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Acabe com a injustiça, dizem personalidades muçulmanas a Obama

(Versão Portuguesa de Al Furqán)

CAIRO – Uma panóplia de pensadores escolásticos muçulmanos, activistas políticos e académicos escreveram uma carta aberta ao Presidente norte-americano Barack Obama, incentivando-o a iniciar o seu reinado com a remediação das injustiças infligidas aos árabes e muçulmanos, para que a paz possa prevalecer e que a América recupere a sua imagem.

“A civilização não pode prosperar e a paz e a segurança não podem ser desfrutadas pelo mundo, a menos que a justiça prevaleça na terra e seja dominante nas relações internacionais,” dizia a carta, da qual o IslamOnline.net obteve uma cópia.

A carta fazia uma lista das injustiças que deverão ser mitigadas de forma a pôr fim às hostilidades e a promover a paz no mundo.

Os líderes muçulmanos acrescentaram: “Nenhuma outra nação da história sofreu tamanha injustiça como aquela que foi infligida ao povo palestiniano”.

“Este facto tem sido ignorado pelos E.U.A. de forma a responder a pressões de índole financeira, política ou dos media, ou então a ilusões ideológicas, lendas ou ambições eleitorais.”

Entre os signatários encontram-se o Sheikh Yusuf al-Qaradawi, presidente da International Union of Muslim Scholars (IUMS), Rashid Al-Ghanoushi, Secretário-Geral do Al-Nahdha Movement da Tunísia, Qazi Hussein Ahmad, líder do Jamaat-e-Islami, do Paquistão, e Ali Sadruddin Al-Bayanoni, Presidente da Irmandade Muçulmana da Síria.

A carta afirma que não podem ser retomadas as relações normais com árabes e muçulmanos, “a menos que a injustiça infligida à nação palestiniana” seja levantada e “a não ser que as soberanias iraquianas e afegãs sejam preservadas.”

Obama, que prestou juramento como o 44º presidente norte-americano, e o primeiro de raça negra, na terça-feira, dia 20 de Janeiro, prometeu um recomeço nas relações com o mundo islâmico.

No seu discurso de nomeação, que foi visto por milhões em todo o mundo, Obama afirmou o seguinte: “Em relação ao mundo muçulmano, procuramos um novo caminho, com base no interesse e respeito mútuos.”

Os líderes muçulmanos lamentaram o facto de uma grande parte das injustiças do mundo actual ser perpetuada ou ignorada pelos Estados Unidos, tendo afirmado: “Embora os Estados Unidos sejam, de todos os países do mundo, o que mais clama pela liberdade e respeito pelos direitos humanos, somos da opinião de que, na prática, os governos norte-americanos são aqueles que mais violam os direitos humanos e que mais confiscam a liberdade dos outros.”

“Além do mais, mostrou ter a parte de leão no que diz respeito ao apoio a regimes ditatoriais, à conspiração contra democracias em desenvolvimento, ao planeamento de golpes militares e ao desrespeito face às organizações internacionais.”

A carta alertava para o facto de as tentativas de impor um modelo americano através da força e da pressão teriam apenas como consequência o efeito oposto ao pretendido.

“Quem primeiro sofre as consequências destes métodos são os próprios Estados Unidos.”

A imagem dos Estados Unidos foi severamente denegrida durante os oito anos de presidência de George Bush, o antecessor de Obama.

A chamada “guerra ao terrorismo” de Bush, uma série de escândalos relativamente a abusos de detidos no Afeganistão, Iraque e no conhecido centro de detenção de Guantanamo, empolaram os sentimentos anti-americanos pelo mundo fora, especialmente nos países islâmicos.

Os líderes muçulmanos incentivaram Obama a assegurar que os Estados Unidos, durante a sua governação, iriam reconsiderar com seriedade a sua abordagem na relação com o mundo.

“No entanto, esta posição requer, da parte da liderança norte-americana, uma coragem que transcende interesses políticos e partidários.

“Irá ser um homem de ética, princípios e sonhos, tal como prometeu ao seu povo e ao mundo?”

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Alexandria, Capital da Cultura Islâmica 2008

Reportagem coordenada por: M. Yiossuf Adamgy (24/12/2008)

A Alexandria celebra este ano o título de “capital da cultura islâmica”, outorgado pela ISESCO, a Organização Islâmica para a Educação, Ciência e Cultura. Como parte desta celebração, são muitas as actividades que foram organizadas nesta cidade que chegou a ser capital do Egipto por mais de 1000 anos. Uma capital onde podiam ouvir-se até cinco idiomas: árabe, francês, inglês, grego e arménio (ou italiano, etc). A Alexandria era uma rica combinação, onde o Oriente e o Ocidente permaneciam em harmonia.

A conferência “Alexandria e a Cultura Islâmica” será, quiçá, a actividade mais destacada no momento. Conta com a participação de membros da mencionada ISESCO, bem como da Comissão Nacional de Educação, Ciência e Cultura do Egipto e outros académicos oriundos de fora do país. Esta conferência foi dirigida aos meios de comunicação e às associações e teve como objectivo principal educar e formar para a importância de continuar com o diálogo – entre civilizações e culturas – como componente central nos conteúdos comunicativos.

Entre os temas, estiveram o histórico carácter cosmopolita da comunidade alexandrina antes da chegada do período islâmico, a co-existência entre diferentes religiões, os intelectuais alexandrinos na idade islâmica – arquitectura e arte em geral – bem como um interessante ponto sobre as contribuições desta cidade para com o Islão. Aqui, convergem duas ideias: a Alexandria europeia e a Alexandria árabe. Sobre este dilema, falou o prestigiado Professor Dr. Mohamed Rafeek Khalil. Na apresentação do seu projecto sobre “O aspecto islâmico árabe vs. o aspecto europeu na cultura alexandrina,” concluiu dizendo que, apesar de Alexandria sempre ter sido uma cidade cosmopolita com uma identidade mediterrânea, nada pode negar o papel crucial das suas raízes históricas que se tornam mais e mais profundas ao largo dos séculos.

Os alicerces da Alexandria cosmopolita.

Hoje em dia, Alexandria conserva, não obstante o espírito das civilizações que encontraram nesta cidade, um lugar idílico para o seu desenvolvimento e força: a porta do Mediterrâneo. Com um porto marítimo de grande importância estratégica que unia as ricas civilizações gregas e romanas com África, foi ponto de desembarque das riquezas provenientes do Ocidente e também de piratas.

Alexandria é a segunda maior cidade do Egipto e conta com uma costa invejável, que muitos quiseram ter. A brisa do Mar Mediterrâneo penetra pelas suas ruas, envelhecendo fachadas, varrendo as ruas poeirentas e amolecendo os terríveis engarrafamentos de uma cidade ocupada e agitada.

A verdadeira Alexandria não é a que todos vemos. Para poder visitar a antiga cidade histórica, aquela fundada por Alexandre, o Grande, teríamos de submergir no mar. Já não há vestígios, embora, possamos ver milhares de ruínas, ptolemaicas, romanas, bizantinas e da era islâmica.

A multiculturalidade mistura-se com a multitude de religiões que aqui convivem, podendo encontrar-se igrejas católicas, anglicanas, protestantes, bem como ortodoxas – e ainda mais.

Encontramos também mesquitas tão conhecidas como a Abou El Abbas El Morsy, um sheikh que, chegado de Murcia, permaneceu mais de 30 anos em Alexandria e construiu esta mesquita. Para além das catacumbas greco-romanas, o anfiteatro romano ou o Pilar de Pompeia, conta com numerosos museus e com uma das maiores sinagogas do mundo.

Os parques e praias são mais um ponto a favor para motivar a vinda dos visitantes. Os turistas, claro está, não podem deixar de visitar a mítica Biblioteca de Alexandria.

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Aprender a coexistir

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

Há um milagre e um enigma na História Muçulmana que não podem ser logicamente explicados.

Alguns muçulmanos mostram-se desconfiados quando o assunto da coexistência vem à baila. Uns pensam que a mesma implica abdicar da Lei Islâmica, enquanto outros julgam-na um embuste enganador com um de dois objectivos: privar por completo o Islão dos seus princípios ou introduzir na crença e princípios islâmicos regras de outras fés e credos.

Outra razão que explica o cepticismo muçulmano relativamente ao tema da coexistência é o facto de a mesma ser considerada como algo que teve origem no Ocidente e que foi engendrado pelo mundo ocidental, sendo promovido por ele como uma forma de denegrir a cultura islâmica e os seus valores, com o intuito de fazer do mundo muçulmano uma cópia do ocidente.

Embora tenhamos de respeitar essas reservas e sentimentos, a verdade é que o conceito da coexistência é, na sua essência, algo que é defendido pelos ensinamentos islâmicos e que é atestado pelos textos sagrados.

Não devemos desconfiar do termo “coexistência” apenas porque algumas pessoas o usam com maus propósitos. Também não devemos preocupar-nos em demasia com questões de terminologia, pois o que nos interessa realmente é o significado da palavra. Devemos adoptar uma perspectiva razoável, aceitar o que é bom e rejeitar aquilo que é condenável.

Devemos adoptar o princípio que diz: “Os muçulmanos buscam a palavra verdadeira. Quando um muçulmano encontra essa palavra, tem maior legitimidade para a aceitar.” [sunan al-Tirmidhi – al-Tirmidhi considera esta narração invulgar].

Ter uma visão pessimista em relação à coexistência, com base na crença de que pomos em risco os princípios essenciais da nossa religião por adoptarmos outros credos a par do nosso, ainda que estes pareçam contraditórios, é uma noção claramente errada.

Allah

diz-nos:”Credes numa parte da Escritura e rejeitais a outra?” (Surah al-Baqarah, 2:85). Além disso, a coexistência tem um outro significado muito positivo, sendo, essencialmente, um dos valores morais mais nobres que podem ser aplicados à comunicação, ao diálogo e ao facto de aceitarmos trabalhar com outros no sentido de alcançarmos a paz e a prosperidade mútua. Depois de reconhecermos a existência de diferenças entre nós, torna-se necessário respeitá-las e este saber está ligado ao pluralismo. Foi a noção de coexistência que o Islão concebeu. O Alcorão refere-se-lhe de diversas formas, sendo muitas delas mais claras e precisas do que o conceito moderno de “coexistência”.

Por exemplo, quando Allah diz: “Ó humanidade! Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em tribos e nações, para que se conheçam uns aos outros.” (Surah Al Hujurat, 49:13).

Quando Allah diz “conhecer uns aos outros” não se está a referir apenas a conhecer um determinado nome ou tribo, está a referir-se a toda a humanidade, implicando a expressão, numa interpretação mais lata, a adopção da troca de saberes e aprendizagens e toda uma série de interacções positivas.

Este significado é reafirmado quando Allah diz: “Não permitais que o ódio das pessoas que em determinada ocasião vos expulsaram da Mesquita Sagrada vos leve à transgressão (e à hostilidade da vossa parte). Ajudai-vos uns aos outros na virtude e na piedade, mas não o façais em pecado e na hostilidade. E temei a Allah, pois Allah é severo no castigo”. (Surah al-Ma ‘idah, 5:2).

O Islão promove o conceito de nos ajudarmos uns aos outros e de cooperarmos naquilo que é benéfico, independentemente do facto de a outra parte concordar ou não connosco naquilo que é essencial. O que realmente interessa é a nossa cooperação para a concretização de algo legítimo, algo que esteja em concordância com os ditames da virtude e que não seja um pecado, injustiça ou transgressão. O conceito de nos conhecermos e ajudarmos uns aos outros é positivo para todos. Estes são valores que levam ao melhoramento da humanidade. Ao agimos em concordância com eles, os outros aproximam-se mais de nós e do Islão.

As pessoas são diferentes umas das outras e vivem em circunstâncias diversas; este é um dado adquirido. Allah destinou que assim fosse, tendo afirmado: “Se o teu Senhor quisesse teria feito da humanidade um povo único; porém, jamais deixarão de existir diferenças entre os homens, a não ser naqueles que Allah agraciou com a Sua Misericórdia…” (Surah Hud, 11:118-119).

Aceitar a existência de divergências e a multiplicidade de opiniões não implica a não diferenciação entre o correcto e o errado, entre o bem e o mal. Pelo contrário, a noção de divergência pressupõe a opo- sição entre o correcto e o errado. A coexistência não invalida que promovamos os nossos valores ou que nos tenhamos de abster de defender as nossas opi- niões. Podemos continuar a discutir com os outros, mas com toda a educação, mostrando o que está certo e proibindo o que está errado. Este é um valor que é considerado essencial na nossa fé.

A coexistência impele-nos a cooperar pacificamen- te com o outro para benefício e bem-estar mútuos e para que possamos viver como vizinhos, graças à força dos valores universais que partilhamos e que nos dão a oportunidade de dialogar e de trocarmos ideias.

O desejo do crente é aperfeiçoar as circunstâncias. O crente é alguém que se caracteriza por dizer o que está correcto e proibir aquilo que é errado, dando o seu melhor no sentido de promover a verdade e refutar a falsidade, de fomentar o conhecimento e dissipar a ignorância, agindo sempre da forma mais razoável para o conseguir. Um dos piores comportamentos que um indivíduo pode ter é assumir-se como o dono da verdade, seja qual for a designação que dê a si próprio, tendo o seu ponto de vista como absolutamente correcto ao ponto de se considerar no direito de julgar todas as outras pessoas. Esta atitude é, em si própria, um erro grave e algo que radicalmente se opõe aos ensinamentos islâmicos. Para o Islão todas as vidas são sagradas, sejam de muçulmanos ou de não-muçulmanos, desde que desejem viver em paz. Tem sido este o exemplo praticado ao longo da história.

A sociedade de Medina (ár. Madinah), a primeira cidade do mundo muçulmano e através da qual o Islão se difundiu por todo o mundo, ilustra bem a coexistência proposta pelo Islão. Com efeito, assim que o Islão se tornou forte e independente, Allah decidiu que Medina não deveria ser apenas uma cidade muçulmana, mas um local partilhado por pessoas de outras fés (judeus e pagãos) e também por hipócritas e por muçulmanos cuja fé era débil. Todos viveram lado a lado numa pequena cidade.

A coexistência é a forma que permite que todos os povos do mundo possam cooperar e trocar conhecimentos em prol da humanidade que partilhamos e de uma existência civilizada. Partilhamos as experiências que nos permitem ter uma vida melhor na Terra. Na verdade, essa é a forma que temos para que juntos possamos promover os valores que todos defendemos e o conhecimento universal. É, também, neste tipo de conjuntura que poderemos ter a oportunidade de chamar outros para ouvir a mensagem do Islão.

Não quer isto dizer que apenas um dos lados terá o direito de pregar a sua fé e ideias à outra parte. O que se pretende é criar a oportunidade para o surgimento de um diálogo construtivo (num contexto de coexistência a nível mundial) para a discussão de assuntos de importância religiosa bem como de interesse global.

Os Companheiros do Profeta Muhammad (que a paz e bençãos de Allah estejam com ele) perceberam perfeitamente que acreditavam numa religião que era substancialmente diferente de todas as outras religiões que existiam à sua volta. Essas diferenças acentua- ram-se ainda mais, cravadas por pormenores relativos às crenças, que ficaram registados nas escrituras de cada uma dessas religiões e que eram expressos nos seus diferentes ritos de devoção. Ainda assim, era reconhecida a existência entre essas religiões de um espaço para o diálogo, para além dos interesses mundanos que, por vezes, partilhavam entre si.

Com efeito, podemos constatar que Allah diz: “Dize-lhes: Ó adeptos do Livro! Vinde, para chegarmos a um acordo comum, entre nós e vós: comprometamo-nos, formalmente, a não adorar senão a Deus (ár. Allah), a não Lhe atribuir parceiros e a não nos tomarmos uns aos outros por senhores, em vez de Deus. Porém, caso se recusem, dize-lhes: testemunhai que somos submissos à Vontade de Deus”. (Surah al Imram, 3:64).

Apesar de os Mensageiros de Allah terem sido os homens que possuíram a maior fé de todas as pessoas que já viveram neste mundo, eles viveram junto dos seus clãs que demonstraram uma descrença categórica. Noé (que a paz esteja com ele) viveu entre o seu povo 950 anos.

Allah

diz: “(Noé) disse: “Ó Senhor meu! Tenho predicado ao meu povo noite e dia; mas as minhas predicações apenas os afastaram ainda mais (da verdade). E cada vez que os convocava ao arrepen- dimento, para que Tu os perdoasses, tapavam os ouvidos com os dedos e se envolviam com as suas vestimentas, obstinando-se no erro e ensoberbecendo-se grotescamente. Então, convoquei-os em voz alta; depois os exortei palatina e privativamente, dizendo-lhes: Inplorai o perdão do vosso Senhor, pois Ele é Indulgente…” (Surah Nuh, 71:5-10). Pelo que acima foi citado, percebemos que Noé (que a paz esteja com ele) os tentou atrair ao Islão, (submissão à Vontade de Deus) de uma forma objectiva e razoável, apelando ao seu bom-senso: tudo isto faz parte da chamada coexistência.

A coexistência não implica que tenhamos de negar a nossa opinião pessoal e muito menos que tenhamos de pôr de parte as nossas crenças religiosas. As nossas opiniões pessoais fazem parte da nossa identidade e ninguém nos pode obrigar ou coagir a mudá-las. No final, as nossas opiniões continuarão a ser isso mesmo, opiniões pessoais. O que se pretende realmente é pôr fim ao fanatismo sufocante e à agitação irreflectida, pois do que, na verdade, precisamos é de uma comunicação franca, procurando atrair as pessoas, servindo-nos daquilo que temos de melhor. A coexistência requer, pois, o abandono da obstinação relativamente às nossas opiniões e abstermo-nos de forçar outros a aceitarem-nas; não nos impõe o abandono das nossas crenças ou a obrigação de considerar que todos os pontos de vista estão correctos, porque existe uma enorme diferença entre esses dois extremos.

E Allah é quem sabe melhor.

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Atitudes ocidentais face ao Islão

in Mundo Islâmico – Esplendor de uma Fé, de Francis Robinson – Círculo de Leitores

Durante grande parte dos últimos 1300 anos, os Europeus têm considerado o Islão como uma ameaça. Os cristãos devotos sentiram-se ameaçados por uma fé que reconhecia um único Deus como Criador do universo, mas que negava a doutrina da Trindade, que aceitava Cristo como Profeta nascido de uma virgem, mas que negava a sua divindade e a crucificação; que acreditava num Dia do Juízo, no Céu e no Inferno, mas que parecia considerar o sexo como a principal recompensa no paraíso; que considerava a Bíblia cristã como palavra de Deus, mas que conferia a autoridade suprema a um Livro que parecia, em grande parte, negar os seus ensinamentos.

Os Estados cristãos sentiram-se ameaçados pelo êxito do poderio muçulmano, que penetrou no coração da França no século VIII, explorou as profundezas da Europa Central nos séculos XVI e XVII e, durante quase mil anos, patrulhou os flancos sul e leste da cristandade. Mesmo nos séculos XVIII e XIX, quando a sorte já tinha mudado e o poderio europeu se espalhara por todo o mundo, os muçulmanos eram ainda vistos como um perigo, desta vez para a segurança do império europeu.

Factos como este influenciaram as atitudes dos Europeus em relação ao mundo Islâmico, incentivando, entre outras coisas, um antagonismo duradouro e uma relutância em compreender a visão Islâmica da forma como a vida deve ser vivida: ao mesmo tempo, a civilização característica formada por esta visão era avaliada menos por si própria do que como contraste em relação ao qual se podia discernir e identidade europeia e medir as suas realizações.

Desde o início, as atitudes europeias foram fundamentalmente hostis. Os primeiros europeus, separados dos principais centros da civilização Islâmica pelo Império Bizantino, construíram uma imagem vaga e fantástica do Islão com base em fontes bizantinas: “era uma heresia derivada dos ensinamentos cristãos que o monge Bahira fora forçado a revelar a Maomé; o Corão fora entregue ao povo sobre os chifres de um touro bran- co; o Profeta era um feiticeiro cujo êxito se devia, em grande parte, à revelação, por ele proclamada, de que Deus aprovava a liberdade sexual”.

No entanto, a partir do início do século XII e da época da Primeira Cruzada, desenvolveu-se uma apreciação bastante mais séria, marcada pela tradução do Corão para latim e inglês, feita em 1143 pelo erudito inglês Robert de Ketton. Nos séculos XIII e XIV, os Europeus passaram a dar ênfase a dois aspectos do seu conceito mais esclarecido do Islão. O primeiro era até que ponto se podia dizer que o Corão corroborava o Evangelho. O segundo cuja lógica é duvidosa quando combinado com o primeiro era um ataque ao estatuto de Maomé como Profeta. Como podia um homem que não fizera milagres e que, segundo a lenda cristã, mentira e vivera em deboche ser profeta de Deus?

Dois aspectos desta mensagem foram destacados como alvos da polémica cristã; o suposto apoio dado pelo Islão ao uso da força (embora também os cristãos se lançassem em guerra santa) e a liberdade sexual de que se julgava gozarem os muçulmanos nesta vida, aliada ao êxtase sensual que lhes era prometido na próxima.

(…)A grande polémica medieval contra o Islão continuou a desenvolver-se durante o Renascimento e a Reforma e até ao século XVIII. Polidoro Virgílio, paradigma do saber histórico do Renascimento, limitou-se a repetir as acusações medievais: Maomé era um mágico, fora ensinado por um monge cristão, a sua heresia espalhara-se pela violência e pela promessa da aprovação divina em relação aos excessos sexuais, etc. … De entre as acusações destaca-se a de Maomé ser um impostor.

(…)A imagem do Profeta era de tal maneira negativa que se converteu em metáfora vigorosa a utilizar na polémica europeia. Assim, Lutero, colocava a Igreja Católica Romana ao lado da heresia de Maomé, considerando-a obra do Diabo na Cristandade, e Voltaire, atacando todas as religiões de revelação através do exemplo do Islão, fez cair o pano sobre a sua tragédia Le Fanatisme, ou Mahoumet le prophète, com um Maomé moribundo, pedindo ao seu sucessor que escondesse a sua maldade dos muçulmanos, para que não destruísse a sua fé.

A partir do século XVIII, contudo, a base para uma compreensão mais alargada do Islão começou a tomar forma. Na Europa, a revelação cristã estava a perder a sua vasta influência sobre os homens, e embora os velhos preconceitos ainda se mantivessem nos espíritos secularizados, esta mudança permitiu cada vez mais aos Europeus aperceberem-se de outras formas de percepção do mundo e até de sentirem afinidade com elas.

Ao mesmo tempo, a atitude das potências europeias para com as do Mundo Muçulmano ia passando do medo real da ameaça Otomana para uma igualdade confiante, à medida que tanto o Império Otomano como o Safévida e o Mogol entravam em declínio. Em finais do século XVIII, os Europeus sentiam-se inseguros de si nas relações com as potências muçulmanas, mudança esta simbolizada pela dramática invasão e ocupação do Egipto pelos Franceses, em 1799. Além disso, esta confiança continuou a crescer ao longo do século XIX quando Russos e Holandeses se aliaram aos Ingleses e Franceses para conseguirem exercer contrôle sobre os povos muçulmanos, até que em 1920, pelo Tratado de São Remo, mais de três quartos do mundo Muçulmano se encontrava sob domínio europeu. À medida que os Europeus se começavam a libertar da visão cristã medieval do mundo, que iam conhecendo mais muçulmanos e tendo um conhecimento mais aprofundado da sua civilização, tornou-se possível uma maior compreensão do Islão.

No entanto, entre as atitudes que se desenvolveram a partir do século XVIII, a velha atitude inflexível manteve a sua importância. Aproveitando as oportunidades proporcionadas pelo Império, os missionários Cristãos trabalharam como nunca entre os povos Muçulmanos, e embora alguns deles, como o bispo Heber e o Dr. Livingstone, tivessem alguma simpatia para com os Muçulmanos, outros voltavam facilmente a cair no padrão tradicional de preconceito cristão.

(…) De facto, os termos “muçulmano” e “fanático” tornaram-se quase sinónimos para os europeus que depararam com a resistência muçulmana em sítios tão distantes uns dos outros como a Argélia, a Índia e a Indonésia; durante a grande expansão europeia do século XIX, a imagem do Islão como religião “violenta” ganhou força, à medida que aumentava a resistência Muçulmana ao domínio europeu sobre o mundo: “A espada de Maomé e o Corão”, afirmava Sir William Muir, “são os mais persistentes inimigos da civilização, da liberdade e da verdade que o mundo jamais conheceu”.

Não existe maior contraste em relação à atitude de antagonismo dos cristãos do que o modo como Napoleão, filho do Iluminismo, assumiu uma postura muçulmana e manipulou as instituições muçulmanas, como parte dos seus desígnios imperiais no Egipto. “Respeito Deus, o seu Profeta e o Corão”, declarou ele ao desembarcar, em 1798, começando então a agir como governante muçulmano, prestando publicamente homenagem ao Profeta, começando as suas cartas aos potentados muçulmanos da zona com a biçmillah islâmica e conquistando os líderes religiosos e sociais da terra.

Assim, Napoleão, que, segundo Victor Hugo, “surgia perante as tribos deslumbradas como um Maomé ocidental”, exprimiu um pragmatismo face ao Islão de que os Europeus tinham até então sido, em larga medida, incapazes. Outros, ao procurarem, anos mais tarde, governar povos muçulmanos, visam a seguir o seu exemplo, embora nunca de forma tão notória. Não há dúvida de que havia também alguns laivos de romantismo na atitude de Napoleão face ao Islão, embora ele fosse o símbolo de uma época clássica recentemente triunfante. Ao adoptar uma identidade islâmica, Napoleão tentava, como fizeram os românticos, ultrapassar os limites clássicos da civilização do século XVIII, tal como o seu avanço em direcção ao Egipto e ao Oriente desafiava os do sistema de poder europeu. Ao fazê-lo, estava a explorar as possibilidades de um elemento cada vez mais importante da atitude europeia em relação ao mundo islâmico: a sua situação de mesa coberta de iguarias, onde se podia alimentar a imaginação europeia.

Durante cerca de cem anos, o apetite europeu fora já estimulado pelo número crescente de histórias de viajantes, especialmente por As Mil e Uma Noites, traduzida pela primeira vez por Galland, em 1704. Nesta obra encontrava-se uma sumptuosa colecção de califas, vizires, escravos génios, lâmpadas e acontecimentos fabulosos que constituiu uma grande parte do repositório de palavras e imagens utilizadas pelos Europeus para abarcar o mundo Islâmico.
De facto, para alguns esse mundo tornara-se num reino exótico no qual podiam explorar novas possibilidades, tal como o fez Montesquieu nas suas Cartas Persas, ou Mozart no seu Rapto do Serralho, ou Goethe no seu Divã Ocidental-Oriental; mas tornou-se igualmente num mundo em que os Europeus viajavam à procura de si próprios, vestindo-se com vestes estranhas e gosto pelas roupagens esvoaçantes e pelos galanteios árabes tem sido grande entre os Britânicos, desde Lady Hester Stanhope, que se vangloriava de ter entrado em Palmira pelo arco de triunfo e de ter montado a sua tenda no meio de milhares de beduínos, até T. E. Lawrence, que nunca parece ter-se recomposto da excitação provocada pelos árabes, camelos, areia e guerra no deserto.
Mas quer estes europeus tenham viajado pessoalmente ou apenas em imaginação, o facto é que se preocuparam mais em impôr a sua visão a este mundo do que em saborear a sua realidade, e mais em colocá-lo ao serviço dos seus próprios desígnios do que em apreciá-lo em si mesmo. É verdade que a sua atitude romântica trouxe algum avanço no conhecimento e compreensão do mundo Islâmico, acabando, no entanto, por criar uma nova barreira da imaginação que veio substituir uma parte importante da anterior barreira do preconceito.

Uma outra atitude, que se desenvolveu a partir das anteriores e ajudou a mantê-las de pé, foi o profundo sentimento de superioridade que foi crescendo com o império europeu. Abu Taleb Khan, um muçulmano indiano que visitou Londres em 1800, viu-se obrigado a tolerar um chorrilho de críticas intransigentes aos costumes muçulmanos, desde o hábito de comer com as mãos até às cerimónias realizadas pelos peregrinos em Meca. Este pressuposto de que os costumes europeus eram melhores teve eco junto daqueles que tinham eles próprios contactos com a sociedade muçulmana.

Uns anos mais tarde, alguns diplomatas franceses em Teerão, certos de que compreendiam os costumes nativos, queixavam-se da falta de honra ou vergonha dos Persas e da sua tendência para o exagero. Na Índia, quase três décadas mais tarde, Macaulay afirmava, na sua famosa nota sobre a educação, que, “como é geralmente reconhecido, não existem livros do saber muçulmano, nem do hindu, que mereçam ser comparados aos nossos”. Não admira que uma confiança tão ufana tivesse convencido o governo da Índia a esquecer, durante algum tempo, a base frágil em que acentava o domínio britânico e a apoiar moralmente os esforços para converter a população ao cristianismo: os Europeus estavam certos de serem ao mesmo tempo diferentes e melhores do que os muçulmanos. De facto, os Europeus governavam os muçulmanos por direito divino, enquanto estes, nas palavras do primeiro-ministro britânico Gladstone, eram “totalmente incapazes de estabelecer um governo bom ou tolerável sobre os povos cristãos civilizados”. (…)

Tal como seria de esperar, o estudo erudito do Islão foi reflexo das atitudes da sociedade em que se realizou. Simon Ockley, por exemplo, embora se preocupasse em apresentar os factos do desenvolvimento da civilização Islâmica e a sua relação com a Europa, não deixava de partilhar da visão comum na Europa de princípios do século XVIII, ou seja, de que o Islão era uma escandalosa heresia. Ernest Renan, especialista em filologia comparada e intérprete da Bíblia, considerava que o Islão, com a ênfase dada à autoridade avassaladora da palavra de Deus, era tipicamente semita, por oposição ao espírito científico, e constituía uma barreira ao progresso: a sua civilização era inferior à ariana, que produzira a ciência e a filologia.

De facto, a confiança na superioridade da civilização ocidental e no modo ocidental de ver as coisas sobre o Islâmico tem sido instintiva em grande parte dos estudos ocidentais. Há tendência para produzir estudos que parecem preocupar-se mais com debates em curso entre intelectuais ocidentais do que com uma compreensão imaginativa das sociedades muçulmanas. Para além disso, parece ser particularmente difícil para os estudiosos educados num ambiente basicamente agnóstico e materialista compreenderem o poder da fé. Isto pode explicar o porquê da investigação de maior qualidade e sensibilidade ter sido realizada por cristãos devotos; numa altura em que se vêem cada vez mais sobrecarregados pelas tensões mundiais, os cristãos encontraram uma nova afinidade com aqueles que também adoram o mesmo Deus.

Ficamos assim frente ao singular paradoxo de que, embora as tradicionais fontes de hostilidade para com o Islão que derivam da polémica cristã medieval ainda floresçam sob forma secular, são cristãos devotos quem parece estar mais perto de compreender o Islão. A velha objecção centrada no prazer e na sensualidade transformou-se numa nova objecção quanto à situação das mulheres. A preocupação com a violência tornou-se discordância quanto aos castigos desumanos e às políticas sanguinárias de algumas sociedades muçulmanas.

O medo do poder muçulmano, que deu lugar, com a expansão do Ocidente, a um sentimento de superioridade, volta a crescer à medida que o petróleo vai proporcionando aos muçulmanos a possibilidade de influenciarem a vida ocidental e que uma maior afirmação lhes dá vontade de o fazerem. Para além disso, embora os Ocidentais já não se sintam perturbados pela ideia da impostura de Maomé, preocupam-se pelo que agora parece, aos seus olhos, uma heresia: o desejo que muitos muçulmanos têm de subordinar a vida da sua sociedade e o funcionamento do Estado moderno à Lei sagrada. De facto, parece que a reprovação do Islão que, por vezes, se exprime em hostilidade aberta está arraigada na cultura secular do Ocidente. (…)

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Autor Judeu distorce a História

Na Alemanha, foi recentemente publicado um livro intitulado “Os Sequazes de Hitler” cujo conteúdo está cheio de falsidades e alegações imaginárias da parte do autor, um extremista Judeu. Embora o livro ultrapasse as fronteiras da imaginação, o Canal 2 da Televisão Alemã pensou que isto ajustava-se para arejar alguns dos seus excertos. Um dos excertos clama que Hitler matou milhões de Judeus porque ele tinha estudado a História Islâmica e a experiência do Profeta Muhamad (pece) às mãos dos Judeus, e que há povos em que não se pode confiar. O autor diz que Hitler levou a cabo os seus massacres de Judeus com a ajuda de eruditos Muçulmanos, entre eles o falecido Sheikh Muhamad Amin Al-Husseiny, o então Mufti da Palestina.

O escritor depois acrescenta outra mentira quando diz que as organizações Islâmicas trabalham com os Neo-Nazis na Alemanha, na luta contra os Judeus.

Mas a extrema falsidade é quando o autor diz que Hitler era um “Muçulmano”, e autenticou este facto com a referência a um livro de Muhamad Jalal Kishl, em que diz, há uma lenda em que um homem viu Hitler à volta da Caaba e deu-lhe o nome de “Al-Haj Muhamad” Hitler. Finalmente, o autor coroa as suas acusações falsas e imaginárias dizendo que os Muçulmanos foram os únicos a ajudar Hitler, Mussolini e Franco a matar os Judeus.

Alguns Muçulmanos jornalistas na Alemanha tomaram as medidas necessárias para se oporem às atrozes alegações feitas no livro em questão de 435 páginas.

A verdade é que Hitler, quer no seu livro Mein Kampf (A Minha Vida), quer nas suas oratórias, nunca, sequer uma só vez, mencionou a História Islâmica, e nem conhecia a história e a cultura Islâmicas. Ele era simplesmente um pintor falhado e um cabo de guerra. No caso da alegada ajuda dos Muçulmanos naqueles massacres, os Muçulmanos na Alemanha daquela época não podiam ser mais que algumas dúzias, e foram aí ter por serem refugiados da guerra. Entre eles, estava Al-Haj Amin Al-Husseiny que fugia dos Britânicos. Nem estavam os Muçulmanos ao par do que estava a acontecer aos Judeus. O facto é que nenhum estrangeiro tinha a ver com as decisões tomadas por Hitler, nem mesmo o seu próprio povo e ministros não faziam ideia do que estava a acontecer no país.

Alguns dos próprios ministros de Hitler foram tomados pela surpresa com os julgamentos de Nuremberga quando viram fotografias e filmes dos campos de concentração em que os Judeus eram executados.

No que toca ao que diz o autor que as organizações Islâmicas estão agora a ter acordos secretos com os Neo-Nazis na Alemanha, o facto é que os Muçulmanos na Alemanha foram as primeiras vítimas do ódio e discriminação praticados pelos Neo-Nazis.

Mas, em relação à sua afirmação de que Hitler era um Muçulmano e que ele tinha visitado Makkah (Meca), é de chamar atenção que Hitler não tinha afiliação religiosa de qualquer espécie e oprimia mesmo os Cristãos. Ele acreditava que o Nazismo era a nova religião, e que era anti-Muçulmana (porque era discriminatória) e anti-Cristã também. Hitler nunca deixou o seu país para ir ao estrangeiro, excepto por uma breve visita de algumas horas a Paris quando as suas forças conquistaram a cidade. No caso de Mussolini, ele nunca matou Judeus. Ao contrário ele matou milhares de Muçulmanos na Líbia.