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Companheiros do Profeta – Sahaba (R.A.)

Por: Yiossuf Adamgy

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Prezados Irmãos,Assalamu Alaikum:

“Companheiros do Profeta (S)” trata da história da vida dos Companheiros do Profeta Muhammad [Maomé] (sallallahu ‘alaihi wa sallam = que Allah derrame bençãos e paz sobre ele).

Esclarece-se que um Companheiro (ár. sahabi) é aquele que viu o Profeta Muhammad (s.a.w.) em estado perfeitamente desperto, ou tendo estado na sua sagrada companhia, como Muçulmano e tendo morrido como Muçulmano (aquele que se submete à Vontade de Deus). Os Companheiros (ár. sahabah) foram os pioneiros do trabalho do Islão e sacrificaram-se à sua causa. Toda a Comunidade Muçulmana permanecerá em dívida para com eles até ao Último Dia.

O Sagrado Alcorão fala-nos, em diversos versículos, sobre eles. Aqui, apenas transcrevemos o seguinte:

“Os mais antigos (na fé), os primeiros dos “Muhajirines” e dos “Ançares”, e aqueles que os seguiram com simpatia, deram satisfação a Allah; e eles ficaram satisfeitos com Allah. O Senhor preparou, para eles, Jardins sob cujas ramadas correm rios onde habitarão para sempre. Este é o triunfo supremo” (9 [Al Tau- bah]:100).

Na verdade, os Companheiros foram um povo cuja alma é testemunho para a Unidade de Allah e profecia de Muhammad (s.a.w.). Fé e crença entraram no mais profundo dos seus corações, e eles deixaram todos os seus confortos, prazeres, gostos e até as suas terras natais pela causa de Allah, somente com o objectivo de enaltecer a Palavra de Deus e difundir as Tradições do sagrado Profeta que era, para eles, mais querido que os seus parentes e as suas vidas. Nenhum período da História da Humanidade, e nenhuma época da Civilização Humana foi testemunha de um povo que tivesse sido mais obediente a Deus, mais devotado na adoração ao seu Criador, mais crente, mais civilizado e culto, mais versado nas revelações de Deus e Tradições dos Seus Mensageiros, mais dedicados à causa de Deus, e mais empenhados no Seu Caminho, que os Companheiros do Profeta Muhammad (s.a.w.), que Deus esteja satisfeito com eles. Costumavam esforçar-se no caminho de Deus durante o dia e adorá-Lo durante a noite. Devotaram toda a sua vida à causa de Allah sem pedirem nenhuma recompensa para eles neste mundo. Foram, em suma, os verdadeiros seguidores do Profeta Muhammad (s.a.w.).

Os Muçulmanos e Não-Muçulmanos são convidados a lerem e a familiarizarem-se com a biografia destes eminentes Muçulmanos, Companheiros do Profeta Muhammad (s.a.w.), cujas vidas a morte não apagou e jamais apagará até à eternidade.

Espero que este esforço possa transmitir à nossa geração, e à vindoura, o exemplo dos “sahabah”, à memória dos quais dedico a singela edição desta significativa obra da História do Islão.

“Inch’Allah”, periodicamente, será colocado, aqui, biografia de um dos Companheiros do Profeta Muhammad (s.a.w.), a respeito dos quais ele disse:

– “A presença dos meus Companheiros (Sahabah) é como a das estrelas (guias). Qualquer que sigas, serás por ele guiado (no caminho certo)”.

– “A forma dos meus Companheiros no seio da Humanidade é como a do sal na comida. Não existe paladar na comida sem sal”.

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Deus e a Sua existência

Por: M. Yiossuf Adamgy – Programa na RÁDIO MAIS, 93,7fm, proferido no dia 17/07/2004

É verdade que historicamente, o ser humano sempre pensou num poder sobrenatural existente além deste nosso mundo das mudanças. Ele está constantemente a tentar não só encontrar a origem de todo o Universo, mas, também um objecto para a sua adoração.

A História da Humanidade é apenas uma série desses esforços, algumas pessoas pensaram que este poder podia ser encarnado em certos tipos de árvores, pedras, ouro, ou no homem. Houve pessoas que pensavam que era o sol; outras achavam que era a lua ou outros astros, e ainda outras pensaram que eram os rios, etc. Há ainda outros que dizem não haver Deus, mas a natureza em si é o seu Deus.

Outros pensam que Deus deve ser um poder sobrenatural, que não tem forma, nem semelhante, não é afectado pelas mudanças, que é imortal e eterno. Está posição é semelhante a do Islão.

Tudo isto é o resultado da posição a que chegaram os psicólogos de que o ser humano tem um instinto religioso. Por natureza ele acredita na existência de um poder forte e grande que controla o Universo e sente que ele e o resto da humanidade são dependentes d`Ele e sujeitos a esse poder.

O Professor Max Fuller no seu “Hibbert Lectures” diz: “A religião não é uma invenção nova. Se não é antiga como o mundo pelo menos é antigo como o mundo que conhecemos. Nunca houve falso Deus nem religião falsa a não ser que se chame à criança um homem falso. Daquilo que eu sei das religiões, todas elas tinham o mesmo objectivo. Todas estavam ligadas a uma corrente que liga o céu à terra, e que estava e continua a ser assegurada pela mesma mão. O próprio Platão afirmou que: o conhecimento do verdadeiro Deus está implantado por natureza em todas as almas e, o trabalho dos professores neste campo não é en- sinar o homem o que ele não sabe, mas é remover os obstáculos e as sombras que ocultam a verdade e o impedem de chegar até lá e para lhe recordar do conhecimento que ele já tem”.

Assim o Homem por natureza pensa em Deus.

Alguns deles conseguem descobri-lo e outro não, daí a tarefa dos Profetas foi de recordá-los, da Existência de Deus; o Alcorão Sagrado menciona vários sinais e de várias formas chama a atenção do Homem, recordando-o a existência do verdadeiro Deus.

Todos nós sentimos a Sua existência, porém há quem O recusa alegando que não O vê, o que não tem lógica, pois há coisas que nós não vemos e estamos certos da sua existência como é o caso da nossa própria alma, o juízo, a energia, etc. Estas e outras coisas semelhantes não são vistas, mas a sua existência é aceita unanimemente.

Realmente, nem tudo se conhece directamente; há coisas que conhecemo-las indirectamente, pois, os seus efeitos são sentidos e conclui-se que existem.

Por exemplo, se carrego o peso que nenhum dos meus amigos o consegue, então eu deduzo que só o faço por ser mais forte que eles. Sente-se os raios do sol aqui na terra, então deduzimos que deve existir algo que permite a chegada dos seus raios aqui na terra, etc.

O nosso conhecimento sobre Deus também não é diferente disso, pois Ele é conhecido pelos Seus sinais e efeitos. Porque Ele é subtil, conhecemo-Lo não pelo nosso juízo directamente, mais indirectamente, através das Suas criações e efeitos. Razão pela qual não podemos conhecê-Lo inteiramente, pois só conhecemos os Seus atributos através da Revelação, e é por isso que o ser humano precisa da Revelação.

Nós podemos estabelecer através do argumento racional a existência de Deus, mas a informação completa e total sobre Deus, está fora do alcance humano; Deus não pode ser descrito excepto mencionando algum dos seus atributos.

Bacon diz: “Quando as ciências naturais são separadas, pouco a pouco elas dão a entender inicialmente que estão remotas de Deus. Mas, quando são estudadas em pormenores e examinadas profundamente, elas forçam-nos chegar ao conhecimento da existência de Deus e na sua crença.” (Christian Belief and Scince).

A existência de Deus também pode ser provada por intuição. O filósofo Francês Descretes, do século 16, na sua demonstração da existência de Deus, diz que:

“A existência de Deus é conhecida intuitivamente e por depender da explicação intuitiva não precisa de prova, nem de demonstração, basta só revelá-la e desenrolá-la.”

Ele diz ainda:

“Eu existo agora e sei que sou algo mutável; eu não sou a causa da minha existência, senão teria existido antes; eu não sou a causa das mudanças que caiem sobre mim, se fosse assim, ter-me-ia mudado para a melhor posição, eu não sustento a minha própria existência, se fosse assim, poderia subsistir (durar) para sempre. Os meus pais e os antepassados não causaram todos estes acontecimentos em mim, porque eles ocupavam a mesma posição que eu ocupo. Eu iniciei a minha vida na forma de uma criança desamparada, cresci chegando à juventude e tornei-me homem e depois ao declínio, na forma de um velho. Não são todos estes sentimentos e mudanças a caírem sobre mim, um sinal de que sou um ser mortal cuja origem, deve ser imortal e a alma eterna?” (Evolution theory and christian belief – the unresolved conflict).

Will Herberg explica a existência de Deus de uma outra forma. Ele diz:

“Se a palavra ‘DEUS’ tem de ter alguma relação aos nossos problemas, temos que reconhecer que Deus não é algo cuja existência possa ser estabelecida por um simples expediente ao empurrar uma investigação científica, ou avançando um bocadinho mais com especulação metafísica. A própria tentativa de fazer isso é um erro e uma iniciativa ilusória, pois no fundo isso trata de Deus como qualquer outro objecto do mundo, não corno um objecto transcendente que não pode ser encerrado no material de experiência; a mesma coisa pode ser dita sobre a tentativa de deduzir Deus da História ou de dentro dos fundos da consciência humana onde, afinal reflectem as nossas próprias confusões e limitações. Deus cria e sustenta toda a natureza. ” (Will Herberg: Four Existentialist Thinker`s).

Não há dúvida que Deus existe, sentimos a Sua existência, mas uma vez que está fora do nosso alcance mental, descrevê-Lo, temos que nos basear nas Revelações Divinas onde o próprio Deus nos diz quais são as Suas qualidades e atributos.

O Alcorão Sagrado, por sua parte, dá-nos provas da existência de Deus, concentrado a maior parte dos seus argumentos em 5 tópicos:

  1. Evidência (prova) da experiência íntima da humanidade;
  2. Revelação Divina ao Homem;
  3. Modelo universal da moral humana;
  4. Doutrina da criação do Universo;
  5. Argumento cosmológico.

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Colocando juntas todas essas evidências, o ser humano, por mais ateu que seja, chegará à conclusão de que existem bases razoáveis para se acreditar que há uma personalidade e força através do Universo que controla tudo isto, e essa personalidade é denominada ‘Deus’ pelos Muçulmanos (os submissos à Vontede de Deus).

Assim, o Muçulmano em primeiro lugar deduz a existência de Deus de dentro de si próprio e da natureza em geral, porque, Deus diz no Alcorão Sagrado:

“Na criação dos céus e da terra e na alternância do dia e da noite há sinais para os sensatos. ” (Alcorão Sagrado, 3:190).

E diz:

“E também (os há) em vós mesmos. Não vedes, acaso? ” (Alcorão Sagrado, 51:21) .

Não há dúvida que Deus existe, e é Único; não há nada nem ninguém igual a Ele nos seus Atributos e na sua Essência. O Islão não lança a mentalidade humana para aquilo que ela não tem capacidade de perceber. O Islão está apenas a dirigir a atenção do ser humano para os factos, que ele próprio pode descobrir se estiver seriamente interessado no uso do seu poder de pensar. Há muitos versículos no Alcorão Sagrado que nos dão provas positivas da existência de Deus, o Único.

Diz Deus no Alcorão Sagrado:

“Porventura, não foram eles criados do nada, ou são eles os criadores? Ou criaram, acaso, os céus e a terra? Qual! Não se persuadirão! ” (Alcorão Sagrado, 52:35 e 36).

O Alcorão Sagrado explica que para todas as coisas assim como para o Homem, que tem início no tempo, só há três possibilidades para a sua existência. Três maneiras de explicar como isso apareceu:

  1. Aparecer a partir do nada;
  2. Ser criador de si próprio;
  3. Ter um criador fora de si próprio.

A terceira possibilidade não está mencionada no versículo acima citado, mas deduz-se, uma vez que o versículo foi dirigido, às pessoas que recusavam, a existência do Criador, e diz-lhes que, se não existe um Criador então só restam aquelas duas possibilidades.

1º- Ter sido criado do nada, isto é, ter aparecido sozinho ou ser criador de si próprio… É inconcebível algo aparecer a partir do nada.

Achamos oportuno mencionar aqui um debate ocorrido entre o Imame Abu Hanifa e um ateu que dizia que tudo apareceu sozinho.

O tópico do debate era “provar a existência do Criador”.

Marcada a hora e o local, muita gente se juntou para assistir o debate. O ateu apareceu à hora marcada, porém o Imame atrasou-se. O ateu furioso com a demora do Imame quis saber qual tinha sido o motivo do atraso. O Imame justificou-se, dizendo: Eu vivo na outra margem do rio. Estava lá a espera do transporte a fim de aqui chegar, contudo não apareceu nenhum. Entretanto, para o meu espanto, vi árvores da margem do rio a cortarem-se sozinhas e a transformarem-se em barrotes que se juntaram sozinhos e pregos apareceram a pregarem-se sozinhos nos barrotes, transformando-se num barco. Em tão pouco tempo o barco estava pronto e sozinho começou a movimentar-se na minha direcção, tendo parado à minha frente. Entrei nele, sem ninguém o pilotar começou a andar, até que cheguei a este lado do rio e só assim foi possível eu chegar até aqui.

O ateu, furioso, disse: “Vens atrasado e ainda contas histórias que nem uma criança aceita; como é que os barrotes sozinhos transformaram-se em barco? Isso é uma loucura, é impossível!”

O Imame retorquiu: “Ora se isso é impossível como é que este Universo tão grande, com toda a sua perfeição, sozinhos, sem que ninguém o causasse, tornou-se num Universo? Assim, o nosso debate já terminou”.

Tijolos, cimento e água não podem juntar-se sozinhos transformando-se em casa e nenhuma outra coisa no mundo pode transformar-se naquilo que ela é sozinha. Tem de haver alguém para o fazer. Como é que este mundo e nós todos aparecemos sozinhos? Isto não tem lógica.

2º- É ainda mais inconcebível que seja criador de si próprio. Se a pessoa fosse criadora de si própria, teria opção na escolha do seu sexo, cor, estatura, etc… Mas é sabido que isso não está no seu poder e mesmo agora, depois de criado não tem poder criativo sobre si próprio; por exemplo: a função do seu sistema digestivo, coração, os órgãos todos, não estão no seu poder, não pode evitar a queda dos cabelos, dentes, velhice, fraqueza, a morte, etc… .

Por conseguinte, a única conclusão é que deve haver um Criador. E, esse Criador é Deus, que cria e controla tudo. Uma vez provado que tudo foi criado por Deus, a Ele temos que adorar exclusivamente e somente a Ele servir e é isso que se chama em arábico Tauhid (Unicidade de Deus).

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Abu Bakr (r.a.) – O Primeiro Califa [632-634]

“Se eu tivesse que escolher um amigo que não o meu Senhor, teria preferido Abu Bakr” – Um dito do Profeta Muhammad (s.a.w.).

O companheiro mais chegado do Profeta, Abu Bakr (r.a.), não se encontrava presente quando o Profeta Muhammad (s.a.w.) agonizava no lar da sua esposa Aicha (r.a.), filha de Abu Bakr. Quando tomou conhecimento do falecimento do Profeta, Abu Bakr apressou-se a caminho da casa onde se encontrava o corpo do Profeta (s.a.w.).

“Quão abençoada foi a tua vida, e quão beautificada é a tua morte”, murmurou ao beijar a face do seu amigo e mestre, que já não o era mais.

Quando Abu Bakr saíu do lar do Profeta, encontrou a Comunidade dos Muçulmanos em Medina reagindo com incredulidade e consternação. Muhammad (s.a.w.) tinha sido o chefe, o guia e o portador da Revelação Divina, atra- vés da qual eles tinham passado da idolatria e barbárie para o caminho de Deus. Como é que ele podia morrer? Até Umar (r.a.), um dos mais bravos e fortes dos companheiros do Profeta, perdeu a sua compostura, levantou a sua espada e ameaçou matar qualquer um que afirmasse estar o Profeta morto. Abu Bakr, com cuidado, puxou-o de lado. Subiu os degraus do púlpito na Mesquita e dirigiu-se ao povo dizendo:

“Ó povo! Se de entre vós há alguém que adorava Muhammad, sabei que ele está morto. Todavia, se era a Deus que adoráveis, sabei que Ele vive eternamente”.

E depois concluíu com um versículo do Alcorão:

“E Muhammad não é mais do que um Mensageiro; muitos foram os Mensageiros que vieram antes dele. Se ele, porventura, morresse ou fosse morto, vós voltaríeis atrás (à incredulidade)?” (3:144).

Ao ouvir estas palavras o povo ficou consolado. O desânimo deu lugar à confiança e tranquilidade. O momento crítico já tinha passado. Mas, agora, a Comunidade Muçulmana estava perante um problema extremamente sério: o da escolha do chefe. Após alguma discussão entre os companheiros do Profeta, que se tinham reunido para seleccionar um chefe, tornou-se cla- ro que era Abu Bakr (r.a.) quem, melhor que ninguém, detinha requisitos para tal responsabilidade.

A Vida de Abu Bakr

Abu Bakr (“O Pai dos Camelos”) não era o seu verdadeiro nome. Ele obteve este nome mais tarde, devido ao seu grande interesse na criação de camelos. O seu verdadeiro nome era Abdul Ka’aba (“Servo da Ka’aba”), nome esse que Muhammad (s.a.w.), mais tarde, mudou para Abdullah (“Servo de Allah”). O Profeta (s.a.w.) conferiu-lhe, igualmente, o título de “Siddiq” (A Testemunha para a Verdade).

Abu Bakr era um comerciante bastante rico, e antes de abraçar ao Islão, ele já era um res- peitado cidadão de Meca (ár. Makkah). Era três anos mais novo que Muhammad (s.a.w.) e uma certa afinidade natural aproximou-os desde tenra idade. Permaneceu como companheiro mais íntimo de Muhammad (s.a.w.), durante toda a vida do Profeta. Quando este convidou, a princípio, os seus amigos e parentes mais chegados a adoptarem o Islão, Abu Bakr (r.a.) contava-se entre os que primeiro o fizeram. Ele conseguiu, igualmente, persuadir Uthman e Bilal a aceitarem o Islão. Nos primeiros tempos da missão do Profeta, quando um punhado de muçulmanos foi submetido à perseguição e tortura impiedosas, Abu Bakr (r.a.) demonstrou-lhe toda a sua solidariedade, em relação a tal injustiça. Finalmente, quando chegou a permissão de Deus para emigrar de Meca, ele foi o escolhido pelo Profeta para o acompanhar na perigosa viagem até a Medina. Nas numerosas batalhas que tiveram lugar durante a vida do Profeta (s.a.w.), Abu Bakr (r.a.) esteve sempre ao seu lado. Uma vez, ele trouxe todos os seus haveres até ao Profeta, que estava a juntar dinheiro para a defesa de Medina. O Profeta perguntou: “Abu Bakr, o que é que deixaste à tua família?” E ele respondeu: “Deus e o seu Profeta”.

Mesmo antes do Islão, Abu Bakr era conhecido como sendo um homem de carácter recto, de natureza misericordiosa e amável. Durante toda a sua vida, ele foi sensível ao sofrimento humano; foi amável e prestativo para com os pobres. Se bem que rico, ele vivia de uma forma simples, gastando o seu dinheiro na caridade, na libertação de escravos e pela causa do Islão; passava, frequentemente, grande parte da noite em suplicações e orações, e compartilhava com a sua família uma vida alegre e afável.

O Califado de Abu Bakr

Tal era o homem sobre o qual recaíu o pesado fardo da liderança, no período mais difícil da História dos Muçulmanos.

Assim que a notícia sobre a morte do Profeta se espalhou, um certo número de tribos rebelou-se e recusou-se a pagar a Zakat (taxa fixada, devida sobre os valores dos bens, que é paga, obrigatoriamente, pelos abastados para distribuir pelos pobres), justificando essa atitude dizendo que tal obrigação era somente de- vida ao Profeta (que a paz esteja com ele). Ao mesmo tempo, um determinado número de impostores pretendeu ter-lhes sido transmitido o capelo de Profeta após o desaparecimento de Muhammad (s.a.w.), e desenvolveram o protótipo da revolta. A juntar a tudo isto, dois poderosos impérios, o Romano Oriental e o Persa, ameaçavam igualmente o recém-nascido Estado Islâmico, em Medina (ár. Madinah). Dentro destas circunstâncias, muitos dos Companheiros do Profeta, incluíndo Umar (r.a.), aconselharam Abu Bakr (r.a.) a fazer concessões aos que se recusavam a pagar a Zakat, pelo menos durante algum tempo. O Califa Abu Bakr (r.a.) discordou. Insistiu que a Lei Divina não deve ser dividida, que não existe distinção entre a obrigação da Zakat e a da Salat (oração), e que qualquer tipo de compromisso com as injunções de Deus deveriam, eventualmente, corroer os fundamentos do Islão. Rapidamente Umar e os outros aperceberam-se do seu erro de juízo. As tribos revoltosas atacaram Medina, mas os Muçulmanos estavam preparados para tal. O próprio Abu Bakr (r.a.) dirigiu a defesa, forçando-os a recuar. Então, resolveu levar a cabo uma guerra implacável com os falsos pretendentes do capelo do Profeta. Muitos destes submeterem-se, e mais uma vez professaram o Islão. Na realidade a ameaça proveniente do Império Romano surgiu muito antes, durante a vida do Profeta Muhammad (s.a.w.). Este organizara um exército sob o comando de Usa- ma, filho de um escravo libertado. O exército não tinha ido muito longe quando o Profeta adoeceu e, por isso, resolveram parar. Após a morte do Profeta (s.a.w.), a questão relacionou-se com o facto de se dever enviar o exército novamente, ou se este deveria permanecer para a defesa de Medina. Uma vez mais, Abu Bakr (r.a.) demonstrou firme determinação, ao afirmar:

“Enviarei o exército de Usama como ordenou o Profeta, mesmo que eu fique sózinho”.

As instruções finais que deu a Usama prescrevem um código de conduta na guerra, que continuou actual até aos nossos dias. Uma parte das suas instruções dirigidas aos Muçulmanos era:

“Não sejam desertores, nem acusados de desobediência. Não matem um idoso, uma mulher ou uma criança. Não derrubem palmeiras, nem árvores de fruto. Não abatam carneiros, vacas ou camelos se não for para comer. Encontrareis pessoas que passam as suas vidas em mosteiros; deixem-nas em paz e não as molestem”.

Khalid bin Walid fora escolhido pelo Profeta (que a paz esteja com ele) para comandar os Muçulmanos em muitas ocasiões. Homem de suprema coragem e um comandante nato, o seu génio militar floresceu durante o Califado de Abu Bakr, período em que dirigiu as suas tropas de uma vitória para outra, contra os ataques dos Romanos.

Uma outra das contribuições do Califa Abu Bakr (r.a.) diz respeito à recolha e compilação dos versículos do Alcorão.

Abu Bakr morreu no dia 21 de Jamad’al A-khir, do ano 13 da Hégira (23 de Agosto de 634), com a idade de 63 anos, sendo enterrado ao lado do Profeta (s.a.w.). O seu Califado teve uma duração de apenas 27 meses. No entanto, durante este curto tempo, Abu Bakr esforçou-se, com a Graça de Deus, por fortalecer e consolidar a sua Comunidade e o Estado, assim como proteger os Muçulmanos contra os perigos que ameaçaram a sua existência.

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Um Deus, muitos nomes

No tumulto dos acontecimentos actuais e da discussão acerca do embate civilizacional, as pessoas querem, muitas vezes, perceber o que veneram os muçulmanos.

Muitos juDeus, cristãos e muçulmanos acertadamente declaram que as suas respectivas religiões invocam o Deus de Abraão, paz esteja com ele, mas muitos são os indivíduos da direita religiosa americana que fazem questão de negar esta base comum. Para Pat Robertson, membro da Aliança Cristã, os problemas a nível mundial giram em torno do facto de Hubal, o Deus da lua de Me-ca, conhecido como Allah, (1) ser ou não o Deus Supremo, ou se essa entidade suprema é antes o judaico-cristão Jehovah, o Deus da Bíblia. O filho de Billy Graham, Franklin Graham, o proeminente evangelista que dirigiu a invocação na tomada de posse presencial de George W. Bush em 2001, insiste que muçulmanos e cristãos não veneram o mesmo Deus.

No mesmo sentido, William Boykin, um general de topo do Pentágono, atraiu a atenção a nível internacional ao afirmar que o “seu Deus” era o Deus verdadeiro, sendo um Deus maior que o Deus muçulmano, que considerou não ser mais do que um “ídolo”. Estas foram, sem dúvida, afirmações provocatórias; no entanto, a administração Bush-Cheney optou por não responsabilizar o seu autor. (2)

Que Allah e o Deus bíblico são idênticos é um facto evidente, uma vez tida a etimologia da própria Bíblia. (3)

De acordo com o ponto de vista da teologia Islâmica e da história da salvação (4), é simplesmente inaceitável considerar que o Deus da Bíblia e o Deus do Alcorão são outra que não a mesma entidade, ainda que nos últimos anos muitos muçulmanos falantes da língua portuguesa tenham desenvolvido o preconceito de evitar o uso da palavra “Deus”, partindo da falsa pretensão de que a palavra árabe “Allah” possui uma garantia linguística de autenticidade teológica.

Não é apenas na Bíblia e no Alcorão, nem em outro qualquer credo religioso ou grupo de homens, que se apresentam nomes belos para Deus. As línguas semíticas, como o hebreu, o aramaico e o árabe, possuem ricos glossários de nomes divinos; no entanto, aqueles que os invocaram nunca tiveram o monopólio sobre Deus.

A um nível mais fundamental, toda a humanidade partilha o legado do conhecimento do Ser Supremo e a capacidade de Lhe atribuir nomes, o que, de acordo com a perspectiva Islâmica, reflecte o conhecimento inato que a humanidade tem de Deus, apoiada no seu remoto e primi-tivo legado de profecia universal.

Quanto à palavra portuguesa “Deus”, a inglesa “God”, a francesa “Dieu”, etc., ela mantém as suas raízes primordiais, pertencendo ao tesouro dos antigos nomes divinos, sendo uma das designações mais expressivas para o Ser Supremo. A continuada relutância revelada por alguns muçulmanos falantes de língua portuguesa e inglesa em integrar a palavra “Deus” ou “God” serve apenas para reforçar a carência de fundamentos das suas reivindicações religiosas. É premente que os muçulmanos falantes da língua portuguesa comuniquem de forma coerente e a integração da palavra “Deus” é um passo importante para se alcançar esse objectivo.

NOTAS:

1. Tal como é exposto mais a frente, Hubal não tinha qualquer relação de carácter histórico ou teológico com Allah.

2. Estas referências estão disponíveis e são de fácil acesso na Internet. No entanto, sinto-me obrigado a mencionar um excelente editorial do jornal New York Times (de 28 de Janeiro de 2004), da autoria de John Kearney, tendo sido escrito por ocasião da peregrinação muçulmana a Meca, um ritual islâmico intimamente relacionado com Abraão. John Kearney censurou a recusa da direita religiosa em aceitar o facto de a crença Abraâmica do Deus Bíblico ser comum ao Islão e a depreciação que o mesmo movimento faz relativamente à teologia muçulmana, insistindo que esse tipo de obscurantismo era perigoso e imperdoável.

3. A etimologia é o estudo da história linguística das palavras, investigando o seu desenvolvimento numa determinada língua, recorrendo com frequência à comparação entre cognatos em línguas e dialectos relacionados. As palavras semíticas Allah (Deus no Alcorão), Elo-him (Deus do Antigo Testamento) e Allah (Deus do aramaico/ síriaco no Novo Testamento) são cognatos etimológicos, tal como o editorial de John Kearney salientou e é demonstrado mais a frente.

4. Utilizo a expressão “história da salvação” para me referir à concepção religiosa da forma como Deus traz a salvação no decurso da história da humanidade. Para os juDeus, a história da salvação centra-se nas ramificações do pacto especial de Deus com os Filhos de Israel. Na teologia cristã, a história da salvação culmina com a crucificação de Cristo. A história da salvação de acordo com a pers-pectiva muçulmana afirma-se pela crença na primordial mensagem da profecia universal, culminando na actividade de Muhammad como Profeta, explicando e justificando tudo aquilo que aconteceu antes.

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A existência de Deus (Poema)

Por: Inês da Costa (18/05/09)

Quantos sinais da existência de Deus?
Tantos que não podemos contar.
Reflectindo nas maravilhas deste mundo
Sua existência tenho que afirmar.

Quem já viu o vento?
Não o vimos, mas o notamos passar.
Árvores provam a sua existência
quando este as faz abanar.

Quem cria as flores como são?
Sua beleza, perfume;
material, leis naturais?
Qual o humano que consegue?
Não é isso um dos sinais?

Quem faz a árvore brotar duma pequenina semente?
Quem cria seus frutos deliciososv que rejuvenescem o corpo e a mente?

Quem cria as abelhas,
as ensina a trabalhar;
cooperando na reprodução
e na fabricação de seu mel?
Questiono tambem sobre as formigas,
seu trabalho, organização e papel.

Tartarugas bebes
saem de seus ovos enterrados na areia.
Sem suas mães se dirigem ao mar.
Quem as guia rumo a essa meta?
Algum humano as ensinou tal?

O constante pulsar de um coração.
Cérebro mais elaborado que o computador,
em segundos processa tanta informação.
Dentro de nós estas maquinas reais!
Glóbulos vermelhos transportando oxigênio.
Comida que se transforma em sangue
e muito mais!

As ondas do mar.
Os ciclos da agua.
A chuva que apaga nossa sede e enriquece a vegetação.
Lindos jardins decorando a terra.
Plantas que aos seres vivos sustentam.
O amor que imana de cada coração.
Uma criança desenvolvendo-se no ventre materno.
Uma teia de aranha.
Um animal selvagem ensinando seus filhos a caçar.
Leite nutricioso que animais fornecem.
Uma ave cantando ou voando.
Nos humanos e animais, o instinto maternal.
Tanto para ponderar!

Quem criou os planetas;
as estrelas, incluindo o sol que nos ilumina?
Quem criou as leis harmoniosas a que obedecem
e tantas maravilhas no mundo que nos fascinam?

A Ciência cada vez mais
para a crença em Sua existência vai chamando.
Os sinais são demasiados…
Seria incompatível eu ficar negando.

Oh! Tanto, tanto
eu poderia mencionar.
Sei que muito não consigo
e nunca tudo poderei desvendar.
Os sinais que noto são mais que suficientes… Sou feliz, porque DEUS EXISTE
E PARA ELE VAMOS VOLTAR!