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Abu Bakr (r.a.) – O Primeiro Califa [632-634]

“Se eu tivesse que escolher um amigo que não o meu Senhor, teria preferido Abu Bakr” – Um dito do Profeta Muhammad (s.a.w.).

O companheiro mais chegado do Profeta, Abu Bakr (r.a.), não se encontrava presente quando o Profeta Muhammad (s.a.w.) agonizava no lar da sua esposa Aicha (r.a.), filha de Abu Bakr. Quando tomou conhecimento do falecimento do Profeta, Abu Bakr apressou-se a caminho da casa onde se encontrava o corpo do Profeta (s.a.w.).

“Quão abençoada foi a tua vida, e quão beautificada é a tua morte”, murmurou ao beijar a face do seu amigo e mestre, que já não o era mais.

Quando Abu Bakr saíu do lar do Profeta, encontrou a Comunidade dos Muçulmanos em Medina reagindo com incredulidade e consternação. Muhammad (s.a.w.) tinha sido o chefe, o guia e o portador da Revelação Divina, atra- vés da qual eles tinham passado da idolatria e barbárie para o caminho de Deus. Como é que ele podia morrer? Até Umar (r.a.), um dos mais bravos e fortes dos companheiros do Profeta, perdeu a sua compostura, levantou a sua espada e ameaçou matar qualquer um que afirmasse estar o Profeta morto. Abu Bakr, com cuidado, puxou-o de lado. Subiu os degraus do púlpito na Mesquita e dirigiu-se ao povo dizendo:

“Ó povo! Se de entre vós há alguém que adorava Muhammad, sabei que ele está morto. Todavia, se era a Deus que adoráveis, sabei que Ele vive eternamente”.

E depois concluíu com um versículo do Alcorão:

“E Muhammad não é mais do que um Mensageiro; muitos foram os Mensageiros que vieram antes dele. Se ele, porventura, morresse ou fosse morto, vós voltaríeis atrás (à incredulidade)?” (3:144).

Ao ouvir estas palavras o povo ficou consolado. O desânimo deu lugar à confiança e tranquilidade. O momento crítico já tinha passado. Mas, agora, a Comunidade Muçulmana estava perante um problema extremamente sério: o da escolha do chefe. Após alguma discussão entre os companheiros do Profeta, que se tinham reunido para seleccionar um chefe, tornou-se cla- ro que era Abu Bakr (r.a.) quem, melhor que ninguém, detinha requisitos para tal responsabilidade.

A Vida de Abu Bakr

Abu Bakr (“O Pai dos Camelos”) não era o seu verdadeiro nome. Ele obteve este nome mais tarde, devido ao seu grande interesse na criação de camelos. O seu verdadeiro nome era Abdul Ka’aba (“Servo da Ka’aba”), nome esse que Muhammad (s.a.w.), mais tarde, mudou para Abdullah (“Servo de Allah”). O Profeta (s.a.w.) conferiu-lhe, igualmente, o título de “Siddiq” (A Testemunha para a Verdade).

Abu Bakr era um comerciante bastante rico, e antes de abraçar ao Islão, ele já era um res- peitado cidadão de Meca (ár. Makkah). Era três anos mais novo que Muhammad (s.a.w.) e uma certa afinidade natural aproximou-os desde tenra idade. Permaneceu como companheiro mais íntimo de Muhammad (s.a.w.), durante toda a vida do Profeta. Quando este convidou, a princípio, os seus amigos e parentes mais chegados a adoptarem o Islão, Abu Bakr (r.a.) contava-se entre os que primeiro o fizeram. Ele conseguiu, igualmente, persuadir Uthman e Bilal a aceitarem o Islão. Nos primeiros tempos da missão do Profeta, quando um punhado de muçulmanos foi submetido à perseguição e tortura impiedosas, Abu Bakr (r.a.) demonstrou-lhe toda a sua solidariedade, em relação a tal injustiça. Finalmente, quando chegou a permissão de Deus para emigrar de Meca, ele foi o escolhido pelo Profeta para o acompanhar na perigosa viagem até a Medina. Nas numerosas batalhas que tiveram lugar durante a vida do Profeta (s.a.w.), Abu Bakr (r.a.) esteve sempre ao seu lado. Uma vez, ele trouxe todos os seus haveres até ao Profeta, que estava a juntar dinheiro para a defesa de Medina. O Profeta perguntou: “Abu Bakr, o que é que deixaste à tua família?” E ele respondeu: “Deus e o seu Profeta”.

Mesmo antes do Islão, Abu Bakr era conhecido como sendo um homem de carácter recto, de natureza misericordiosa e amável. Durante toda a sua vida, ele foi sensível ao sofrimento humano; foi amável e prestativo para com os pobres. Se bem que rico, ele vivia de uma forma simples, gastando o seu dinheiro na caridade, na libertação de escravos e pela causa do Islão; passava, frequentemente, grande parte da noite em suplicações e orações, e compartilhava com a sua família uma vida alegre e afável.

O Califado de Abu Bakr

Tal era o homem sobre o qual recaíu o pesado fardo da liderança, no período mais difícil da História dos Muçulmanos.

Assim que a notícia sobre a morte do Profeta se espalhou, um certo número de tribos rebelou-se e recusou-se a pagar a Zakat (taxa fixada, devida sobre os valores dos bens, que é paga, obrigatoriamente, pelos abastados para distribuir pelos pobres), justificando essa atitude dizendo que tal obrigação era somente de- vida ao Profeta (que a paz esteja com ele). Ao mesmo tempo, um determinado número de impostores pretendeu ter-lhes sido transmitido o capelo de Profeta após o desaparecimento de Muhammad (s.a.w.), e desenvolveram o protótipo da revolta. A juntar a tudo isto, dois poderosos impérios, o Romano Oriental e o Persa, ameaçavam igualmente o recém-nascido Estado Islâmico, em Medina (ár. Madinah). Dentro destas circunstâncias, muitos dos Companheiros do Profeta, incluíndo Umar (r.a.), aconselharam Abu Bakr (r.a.) a fazer concessões aos que se recusavam a pagar a Zakat, pelo menos durante algum tempo. O Califa Abu Bakr (r.a.) discordou. Insistiu que a Lei Divina não deve ser dividida, que não existe distinção entre a obrigação da Zakat e a da Salat (oração), e que qualquer tipo de compromisso com as injunções de Deus deveriam, eventualmente, corroer os fundamentos do Islão. Rapidamente Umar e os outros aperceberam-se do seu erro de juízo. As tribos revoltosas atacaram Medina, mas os Muçulmanos estavam preparados para tal. O próprio Abu Bakr (r.a.) dirigiu a defesa, forçando-os a recuar. Então, resolveu levar a cabo uma guerra implacável com os falsos pretendentes do capelo do Profeta. Muitos destes submeterem-se, e mais uma vez professaram o Islão. Na realidade a ameaça proveniente do Império Romano surgiu muito antes, durante a vida do Profeta Muhammad (s.a.w.). Este organizara um exército sob o comando de Usa- ma, filho de um escravo libertado. O exército não tinha ido muito longe quando o Profeta adoeceu e, por isso, resolveram parar. Após a morte do Profeta (s.a.w.), a questão relacionou-se com o facto de se dever enviar o exército novamente, ou se este deveria permanecer para a defesa de Medina. Uma vez mais, Abu Bakr (r.a.) demonstrou firme determinação, ao afirmar:

“Enviarei o exército de Usama como ordenou o Profeta, mesmo que eu fique sózinho”.

As instruções finais que deu a Usama prescrevem um código de conduta na guerra, que continuou actual até aos nossos dias. Uma parte das suas instruções dirigidas aos Muçulmanos era:

“Não sejam desertores, nem acusados de desobediência. Não matem um idoso, uma mulher ou uma criança. Não derrubem palmeiras, nem árvores de fruto. Não abatam carneiros, vacas ou camelos se não for para comer. Encontrareis pessoas que passam as suas vidas em mosteiros; deixem-nas em paz e não as molestem”.

Khalid bin Walid fora escolhido pelo Profeta (que a paz esteja com ele) para comandar os Muçulmanos em muitas ocasiões. Homem de suprema coragem e um comandante nato, o seu génio militar floresceu durante o Califado de Abu Bakr, período em que dirigiu as suas tropas de uma vitória para outra, contra os ataques dos Romanos.

Uma outra das contribuições do Califa Abu Bakr (r.a.) diz respeito à recolha e compilação dos versículos do Alcorão.

Abu Bakr morreu no dia 21 de Jamad’al A-khir, do ano 13 da Hégira (23 de Agosto de 634), com a idade de 63 anos, sendo enterrado ao lado do Profeta (s.a.w.). O seu Califado teve uma duração de apenas 27 meses. No entanto, durante este curto tempo, Abu Bakr esforçou-se, com a Graça de Deus, por fortalecer e consolidar a sua Comunidade e o Estado, assim como proteger os Muçulmanos contra os perigos que ameaçaram a sua existência.

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Um Deus, muitos nomes

No tumulto dos acontecimentos actuais e da discussão acerca do embate civilizacional, as pessoas querem, muitas vezes, perceber o que veneram os muçulmanos.

Muitos juDeus, cristãos e muçulmanos acertadamente declaram que as suas respectivas religiões invocam o Deus de Abraão, paz esteja com ele, mas muitos são os indivíduos da direita religiosa americana que fazem questão de negar esta base comum. Para Pat Robertson, membro da Aliança Cristã, os problemas a nível mundial giram em torno do facto de Hubal, o Deus da lua de Me-ca, conhecido como Allah, (1) ser ou não o Deus Supremo, ou se essa entidade suprema é antes o judaico-cristão Jehovah, o Deus da Bíblia. O filho de Billy Graham, Franklin Graham, o proeminente evangelista que dirigiu a invocação na tomada de posse presencial de George W. Bush em 2001, insiste que muçulmanos e cristãos não veneram o mesmo Deus.

No mesmo sentido, William Boykin, um general de topo do Pentágono, atraiu a atenção a nível internacional ao afirmar que o “seu Deus” era o Deus verdadeiro, sendo um Deus maior que o Deus muçulmano, que considerou não ser mais do que um “ídolo”. Estas foram, sem dúvida, afirmações provocatórias; no entanto, a administração Bush-Cheney optou por não responsabilizar o seu autor. (2)

Que Allah e o Deus bíblico são idênticos é um facto evidente, uma vez tida a etimologia da própria Bíblia. (3)

De acordo com o ponto de vista da teologia Islâmica e da história da salvação (4), é simplesmente inaceitável considerar que o Deus da Bíblia e o Deus do Alcorão são outra que não a mesma entidade, ainda que nos últimos anos muitos muçulmanos falantes da língua portuguesa tenham desenvolvido o preconceito de evitar o uso da palavra “Deus”, partindo da falsa pretensão de que a palavra árabe “Allah” possui uma garantia linguística de autenticidade teológica.

Não é apenas na Bíblia e no Alcorão, nem em outro qualquer credo religioso ou grupo de homens, que se apresentam nomes belos para Deus. As línguas semíticas, como o hebreu, o aramaico e o árabe, possuem ricos glossários de nomes divinos; no entanto, aqueles que os invocaram nunca tiveram o monopólio sobre Deus.

A um nível mais fundamental, toda a humanidade partilha o legado do conhecimento do Ser Supremo e a capacidade de Lhe atribuir nomes, o que, de acordo com a perspectiva Islâmica, reflecte o conhecimento inato que a humanidade tem de Deus, apoiada no seu remoto e primi-tivo legado de profecia universal.

Quanto à palavra portuguesa “Deus”, a inglesa “God”, a francesa “Dieu”, etc., ela mantém as suas raízes primordiais, pertencendo ao tesouro dos antigos nomes divinos, sendo uma das designações mais expressivas para o Ser Supremo. A continuada relutância revelada por alguns muçulmanos falantes de língua portuguesa e inglesa em integrar a palavra “Deus” ou “God” serve apenas para reforçar a carência de fundamentos das suas reivindicações religiosas. É premente que os muçulmanos falantes da língua portuguesa comuniquem de forma coerente e a integração da palavra “Deus” é um passo importante para se alcançar esse objectivo.

NOTAS:

1. Tal como é exposto mais a frente, Hubal não tinha qualquer relação de carácter histórico ou teológico com Allah.

2. Estas referências estão disponíveis e são de fácil acesso na Internet. No entanto, sinto-me obrigado a mencionar um excelente editorial do jornal New York Times (de 28 de Janeiro de 2004), da autoria de John Kearney, tendo sido escrito por ocasião da peregrinação muçulmana a Meca, um ritual islâmico intimamente relacionado com Abraão. John Kearney censurou a recusa da direita religiosa em aceitar o facto de a crença Abraâmica do Deus Bíblico ser comum ao Islão e a depreciação que o mesmo movimento faz relativamente à teologia muçulmana, insistindo que esse tipo de obscurantismo era perigoso e imperdoável.

3. A etimologia é o estudo da história linguística das palavras, investigando o seu desenvolvimento numa determinada língua, recorrendo com frequência à comparação entre cognatos em línguas e dialectos relacionados. As palavras semíticas Allah (Deus no Alcorão), Elo-him (Deus do Antigo Testamento) e Allah (Deus do aramaico/ síriaco no Novo Testamento) são cognatos etimológicos, tal como o editorial de John Kearney salientou e é demonstrado mais a frente.

4. Utilizo a expressão “história da salvação” para me referir à concepção religiosa da forma como Deus traz a salvação no decurso da história da humanidade. Para os juDeus, a história da salvação centra-se nas ramificações do pacto especial de Deus com os Filhos de Israel. Na teologia cristã, a história da salvação culmina com a crucificação de Cristo. A história da salvação de acordo com a pers-pectiva muçulmana afirma-se pela crença na primordial mensagem da profecia universal, culminando na actividade de Muhammad como Profeta, explicando e justificando tudo aquilo que aconteceu antes.

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A existência de Deus (Poema)

Por: Inês da Costa (18/05/09)

Quantos sinais da existência de Deus?
Tantos que não podemos contar.
Reflectindo nas maravilhas deste mundo
Sua existência tenho que afirmar.

Quem já viu o vento?
Não o vimos, mas o notamos passar.
Árvores provam a sua existência
quando este as faz abanar.

Quem cria as flores como são?
Sua beleza, perfume;
material, leis naturais?
Qual o humano que consegue?
Não é isso um dos sinais?

Quem faz a árvore brotar duma pequenina semente?
Quem cria seus frutos deliciososv que rejuvenescem o corpo e a mente?

Quem cria as abelhas,
as ensina a trabalhar;
cooperando na reprodução
e na fabricação de seu mel?
Questiono tambem sobre as formigas,
seu trabalho, organização e papel.

Tartarugas bebes
saem de seus ovos enterrados na areia.
Sem suas mães se dirigem ao mar.
Quem as guia rumo a essa meta?
Algum humano as ensinou tal?

O constante pulsar de um coração.
Cérebro mais elaborado que o computador,
em segundos processa tanta informação.
Dentro de nós estas maquinas reais!
Glóbulos vermelhos transportando oxigênio.
Comida que se transforma em sangue
e muito mais!

As ondas do mar.
Os ciclos da agua.
A chuva que apaga nossa sede e enriquece a vegetação.
Lindos jardins decorando a terra.
Plantas que aos seres vivos sustentam.
O amor que imana de cada coração.
Uma criança desenvolvendo-se no ventre materno.
Uma teia de aranha.
Um animal selvagem ensinando seus filhos a caçar.
Leite nutricioso que animais fornecem.
Uma ave cantando ou voando.
Nos humanos e animais, o instinto maternal.
Tanto para ponderar!

Quem criou os planetas;
as estrelas, incluindo o sol que nos ilumina?
Quem criou as leis harmoniosas a que obedecem
e tantas maravilhas no mundo que nos fascinam?

A Ciência cada vez mais
para a crença em Sua existência vai chamando.
Os sinais são demasiados…
Seria incompatível eu ficar negando.

Oh! Tanto, tanto
eu poderia mencionar.
Sei que muito não consigo
e nunca tudo poderei desvendar.
Os sinais que noto são mais que suficientes… Sou feliz, porque DEUS EXISTE
E PARA ELE VAMOS VOLTAR!

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Al-Mawlid Annabawi – O Nascimento do Selo dos Profetas

Por: M.Yiossuf Adamgy

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

é com imensa alegria que recebemos a celebração do nascimento do Profeta (s.a.w.), facto comummente designado por Al-Mawlid Annabawi.

Desde há séculos que os Muçulmanos celebram o nascimento do Profeta Muhammad (s.a.w.), o último Mensageiro do Islão, em quase todos os países do Mundo. Este é para eles um acontecimento de extrema importância; trata-se do momento precioso para invocar a vida e o comportamento maravilhosos deste feliz eleito de Deus. (1) Para além disso, muitos são os Muçulmanos que aproveitam a altura para renovar o seu pacto, o seu amor e a sua visão relativamente ao Profeta (s.a.w.) e à sua Suna.(2) O amor do Profeta (s.a.w.) não faz senão que aumentar o regresso à religião, que é detectável a olho nu por todos os observadores.

Para nós, ricos em experiências são os acontecimentos relativos ao seu nascimento, ao seu contexto familiar e à sua primeira infância, e dos quais apresentamos a seguir um breve resumo.

O ANO DO ELEFANTE

O elefante ajoelhou-se, recusando-se a avançar. Abrahah, chefe de um exército temível e furioso, construíra uma enorme Igreja em Sanaa no Iémen, e vinha agora para destruir a Santa Ka’aba de Meca, na ideia de edificar uma nova Ka’aba. Subitamente, um bando de pássaros enviados por Deus aparece e atira-lhes pedras,(3) que os trespassam como setas, fazendo-os tombar. O acontecimento desta viagem do elefante chama a nossa atenção para a nobreza da Ka’aba, a Casa de Deus, ocorrência, essa, que teve lugar cerca de cinquenta dias antes do nascimento do Profeta (s.a.w.).

A GENEALOGIA DO PROFETA (S.A.W.)

Muhammad (s.a.w.) nasceu em Meca, na manhã de uma segunda-feira, décimo segundo dia do mês de Rabi’-Al-Awwal,(4) por volta de 571 D.C., filho de Abdallah e de Aminah bint Wahb.(5) Era membro da tribo dos Banou Hachim, cujas raízes provinham da linhagem dos Árabes Adnan. Assim sendo, tratava-se de uma família nobre de Meca em primeiro grau.

A sua genealogia, conforme rezam as crónicas, (6) é a seguinte: Muhammad é o enviado de Deus, sendo filho de Abdallah, filho de Abdelmottalib, filho de Hachim, filho de Koussaie, filho de Kilab, filho de Mourrah, filho de Kaab, filho de Louae, da linhagem de Ismael, filho de Abraão, servo devoto de Deus.

Por conseguinte, a sua árvore genealógica é pura, não conspurcada por qualquer acto de incesto ou adultério (7).

Abdallah, pai de Muhammad (s.a.w.), era famoso pela sua pureza e bons hábitos. Faleceu, estava a sua esposa grávida, aquando de uma viagem de negócios a Medina (8).

O NASCIMENTO DA LUZ BRILHANTE

Quando Aminah bint Wahb deu à luz, Abdelmot- talib, avô do Profeta (s.a.w.), encheu-se de alegria, tendo celebrado o seu nascimento. O nome por ele escolhido foi “Muhammad”.

“Espero, disse Abdelmottalib, pela graça de Deus, que ele seja louvado e glorificado no Céu por este nome, e que o seja também na Terra” (9)

A mãe do Profeta (s.a.w.) não sentiu quaisquer dores de parto e ele nasceu já circuncidado. Os Anjos lavaram-no de toda a mácula e marcaram-no nas costas, entre os ombros, com o selo da profecia.

Nesse mesmo instante, uma luz brilhante iluminou todas as regiões circundantes, o fogo sagrado dos Persas, acesso desde há mil anos, apagou-se, como que por encanto.

A PRIMEIRA INFÂNCIA E A FENDA NO SEU PEITO

Os primeiros anos de vida do Profeta (s.a.w.) foram passados ao lado da mãe, Aminah. Era hábito entre os habitantes de Meca confiarem as crianças de tenra idade a amas beduínas. No entanto, visto tratar–se de uma criança órfã e de poucas posses, ama alguma pretendia cuidar dele. Por não pretenderem regressar de mãos vazias, Halima e o seu marido aceitaram ficar com o bebé.

“Aceitamo-lo! Talvez Deus nos abençoe e a Sua bênção regresse à nossa tenda.” (10)

De facto, a prosperidade não mais abandonou a tenda deste casal.

Consciente desta bênção e dois anos após ter aceite cuidar de Muhammad (s.a.w.), Halima suplicou à mãe dele, Aminah, a qual pretendia o filho de volta, para que o deixasse ficar por mais alguns anos. Foi nesta altura, e antes de Muhammad (s.a.w.) ter completado o seu terceiro ano de vida, que ocorreu um incidente deveras importante. Um dia, um irmão de leite do Profeta (s.a.w.), muito assustado, correu para junto dos pais e informou-os que pessoas vestidas de branco tinham agarrado Muhammad (s.a.w.), o tinham deitado no chão e aberto o seu peito. Os pais correram para junto do Profeta (s.a.w.) e encon- traram-no pálido e com os olhos fixos no Céu. Questionado sobre o que sucedera, ele disse-lhes que dois homens vindos do Céu abriram-lhe o peito, retira- ram-lhe o coração, removeram um coágulo negro (a parte pertencente a Satanás) e tornaram a meter-lhe o coração no peito, depois de o ter lavado com a água de Zamzam (11), da qual sentia ainda a frescura (12).

Halima ficou de tal forma assustada, que entregou a criança à mãe.

Aos seis anos, Muhammad (s.a.w.) ficou órfão de mãe, falecida no caminho de regresso após ter visitado o túmulo do marido, Abdallah, nas proximidades de Medina. A tutela da criança passou, então, para o benevolente avô. Mais tarde, aos oito anos, Muhammad (s.a.w.) perderia o avô e passaria a estar sob a tutela do tio, Abou Taleb, com o qual trabalhava como pastor de modo a contribuir para o magro orçamento familiar.

Maravilhoso é este relato, ainda que breve, e feliz é aquele que souber beneficiar por sentir com o coração, a palavra e o gesto o seu amor para com o Profeta (s.a.w.).

AMAR E SEGUIR SIMPATICAMENTE O PROFETA (S.A.W.)

Toda a comunidade Muçulmana (a Ummah) honra o Profeta (s.a.w.) e sente por ele um respeito imenso.

Todo o Muçulmano carrega no seu coração e no seu espírito uma parcela não negligenciável deste amor para com a pessoa do Profeta (s.a.w.), deste afecto, e guarda na memória várias recitações das suas sábias palavras ou de episódios da sua vida.

Os eruditos, pela sua ciência e pelo seu envolvimento na Escritura, contribuíram para a redacção da história da sua vida (13), para a compilação dos seus Hadices e, inclusive, para a consagração de poemas em seu louvor. Não lhes escapou pormenor algum da vida do Profeta (s.a.w.) e nem personalidade alguma da história humana retém tanta atenção ou “historicidade”, tanto amor e tanto acompanhamento. Ao longo dos séculos, os Muçulmanos têm recitado o Alcorão e ensinado aos seus filhos a vida do Profeta Muhammad (s.a.w.), tal como também eles a aprenderam.

é dever de todo o Muçulmano expressar este amor; de facto, é esta a melhor forma de aceder à transcendência. Se a companhia efectiva lhe falta, a companhia espiritual (a Sohba) (14) está sempre disponível, de dia e de noite, e isto até ao fim da vida na Terra. Muçulmano algum sentirá cansaço por relatar a sua vida ou as suas “máximas” sábias e inigualáveis que, para além do mais, revelam tratar-se de um Enviado de Deus.

Meditemos neste Hadice, da mais alta importância, esquecido nas compilações de Ahadices, e que resume o respeito e a afeição que devemos ter para com esta pessoa, que eu classificaria de “pureza universal”.

O Profeta (s.a.w.) disse: “Quando verei eu os meus irmãos?”. Não somos nós teus irmãos? “Vós sois os meus Companheiros e os meus irmãos são aqueles que acreditam em mim sem nunca me terem visto.” (15).

O Profeta (s.a.w.) encarna a Mensagem que transmitiu à Humanidade para a retirar das trevas, em direcção à luz (16). Deus quis que o Seu Enviado encarregue desta missão fosse um homem detentor das mais elevadas qualidades. O Mensageiro permanece, no entanto, um ser humano, pelo que é, e em todas as circunstâncias da sua vida, um modelo. Em todo o caso, não devemos privarmo-nos desta fonte inesgotável, pois isso seria uma perda.

Para além do mais, o espaço de que aqui dispomos é demasiado pequeno para uma personagem tão grandiosa que, na verdade, merecia sessões regulares em torno do nosso Bem-Amado.

Mas, seguidamente, escutemos com atenção as palavras, tanto de Deus, como do Seu Enviado, as quais superam qualquer outro discurso…

Deus disse:

“Na verdade, Deus e os Seus anjos abençoam o Profeta. Ó fiéis, abençoai-o e saudai-o reverentemente” (17).

Segundo Al-Hussayn, o Profeta (s.a.w.) disse o seguinte:

“O egoísta é aquele que não reza por mim, quando o meu nome é pronunciado na sua presença.” (18)

Ó Deus! Concede as Tuas graças unitivas, a Tua paz e a Tua bênção à mais nobre das Tuas criaturas, o nosso Senhor e Mestre Muhammad (s.a.w.), o oceano da Tua luz!

Ó Deus! Concede-lhe, pois, uma graça e uma saudação pela qual desfazes os nossos nós (existenciais), dissipas a nossa aflição, cumpres o nosso desígnio e terminas o nosso caminho!

NOTAS:

  1. Neste nosso artigo, utilizamos a palavra “Deus” e não a palavra Árabe “Allah”, de modo a explicarmos aos Muçulmanos e aos não-Muçulmanos que o nosso Senhor chama-se Deus em Português, Allah em Árabe e God em Inglês. é uma maneira sábia de evitar confusões, visto tratar-se sempre do mesmo e único Deus. Durante muito tempo, os Orientalistas brincaram com esta diapasão. Após o 11 de Setembro, um jornalista intitulou o seu artigo da seguinte forma: “O Deus de Jesus contra Allah dos Árabes”. Para além disso, vejamos o que escreveram os seguintes autores, Sue Grabham e Tara Benson, no livro “A enciclopédia das crianças”, edição France Loisirs, ano de 1999, página 127: “O Islão é a religião dos Muçulmanos, os quais acreditam num Deus denominado Allah, cujas palavras foram escritas por Muhammad no Alcorão. Os Muçulmanos rezam na cidade santa de Meca.”.
  2. A Suna é o conjunto dos ensinamentos do Profeta (s.a.w.).
  3. Cf.. o Alcorão, Sura do Elefante.
  4. Segundo Ibn Hicham, há que ter em conta que o calendário de Meca era lunar.
  5. Conservamos vários poemas de Aminah, bem como de outros membros da família de Abdelmouttalib (cf. Ibn Hicham).
  6. Ibn Hicham, Ibn Saad, Abou Nou’aym, Qadi Ayyad, Attirmidi e outros.
  7. Há um Hadice que se refere a isto, narrado por Muslim e Tirmidhi. Ver também Ibn Hicham.
  8. O túmulo do seu pai encontra-se em Medina, entre a tribo dos banou An-najjar, família de Abdelmottalib. Mais tarde, o Profeta (s.a.w.) recordar-se-ia que fora num local pertencente a esta tribo que ele aprendera a nadar, local esse a poucos passos da Mesquita de Qoba, a primeira Mesquita do Islão.
  9. Ibn Hicham, “A Biografia do Profeta (s.a.w.)”.
  10. Ibn Hicham, “A Biografia do Profeta (s.a.w.)”.
  11. A água de Zamzam é uma água que brota ao lado da Ka’aba, em Meca.
  12. A história da “fenda no peito” é referida por várias compilações de Hadices autênticos. Citam-se, entre outros, Boukhari e Muslim, segundo Anas Ibn Mal.
  13. Os primeiros que escreveram sobre a biografia – Sirah – do Profeta (s.a.w.) foram: Ibn-Is’haq, Ibn Hicham, Ibn Sa’d, Al-Waqidi, Ibn-Al-Kalbi, Al-Baladhuri, Ibn Bakkar e outros.
  14. A Sohba é a boa companhia e o amor daqueles que possuem o saber e a alta espiritualidade.
  15. Hadice narrado por Ahmed.
  16. Em dez anos, o Profeta (s.a.w.) edificou um Es- tado com mais de 3 milhões km², o qual legou aos seus sucessores, que em apenas quinze anos o estenderam por três continentes: Europa, África e Ásia. Este feito miraculoso não pode ser interpretado apenas pela lei da “causa e efeito”.
  17. Alcorão, Sura “Os partidos”, versículo 56.
  18. Hadice referido por Ahmed, Attirmizi e An-Nas- sa-i.
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A arte e a literatura ao serviço do Profeta (s.a.w.)

Socorrendo-se da arte, da literatura e de simpósios, os Muçulmanos defendem o Profeta (s.a.w.)
Internacional – Fonte: EFE

A “defesa do Profeta (s.a.w.)” e do Islão é o tema de vários simpósios e concursos literários lançados no mundo Islâmico após a recente difusão do filme do político Holandês, Geert Wilders, “Fitna” (sedição em Árabe).

Perante a impressão negativa no Ocidente da violenta reacção popular Muçulmana às caricaturas publicadas por jornais Dinamarqueses há dois anos, os Governos e as instituições religiosas e culturais islâmicas pretendem que desta vez a resposta seja “sensata” e “razoável”.

Embora na Indonésia centenas de manifestantes tenham atirado ovos contra a Embaixada Holandesa, e em vários outros países, como é o caso do Iémen e do Sudão, se apelar ao boicote dos produtos Dinamarqueses e Holandeses, o certo é que o apelo para a “razão” e para a “moderação” é mais forte.

Religiosos, intelectuais, jornalistas e artistas, apoiados por empresários e políticos, deram início à organização de simpósios, exposições e concursos em diferentes Estados Árabes e Islâmicos com este objectivo, evitando sempre acções ou manifestações violentas.

Reuniões deste tipo anunciam-se em países como os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein, a Arábia Saudita e o Qatar, entre outros, onde a imprensa dá conta de doações para financiar as campanhas “em defesa do Profeta (s.a.w.)”, todas elas pacíficas.

“A arte e a literatura ao serviço do Profeta (s.a.w.)”, é este o tema de um imenso festival artístico que teve lugar em Abu Dhabi em finais de Abril, cujo objectivo é o de realçar as “realidades” acerca de Muhammad (s.a.w.) por meio de pinturas, de canções, curtas-metragens, fotografias e outras obras literárias.

Segundo os organizadores, a comissão organizadora do denominado “Festival do Amor” recebeu cerca de 200 obras artísticas provenientes de 28 Estados, entre eles, o Líbano, a Nigéria, o Irão, o Afeganistão, a Turquia e a Arábia Saudita.

Neste último, foram realizados vários simpósios com a participação de sábios e intelectuais, e um outro terá lugar em Riad, sob a protecção do Ministério do Interior e com o título de “a moderação e as suas consequências na vida dos Muçulmanos”.

As vozes que classificam Wilders de “extremista”, “racista” e “vinculado a círculos Judeus” são as mesmas que instam ao “diálogo” e à “sensatez” para explicar ao Ocidente o “verdadeiro Islão”.

O mais recente apelo neste sentido partiu do proeminente Xeique Egípcio residente no Qatar, Yusuf Al Qaradawi, o qual elogiou hoje, através da televisão Al Jasira, a “reacção razoável dos Muçulmanos na Holanda”, perante a difusão de “Fitna”.

“Decidiram perseguir judicialmente esse deputado (Wilders), reagiram de forma razoável e é esta a postura que o Islão aprova”, disse Qaradawi, chefe da Federação Mundial de Sábios Islâmicos.

Qaradawi desvaloriza a curta-metragem de Wilders, que vincula o Islão à violência, e elogia a postura do Governo Holandês, que “protege a colónia Muçulmana e condena o filme”.

“O filme diz que o Alcorão e o Profeta Muhammad (s.a.w.) incitam à violência e à crueldade, o que não é verdade (…); os que o viram asseguram que é ridículo e que não merece todo este aparato”, opinou.

Entretanto, a Liga do Mundo Islâmico, com sede em Jiddá, anunciou que, nos próximos três meses, procederá à criação de um Centro Cultural na capital Saudita, cuja principal tarefa será a de defender o Profeta Muhammad (s.a.w.) contra publicações que os Muçulmanos considerem ofensivas ou difamatórias.O Centro terá um orçamento calculado em seis milhões de dólares, e será semelhante a um outro criado faz dois anos no reino saudita após a publicação das caricaturas de Muhammad (s.a.w.) por parte de alguns jornais Dinamarqueses.

Fontes da Liga do Mundo Islâmico afirmam que, nos últimos dois anos, foram distribuídos 800.000 exemplares de 11 livros publicados em sete idiomas sobre “a vida e a verdadeira mensagem do Profeta (s.a.w.)” do Islão.

“A nossa religião é pelo diálogo, e as acções difamatórias significam que, no Ocidente, muitos não entendem a mensagem do Islão e a realidade do seu Profeta (s.a.w.)”, disse à Efe o Xeique Ahmad, orador de uma Mesquita de Abu Dhabi.

Esse mesmo tom conciliador foi empregue pelo rei Saudita, Abdala bin Abdelaziz, quando há uma semana atrás defendeu o diálogo entre religiosos Muçulmanos, Cristãos e Judeus.