vertente da Sharia é ou não posteriormente representada, protegida e apoiada pelo forças do poder nacional dominante ou pelos agentes do poder geopolítico transnacional é uma questão totalmente diferente.

O carimbo do Ocidente, que tem por base o humanismo secular, que considera a expressão pública da fé ou a menção de Deus uma imposição perniciosa da religião, é incompatível com o paradigma islâmico. Ainda assim, espera-se que os muçulmanos do Ocidente obedeçam ao sistema de leis e costumes do país onde se encontram. Dando um exemplo exagerado, se houvesse uma lei que decretasse que a prática religiosa e a referência a Deus deveria passar a ser mantida apenas na esfera privada, o muçulmano deveria obedecer, pela lei da ética ditada pela Shari’a, ou então, deveria encontrar outro local para viver.

No Mundo Muçulmano, tal como no restante terceiro mundo, existem imposições dos regimes de clientelismo e aristocracia colectivos ocidentais que se manifestam através do uso de operações de guerra declaradas ou dissimuladas. Com a auto-determinação enfraquecida, muitos segmentos da população são naturalmente prejudicados pelas consequências nocivas a nível sócio-político e económico, sentindo -ss profundamente lesados. Quando esta população do “mundo muçulmano” se expressa intelectual e verbalmente contra as injustiças que são verdadeiramente reais, fá-lo através da fraseologia e paradigmas intelectuais da Shari’a, ética que lhes promete o direito à vida, liberdade, propriedade, segurança e a distribuição justa da riqueza e oportunidades. A Shari’a tem base na religião, por isso, o revivalismo religioso neste contexto é análogo aquele que está presente na exigência de um determinado “direito constitucional”, feita por um ocidental, perante uma hipotética opressão de carácter sócio-político ou financeiro. Vários movimentos reaccionários têm base nesta dinâmica. A relação entre as actuais operações de guerra e os crimes atribuídos a esses diferentes grupos, por um lado, e as empresas internacionais e os interesses ocidentais, por outro, torna necessária uma reflexão mais profunda.

A religião, quando é praticada com autenticidade, cria, por definição, pontes entre os seus praticantes, independentemente do tipo de religião que pratiquem. O Alcorão refere explicitamente este fenómeno em vários versículos. Uma das teses mais inaptas (da qual mesmo os religiosos melhor intencionados são vítimas) é a tese que defende que existe algo nas religiões autênticas (seja qual for a sua forma) que se torna na causa principal dos conflitos que ocorrem ao longo da linha que separa as várias religiões. Defender esta tese é o mesmo que argumentar que é algo de inerente à existência de várias raças e etnias que causa o conflito sectário a nível racial e étnico.

O fanatismo religioso, racial, étnico ou qualquer outra forma de fanatismo é, por definição, uma depravação psicológica. Embora a religião, a raça e a etnia estejam semanticamente associadas de uma forma existencial à sua respectiva forma de fanatismo, estas características não são, em si próprias, a causa de qualquer forma do mesmo. Um judeu devoto, um cristão ou um muçulmano terão, ideologicamente, o mesmo tipo de comportamento face à sua ética inter-pessoal. As formas de veneração podem variar, mas o comportamento que um cristão devoto, um judeu, hindu, persa ou budista, terá em relação ao próximo será idêntico.

Todos os seres humanos, sejam teocêntricos ou teofóbicos, desejam viver a sua vida tendo os seus direitos salvaguardados e sendo livres para levarem a cabo a sua jornada numa sociedade pacífica e ordeira. E é este o elo de ligação entre os religiosos e os não-religiosos. Existe um substrato próprio do ser humano que é comum a todas as pessoas, culturas e religiões deste mundo. Uma campanha pública massiva deve ser desenvolvida no sentido de derrubar as barreiras existentes entre os “dois mundos”. Devemos encorajar o jornalismo honesto e devemos também promover a educação e o entendimento culturais. Está na altura de pararmos de procurar diferenças e de começar a prestar atenção às semelhanças.

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A liberdade religiosa no Islão

Coord. por: M. Yiossuf Mohamed Adamgy
(Dezembro de 2009, in revista Al Furqán, nº. 165/166)

Esclarecimento de dúvidas e interrogações sobre o Islão

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

Uma das bases fundamentais do Islão, citada claramente no Alcorão, é a liberdade religiosa. Diz o Livro Sagrado na Surata 2, versículo 256: “Não há imposição quanto à religião”. Por tal motivo, o Islão submete a questão da crença e da incredulidade à vontade e à satisfação do ser humano. Diz o Alcorão na Surata 18, versículo 29: “Quem quiser crer, que creia e quem quiser negar-se a crer, que não creia”.

O Alcorão revela esta questão com clareza ao Profeta Muhammad [Maomé], paz esteja com ele, ao dizer-lhe que a parte que lhe toca é comunicar a mensagem de Deus à Humanidade e que ele não tem nenhum poder para converter as pessoas ao Islão, já que a verdadeira conversão provém de Deus. Na surata 10, versículo 99, diz Deus: “Poderás, por acaso, obrigar as pessoas a serem fiéis?”; na surata 88, versículo 22, diz: “Não és, de maneira alguma, guardião deles” e, na surata 42, versículo 48, diz: “E se porém desdenharem, não te enviamos para seu guardião. A ti só te está incumbido a proclamação”. Tudo isto assegura que o Alcorão recusa-se, de forma definitiva, a obrigar as pessoas a converterem-se ao Islão. Por essa razão é que o seu servo durante os programas de Esclarecimento de Conceitos, nunca disse: Convertam-se ao Islão! Podemos informar sobre a verdade do Islão; comunicamos os seus ensinamentos, mas não fazemos proselitismo. A pessoa é quem, de forma voluntária, aceita o Islão. Não podemos coagi-la; nem oferecer-lhe ensinamentos de salvação automática, nem sequer a pressionarmos a aceitar o Islão.

O Islão definiu o método que os muçulmanos deverão seguir para divulgar o Islão, que é a sabedoria e a boa exortação. Diz o Alcorão na surata 16, versículo 125: “Chama para o caminho do teu Senhor através da sabedoria e através de uma boa exortação, convencendo-os da melhor maneira”. Diz também na surrata 2, versículo 83: “Fala com o próximo da melhor maneira”. A este res- peito podem ser citados do Alcorão mais de 120 versículos que chamam a atenção de todos para a divulgação do Islão através do conhecimento, da sabedoria e do respeito pela liberdade humana em aceitar ou recusar a religião.

Depois de conquistar Meca (ár. Makkah) e atingir o triunfo definitivo, o Profeta Muhammad (p.e.c.e.) libertou todos os presos e não obrigou ninguém a acreditar no Islão ao dizer-lhes: Ide. Todos sois livres.

Não se conhece, em toda a história do Islão, que os muçulmanos tenham obrigado ninguém, cristão ou judeu, a adoptar o Islão.

Prova disto é a primeira constituição disposta pelo Profeta Muhammad (p.e.c.e.) depois de ter emigrado para Medina, na qual refere que os judeus compõem uma parte da sociedade da Medina em conjunto com os muçulmanos e que os primeiros têm direito a permanecer fiéis à sua religião.

Também o segundo Califa, Omar B. Khattab (r.a.), ao entrar em Jerusalém, estabeleceu um convénio de segurança com os cristãos, em que confirma que estes, as suas igrejas e as suas cruzes estão seguros e não devem ser obrigados a deixar a sua religião. Prova disto é que as Igrejas cristãs na Terra Santa mantiveram-se intactas.

Mahatma Gandhi, o herói da independência da Índia, escreveu:

“Os muçulmanos nunca caíram na arrogância, mesmo nos tempos de maior grandeza e triunfo. O Islão acalenta a admiração pelo Criador do mundo e das suas obras. Quando o Ocidente vivia um período de terrível escuridão, a resplandecente estrela do Islão, que brilhava a Este, trouxe luz, paz e alívio ao nosso mundo sofrido. O Islão não é uma religião falsa. Quando os hindus estudarem esta religião com o devido respeito, irão sentir também a mesma simpatia que eu sinto para com o Islão”. E continua. “Cheguei à conclusão de que a rápida expansão do Islão não se realizou por força da espada. Pelo contrário, deveu-se, sobretudo, à sua notável simplicidade, à sua lógica, à grande mo- déstia do seu Profeta, ao seu escrupuloso respeito das promessas realizadas, à sua ilimitada devoção para com os muçulmanos, ao seu carácter intrépido, à sua falta de medo, à sua absoluta confiança em Deus e à sua própria missão. Estas qualidades, e não a espada, foram as que permitiram vencer todos os obstáculos”.

Um muçulmano deve tratar o não-muçulmano de forma amável e deve apenas evitar travar amizades com os que tenham animosidades contra o Islão. No caso de esta animosidade causar ataques violentos contra a existência dos muçulmanos, isto é, em caso de guerra contra eles, então, os muçulmanos devem responder com justiça, tendo em consideração a dimensão humana da situação. Todas as formas de atrocidades, actos desnecessários de violência e agressão injusta estão proibidos no Islão.

Noutro versículo, Deus adverte os muçulmanos contra isto e explica que a raiva sentida contra os inimigos não deve ser motivo para se cair em actos injustos: “Vós que sois crentes! Sede perseverantes na causa de Deus e prestai testemunho com equidade. E que o ódio que possais sentir contra os demais não vos leve ao extremo de não serdes justos. Sejais justos! Isso está mais próximo da piedade e temei a Deus, pois Ele conhece bem tudo aquilo que fazeis.” (Alcorão, 5:8)

A palavra Islão provém da raiz árabe Salam, que significa paz e o Alcorão condena a guerra como um estado anormal de situações opostas à vontade de Deus.

O Islão não justifica uma guerra totalmente agressiva ou de extermínio, uma vez que o Islão reco- nhece que a guerra, em certas situações, é inevitável e que, algumas vezes, é um dever positivo provocado pelas opressões e pelo sofrimento. O Alcorão ensina que a guerra deve ser limitada e conduzida da forma mais humana possível. O Profeta Muhammad (p.e.c.e.) não teve apenas que lutar com as pessoas de Meca, como também com algumas tribos judaicas da região, bem como com algumas tribos cristãs na Síria que planearam uma ofensiva contra os muçulmanos. Mas isto não levou o Profeta Muhammad (p.e.c.e.) a denunciar o Povo do Livro (judeus e cristãos) ou a guerrear contra todos, apenas se limitou a defender-se das tribos atacantes. Os muçulmanos viram-se forçados a se defender, não estavam a executar uma guerra santa contra a religião dos seus inimigos. Quando Muhammad (p.e.c.e.) mandou Zaid como líder do exército muçulmano na guerra contra os cristãos, disse-lhe: guerreiem pela causa de Deus, valentemente, mas façam-no de forma humana. Não devem molestar sacerdotes, religiosas, monges, nem sequer civis frágeis ou pessoas inaptas para a guerra. Não deverá existir um massacre de civis, como também não deverá ser cortada uma única árvore nem nenhum edifício poderá ser destruído.

Depois disto, foi ditada uma aclamação do Profeta Muhammad (p.e.c.e.), válida até ao final dos tempos, de larga tolerância para com as religiões, especialmente para com os judeus e cristãos, os que são chamados de “Ahl al kitab”, o Povo do Livro; dizer que o Alcorão fomenta o terrorismo é um erro perigosíssimo e faz jus ao terrorismo, que é uma minoria violenta, existente na história e nos tempos presentes em todas as religiões.

No caso do Islão, condenamos o terrorismo venha este de onde vier; mas aqueles que dizem o contrário, estão a justificar teologicamente o terrorismo islâmico e invalidam a grande maioria de muçulmanos pacíficos como nós. Desta forma, outorgam de forma incorrecta uma base Alcorânica do terrorismo, que os converte em cumpridores da religião islâmica e os 99.99% dos muçulmanos pacíficos ficaríamos desacreditados de uma forma incorrecta.

Uma tremenda ousadia, mas também um tremendo erro!

*texto originalmente publicado como editorial da Clacso por Emir Sader, secretário executivo da Clacso (Conselho Latino-americano de Ciências Sociais

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Reflectindo de forma islâmica

Por M. Yiossuf Adamgy

Enquanto que, uma vez mais, os Muçulmanos auto-permitem-se cair na ratoeira reaccionária que lhes foi montada, confirmando, assim, a tese dos “cartoons” ofensivos, ao reagirem furiosa e violentamente, consideremos preferível reflectir sobre a súplica do Profeta (s.a.w.), proferida nos primórdios do Islão, em Ta’if. Esta é a súplica (duá) por ele proferida, com as sandálias cobertas de sangue, feridas espalhadas pelo corpo e terrivelmente insultado, caluniado e ridicularizado pelos habitantes de Ta’if. O mais importante a reter, é que isto teve lugar após um longo boicote de três anos sofrido às mãos dos Coraichitas, em consequência do qual os Muçulmanos viram-se obrigados a comer erva e a viver em árvores.

O que foi dito pelo Profeta (a paz esteja com ele), ao abandonar a cidade de Ta’if:

“A Oração de Ta’if”

“Ó Allah! A Ti me queixo da minha fraqueza,
Da minha falta de recursos e da humilhação a que fui sujeito.
Ó Todo-Misericordioso para com aqueles que são misericordiosos;
Ó Senhor dos fracos e meu Senhor também.

A quem me confiaste Tu?
A uma pessoa distante, que me recebeu com hostilidade?
Ou a um inimigo, a quem concedeste poderes sobre aquilo que é a minha missão?
Nada me preocupa, desde que não estejas zangado comigo.

A Tua protecção é o que eu tenho de mais precioso.
É sob a luz do Teu Rosto que procuro refúgio,
Esse Rosto que faz com que toda a escuridão se dissipe
E regula todo e qualquer assunto deste e do Outro Mundo.

Receio ter-Te desagradado e que a Tua fúria recaia sobre mim.
É meu desejo agradar-Te e satisfazer-Te.
Não existe outro poder para além do Teu,
E ninguém é tão poderoso como Tu”.

Se aqueles que afirmam amar tanto o(s) Profeta(s), ao ponto de estarem dispostos a infringir o comportamento profético devido à raiva e à fúria cega que sentem, reflectissem um pouco a respeito desta oração, isso seria para eles uma luz orientadora e uma indicação clara de como um Muçulmano deve agir face à actual situação. Este é também o único caminho que permite a almas e corações atormentados encontrarem a paz, pois não será em piquetes ou em manifestações exageradas e com violência que a encontrarão. Tais actos não podem e não devem ser usados como métodos para a clarificação da nossa reverência para com o sagrado e o divino.

A quem foi que o Profeta (s.a.w.) disse o seguinte: “O Islão nada mais significa, a não ser possuidor de um bom carácter?”.

Estamos a readoptar as normas tribais pré-Islâmicas, as quais defendiam a vingança e a retaliação, quando devíamos encarar o sucedido como uma oportunidade para alterarmos a nossa maneira de sentir e agir, seguindo o exemplo do nosso bem amado Profeta, que se manteve calmo e compassivo face ao ódio e à inimizade de que era alvo.

Estaremos nós a ceder ao pior dos pecados, que é a violência gerada pela falta de esperança? Isto quando devíamos seguir o exemplo do Profeta (s.a.w.), que nunca a perdeu? E que, já fora de Ta’if, respondeu da seguinte forma: “Não, espero que um dia este povo adore a Allah somente”, quando o Anjo, em resposta à sua súplica, se ofereceu para destruir todas as montanhas em redor da cidade, reduzindo-a a pó?

A menos que possuamos a calma e a consciência do Profeta (s.a.w.) de Allah, segundo a qual, todo e qualquer acontecimento, favorável ou não, é representativo da oportunidade de fortalecermos o relacionamento que mantemos com Deus, continuaremos a ser vítima de todo e qualquer estratagema ou truque.

Em lugar de reagirmos com violência e fúria, deveríamos intensificar o nosso trabalho na partilha da bonita e misericordiosa mensagem do Islão, especialmente agora, que o Profeta (s.a.w.) é notícia nos meios de comunicação em massa. Permitamos que a oração proferida pelo Profeta (s.a.w.) em Taif seja publicada em jornais Europeus, como exemplo da sua magnanimidade e paciência.

Violência, ameaças de morte e fúria servem apenas para denunciar a falta de confiança no poder e na luz do Sagrado; confiança, essa, perfeitamente ilustrada pela experiência do Profeta (s.a.w.) no jardim exterior a Taif, quando pessoas que ouviram a sua oração sentiram-se movidas a aderir ao Islão. Além disso, e após este incidente, quando regressava a Meca, muitos que haviam ouvido a recitação do Alcorão por parte do Profeta (s.a.w.), aquando da sua oração nocturna, converteram-se também ao Islão. E, pouco depois da sua oração nocturna, o Profeta (s.a.w.) ascendeu ao Céu. De facto, após a tempestade vem a bonança.

Contudo, com o anúncio ontem feito por eminentes eruditos do Islão, intitulado “Um Dia de Ofensas”, receio que nada mais sejamos, a não ser sabotadores. Porque não “Um Dia para Recordar o Profeta”, ou “Um Dia de Características tremendamente Proféticas”? Porque não “Um Dia da Oração de Ta’if”?

Dado o momento que vivemos, recomendo que façamos circular “A Oração de Ta’if”, a qual servirá como antídoto de toda a loucura e veneno do turbilhão emocional a que assistimos. E manifestemos sim, forte e firmemente, o nosso protesto. Mas dentro da lei.

Que Allah nos oriente para aquilo que é justo e nos conceda a sorte imensa de olharmos os nossos inimigos como se de amigos chegados se tratassem (ver Alcorão, 41:34-36), e aos quais temos o dever de transmitir o amor e a mensagem de Allah e do Seu Profeta (s.a.w.). Ámen.

– “Jamais poderão equiparar-se a bondade e a maldade! Retribui (ó Muhammad) o mal da melhor forma possível, e eis que aquele que nutria inimizade por ti converter-se-á em íntimo amigo!
Porém a ninguém se concederá isso, senão aos tolerantes, e a ninguém se concederá isso, senão aos bem-aventurados. Quando Satanás te incitar à discórdia, ampara-te em Deus, porque Ele é o Omniouvinte, o Omnisciente.” – Alcorão, 41:34-36.

– “É possível que Deus restabeleça a cordialidade entre vós e os vossos inimigos, porque Deus é Omnipotente. E Deus é Indulgente, Misericordioso”. – Alcorão, 60:7

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Jesus (p.e.c.e.) no hadice

O Hadice é outra das fontes de conhecimento que os estudiosos do Cristianismo têm tentado esconder, pois contém um conjunto de narrativas de testemunhas oculares, sobre aquilo que o Profeta Muhammad, a paz e a bençãos de Deus estejam com ele, disse e fez ao longo da sua vida. A Igreja Romana e os missionários Cristãos criaram uma sofisticada pseudo-sabedoria para desacreditar a literatura Hadice muçulmana, apesar de esta já ter sido submetida ao mais escrupuloso e rigoroso exame da história da sabedoria.

Ao contrário dos Evangelhos do Novo Testamento, o Hadice só foi aceite, depois de se verificar que o homem que está na origem da cadeia de transmissão é de confiança, ou seja, foi companheiro do Profeta Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, testemunhou directamente o acontecimento ou ouviu realmente as palavras que o Hadice contém.

Portanto, os homens que mais amaram e temeram Deus são os que maior confiança merecem. As colecções mais importantes do Hadice, as de Imam al-Bukhari e de Sahih (verdadeiro) Muçlim, foram reunidas cerca de cento e vinte anos depois da morte do Profeta Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, e cobrem todos os aspectos da sua vida e doutrina, constituindo uma parte essencial dos ensinamentos de Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele. Aliás, foi a partir das

narrativas de testemunhas oculares contemporâneas do Profeta, que se compilaram as colecções de Imam al-Bukhari e Sahih (verdadeiro) Muçlim.

Além do Hadice, também há muitas tradições Muçulmanas que contam o que Jesus disse e fez, a partir do testemunho original dos primeiros seguidores de Jesus, especialmente daqueles que se espalharam pela Arábia e pelo Norte de África. Quando o Profeta Muhammad apareceu, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, muitos dos seguidores destes seguidores abraçaram o Islão, transmitindo tudo o que sabiam acerca de Jesus, inclusivé que tinha anunciado a chegada do Profeta Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele. Assim, as tradições foram transmitidas de geração em geração pelos Muçulmanos, tendo muitas delas sido reunidas em Histórias dos Profetas (Stories of the Prophets), de Tha’labí’s e em Renovação das Ciências Religiosas (Revival of the Life-Transaction Sciences) de Al-Ghazzali. É interessante notar como as tradições dão uma imagem clara e unânime do ascético Profeta que preparou o caminho para o Último Mensageiro:

Ka’b al-Akbar disse:
“Jesus, filho de Maria, era um homem ruivo, quase branco; não usava cabelo comprido, nunca curvava a cabeça e costumava caminhar descalço. Não tinha casa, adornos, bens, roupas, nem sequer provisões, para além dos alimentos desse dia. Onde quer que estivesse, quando o sol se punha, rezava, preparando-se para o nascer do novo dia. Curava os cegos de nascença, os leprosos, ressuscitava os mortos com a permissão de Deus e dizia às pessoas o que estavam a comer em suas casas e o que armazenavam para os dias seguintes, e caminhava à superfície da água do mar. Os seus cabelos estavam em desordem e a sua cara era pequena; era um ascético, que só desejava entrar no outro mundo e adorar Deus. Peregrino, andava de terra em terra, até os Judeus o perseguirem e quererem matar. Então, Deus levou-o para o céu. Deus sabe melhor”.

Abd’Allah bin Amr contou que Muhammad, a paz e a benção de Deus estejam com ele, disse:
“Jesus, filho de Maria, descerá à terra, casará, terá filhos e permanecerá na terra durante quarenta e cinco anos, findos os quais morrerá e será enterrado junto de mim, na minha sepultura. Então Jesus, filho de Maria, e eu, levantar-nos-emos de uma sepultura entre Abu Bakr e Umar(Primeiro e segundo lider, respectivamente, a seguir ao falecimento do Profeta Muhamamd, P.E.C.E.”. Transmitido por Ibn al-Jauzi no Kitab al-Wafa.

Abu Huraira contou que o Profeta Muhammad, a paz e a benção de Deus estejam com ele, disse:
“Eu sou o parente mais próximo de Jesus, filho de Maria, neste mundo e no outro. Os Profetas são irmãos, filhos do mesmo pai. As suas mães são diferentes, mas a sua religião é só uma. Não houve mais nenhum Profeta entre nós”. De Bukhari e Muçlim

Neste famoso testemunho, o último dos Profetas e Mensageiros, o nosso Mestre Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, resumiu toda a questão da seguinte forma:

Os profetas são irmãos, portanto, são todos iguais; entre eles não há qualquer diferença. Filhos de um só pai, todos proclamam uma Doutrina La ilaha ill’Allah. Não existe outro deus além de Deus, (o Único). A Sua Divindade é única. As suas mães são diferentes, pois cada Profeta foi enviado a um povo em particular, numa época específica, tendo-lhe sido revelado uma Sunna, ou estilo de vida, uma prática, um modelo segundo o qual a sua comunidade deveria viver. Quando um novo Profeta chegava a um povo, revelava uma nova Sunna, de acordo com a nova época. Esta é a Chari’a ou Estrada dos Profetas. Assim, com a chegada de Sayyidina Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele, a Transmissão Divina fica completa. A Mensagem é selada no último Livro revelado, o Glorioso Alcorão.

A Mensagem é selada com a Chari’a (lei Islâmica) e a Sunna (tradições) do bondoso Profeta, Muhammad, a paz e as bençãos de Deus estejam com ele. A ciência da adoração e a maneira como devemos dirigir-nos a Deus, tudo está selado no Livro e na Sunna dos primeiros filhos de Adão, a paz esteja com ele. O caminho de Jesus, Profeta do Islão, está acabado. O percurso de Muhammad, Profeta do Islão, começou.

A passagem seguinte do Sagrado Alcorão dá conta deste importante facto:

“Aperfeiçoei hoje a vossa Religião para vós, completei o Meu favor para vós, e escolhi o Islão para vós como vossa Religião”.(5:3)

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Que falta de vergonha!

Por Tariq Ramadan – 25 de Julho de 2006, in Oumma
Versão Portuguesa de Yiossuf Adamgy para Revista Al Furqán

“A partir de que momento poderemos nós começar a utilizar o termo “Crime de Guerra”? Quantas mais crianças terão de perecer entre os escombros causados pelos ataques aéreos Israelitas, para que rejeitemos a obscena fórmula de “danos colaterais”, e comecemos a falar de perseguições e de crimes contra a humanidade?” – Depois de Beirute – Robert Fisk, jornalista, The Independent, 20 de Julho de 2006

O poeta Francês Charles Baudelaire era dono de uma determinada fórmula feliz de dizer as coisas: ‘A mais bela astúcia do Diabo consiste em persuadir-nos que não existe’. Tendo em conta o mesmo ponto de vista, podemos afirmar que o mais diabólico sucesso dos conspiradores de hoje consiste em persuadir-nos que os cons

piradores e respectivas conspirações não existem…

A instrumentalização da ‘guerra contra o terrorismo’ obteve inúmeras respostas, incluindo a hipocrisia e o terror intelectual e político, como nunca antes vistos. Todos ouvimos, e desconfiámos, dos objectivos de Ariel Sharon logo após os ataques do 11 de Setembro de 2001, ao afirmar que Yasser Arafat era o ‘(seu) terrorista’ , dizendo – com se de uma premonição se tratasse – que um dia os Palestinianos haveriam de pagar o preço pelo que Nova Iorque estava a sofrer. Havia, então, que meditar na perda de alguns civis inocentes – ‘danos colaterais’ de uma estratégia de confronto global – no Afeganistão, seguidamente no Iraque, isto antes que a ira se abatesse sobre os Palestinianos, habitantes dos ‘territórios desbastados’.

Há já alguns meses que Israel previa atacar o Sul do Líbano . Os observadores sabiam-no, assim como o sabia o Hezbollah. Este último escolheu antecipar o ataque, de modo a transferir o centro de gravidade do conflito e fazer deste uma questão regional e global. Isto sem contar com a indolência dos governos Árabes e a sua cumplicidade silenciosa, enquanto centenas de civis inocentes perecem sob o peso das bombas.

Mas, tal nós bem o sabemos, o conceito de ‘civis inocentes’ não existe, a não ser marginalmente no léxico das autocracias Árabes.

Seria lógico esperarmos que as Nações Unidas, a voz proclamada da sabedoria das nações, interferisse e pusesse cobro ao massacre…São inúmeras as más memórias que nos é possível invocar. Há pouco mais de dez anos, em Srebrenica, as Forças da Paz abandonaram aqueles que deveriam proteger e que encontraram desarmados. No Ruanda, as forças das Nações Unidas foram enviadas para proteger e ajudar a fugir os Brancos, ‘os estrangeiros’, tendo ainda abandonado os Tutsis à loucura assassina dos Hutus. Há uma semana, famílias e civis Libaneses pediram refúgio no quartel-general das forças das Nações Unidas, composto por Ganianos, os quais se negaram a protegê-los…no caminho para o exílio, poucas horas depois, estas famílias – 27 pessoas no total – foram dizimadas pelas bombas Israelitas. A quem servem os representantes das Nações Unidas? A quem servem estas, afinal uma vergonha…a repetir.

Israel anunciou necessitar de uma semana a dez dias para completar as suas operações. O G8 pediu um cessar-fogo, depois, nada mais, seguindo-se o silêncio e o desconforto. Por um feliz acaso dos calendários assassinos, eis que Condolezza Rice anuncia a sua visita à região…precisamente dez dias depois das minúcias formuladas pelo Primeiro-Ministro Israelita. Isto a acreditar que Telavive possui a agenda da Secretária de Estado Norte-Americana. Não nos esqueceremos de aqui citar esta questão – e respectiva fórmula – de Nicolas Sarkozy ao Ministro Israelita para a Integração, o qual pretendia ‘abençoar’ de uma vez por todas, todos os Franceses que haviam decidido exilar-se em Israel e o corajoso Exército Israelita: ‘De quanto tempo necessita o Estado de Israel para dar a tarefa por terminada?’ (Le Monde, 20 de Julho). Dar a tarefa por terminada? Assassinar inocentes, saquear um país? Ao conjunto de fotos que recebemos relativamente às mortíferas consequências desta ‘tarefa a terminar’, os objectivos de Sarkozy são muito mais chocantes do que as fórmulas ‘rudes’ ou dignas da ‘ralé’. Uma vergonha, uma vez mais. Mas uma vergonha que tantos ecos teve nos meios de comunicação em massa.

A Agence France Presse acaba de informar-nos que, nos últimos dias, os Estados-Unidos têm vendido armas aos Israelitas: ‘uma encomenda de bombas de comando à distância’. Para evitar o assassinato de mais civis, sem dúvida alguma! Que bela é, a Humanidade! Tanto para os Estados-Unidos, como para a Grã-Bretanha, todos estes mortos são de vítimas de uma ‘guerra contra o terrorismo’, necessária e imperativa. De facto, esta guerra permite…o terrorismo de Estado, o assassinato, a tortura, os raptos, as leis liberticidas e, como se isso não fosse suficiente, a criminalização dos imigrantes e daqueles que procuram e pedem asilo.

Àqueles que observam e, mesmo assim permanecem impassíveis, aos horrores do Médio Oriente, à injusta opressão de que são vítimas os Palestinianos, ao sofrimento dos Libaneses, e que acreditam ser suficiente manterem-se neutros, pois assim estarão protegidos e salvos do marasmo, tal como o estão os ‘estrangeiros’ do Líbano, a quem o seu respectivo país protege e repatria aos milhares quando os ‘Libaneses’, os ‘Árabes’, são abandonados à sua miserável sorte…a esses, há que dizer que a loucura ou a cumplicidade assassina dos Estados-Unidos e dos seus aliados tem, e terá, consequências que não se deterão nas fronteiras dos seus ricos países, tal como aí detêm os imigrantes ‘de todo o lado’.

No nosso quotidiano, na nossa paz social, no nosso círculo de amizades, na nossa segurança, com as nossas leis, os nossos direitos, as nossas liberdades nas nossas vidas…depressa e concretamente sentiríamos as consequências da nossa cobardia perante a barbárie. O silêncio daqueles que não sabem mais como denunciar os ‘terrores oficiais’, ou erguer a voz contra tantas injustiças ou semelhantes horrores é, de facto, uma vergonha. Uma de muitas. Sem dúvida alguma, seremos um dia convidados – de uma maneira ou de outra – para a mesa daqueles que têm contas a prestar e teremos, tal como tantos outros, de beber a substância da nossa vergonha e da nossa resignação desumanizada.

Tenho estado pensativo nestes últimos dias. A quem pode interessar ‘vetar ao silêncio’ a Comunidade Internacional, face à opressão continuada do povo Palestiniano e aos massacres perpetuados no Líbano…A quem pode, de facto, interessar? Talvez se lhe auto-conceda o direito – em nome da coerência – ao silêncio, quando as potências mundiais se movimentarem para ‘condenarem’ as consequências do seu silêncio! Talvez…haja alguma lógica nisto.