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Lauren Booth: Agora sou muçulmana. Porquê tanto rebuliço?

Opinião – 20/11/2010 – Autora: Lauren Booth (cunhada de Tony Blair) – Fonte: The Guardian Versão Portuguesa: M. Yiossuf Adamgy – in revista islâmica portuguesa Al Furqán, nº. 178, de Novº./Dezº. 201

Finalmente, senti o que os muçulmanos sentem quando estão na verdadeira oração: um raio de doce harmonia.

Passaram cinco anos desde a minha primeira visita à Palestina. E quando cheguei à região para trabalhar junto de organizações de solidariedade em Gaza e na Cisjordânia, levei comigo a arrogância e a condescendência que todas as mulheres brancas de classe média (em segredo ou abertamente) mantêm para as pobres mulheres muçulmanas, mulheres que presumi que seriam pouco mais que manchas vestidas de negro, silenciosas na minha visão periférica. Como mulher ocidental com todas as minhas liberdades, esperava tratar apenas com homens no plano profissional. Afinal de contas, assim é o Islão, não é?

Esta semana, os gritos de falso horror dos companheiros colunistas, ao saberem da minha conversão ao Islão demonstram que a visão estereotipada prevalece sobre os quinhentos milhões de mulheres que actualmente praticam o Islão. Na minha primeira viagem a Ramalá, e em muitas visitas posteriores à Palestina, ao Egipto, à Jordânia e ao Líbano, efectivamente tratei com homens de poder. E, querido leitor, algum deles até tinha aquelas barbas que metem medo e que vemos nas notícias sobre lugares longínquos que nós bombardeamos até despedaçar. Surpreendentemente (para mim) também comecei a tratar com grande quantidade de mulheres de todas as idades, com todo tipo de lenços na cabeça, que também ocupavam cargos de poder. Acreditem ou não, as mulheres muçulmanas podem ter uma educação, trabalhar com o mesmo horário enfadonho com que nós trabalhamos, e até dar ordens aos maridos diante dos amigos, até que os primeiros abandonam a sala amuados para ir acabar de fazer o jantar.

Parece suficientemente condescendente?

Espero que sim, porque a minha conversão ao Islão foi a desculpa para que os comentaristas sarcásticos dirigissem todos esses pontos de vista paternalistas sobre as mulheres muçulmanas de todas as partes. Tanto é assim que, a caminho de uma reunião sobre a islamofobia, nos meios de comunicação, esta semana, considerei gravemente a compra de um gancho e fazer-me passar por Abu Hamza. Afinal de contas, a julgar pela reacção de muitas mulheres colunistas, agora sou para direitos das mulheres o que aquele do gancho é para a venda de facas e garfos.

Portanto, respiremos todos profundamente e deixá-los-ei ver o outro Islão no século XXI. Com certeza, não se pode passar por alto a maneira atroz como as mulheres são maltratadas pelos homens em muitas cidades e culturas, quer tenham, quer não, uma população islâmica. As mulheres que estão a ser maltratadas por parentes masculinos estão a ser maltratadas pelos homens, não por Deus. Grande parte das práticas e das leis de países “islâmicos” desviaram-se (ou não têm nada a ver) das origens do Islão. No seu lugar, basearam-se em práticas culturais ou costumes tradicionais (e, sim, machistas) que foram injectadas nessas sociedades. Por exemplo, na Arábia Saudita, as mulheres não podem conduzir por lei. Esta regra é um invento da monarquia saudita, estreita aliada do nosso governo [o britânico] no comércio de armas e petróleo. Tristemente, a luta pelos direitos das mulheres deve-se ajustar às necessidades do nosso próprio governo.

O meu próprio caminho para o Islão começou quando reparei na diferença entre o que se me subministrara, gota a gota, sobre a vida muçulmana e a realidade.

Comecei a perguntar-me acerca da tranquilidade que transmitem tantas “irmãs” e “irmãos”. Não todos, porque estamos a falar de seres humanos. Mas muitos. E na minha visita ao Irão no passado mês de Setembro, a lavagem, o ficar de joelhos e as recitações das orações nas mesquitas que visitei lembraram-me o ponto de vista ocidental de uma religião totalmente diferente, uma que é conhecida por evitar a violência e abraçar a paz e o amor através da meditação silenciosa. Uma religião de moda entre as estrelas de cinema, como Richard Gere, e que teria sido muito mais fácil admitir em público que se é adepto: o budismo. De facto, a prostração, o ajoelhar-se e a submissão das orações muçulmanas ressoam com palavras de paz e satisfação. Cada um começa assim: “Bismillahir Rah-manir Rahim” (“Em nome de Deus, o Beneficente, o Misericordioso”), e termina com a frase “Assalamu Alaikhum wa rahmatullahi wa bara-katuh” (‘A paz esteja contigo e a misericórdia e a bênção de Deus’).

Quase sem dar por isso, ao orar durante o último ano, mais ou menos, estive a dizer “Querido Allah” em lugar de “Querido Deus”. Ambos significam o mesmo, com certeza, mas para os conversos ao Islão a natureza estranha da língua das orações sagradas e do livro sagrado pode ser um obstáculo. Eu saltara esse obstáculo sem dar por isso. Depois veio a atracção: uma espécie de ir e vir emocional que responde à companhia de outros muçulmanos, com um elevado sentimento de franqueza e cordialidade. Bem, pelo menos assim foi para mim.

Que duros e cruéis começaram a parecer-me os meus amigos não muçulmanos e os meus colegas! Porque não podemos chorar em público, abraçar-nos mais uns aos outros, dizer “Amo-te” a um novo amigo, sem nos expor à suspeita ou ao ridículo? Via as emoções que se partilham nos lares junto das bandejas de doces com mel e perguntava: se a lei de Allah se baseia simplesmente no medo, por que não viram os amigos que amei e respeitei as costas às suas práticas e começam a beber, a “se divertir realmente” como fazemos no Ocidente? É isso que fazemos, não é?

Afinal senti o que os muçulmanos sentem quando estão na verdadeira oração: um raio de doce harmonia, um estremecimento de alegria em que me sentia agradecida por tudo o que tenho (pelos meus filhos) e segura na certeza de que não necessito de mais nada (junto com a oração) para estar totalmente satisfeita. Eu orava no oratório de Mesumeh, no Irão, depois da lavagem ritual dos antebraços, da cara, da cabeça e dos pés com água. E nada poderá ser o mesmo depois. É tão simples como isso.

O Xeique que no final me converteu, numa Mesquita, em Londres, há umas semanas, disse-me: “Não tenhas pressa, Lauren. Vai com calma. Deus está à tua espera. Não faças caso dos que te dizerem: ‘Deves fazer isto, vestir aquilo, levar o cabelo assim’. Segue os teus instintos, segue o Alcorão e que Deus te guie”. Portanto, agora vivo numa realidade não muito diferente da personagem de Jim Carrey no Show de Truman. Vi a grande mentira que é a fachada da nossa vida moderna; o materialismo, o consumismo, o sexo e as drogas dar-nos-ão uma felicidade duradoura. Mas também olhei mais além e vi uma encantadora e enriquecida existência de amor, paz e esperança. Enquanto isso, continuo com a vida diária, a fazer o jantar, os programas de televisão sobre a Palestina e, sim, a rezar cerca de meia hora por dia.

Agora, a minha manhã começa com a oração do amanhecer pelas 6h00 da manhã, rezo novamente às 13h30 e … finalmente às 22:30. O meu contínuo progresso com o Alcorão foi objecto de burla nalguns sectores (para que conste, estou na página 200). Estive à procura do aconselhamento de ayatolas, imames e xeiques, e todos disseram que cada pessoa tem a sua própria viagem ao Islão. Alguns decoram alguns textos antes da conversão; para mim, a leitura do livro sagrado levar-se-á a cabo lentamente e ao meu próprio ritmo. No passado, as tentativas para deixar o álcool não chegaram a nada; desde a conversão, nem sequer posso imaginar beber de novo. Não tenho nenhuma dúvida de que isto é para toda a vida: há tanto no Islão para aprender, desfrutar e admirar! Estou espantada com a sua maravilha. Nos últimos dias soube doutras mulheres que se converteram e disseram-me que isto é só o início, que continuam a amá-lo após 10 ou 20 anos.

Como nota final, gostaria de oferecer uma tradução rápida entre a cultura muçulmana e a cultura dos meios de comunicação, que pode ajudar a tirar a espinha da minha mudança de vida para alguns de vocês. Quando aparecem muçulmanos nas notícias da BBC a gritar “Alahu Akbar!” para o céu limpo do Médio Oriente, nós, os ocidentais, fomos treinados para ouvir: “Odiamos a todos vocês, sentados nas vossas salas britânicas, e estamos a ponto de nos explodir no Lidl enquanto fazem as compras semanais”. Pelo contrário, o que estamos a dizer é: “Deus é Grande!”, “e estamos a tirar forças da fraqueza depois das nações não muçulmanas atacarem os nossos povos”. Normalmente, esta frase proclama o nosso desejo de viver em paz com os nossos vizinhos, com o nosso Deus, com o nosso próximo, muçulmano ou não muçulmano. Ou, se não puder ser e no clima actual, simplesmente que nos deixem viver em paz; só isso já estaria bem.

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Por que razão tantas profissionais modernas, britânicas, se convertem ao Islão

Mulheres – 01/11/2010 – Por: Eve Ahmed – Fonte: Mail Online

Todas elas eram brilhantes, educadas e pensaram muito e com calma antes de decidirem converter-se ao Islão, mas agora são apaixonadas seguidoras da sua religião

Grande parte da minha infância foi passada em Londres a tentar fugir ao Islão. Nascida em Londres, de mãe inglesa e pai muçulmano paquistanês, fui educada para seguir a fé do meu pai sem perguntas. Mas em privado odiava-a. No momento em que saí de casa para ir à Universidade, com 18 anos, abandonei-a por completo. No que a mim me diz respeito, ser muçulmana significava ouvir a palavra “não” uma e outra vez.

As meninas da minha condição estavam excluídas de muitas das coisas que os meus amigos ingleses tinham por certo. De facto, parecia- -me que tudo o que era divertido era ‘haram’ (proibido) para as meninas como eu.

Havia muitas regras arbitrárias. Não assobiar. Não mastigar pastilha elástica. Não andar de bicicleta. Não ver o ‘Top Of The Pops’. Não usar maquilhagem nem roupa que marque a forma do corpo. Não comer na rua nem meter as mãos nos bolsos. Não levar o cabelo curto nem pintar as unhas. Não fazer perguntas nem contestar. Não ter cães como animais de estimação (eram sujos). E, claro, não sentar-se ao lado dos homens, não lhes estender a mão e até nem ter contacto visual com eles. Estas regras foram impostas pelo meu pai, e eu, portanto, supus que, com certeza, faziam parte integrante de quem era uma boa muçulmana.

Não é de estranhar então que, assim que tive a idade suficiente para exercer a minha independência, rejeitasse todo o pacote e virasse as costas ao Islão. Afinal de contas, que mulher moderna, britânica e livre, escolheria viver uma vida assim? Bem, pois parece que bastantes, incluindo a última conversão surpresa ao Islão: a cunhada de Tony Blair, Lauren Booth.

E, depois da ruptura com o meu próprio passado, acompanhei com fascínio a crescente tendência de mulheres ocidentais que resolvem converter-se ao Islão.

Booth, locutora e jornalista de 43 anos, diz que agora veste o hijab cada vez que sai de casa, que reza cinco vezes por dia e que visita a Mesquita local “quando posso’. Decidiu conver-ter-se em muçulmana há seis semanas, depois de visitar o santuário de Fátima al-Massumeh, na cidade de Qom, afirmando: “Foi numa terça-feira à noite, sentei-me e senti uma injecção de morfina espiritual, de felicidade absoluta e alegria”. Antes do seu despertar no Irão, “simpatizava” com o Islão e passara um tempo considerável a trabalhar na Palestina. “Sempre me impressionou a força que me deu e como foi reconfortante”, afirmou.

Perguntava-me como podiam as mulheres sentirem-se atraídas por uma religião que eu sentia que me mantivera num lugar tão baixo, tão submisso? Como podiam as suas experiências do Islão serem tão diferentes da minha? De acordo com Kevin Brice, da Universidade de Swansea, que se especializou no estudo da conversão de brancos ao Islão, estas mulheres fazem parte de uma tendência interessante. Explica da seguinte forma: ‘Procuram espiritualidade, um sentido superior e tendem a ser pensadoras profundas. O outro tipo de mulheres que abraça o Islão é as que eu chamo ‘convertidas por conveniência’. Vão assumir os símbolos da religião para comprazer os maridos, muçulmanos, e as famílias, mas não frequentarão, necessariamente, a Mesquita, rezarão ou jejuarão’.

Falei com uma variada selecção de ocidentais brancas convertidas, na tentativa de voltar a examinar a fé que eu rejeitara.

Mulheres como Kristiane Backer, de 43 anos, ex-apresentadora da MTV, com sede em Londres, levara o tipo de vida liberal ao estilo ocidental que eu anelava quando era uma adolescente, mas virou-lhe as costas e abraçou o Islão no seu lugar. A razão? A sociedade permissiva do “vale tudo” que eu cobiçava demonstrou ser um vazio superficial.

O ponto de inflexão para Kristiane chegou quando conheceu e esteve a sair por algum tempo com o ex-jogador de críquete, paquistanês e muçulmano, Imran Khan, em 1992, durante o apogeu da sua carreira. Ele levou-a ao Paquistão, onde ela diz que foi imediatamente tocada pela espiritualidade e a calidez das pessoas. Kristiane diz: “Ainda que a nossa relação não tivesse durado muito, comecei a estudar a fé muçulmana. E finalmente converti-me. Devido à natureza do meu trabalho, eu estivera a entrevistar estrelas do rock, a viajar por todo o mundo e a seguir todas as tendências; todavia, sentia-me vazia por dentro. Agora, por fim, estou satisfeita, porque o Islão deu-me um propósito na vida”.

‘No Ocidente, estamos em tensão por razões superficiais, como pela roupa que vestir. No Islão, todo o mundo olha para uma meta mais alta. Tudo é feito para agradar a Deus. É um sistema de valores completamente diferente. Apesar do meu estilo de vida, senti-me vazia por dentro e reparei em como era libertador ser muçulmana. Seguir um só Deus faz a vida mais pura. Sem estarmos a perseguir todos os caprichos’.

“Cresci na Alemanha, numa família protestante não muito religiosa. Bebia e ia às festas, mas reparei que temos que nos portar bem para termos uma boa vida depois da vida. Somos responsáveis pelas nossas próprias acções”.

Para uma quantidade significativa de mulheres, o primeiro contacto com o Islão vem ao namorar com um muçulmano. Lynne Ali, de 31 anos, de Dagenham, em Essex, livremente admite ter sido “uma típica adolescente ocidental muito festeira’. Diz: “Saía e embebedava-me com os amigos, usava roupa ajustada e atrevida e saía com rapazes. Também trabalhava a tempo parcial como DJ e por isso estava muito metida na cena das discotecas. Costumava rezar um pouco como cristã, mas usava Deus como uma espécie de médico, para arranjar as coisas da minha vida. Se alguém me tivesse perguntado, teria dito que, em geral, eu era feliz a viver a vida na forma mais rápida”.

Mas, quando conheceu o seu namorado, Zahid, na Universidade, algo dramático aconteceu.

Ela afirma: “A irmã começou a falar-me sobre o Islão, e foi como se tudo na minha vida se colocasse no seu lugar. Acho que, no fundo, estava à procura de algo e não me sentia plena com o meu estilo de vida de bebedora festiva’. Lynne converteu-se aos 19 anos. “A partir desse dia, comecei a usar o hijab”, explica, “e agora nunca mostro o cabelo em público. Em casa, visto roupa ocidental normal diante do meu marido, mas nunca fora da casa”.

Conhecendo a conclusão de uma recente sondagem do YouGov, a de que mais de metade dos britânicos pensam que o Islão é uma influência negativa que alenta o extremismo, a repressão das mulheres e a desigualdade, poderíamos perguntarmo-nos porque escolheriam elas esse caminho para si próprias. Todavia, as estatísticas sugerem que a conversão islâmica não é uma mera flor de um dia, mas sim um desenvolvimento significativo. O Islão é, afinal de contas, a religião que mais rápido cresce no mundo e os brancos que a adoptam são uma parte importante dessa história.

“As evidências sugerem que a proporção entre as mulheres e os homens ocidentais que se convertem poderia ser tão alta como 2:1″, diz Kevin Brice. ‘Além disso – afirma Brice, amiúde estas mulheres convertidas estão dispostas a mostrar os signos visíveis da sua fé – em particular, o hijab – enquanto muitas jovens muçulmanas crescidas na fé resolvem não fazê-lo. Talvez como resultado destas acções, que tendem a chamar à atenção, as muçulmanas brancas frequentemente reportam mais discriminação contra elas do que as que nasceram muçulmanas”, acrescenta Brice, tal como aconteceu a Kristiane Backer. Afirma o seguinte: ‘Na Alemanha existe a islamofobia. Perdi o meu trabalho quando me converti. Houve uma campanha na imprensa contra mim, com insinuações de que todos os muçulmanos apoiam os terroristas, fui desprezada. Agora sou uma apresentadora da NBC Europa. Chamo-me a mim própria uma ‘muçulmana europeia’, o que é diferente dos “nascidos’ muçulmanos. Eu era casada com um marroquino, mas não deu, porque me impôs restrições devido à forma como fora educado. Como muçulmana europeia, questiono tudo, não aceito nada às cegas’.

“Mas do que gosto é da hospitalidade e a calidez da comunidade muçulmana. Londres é o melhor lugar da Europa para os muçulmanos, há uma maravilhosa cultura islâmica aqui e estou muito feliz”. Para alguns convertidos, o Islão representa uma celebração dos valores da família tradicional.

“Alguns sentem-se atraídos pelo sentido de pertença e de comunidade, valores que foram corrompidos no Ocidente”, diz Haifaa Jawad, uma professora da Universidade de Birmingham, que estudou o fenómeno de conversão de ocidentais brancos.

“Muitas pessoas, de todos os quadrantes, lamentam a perda na sociedade actual do tradicional respeito aos mais velhos e às mulheres, por exemplo. Estes são valores que estão consagrados no Alcorão e com os quais os muçulmanos têm que viver”, acrescenta Brice. Trata-se de valores como os que atraíram para o Islão Camilla Leyland, de 32 anos, uma professora de ioga que mora em Cornwall. É mãe solteira com uma filha, Inaya, de dois anos, e converteu-se aos vinte e poucos por ‘razões intelectuais e feministas’.

Explica-nos: “Sei que as pessoas se surpreenderão ao ouvir as palavras “feminismo” e “islão” juntas, mas, de facto, os ensinos do Alcorão dão igualdade às mulheres e, na época em que nasceu a religião, os ensinamentos iam contra a corrente de uma sociedade misógina. O grande erro que as pessoas cometem é confundir cultura com religião. É verdade, há culturas muçulmanas que não permitem liberdade individual às mulheres; todavia, quando eu era menina, senti-me mais oprimida pela sociedade ocidental”.

Ela fala da pressão sobre as mulheres para actuar como homens: bebendo e tendo relações sexuais ocasionais. “Não havia nenhum significado real para tudo isso. No Islão, se uma pessoa começa uma relação, isso pressupõe um compromisso”.

Nascida em Southamptom – o pai era o director do Instituto de Educação de Southampton e a mãe uma professora de economia domestica – o interesse de Camila pelo Islão começou na escola. Foi para a Universidade e mais tarde frequentou um mestrado em Estudos do Médio Oriente. Mas foi enquanto morava e trabalhava na Síria que teve uma epifania espiritual. Ao reflectir sobre o que lera no Alcorão, reparou que se queria converter. A decisão foi recebida com desconcerto pelos amigos e pela família. “As pessoas acham difícil acreditar que uma mulher branca, educada, de classe média, opte por converter-se em muçulmana” – afirma. Se bem que a fé de Camilla continue a ser forte, já não usa o hijab em público. Mas várias das mulheres com as quais falei disseram que a estrita vestimenta islâmica era motivadora e libertadora.

Lynne Ali lembra a noite em que viu tudo de forma muito clara. “Fui a um bar à festa de aniversário de um velho amigo que fazia 21 anos”, revela. “Entrei, com o hijab e com a minha roupa modesta, e vi como todos os outros mostravam muita carne. Estavam bêbedos, a arrastar as palavras e a dançar de forma provocante. Pela primeira vez, pude ver a minha vida anterior através dos olhos de um estranho e soube que nunca poderia voltar a aquilo’.

“Estou muito agradecida por ter encontrado a minha via de escape. Este é o meu verdadeiro eu, estou feliz por rezar cinco vezes por dia e de frequentar aulas na Mesquita. Já não sou escrava de uma sociedade rota nem das suas expectativas”.

Kristiane Backer, que escreveu um livro sobre a sua própria viagem espiritual, intitulado ‘Da MTV a Meca’, acha que a nova geração de muçulmanos modernos e independentes pode unir- -se para mostrar ao mundo que o Islão não é a fé com que eu cresci: aquela que rejeita os direitos das mulheres. Ela afirma o seguinte: “Sei de mulheres que nasceram muçulmanas que se desiludiram e se rebelaram contra o Islão. Cavando mais fundo, vê-se que não se voltaram contra a fé, mas contra a cultura. Regras como casar dentro da mesma seita ou casta ou que a educação é menos importante para as meninas (já que, ao fim e ao cabo, vão casar)… Onde se dizem tais coisas no Alcorão? Não se dizem’.

“Muitos jovens muçulmanos que abandonaram a versão “infernal” com que nasceram, redescobriram um enfoque mais espiritual e intelectual, livre dos dogmas culturais da velha geração. Assim é como tenciono passar a vida: mostrando ao mundo a beleza do verdadeiro Islão’.

Ainda que não concorde com os seus sentimentos, admiro e respeito as mulheres que entrevistei para este artigo. Todas elas eram brilhantes e instruídas, e pensaram muito e com calma antes de decidir converter-se ao Islão e agora são seguidoras apaixonadas da sua religião. Desejo-lhes boa sorte. E boa sorte para Lauren Booth. Mas há uma palavra que resume a diferença entre a sua experiência e a minha: escolha. Talvez se me tivesse sentido com controlo em lugar de ser controlada, se me tivesse sentido motivada em lugar de dominada, ainda estaria a praticar a religião com que nasci e não carregaria a culpa que tenho, por ter rejeitado a fé do meu pai.

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Maimónides, um judeu espanhol no islão

Andalusis – 01/04/2009 – Fonte: AIM Digital – Versão Portuguesa: Al Furqán, in sua edição nº. 179, de Janº. / Fevº. 2011

Completaram-se 804 anos do nascimento do médico e filósofo judeu Moisés ben Maimon, conhecido como “Maimónides” entre os cristãos e como Ibn Maimun entre os árabes, em Córdova (Espanha).

Estes três nomes da mesma pessoa revelam a possibilidade, no seu tempo e lugar indubitável, de convivência harmónica de árabes, judeus e cristãos, hoje posta em causa por frequentes conflitos armados no território da Palestina.

Abu Imram ben Maimun ibn Abdalá, como o chamavam os contemporâneos muçulmanos, escreveu obras que se usam para ilustrar a filosofia árabe do seu tempo, quando era possível a convivência entre cristãos, árabes e judeus.

Em Fez, onde se fixou com a família, Maimónides estudou a Bíblia e os seus comentários, medicina, astronomia, matemáticas, e em geral toda a ciência vigente.

Depois de longas peregrinações, que incluem a sua estadia em Alexandria e na Palestina, a família instala-se em Fustat, antiga cidade próxima do Cairo. Lá dedica-se à profissão de médico. A fama chegar-lhe-á muito lentamente. Em 1185 é nomeado médico oficial do vizir al-Fadil, e pouco a pouco a sua figura converte-se em lendária.

Maimónides recebe consultas de diverso tipo, procedentes de comunidades de diferentes países do Oriente e do Ocidente. Tais como questões legais, interpretação de passagens religiosas, problemas teológicos e históricos, inclusive assuntos correntes e de comportamento.

Ao longo da vida, a Maimónides chegam numerosíssimas cartas com pedidos de ajuda e esclarecimento, e as suas respostas eram recebidas como pareceres da mais alta autoridade.

Maimónides dirigiu ao seu povo o ‘Guia para os perplexos’; mas a língua em que verteu os frutos da sua luminosa inteligência foi o árabe.

Por isso, os árabes do seu tempo, que governavam Espanha, consideravam-no um ‘Honrado’, título guardado especialmente para os descendentes de profetas.

A crítica e o revisionismo histórico moderno não foram ainda justos com o período de al-Andalus, sendo a postergação e às vezes a minimização da sua incidência na história da humanidade uma dívida que recai sobre os historiadores: “A Espanha das três culturas é de tal magnitude que sem ela não poderia compreender-se o desenvolvimento de Ocidente’.

Porque o pensador judeu ou cristão poderia levar a cabo a sua tarefa no âmbito muçulmano.

Em 1148 Maimónides tem que emigrar de Córdova pela chegada dos almóadas, mas curiosamente, e um dado por investigar é o porquê da sua emigração para Fez, que era justamente o centro político dessa dinastia. Posteriormente a sua vida transcorre no califado fatímida do Egipto, chegando a ser médico pessoal de Saladino I, filho de Saladino o Grande.

A perspectiva do monoteísmo nos credos abraâmicos e a concepção da divindade denotam, sem dúvida, a sua origem comum. Cada religião possui as suas próprias expressões, do ponto de vista da adoração, bem como também rituais próprios que definem as formas da sua crença. No seu carácter de homem religioso e exegeta das escrituras, Maimónides exprime enunciados nos seus treze artigos de fé.

Em filosofia, a sua fonte filosófica principal é Aristóteles, que conheceu através de Avicena e de Averróis. De qualquer modo, opõe-se ao estagirita naqueles pontos nos quais a sua filosofia é irreconciliável com a fé, como na sua concepção da eternidade do mundo, oposta ao criacionismo bíblico.

Como mais adiante fará como Tomás de Aquino (sobre quem Maimómides exerceu uma notável influência), afirma a possibilidade de demonstrar a existência de Deus usando a ideia aristotélica do motor imóvel.

Também a demonstra pela existência de um ser necessário e de uma causa primeira.

O seu principal escrito filosófico, ‘Moré Nebujim’ (Guia de perplexos) foi redigido origi-nalmente em árabe, em 1200, e traduzido para o hebreu sob a sua supervisão. É uma obra de grande envergadura, na qual se abordam os principais problemas metafísicos, antropológicos e morais, sempre ao serviço da teologia.

“Se alguém te afirmar que tem prova da sua própria experiência de algo que precisa de confirmar a sua teoria, ainda que seja uma pessoa de grande autoridade, seriedade e moralidade, deverás duvidar, não deixes a mente ser arrastada pelas novidades que te explica, mas exa-mina cuidadosamente as suas teorias e crenças, como deves fazer a respeito das coisas que declara ter visto; examina o assunto sem deixar-te persuadir facilmente.

E isto que te digo é certo, sendo a pessoa em questão um notável ou um do povo. Porque uma vontade forte pode levar uma pessoa a falar erroneamente, especialmente numa discussão…”.

Maimónides, ‘um sefardita universal’ segundo o livro de Mario Steiner, foi um homem genial com um horizonte mental muito superior ao do seu meio e tempo. Talvez por isso se deu bem com a comunidade judia, à qual pertencia. Conta a tradição que puseram sobre o seu túmulo a inscrição: ‘Aqui jaz Moisés ben Maimon, maldito herege’.

Em Buenos Aires, uma universidade privada leva o seu nome como reconhecimento a 8 séculos da sua verdadeira estatura e significado.

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Onde vai a Nação Árabe?

Fonte: Oumma.com – Versão portuguesa: Al Furqán

Onde vai o Egipto? Onde vai a Nação árabe? Gilles Munier fornece algumas respostas numa entrevista concedida ao site islâmico francês, a Oumma.com. Este eminente especialista do mundo árabe aborda a situação política do Egipto, nomeadamente a personalidade do vice-pre-sidente Omar Suleiman, detestado pelo povo egípcio, ‘figura emblemática para a CIA’ neste país, autêntico torcionário ‘que tem as mãos manchadas com o sangue de milhares de dissidentes que não resistiram às torturas praticadas’. Gilles Munier afima, ainda, que ‘todos os países árabes, sem excepção, sobretudo aqueles ligados ao Ocidente, serão ou são afectados, de diversas maneiras, por um protesto popular’.

Como vê a evolução política no Egipto após a partida de Mubarak?

Todos os amigos do povo egípcio questionam-se quanto ao facto de saber se o Conselho Supremo das Forças Armadas honrará, ou não, os seus compromissos até ao fim. O passado do marechal Muhammad Hussein Tantawi, de 75 anos, o seu dirigente, não abona a favor da mudança. Foi nomeado Ministro da Defesa após ter participado, como chefe do Estado-Maior, na guerra do Golfo, em 1991, do lado dos Americanos, e é um dos principais defensores de Israel no seio das forças armadas egípcias. No início desta revolta, encontrava-se em Washington, nos Estados-Unidos, para desenvolver, juntamente com os seus oficiais, cenários que permitiriam canalizar a ira popular.

De regresso ao Cairo, manteve contacto telefónico, durante todo o tempo em que durou a crise, com o ‘amigo’ Robert Gates, chefe do Pentágono e antigo director da CIA. Quais fo-ram os planos que ambos arquitectaram? Em breve ficaremos a saber. O futuro dirá se os egípcios aceitam as modificações da constituição que serão propostas, se as eleições anunciadas serão livres e se os meios de comunicação aparecerão sem medo da censura. A-guardemos pelos próximos acontecimentos, em-bora haja motivos para que sejamos, a curto prazo, pessimistas.

Quem é Omar Suleiman?

No Egipto, Omar Suleiman é odiado. Tem as mãos manchadas com o sangue de milhares de dissidentes que não resistiram à tortura. Era uma ‘figura emblemática para a CIA’ no Egipto, encarregado de interrogar os suspeitos sequestrados pela agência americana no mundo. Enquanto chefe do EGIS – o principal serviço secreto egípcio – pôs, como se costuma dizer, ‘a mão na massa’. Por exemplo, torturou pessoalmente Mandouh Habib, de nacionalidade australiana, detido no Paquistão em 2001. Na sua obra, intitulada My Story: The Tale of a Terrorist Who Wasn’t, o supliciado, encarcerado numa prisão secreta da CIA no Egipto, afirma que o reconheceu e narra que foi ‘electrocutado, afogado e pendurado em ganchos metálicos’.

Omar Suleiman também interrogou Ibn al-Sheikh Al-Libi, um parente de Osama Ben Laden, também ele entregue pela CIA. Segundo um relatório do Senado americano, Ibn al-Sheikh Al-Libi foi trancado numa jaula e espancado. Nessa época, os Estados Unidos necessitavam de ‘provas’ relativamente às relações entre Saddam Hussein e Osama Ben Laden para justificar a invasão no Iraque. A ‘confissão’ do militante, mediante tortura, permitiu que Colin Powell declarasse às Nações Unidas, em Fevereiro de 2003, que membros da Al Qaeda tinham sido treinados no Iraque para o uso de armas químicas e biológicas. Expulso e encarcerado a seguir na Líbia, o seu país de origem, Ibn al-Sheikh ‘suicidou-se’ na sua cela, em Maio de 2009, durante a estadia de Suleiman em Tripoli.

No passado dia 9.Fevereiro.2011, o jornal diário israelita Yediot Aharonot apresentava Omar Suleiman como ‘o homem da estabilidade’. É um dos orquestradores do bloqueio de Gaza. Perseguiu palestinianos suspeitos de serem simpatizantes do Hamas. Esta é uma descrição sucinta de Omar Suleiman. O Conselho Supremo das Forças Armadas afastou-o. E ainda bem. Os egípcios escaparam por pouco: um telegrama diplomático americano que data de Maio de 2007, revelado pela WikiLeaks, descrevia-o como o sucessor ideal de Hosni Mubarak; outro, datando de 2008, descrevia-o como o candidato preferido de Israel. Espero que este torcionário seja, um dia, julgado pelos crimes que cometeu.

Qual o nível de intervenção dos Estados Unidos nos actuais acontecimentos no Egipto?

Os Estados Unidos intervêm no Egipto a todos os níveis desde que o Presidente Anwar al-Sadate expulsou, em 1976, os conselheiros soviéticos que aí se encontravam. Estavam portanto em situação de saber que, mais cedo ou mais tarde, o povo revoltar-se-ia contra o regime que fora imposto, e preparavam-se caso isso sucedesse.

Os cibe dissidentes egípcios, inspirados pelo sucesso da ‘revolução de jasmim’, na Tunísia, formados nos Estados Unidos no âmbito do projecto ‘Novo Médio Oriente’ – uma cópia do ‘Grande Médio Oriente’ de George W. Bush, versão Barack Obama – desencadearam, através do Facebook, uma insurreição que, um dia, inevitavelmente, teria acontecido. Perante a magnitude das perguntas suscitadas, que já nda tinham a ver com os sonhos ingénuos daqueles que as tinham causado, Obama enviou urgentemente o seu conselheiro Frank Wisner (aparentado com Nicolas Sarkozy). A sua missão: garantir que ‘tudo mude para que nada mude’! O resto é história. Caso o Conselho Supremo das Forças Armadas venha a trair a confiança do povo egípcio, é de prever novos tumultos mais graves. Restará apenas uma coisa a fazer: aguardar a chegada na cena política, como sucedeu em 1952, de novos ‘oficiais livres’.

Qual será o impacto das relações com Israel no caso de uma verdadeira democra-tização do Egipto?

A esmagadora maioria dos egípcios apoia a luta do povo palestiniano e considera que o bloqueio de Gaza é um crime. No dia 9 de Fevereiro, durante o jantar anual da Crif, o organismo representativo da comunidade judaica em França, Nicolas Sarkozy declarou que os manifestantes egípcios não gritaram ‘Abaixo o Ocidente’, ‘Abaixo os Estados Unidos’ ou ‘Abaixo Israel’. Mentira. As objectivas das câmaras de televisão estavam apenas viradas para outro lado! É bom falar de liberdade de imprensa no Egipto… Mas seria preferível interrogarmo-nos também quanto à margem de manobra deixada aos jornalistas franceses para comentarem os acontecimentos no estrangeiro e quanto ao tratamento da informação Made in Occident em geral.

No caso de uma verdadeira democratização do Egipto, se Israel continuar a recusar a descolonização dos territórios árabes ocupados, o Tratado da Paz entre Israel e o Egípcio será posto em causa e os regimes árabes que mantêm relações, discretas ou não, com o Estado hebraico estarão na berlinda. A ‘paz’ permitiu que Israel atacasse o Líbano e Gaza, sem recear a abertura de uma frente na fronteira com o Egipto. O questionamento da validade do tratado assinalará o fim da paralisia árabe na questão árabe palestiniana e lidará com a anexação dos montes Golã sírios.

O que acha da ameaça islâmica no Egipto ostentada pelo Ocidente?

Não há nenhuma ‘ameaça islâmica’ no Egipto, embora haja, como em tantos outros lugares, extremistas religiosos. O Islão não é, por natureza, uma ameaça. A suposta ameaça islâmica é uma invenção neoconservadora americana para manter a presença dos Estados Unidos na região, sobretudo nos países que professam um nacionalismo árabe desviado. É ostentada consoante os interesses americanos. Senão, como podemos nós explicar que Washington jamais se tenha aventurado a dar conselhos sobre uma boa governação à família Saud, da Arábia, e que os Estados Unidos tenham instalado em Bagdad um regime confessional xiita pró-iraniano.

A Irmandade Muçulmana não tem nada a ver com a caricatura veiculada pelos meios de comunicação ocidentais. O movimento não é estático, evolui em conformidade com a época. É possível que não concordemos com o seu programa, que a combatamos politicamente, mas, por que razão proibi-la? Isso não é, certamente, democracia. A não ser que seja traída, a revolução egípcia deverá ainda permitir que os progressistas e nacionalistas árabes, nasserianos ou baathistas se regenerem.

Ontem foi a Tunísia e o Egipto, hoje a Líbia; quais os outros países que poderão ser afectados por uma contestação popular?

A juventude árabe já está cansada das velhas badernas que se agarram ao poder, enriquecem às custas do povo, liquidam as riquezas do país. O protectorado americano relativamente ao mundo árabe, estabelecido progressivamente desde a Segunda Guerra Mundial, resultou num imobilismo político-social sufocante. Todos os países árabes, sem excepção, sobretudo aqueles que estão ligados ao Ocidente, serão ou são afectados, de diversas maneiras, por um protesto popular. Não acredito na teoria dos dominós, alguns dirigentes árabes dificultarão as tentativas de mudança, mas durante quanto tempo e, sobretudo, a que preço?

Enquanto especialista reconhecido do Iraque, considera que os tumultos políticos no Egipto terão, também eles, uma influência sobre a situação do Iraque?

Já estão a influenciar o Iraque. Quem sabe que no passado dia 4 de Fevereiro (2011) milhares de iraquianos irados se deslocaram em direcção à Zona verde gritando: ‘Abaixo o parlamento’, ‘Abaixo o governo’? A contestação popular estendeu-se a várias cidades. Em Kut, no dia 16 de Fevereiro, os manifestantes incendiaram a sede da administração provincial. Balanço: três mortos e cerca de trinta feridos. No dia 17 de Fevereiro, em Sulaimaniya, um milhar de manifestantes atacou a sede do Partido Democrático do Curdistão de Massoud Barzani, o presidente da região. A polícia abriu fogo. Balanço: um morto e 35 feridos a tiro.

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Guerra na Líbia

Eduardo – http://c-de.blogspot.com/2011/03/guerra-no-libano.html

Uma guerra injusta, ilegal e, mais uma vez, pelos interesses do petróleo

Os EUA e os tradicionais aliados, França de Sarkozy e Grã Bretanha de Cameron, lançaram os ataques à Líbia, iniciando assim mais uma guerra. Esta com o pretexto da defesa do povo que, como no Iraque, se traduziu em muitas centenas de milhares de mortos, milhões de vítimas e a na ruína do país.

Na Líbia país muito rico em petróleo, e com um regime tribal forte, Kadafi pode não ser santo, mas é o único líder que tem o consenso da maioria das tribos. Neste conflito não se vislumbra o aparecimento de outros líderes, que reúnam um consenso e permitam uma política mais justa para o povo. Não foram abertas portas para um diálogo.

“Dividir para reinar”, é a política do grande capital, que lançou a crise financeira que afecta muitos países capitalistas e, numa “fuga prá frente”, deve estar a preparar a divisão da Líbia, para se apoderar das suas riquezas. Nessa divisão certamente que os EUA, vão querer o controlo das zonas do petróleo. Esse pode ser o grande objectivo ainda escondido. Se relacionarmos isto com o novo conceito estratégico da Nato e na sua intervenção nas zonas do mundo que são muito ricas em matérias primas, podemos verificar uma lógica dos “donos do mundo” nestas acções.

Neste caso, da Líbia, os EUA e seus aliados, antigas potências coloniais europeias, bem como Israel, Egipto, Arábia Saudita e Emiratos Árabes, apesar de não terem provado, genocídios e as barbaridades que afirmam, lançaram acções de propaganda na comunicação social que dominam, para justificar as operações realizadas de fornecimento de armas aos “rebeldes” concentrados em Benghazi, e agora, o ataque ao país, com a cobertura numa Resolução do Conselho de Segurança da ONU que não cobre as acções que estão a realizar.

Repete-se o uso da mentira, utilizada no Iraque.
O descaramento é tal que Berlusconi, envolvido em muitos escândalos, prometeu juntar-se aos agressores. Era mesmo de Berlusconi que estes aliados precisavam para ficar a quadrilha completa.

A Resolução do Conselho de Segurança, obtida com muita dificuldade e 5 abstenções (Alemanha, Brasil, China, Índia e Rússia) não autoriza os ataques e bombardeamentos que estão a ser feitos.
Destina-se a criar uma zona de exclusão aérea para permitir um corredor livre da intervenção de aviões líbios e não consente o bombardeamento nem o ataque a alvos que não tenham a ver com a garantia da zona aérea. Muito menos a resolução do Conselho de Segurança, permite que os EUA escolham os alvos em função das partes em conflito.

Sem respeito pela ONU, os ataques franceses e norte-americanos, tiveram objectivos militares que nada têm a ver com isso mas, apenas, aniquilar as forças governamentais, em combate com os rebeldes no terreno. A coberto dessas acções o Qatar e Emiratos Árabes Unidos estão a armar os revoltosos com novo equipamento militar. Ao seu critério, ‘democrático’, armam uns e desarmam outros. Isto é ainda mais vergonhoso, porque no caso do Bahrein e nas outras revoltas populares, os EUA com os seus aliados árabes, tentam esmagar as revoltas ocorridas noutros países liderados por ditadores, como na Arábia Saudita que, para além do povo, as mulheres são vítimas maiores. Sobre tudo isto a Comunicação Social ‘controlada’ mantém um silêncio hipócrita. Também a ONU, NATO e EU, assobiam para o lado e fingem desconhecer.

A ONU e as organizações controladas pelos EUA, não se preocupam com os palestinos massacrados em Gaza, com a selvajaria da tropa da NATO que massacra indefesos camponeses afegãos, nunca se manifestou contra os aviões da CIA telecomandados (drones) que assassinam velhos, mulheres e crianças no Paquistão, como não se manifestou contra o genocídio americano no Iraque.

No caso do Egipto e Tunísia os povos não precisaram da intervenção estrangeira para se libertarem dos ditadores que sempre foram aliados, financiados e armados pelo ocidente em troca do petróleo.

Os EUA que provocaram a crise financeira que se abate sobre os povos da maioria dos países capitalistas, estão também numa situação de grande crise. Crise económica, financeira e social.
O encadeado de situações verificadas com a rebeldia de alguns “amigos” como Sadan Hussain, e vários líderes do Irão apoiados pelo ocidente, levaram à constante perda de influência dos EUA à queda dos “petro-dólares” e à travagem das compras de Títulos do Tesouro dos EUA pelos países do Golfo.

Recentemente, com os sismos e maremoto no Japão, que debilitou ainda mais a economia há uma década em crise, os EUA vão perder compradores dos títulos da dívida americana (T-Bonds) e vão, como é provável, ter mais um concorrente nas vendas de parte importante das suas reservas em Títulos do Tesouro dos EUA para financiar a reconstrução e o relançamento da economia do Japão.
Note-se que os EUA é o país com a maior dívida espalhado pelos cinco cantos do mundo, mas em especial pela China, Japão e Grã-Bretanha.

Também é quase certo que a redução de investimentos em equipamento em nuclear de produção de energia, juntamente com a instabilidade das revoltas no Médio Oriente, vai agravar a pressão sobre os preços do petróleo do gás e do carvão.

Esta nova guerra lançada pelos EUA, tem tudo isto em consideração, como ‘fuga prá frente’ é, também, uma tentativa para salvar o capitalismo, sistema económico que está em profunda crise. Se vai adiar o fim do capitalismo não me atrevo a prever. Contudo, o que sabemos, e estamos a confirmar no dia a dia, é que, para adiar a morte do capitalismo pagamos todos, nos aumentos de impostos, nos aumentos do custo de vida, nas reduções de salários, no aumento do desemprego, na redução das pensões, na redução da assistência, na qualidade do ensino, nas privatizações e no roubo permanente que o grande capital financeiro, os “mercados”, fazem a todos nós.