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O Vaticano elogia o sistema financeiro islâmico

O Vaticano afirma que o sistema financeiro islâmico poderá ajudar os bancos ocidentais em crise, como alternativa ao capitalismo.

O Vaticano apresentou os princípios financeiros islâmicos aos bancos ocidentais enquanto solução para a crise económica mundial.

Os media turcos relataram que o jornal diário do Vaticano, O Observatore Romano, referiu que o sistema bancário islâmico poderá ajudar a ultrapassar a crise global.

O Vaticano afirmou que os bancos deviam olhar para as regras éticas das finanças islâmicas a fim de recuperar a confiança dos seus clientes, numa época de crise económica global.

O Observatore Romano, o jornal oficial do Vaticano, referiu o seguinte no seu mais recente número, que saiu ontem ao final do dia: “Os princípios éticos que constituem a base das finanças islâmicas podem aproximar os bancos dos seus clientes e do verdadeiro espírito que deveria marcar todos os serviços financeiros.”

A autora Loretta Napoleoni e a estratega de rendimento fixo do Abaxbank SpA, Claudia Segre, afirmam o seguinte no artigo: “Os bancos ocidentais podiam usar ferramentas como as obrigações islâmicas, conhecidas como “sukuk”, enquanto garantia.” Afirmam ainda que as “sukuk” podem ser usadas para financiar “a indústria automóvel ou os próximos Jogos Olímpicos de Londres.”

Disseram ainda que a quota de lucro, ganha com base na “sukuk”, pode ser uma alternativa aos juros. Salientaram que o sistema de “sukuk” poderia ajudar o sector automóvel e apoiar os investimentos na área das infra-estruturas.

O sistema de “sukuk” islâmico é idêntico ao bonus do sistema capitalista. Mas no sistema de “sukuk”, o dinheiro é investido em projectos concretos e a quota de lucro é distribuída pelos clientes, em substituição dos juros ganhos.

O Papa Bento XVI, num discurso proferido a 7 de Outubro, reflectiu sobre os colapsos dos mercados financeiros, afirmando que “o dinheiro desaparece, não é nada” e concluiu que “a única realidade sólida no mundo é a palavra de Deus”. O Vaticano tem estado atento à derrocada financeira global, tendo publicado no seu jornal oficial artigos que criticam o modelo do mercado livre, devido ao facto de este ter “crescido demais e de forma negativa ao longo das duas últimas décadas.”

Segundo o “Corriere della Será”, Giovanni Maria Vian, editor do Observatore, afirmou que “as grandes religiões revelaram sempre ter em comum uma atenção pela dimensão humana da economia.”

DE NOTAR que:

– não obstante certas afirmações imprecisas do Papa Bento XVI como ( “… de que a racionalidade se encontra entre Cristãos, mas não no Islão”; que “Para a doutrina Muçulmana, Deus é completamente transcendente. A Sua Vontade não se encontra ligada a nenhuma das nossas categorias, nem mesmo a da razão” e a irresponsável citação “Mostre-me tudo o que Maomé touxe de novidade, e encontrarás apenas coisas más e desumanas, como a de espalhar com a espada a fé que ele pregava”;

– não obstante algumas considerações preconceituosas do Cardeal (de Portugal) D. José Policarpo como a advertência às jovens portuguesas “que casar com muçulmanos acarreta um “monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam”; que “…o diálogo serve para os muçulmaos … “como fazem os lobos na floresta, demarcarem os seus espaços e terem os espaços que eu lhes respeito””; que ” … não sejamos ingénuos na maneira de trabalhar com eles”,

a verdade é que muitos cristãos e muçulmanos, pelo mundo fora, estão, cada vez mais, a valorizar o muito que partilham nos seus credos, e o próprio Vaticano vem agora afirmar que o sistema financeiro islâmico poderá ajudar os bancos ocidentais em crise, como alternativa ao capitalismo. Afinal, Maomé sempre touxe algo de novidade …

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Muçulmanos portugueses respondem em livro a D. José Policarpo

A organização muçulmana portuguesa Al Furqán acaba de publicar um livro que pretende esclarecer as declarações do Cardeal Patriarca de Lisboa sobre o casamento com muçulmanos, proferidas em Janeiro na Figueira da Foz.

“é um esclarecimento da comunidade muçulmana. é uma opinião para esclarecer e não para atacar o Cardeal”, disse à agência Lusa Yiossuf Adamgy, director da Al Furqán e autor do livro “Muçulmanos esclarecem o cardeal D. José Policarpo”.

“Acredito que vou receber uma nota do próprio cardeal a dizer-me que o esclarecimento foi útil”, referiu o autor, que enviou um exemplar a D. José Policarpo.

Numa tertúlia realizada a 13 de Janeiro na Figueira da Foz, o Cardeal Patriarca de Lisboa advertiu as jovens portuguesas que casar com muçulmanos acarreta um “monte de sarilhos que nem Alá sabe onde é que acabam”.

A 18 de Fevereiro, o cardeal D. José Saraiva Martins voltou a falar no assunto, aconselhando “muita cautela e prudência às mulheres católicas que pensem casar com muçulmanos.

Ao optar por escrever um livro, o director da Al Furqán afirmou que foi de encontro “ao que o próprio Cardeal Patriarca disse, que os cristãos precisam de saber o bê-a-bá do Alcorão”.

Destinado a muçulmanos e não-muçulmanos, o livro coloca lado a lado o que dizem a Bíblia e o Corão sobre a natureza feminina, o papel da mulher, o casamento, o uso de véu, a poligamia e o incesto.

“As pessoas, crentes no Cristianismo ou no Islão, não têm oportunidade de ler devidamente o Alcorão e a Bíblia”, opinou o autor, que espera que o livro ajude à compreensão do que é o Islamismo.

“Cada um depois tira as ilações que quiser”, disse.

Reforçando a ideia de abertura e diálogo entre as duas religiões em Portugal, Yiossuf Adamgy escreve no livro que, de facto, o casamento pode vir a ser “um monte de sarilhos”, seja para católicos seja para muçulmanos, “sobretudo quando não há tolerância, paciência e bom senso”.

A Al Furqán é uma organização islâmica independente, fundada em 1981, que se dedica ao estudo e divulgação de estudos islâmicos em Portugal.

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Véu (hijab) – o que significa?

É absurdo pensar que o hijab, que faz parte da fé islâmica, “simboliza a desigualdade sexual e o aprisionamento das mulheres”. Os que têm como fonte de conhecimento os meios de comunicação ocidentais têm esta imagem. Na verdade, vivem num paraíso de tolos ao aceitar o slogan ocidental de que o Islão oprime as mulheres. No entanto, este tem sido o objectivo desejado dos pânditas da comunicação social e dos experts secularistas do Islão e das feministas.

O Islão preserva a dignidade das mulheres e recusa que ela seja possuída por estranhos. São as mulheres não muçulmanas e as muçulmanas “emancipadas” que são dignas de pena por mostrarem a sua privacidade para todos verem.

A verdade é que o hijab foi decretado não para degradar as mulheres, mas para proteger a sua modéstia e honra. é tão bárbaro colocar um elevado prémio sobre a honra das nossas mães, irmãs e mulheres? É errado respeitá-las? Deve uma mulher estar semi-nua para ser civilizada e decente? A resposta é clara: o Islão não é repressivo nem escraviza a mulher. Liberalizou e canonizou os direitos das mulheres há mais de 1400 anos enquanto na Europa estas ainda estavam aprisionadas.

Em certas sociedades, principalmente onde os muçulmanos estão em minoria, as mulheres podem achar a realização desta exigência muito difícil. Elas dirigem-se aos eruditos Islâmicos com todo o género de justificações. Um erudito não pode mudar uma ordem Islâmica ou emendar uma regra. (…). O Alcorão diz: Ó Profeta! Dize às tuas esposas e filhas e às mulheres dos crentes que se envolvam e fechem nos seus mantos( 1 ) (quando saírem); isso é mais conveniente para que se distingam das demais( 2 ) e para que não sejam molestadas … Capítulo 33 Vers. 59

No entanto, há uma tendência generalizada entre os muçulmanos para serem demasiado rígidos, para darem ênfase demais a esta questão. Eles consideram-na como a forma garantida de provocar o regresso total da implementação do Islão em todos os países muçulmanos.

Os nossos esforços devem concentrar-se no assunto mais substantivo de como assegurar o regresso ao Islão nos países onde não foram implementados princípios islâmicos. A necessidade é de recuperar o nosso carácter islâmico e isto tem um método diferente do de insistir só em que todas as mulheres cubram o rosto aqui e agora.

Devemos recordar que o Islão é uma religião muito prática e fácil de seguir. Ele não procura sobrecarregar as pessoas ou implementar um código de comportamento muito rígido. Ele estabelece princípios e valores que fornecem uma estrutura geral dentro da qual tipos diferentes de comportamento são aceitáveis. Enquanto o que cada um fizer ou disser não infringir esses valores e princípios, então é aceitável. O nível moral fixado pelo Islão está, na realidade, a atrair mulheres do mundo ocidental. De acordo com um relatório publicado por um centro de pesquisas em Inglaterra, estimadamente 10.000 mulheres inglesas instruídas, principalmente médicas, professoras universitárias e advogadas, converteram-se ao Islão durante a última década. Um olhar ao que têm a dizer sobre este assunto algumas das convertidas mais proeminentes dá-nos uma imagem clara. Vejamos, pois:

Khaula Nakata (Japão): Quando voltei ao Islão, a religião da nossa natureza inata, um debate violento surgiu àcerca das raparigas usarem o hijab nas escolas de França. Ainda existe. Parece que a maioria pensava que usar o lenço na cabeça era contrário ao princípio segundo o qual as escolas estatais deviam ser neutras no que diz respeito à religião. Mesmo como não muçulmana, não consegui entender porque houve tanta preocupação sobre uma coisa tão insignificante como um lenço na cabeça de uma estudante muçulmana. Eu uso o hijab desde que abracei o Islão em Paris. Observando o hijab do exterior, é impossível ver o que ele esconde. A distância entre estar de fora e olhar para dentro, e estar dentro e olhar para fora, explica em parte o vazio na compreensão do Islão. Estando de fora pode-se ver o Islão como restrição dos muçulmanos. Contudo, estando dentro, existe paz, liberdade e felicidade nunca antes conhecidas para quem o experimenta. Os muçulmanos praticantes, quer os nascidos em famílias muçulmanas ou os que se converteram ao Islão, escolhem o Islão em vez da ilusória liberdade da vida secular. Se oprime as mulheres, porque é que tantas mulheres jovens instruídas na Europa, América, Japão, Austrália, na verdade em todo o mundo, estão a abandonar a chamada liberdade e independência e a abraçar o Islão?

Ruth Anderson (E.U.A.): Embora tenha nascido americana, sou muçulmana há muitos anos, louvado seja Deus, e escolhi usar o hijab de acordo com a Lei Divina. A Charia pede que a mulher muçulmana se cubra da cabeça aos pés deixando só a cara e as mãos descobertas. Cobrir-se (hijab) não é um sinal de atraso, ignorância ou incompetência mental, mas o dever de uma mulher e o seu direito. O uso do hijab protege as mulheres da perseguição dos homens. É também um símbolo de devoção religiosa tal como de obediência a Deus.

Nouria (uma antiga protestante): Se alguém (mulheres muçulmanas) com um compromisso com o Islão a vê com o hijab e verificam que está a sofrer, elas intervêm e ajudam. Isto é anormal na Inglaterra. Temas como propriedade, crianças e herança foram todos estabelecidos, e estão admiravelmente sintonizados a favor da mulher (no Islão). As mulheres dizem que sou uma traidora do meu sexo, mas eu poderia dizer o mesmo da maioria das mulheres deste país. Elas foram desfeminizadas. Mas as mulheres muçulmanas são acarinhadas e têm uma dignidade completamente ausente da vida ocidental. Tudo o que o movimento feminista ambiciona, excepto o lesbianismo e o aborto, nós temos.

Fátima I. Tutay (Filipinas): Residindo numa comunidade predominantemente cristã aqui em Metro Manila, tanto os amigos, vizinhos, como familiares estranham ao ver-me sempre em vestuário Islâmico, tudo está coberto com excepção da cara, mãos e pés. Alguns perguntaram porque tinha eu de vestir-me como uma freira. Eu expliquei-lhes que sou diferente de uma freira, que eu não uso cinto, só as minhas mãos, cara e pés estão visíveis, tal como a Virgem Maria. Continuei a explicar que este vestuário muçulmano é uma manifestação do nosso amor à Virgem Maria, que é a mulher ideal de todos os crentes. Quando idealizamos ou admiramos alguém, devemos adoptar as suas maneiras, de outro modo, não a amamos verdadeiramente. Allah está satisfeito com os modos da Virgem Maria. Uma mulher crente não hesitará em vestir-se como a Virgem Maria se é um modo de agradar a Allah. Alhamdullilah (Louvado seja Allah), só as muçulmanas estão aptas a seguir isto.

Por último, as mulheres muçulmanas estão bem avisadas que a verdadeira sinceridade é evidenciada pelo seu comportamento consistente. Por isso, se alguma cobre a cabeça num país Islâmico, ela deve ter a coragem da sua convicção para fazer o mesmo no Ocidente.

  1. Jilbab, plural Jalabib: uma vestimenta exterior, uma longa toga que cobria todo o corpo, ou um capa comprida que cobria o pescoço e o busto.
  2. O objectivo não era restringir a liberdade das mulheres, mas sim protegê-las dos danos e dos molestamentos que propiciavam as condições então existentes em Medina. Tanto no Oriente como no Ocidente uma roupa conspícua, para se usar em público, de uma forma ou outra, sempre tem sido uma marca de distinção, quer entre os homens como entre as mulheres.
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Muita confusão em torno de algo antigo

Uma nova onda de controvérsia e sediciosa violência está a devastar tanto a Europa como o mundo muçulmano. A causa de tudo isto é, uma vez mais, a publicação de “cartoons” alusivos à imagem do Profeta Muhammad (s.a.w.), considerados por uma grande parte da comunidade muçulmana como sendo uma blasfémia.

Nada disto é, obviamente, novidade. Já tínhamos sido confrontados com o mesmo, com as mesmas imagens inclusivamente, há dois anos. Mas este novo episódio de ofensa pela imagem surgiu com a revelação daquilo que tem sido considerado como ameaças feitas, presumivelmente, por extremistas islâmicos a um editor dinamarquês, em reacção ao episódio do primeiro “cartoon”.

Várias publicações europeias, inclusivamente um jornal evangélico cristão da Dinamarca, têm publicado a nova bomba visual contra o Islão, aparentemente em solidariedade com o editor e com aquilo que normalmente é considerado a liberdade de imprensa e o direito à liberdade de expressão.

Como retaliação, alguns jovens muçulmanos incendiaram carros e alguns bairros de Copenhaga e uma tempestade de protestos no mundo muçulmano apela a um novo boicote aos produtos dinamarqueses e à destituição do embaixador dinamarquês no Paquistão. E, de acordo com a informação disponível, tanto a Arábia Saudita como a Líbia destituíram os embaixadores da Dinamarca.

Vai recomeçar tudo outra vez.

Então que lições devemos (voltar) a retirar desta nova onda de publicações de “cartoons”?

Aqui fica a minha opinião:

A primeira lição é que, e de uma forma bastante literal, há muita gente que gosta de atirar pedras aos muçulmanos, sob o disfarce de uma errónea identificação dos mesmos com características de violência, traição e maldade, preconceitos que não irão desaparecer pelo simples facto de não os apreciarmos e de os contestarmos.

A segunda lição, e que acaba por ser uma consequência da primeira, é que ao deitarmos lenha para a fogueira, nós (muçulmanos) estamos apenas a conseguir queimar-nos a nós próprios, legitimando o conceito de que os muçulmanos são incapazes de responder à ofensa e crítica sem pegarem na espada da vingança.

(Aliás, este é, naturalmente, o efeito calculado da publicação destas provocações: criar uma imagem escandalosa do Profeta Muhammad, deixar que os muçulmanos se rebelem em resposta e deixar bem à vista de todos a incorrigível violência e radicalismo que caracterizam o mundo muçulmano).

A terceira lição é, no entanto, relativa à oportunidade de reagir a estes “cartoons” vista de uma maneira diferente, oportunidade que estamos a perder.

Com efeito, não precisamos de incendiar carros e bairros na Europa, ou de retaliar publicando as nossas próprias versões racistas de estereótipos com a intenção de ofender os europeus e, muitas vezes, os judeus. A nossa melhor resposta a este tipo de provocações é a cooperação entre muçulmanos e também com os numerosos aliados de outras fés para exigirmos o fim da publicação de todas as imagens religiosas depreciativas ou escandalosas, mas não enquanto privação da liberdade de imprensa, mas sim porque existe uma justificação moral para o fazer.

O Profeta Muhammad (s.a.w.) teve de lidar com escárnio e censura semelhantes durante a sua vida. Até mesmo a sua Mesquita foi profanada por alguém que nela resolveu urinar. No entanto, em vez de exigir que o pecador fosse castigado ou morto, Muhammad (s.a.w.) serviu-se do ocorrido para educá-lo sobre a natureza de uma melhor higiene e o respeito pela Casa de Deus.

Aqueles que nos difamam e odeiam são conduzidos por uma aversão irascível pelo Islão, aliada à profunda ignorância relativamente à diversidade da vida e cultura muçulmanas. Ora, não vai ser uma resposta violenta proveniente da comunidade muçulmana que os vai dissuadir de dizer, desenhar ou publicar o que entenderem.

Mas se, contrariamente, a nossa resposta for organizada e não violenta poderemos muito bem conseguir provar que os muçulmanos, quando são orientados pelo Alcorão e pela Sunnah do Profeta Muhammad (s.a.w.), são capazes de evocar um padrão moral mais elevado, razoável e estrategicamente mais eficaz, que lhes permite em conjunto com as os nossos aliados de comunidades de outros credos, defender a integridade da nossa fé.

Que Deus nos conceda o Seu verdadeiro amor e o do Seu último Mensageiro, e que nos conceda a graça de, no Dia da Ressurreição, estarmos entre aqueles que obedeceram verdadeiramente ao seu nobre lema. Ámen.

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Misericórdia Divina

Por: M. Yiossuf Adamgy

Solicitado por alguns amigos, leitores e teólogos islâmicos para comentar e esclarecer, em livro a publicar, a temática islâmica focada no romance recém-publicado, intitulado “Fúria Divina”, da autoria de José Rodrigues dos Santos, pareceu-me que deveria escrever – à luz da verdadeira Fonte do Islão – esclarecendo sobre os muitos mitos do Islão: a metodologia de compreender o Alcorão, o muito incompreendido conceito de Jihád e os relevantes conceitos de “paz” e “guerra” no Islão, o conceito de Kafir, de Compaixão, de Apóstata, de Lapidação, de Tolerância, de Fundamentalismo, de Extremismo, de Terrorismo, de Democracia, da Mulher no Islão, se o Islão foi divulgado pela espada, etc., etc. .

Num esforço para dissipar todas essas falácias, este livro, intitulado “Misericórdia Divina”, concentrar-se-á na investigação destes conceitos contextualizados no Alcorão. O Alcorão é a indiscutível fonte e autoridade de todos os aspectos da religião do Islão. No livro citarei alguns ditos Proféticos (Ahadices) que estão em linha com os versículos Alcorânicos que trato. No entanto, evitei conscientemente o uso de ditos Proféticos ou de outras fontes para a obtenção de conclusões que o Alcorão não apoia explicitamente.(1) O uso apenas do Alcorão assegura a revelação da verdade sobre os conceitos em causa, a qual se revela muito diferente da imagem comum que se tem destes conceitos.

Naturalmente, o livro citará extensivamente o Alcorão. De facto, pretende-se que em muitas partes seja lido como um comentário a versículos Alcorânicos. Dada a natureza e a estrutura do Alcorão, é comum que um mesmo assunto seja abordado em diferentes partes do Livro. Por conseguinte, é necessário que versículos relevantes sejam reunidos e observados em conjunto. Esta abordagem, a qual irei seguir neste estudo, permite ao pesquisador ver nesses versículos temas comuns e significados complementares que podem não ser visíveis quando os versículos são estudados separadamente.

Darei o meu melhor para fazer deste livro um livro autónomo, que não exige um conhecimento prévio do Alcorão ou da História ou pensamento Islâmicos. Toda a informação e explicações necessárias serão fornecidas onde importam de modo a tornar este estudo profundo e focalizada uma leitura fácil.

Ao apresentar factos claros e verificáveis e ao afastar sofismas infundados a respeito dos conceitos em causa, rezo para que este livro possa alcançar dois objectivos para dois diferentes públicos:

Em primeiro lugar, que prove ser uma fonte de informação útil para Muçulmanos e pesquisadores da verdade que consideram ou venham a considerar abraçar o Islão, voluntariamente. Assim como entre os seguidores de qualquer outra Fé, existem muçulmanos que apresentam uma falta de conhecimento dos fundamentos da sua religião.

Em segundo lugar, que convença outros que não estão interessados em adoptar o Islão como religião por uma razão ou por outra, de que o Islão é uma religião excepcionalmente pacífica, com que se pode coexistir.

Muitos reconhecerão, infelizmente, que o abismo entre Muçulmanos e não-Muçulmanos se tem vindo a alargar. Igualmente triste, é o facto de muitos não saberem que, embora este conflito implique crentes do Islão, não teve origem na religião do Islão. Eu, como muitos outros pelo mundo fora, sinto partilhar da responsabilidade em ajudar à dissipação deste crescente distanciamento entre Muçulmanos e não-Muçulmanos. Estas tentativas, se feitas correctamente, são, na verdade, uma forma de jihád, como veremos neste estudo.

(1) – Este válido critério foi observado pelos grandes eruditos do Islão, desde o início. Continua a ser o fio condutor dos pensadores actuais. Ibn Khaldun escreveu: “Não acredito em nenhum Hadice ou relato de um companheiro do Profeta, paz esteja com ele, como sendo verdadeiro se diferir do sentido do Alcorão, por muito fidedignos que tenham sido os seus narradores. Não é impossível que um narrador pareça fidedigno embora seja movido por outros motivos. Se os Ahadice fossem analisados pelos seus conteúdos como o foram relativamente à cadeia de narrado- res que os transmitiram, grande parte deveria ter sido rejeitado. Um princípio aceite é o de que um Hadice pode ser rejeitado se divergir do sentido do Alcorão, dos princípios da Chariah, das leis da lógica, ou de qualquer outra verdade evidente”. Este critério, que foi apresentado pelo Profeta (s.a.w.), e seguido por ibn Khaldun, está em perfeita harmonia com a análise científica moderna.