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Banca Islâmica, a Banca Halal (Lícita)

Por: Vicente Sansano – Fonte: Webislam
Versão portuguesa: AlFurqán, nº. 181, de Maio/Junho.2011

O Doutorado em economia, Ernst. F. Schumacher, recolheu para no seu livro “O Pequeno é Belo”, a seguinte citação “A saúde espiritual e bem-estar material não são inimigos, mas sim aliados naturais”. O Oriente sabe que a matéria e o espírito são as extremidades de uma mesma linha, enquanto no Oeste são linhas de trabalho completamente distintas e independentes entre si.

O Ocidente criou uma economia sem consciência, uma economia violenta, que ataca a natureza e o ser humano, uma economia hipertrófica que está nos seus limites. Se este Titanic em processo de colisão não corrigir o rumo desenfreado que leva, acabará, como temos vindo a presenciar nos últimos dois anos, por colidir definitivamente contra a sua própria criação, sendo engolido por ela.

Os bancos, grandes responsáveis e elementos participativos deste sistema económico, são um reflexo fidedigno do que aqui dizemos, pois o seu objectivo é apenas maximizar os seus lucros e benefícios, e fazer com que estes sejam cada vez maiores, de ano para ano. Mas, nesta corrida que parece não ter fim, eles esqueceram-se de que não há nada no mundo, nem em todo o universo, que possa ter um crescimento contínuo, sempre em linha recta para cima até o infinito, pois tudo o que sobe, desce, assim como a noite segue o dia e a maré baixa segue a maré alta. O que acontece, o que está a acontecer neste momento, não é mais que um novo aviso perante esta ambição desmedida de um sistema financeiro especulativo, ganancioso e ao estilo do de casino.

É neste cenário de turbulência financeira e económica, que o sistema bancário islâmico tem algo a dizer, oferecendo uma alternativa à banca tradicional que temos vindo a conhecer até agora em Espanha. Não com intenção de a substituir, mas sim de dar uma outra oportunidade ao cidadão, seja ele muçulmano ou não, e às empresas que assim o desejarem, de poderem tomar uma opção diferente, com ética, transparente e responsável no que toca ao conjunto da sociedade.

Quando falamos em finanças islâmicas, estamos a referir-nos tacitamente, da banca halal, pois na realidade não podem ser dissociadas uma da outra. Isso significa que há normas a serem cumpridas, e regras e princípios éticos a serem respeitados, de acordo com a forma com que a ética Islâmica tem de compreender o mundo, em geral, e na área de finanças, em particular.

Desta forma, existem alguns princípios básicos que devem ficar claros desde o início, sem os quais este tipo de finanças não pode ser considerado islâmica ou halal. Não são autorizados investimentos em indústrias que a Charia entenda como prejudiciais para a comunidade, como as relacionadas com armas, álcool, tabaco, pornografia ou as dos mercados de carne de porco. Todos estes sectores são considerados haram. O Alcorão diz em 2:275: “Allah tornou lícito o comércio e proibiu a usura”. Ditou, desta forma, a proibição de juros, denominada de usura; e aqui é necessária uma clarificação semântica, pois tal como é entendida pelo sistema bancário ocidental, a usura é a definição de um interesse abusivo, enquanto no Islão, a usura é juro, por menor que este seja. A especulação não é permitida, pois o dinheiro é um meio e não um activo em si mesmo, e, portanto, para obter qualquer benefício monetário, o dinheiro tem de estar necessariamente vinculado ao trabalho. Desta forma é fácil concluir que no Islão, o desenvolvimento económico é uma relação entre capital e trabalho.

De acordo com o que foi dito anteriormente, surge imediatamente a seguinte pergunta: “se me dirigir a um banco islâmico e pedir um empréstimo, dão-mo sem que tenha de pagar nada mais que o capital que me for emprestado?”. Obviamente a resposta é não, pois mesmo os bancos islâmicos têm necessidade de obter retorno sobre o valor dos seus serviços, caso contrário a sua existência não seria possível. Então, onde está a diferença? O que o sistema bancário islâmico faz, é cobrar uma taxa fixa, pré-estabelecida, e não abusiva, como pagamento do serviço prestado. Se pretendemos adquirir um bem ou serviço, o banco compra-o para então o vender a um preço superior, e quem o pretenda adquirir paga o seu novo valor, diferido no tempo. Se pretendermos utilizar esse bem durante um determinado espaço de tempo determinado, o que o banco faz então é adquiri-lo e imediatamente alugá-lo a nós, determinando, antecipadamente, o montante das contribuições e o período de tempo durante as quais ocorrerão, isto é, durante o período que acreditamos que esta propriedade será necessária para uso ou lazer, o que será algo semelhante ao que nos bancos ocidentais é conhecido como leasing. Outra forma de aceder ao capital do banco é quando queremos montar um negócio, neste caso o que o banco faz é tornar-se nosso sócio, entrando participativamente como accionista da empresa, no total, ou em parte do risco envolvido, obtendo por seu turno benefícios e lucros quando os hajam e suportando perdas caso o negócio não seja lucrativo e estas ocorram.

Existe um elemento comum em todos estes exemplos que estamos a dar, pois o banco, contrariamente ao que estamos habituados, partilha o risco com o seu cliente. Pode ganhar, mas também pode perder, situação que não ocorre com os bancos tradicionais, onde este sempre sai com ganhos e nunca com perdas de capital.

Do que conhecemos, os empréstimos bancários são destinados àquelas pessoas que têm património próprio, porém nunca àquelas que têm boas e viáveis ideias de negócios, mas que carecem de capital. A estas últimas, a banca islâmica também pode dar crédito.

O sistema que a banca tradicional tem para garantir o reembolso do capital emprestado compromete os bens do devedor, os quais são por norma num valor muito superior ao valor do empréstimo solicitado. Ou seja, o resultado é sempre a celebração de contrato predatório, mas, paradoxalmente, legal e socialmente aceite. Se as coisas correrem mal, o devedor perde tudo. Relativamente a esta situação Marck Twain disse: “um banqueiro é alguém que, quando o sol brilha deixa um guarda-chuva; quando começa a chover retira-o”.

Em contrapartida, os bancos islâmicos, ao partilharem os riscos, e ao participarem na conta de ganhos e perdas, tornam o sistema económico-financeiro muito mais justo e equitativo. Por conseguinte o sistema bancário com base no interesse o que faz é ampliar as desigualdades sociais, contrariamente ao sistema bancário islâmico, que é muito mais equilibrado e responsável, uma vez que também se envolve no sucesso empresarial e de gestão, pois se o mutuário perde o banco também perde. De tudo isto, podemos deduzir que os empreendimentos levados a cabo com apoio de financiamento islâmico têm mais probabilidades de chegar a bom porto.

Como já mencionado, outra das diferenças substanciais no sistema bancário islâmico é a ausência de especulação financeira e, portanto, toda a actividade económica está focada na economia real, dando lugar à criação de capital para empresas e postos de trabalho. O que gera mais riqueza, mas menos ricos.
O sistema especulativo dos financiamentos tradicionais, o que faz é tornar os preços das matérias-primas e bens mais caros, (moradias, terra, cereais, petróleo, etc.), necessários para a subsistência digna da população do resto do mundo, principalmente aquela que ocupa o hemisfério sul, provocando, dessa forma, o incremento das bolsas de pobreza, promovendo um sistema injusto e desigual, aumentando o fosso entre ricos e pobres.

Outra característica da banca islâmica, é que a dívida não pode ser vendida, não pode mudar de mãos, o risco de a assumir desde o início até o final, tem de ser assumido pelo credor original, ou seja, pelo banco que cedeu os direitos do crédito. Esta prática está totalmente normalizada no sistema bancário que conhecemos e tem sido uma das principais razões que levaram ao colapso do castelo de cartas, à crise sistémica que experienciamos, com a venda de dívidas hipotecárias prime e suprime.

Dissemos que, quando nos referimos à banca islâmica, estamos a referir-nos a uma banca ética e, ainda que a união da banca e ética possa soar como um oximoro, e pareça uma contradição não só aos nossos ouvidos, mas também por experiências pessoais como clientes do sistema bancário que conhece-mos, é no entanto algo realmente possível dentro do sistema da banca islâmica, já que não só se interessam pelo lucro, mas também pelos indivíduos, pela comunidade, detendo um importante interesse social.

Vimos, no sistema bancário islâmico, que o dinheiro dos clientes nunca pode financiar projectos que estejam em desacordo ou vão contra o Islão, tais como a indústria de armamento, a de carne de porco, a da pornografia, etc., mas também não pode ser direccionado para empresas que super-exploram a natureza ou que façam recurso de trabalho infantil. Além disso, o cliente pode decidir a que tipo de investimento se destina o seu dinhei-ro, sabendo, a qualquer momento, qual é a situação do seu capital.

Poderíamos dizer, sem equívoco, que esta forma de trabalhar da banca representa um novo paradigma no que é o sistema financeiro tradicional que conhecemos. É um modelo de investimento socialmente responsável, que cuida não só do capital, mas também da sociedade.

Assim, relativamente ao sistema da usura e da especulação, a única alternativa é a banca ética, no nosso caso, a banca ética islâmica, para superar as injustiças sociais de um capitalismo voraz. (…).

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Carta a Obama

Autor: Adolfo Pérez Esquivel
Fonte: http://www.cubadebate.cu/opinion/2011/05/09/carta-a-obama-de-perez-esquivel/?TB_iframe=true&height=500&width=940

O Prémio Nobel da Paz em 1980, Adolfo Pérez Esquivel (Opinião – 13/05/2011 -)

Estimado Barack:

Ao dirigir-te esta carta, faço-o fraternalmente para, ao mesmo tempo, te expressar a preocupação e a indignação de ver como a destruição e a morte ensombram vários países, em nome da “liberdade e da democra-cia”, duas palavras prostituídas e vazias de conteúdo, que terminam justificando um assassinato que é celebrado como se de um evento desportivo se tratasse.

Indignação pela atitude dos sectores populacionais dos EUA, de chefes de Estado europeus, e de outros países que vieram apoiar o assassinato de Bin Laden, ordenado pelo teu governo e pela tua complacência, em nome de uma pretensa justiça.

Não procuraram detê-lo e julgá-lo pelos crimes alegadamente cometidos, o que gera ainda mais dúvidas, o objectivo foi assassiná-lo.

Os mortos não falam e o medo do executado, que poderia dizer coisas não convenientes para os EUA, resultou no assassinato e na tentativa de assegurar que “morto o cão, terminou a raiva”, sem levar em conta que não fazem outra coisa senão incrementá-la.

Quando te outorgaram o Prémio Nobel da Paz, do qual somos fiéis depositários, enviei-te uma carta que dizia: “Barack, muito me surpreendeu que te tenham outorgado o Nobel da Paz, mas, agora que o recebeste, deves colocá-lo ao serviço da Paz entre os povos, tens todas as possibilidades de o fazer, de terminar as guerras e começar a reverter a situação em que vive o teu país e o mundo”.

No entanto, ao invés disso, incrementaste o ódio e traíste os princípios assumidos na campanha eleitoral perante o teu povo, como colocar um final às guerras no Afeganistão e no Iraque, e fechar as prisões em Guantá-namo e Abu Graib no Iraque. Nada disso lograste fazer, pelo contrário, decides começar outra guerra contra a Líbia, apoiada pela NATO e pela vergonhosa resolução das Nações Unidas em apoiá-la; quando esse alto organismo, diminuído e sem pensamento próprio, perdeu o rumo e se submete aos caprichos e interesses das potências dominantes.

A base funcional da ONU é a defesa e a promoção da Paz e da Dignidade entre os povos. No seu preâmbulo destaca-se: “Nós, os povos do mundo (…)”, hoje ausentes desse alto organismo.
Quero recordar um místico, e mestre, que tem uma grande influência na minha vida, o monge trapista da Abadia de Getsemaní, no Kentucky, Thomas Merton, que diz: “A maior necessidade dos nossos tempos é limpar a enorme massa de lixo mental que entope as nossas mentes e converte toda a vida política e social numa enfermidade das massas. Sem essa limpeza doméstica não podemos começar a ver. E se não vemos, não podemos pensar”.

Eras muito jovem Barack, durante a guerra do Vietnam, e talvez não te recordes da luta do povo norte-americano contra a guerra.

Os mortos, os feridos e os mutilados no Vietnam sofrem as consequências até aos dias de hoje.
Thomas Merton dizia, frente a um carimbo dos Correios que acabava de chegar ‘The U.S. Army, key to Peace’ (Exército dos EUA, chave da paz): “Nenhum exército é a chave da paz. Nenhuma nação tem a chave de nada que não seja a guerra. O poder não tem nada a ver com a paz. Quanto mais os homens aumentam o poder militar, mais violam a paz e a destroem.”

Partilhei e acompanhei os veteranos da guerra do Vietnam, incluindo Brian Wilson e os seus companheiros, os quais foram vítimas indefesas dessa e de todas as outras guerras.

A vida tem esse não-sei-quê de imprevisto e da surpreendente fragrância e beleza que Deus nos deu para toda a humanidade, e que deve-mos proteger para deixar às gerações futuras uma vida mais justa e fraterna, res-tabelecendo o equilíbrio com a Mãe Terra. Se não agirmos para mudar o actual estado de soberba suicida, que arrasta actualmente os povos a abismos profundos onde a esperança morre, será difícil sair e ver a luz; a humanidade merece um destino melhor.

Sabes que a esperança é como essa flor de Lótus, que cresce no lodo e floresce em todo o seu esplendor mostrando a sua beleza.

Leopoldo Marechal, esse grande escritor argentino, dizia que: “do labirinto, sai-se por cima”.

E creio Barack, que depois de seguires a tua rota errando caminhos, te encontras agora num labirinto do qual não encontras saída, enterrando-te mais e mais na violência, na incerteza, devorado pelo poder da dominação, arrastado por grandes corporações, pelo complexo militar-industrial, e acreditas ter todo o poder e que tudo podes, posto que o mundo está aos pés dos EUA, porque invadem países e impõem a força das armas com total impunidade. É uma realidade dolorosa, mas também existe a resistência dos povos que não claudicam frente aos poderosos.

São tão grandes as atrocidades cometidas pelo teu país no mundo que dariam assunto para muito tempo, é um desafio para os historiadores que necessitarão investigar e compreender os comportamentos, políticas, gran-dezas e pequenezes políticas, que levaram os EUA à monocultura das mentes de tal forma que não lhes permite ver outras realidades.

A Bin Laden, suposto autor ideológico do ataque às torres gémeas, identificam-no como um Satanás encarnado, que aterrorizava o mundo, e a propaganda do teu governo apontava-o como o “eixo do mal”, e isso serviu-lhes de pretexto para declarar as guerras desejadas que o complexo industrial militar precisa para colocar os seus produtos de morte.

Sabes que os investigadores do 11 de Setembro indicam que o atentado possui muito de “autogolpe”, como o avião contra o Pentágono e o esvaziamento prévio de escritórios das torres; atentado que deu motivo para lançar a guerra contra o Iraque e o Afeganistão e agora contra a Líbia; argumentando com a mentira e a soberba do poder que estão fazendo isso para salvar o povo, em nome da ‘liberdade e defesa da democracia’, com o cinismo de dizer que a morte de mulheres e crianças são ‘danos colaterais’. Isso vivi-o no Iraque, em Bagdad, com os bombardeios na cidade, no hospital pediátrico, e no refúgio de crianças que foram vítimas desses ‘danos colaterais’.

A palavra é esvaziada de valores e conteúdo, razão pela qual chamas o assassinato de “morte”, dizendo que, por fim, os EUA “mataram” Bin Laden. Não tento justificá-lo por qualquer premissa, sou contra qualquer forma de terrorismo, tanto o desses grupos armados, como o terrorismo de Estado que o teu país exerce em diversas partes do mundo, apoiando ditadores, impondo bases militares e intervenção armada, exercendo a violência para se manter através do terror no eixo do poder mundial. Existe apenas um só “eixo do mal”? Como o chamarias?

Será por essa razão que a população dos EUA vive com tanto medo de represálias daqueles a que chamam de “eixo do mal”? O simplismo e a hipocrisia de justificar o injustificável.

A Paz é uma dinâmica de vida nas relações entre as pessoas e os povos; é um desafio para a consciência da humanidade, o seu caminho é trabalhoso, quotidiano e esperançoso, onde os povos são construtores das suas próprias vidas e da sua própria história. A Paz não se dá de presente, ela contrai-se, e é isso que te está a faltar rapaz, coragem para assumir a responsabilidade histórica com o teu povo e com a humanidade.

Não podes viver no labirinto do medo e da dominação dos que governam os EUA, ignorando os Tratados Internacionais, os Pactos e Protocolos, de governos que assinam mas não cumprem nada e não cumprem nenhum dos acordos, mas que falam em nome da liberdade e do direito.

Como podes falar de Paz quando não queres cumprir com nada, salvo com os interesses do teu país?

Como podes falar da Liberdade quando tens inocentes encarcerados em Guantánamo, nas prisões dos EUA, nas prisões do Iraque, como Abu Ghraib, e no Afeganistão?

Como podes falar de Direitos Humanos e da dignidade dos povos quando os violas a ambos permanentemente e bloqueias aqueles que não partilham a tua ideologia, obrigando-os a suportar os teus abusos?

Como podes enviar Forças Militares para o Haiti após o devastador terramoto, e não ajuda humanitária a esse povo sofrido?

Como podes falar de Liberdade quando massacras os povos do Médio Oriente e propagas a guerra e a tortura, em conflitos intermináveis, que sangram palestinos e israelitas?

Barack, olha para cima nesse teu labirinto, podes encontrar a estrela que te guiará, ainda que saibas que jamais a poderás alcançar, como tão bem o disse Eduardo Galeano.

Procura ser coerente entre o que dizes e o que fazes, essa é a única forma de não perder o rumo. É um desafio da vida.

O Nobel da Paz é um instrumento ao serviço dos povos, nunca para a vaidade pessoal.

Desejo-te muita força e esperança, e espero que tenhas coragem de corrigir o caminho e assim encontrar a sabedoria da paz.

Adolfo Perez Esquivel. Nobel da Paz de 1980. Buenos Aires, 5 de Maio de 2011.

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América, América… Do conflito das civilizações ao choque das ignorâncias

Versão portuguesa de. M. Yiossuf Adamgy, publicada na revista Al Furqán, nº. 176, de Julho/Agosto.2010

26 de Agosto de 2010 – Fonte: Oumma

Aquando do seu discurso, no Cairo(1), o ano passado, Barack Obama pregava a reconciliação com o mundo muçulmano: ‘(…) os Estados Unidos e o mundo ocidental devem aprender a conhecer melhor o Islão. Aliás, se contabilizar-mos o número de Americanos muçulmanos, veremos que os Estados Unidos são um dos maiores países muçulmanos do planeta (…). O que procuro fazer consiste em criar um diálogo melhor para que o mundo muçulmano possa compreender melhor como os Estados Unidos, e em termos gerais o mundo ocidental, concebem determinados problemas difíceis, tais como o terrorismo ou a democracia’. Estas palavras, impregnadas de conciliação, tinham sido aclamadas pelos numerosos chefes de estado do mundo árabe-islâmico. Hoje, mais do que nunca, a questão das relações ‘normalizadas’ e ‘pacificadas’ com o Islão regressa, com vigor, à cena local americana. ‘Islam, islamic, Muslims…’ tornaram-se igualmente vocábulos com, muitas vezes, uma conotação negativa no País do Tio Sam, ao julgarmos pelas peripécias do Centro Cultural Islâmico de Nova Iorque. Quem não se lembra do projecto controverso de uma Mesquita a dois quarteirões do Ground Zero, onde se encontravam as torres gémeas destruídas no dia 11 de Setembro de 2001, que ultrapassou um obstáculo importante no início do mês de Agosto, com luz verde dada pela autarquia e com o apoio do Presidente da Câmara de Nova Iorque. Esta decisão muito controversa foi imediatamente assimilada a ‘um insulto à memória das vítimas’ pelos que se opunham ao projecto. Esta protestação geral transformou-se numa verdadeira campanha de descrédito das atitudes islamofóbicas: um autocarro exibindo, nos seus flancos, slogans hostis quanto à edificação de uma mesquita e de um centro cultural islâmico nas imediações de Ground Zero, fotografias de aviões despenhando-se contra o World Trade Center relembrando os atentados do 11 de Setembro…

Cartazes gigantescos ostentando a pergunta ‘Por quê aqui?’ (‘Why here?’), insistindo no ‘carácter provocador’ de um pedido legítimo, contudo garantido pela Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos.(2)

Sabendo que o anunciante não é nada mais, nada menos do que o organismo SIOA (‘Stop Islamzation of America’, ‘Cessem a islamização da América’), é fácil imaginar que a Estátua da Liberdade tenha ficado transida de assombro nesse grande país onde nos é relembrado, frequentemente, que os direitos fundamentais de todos os cidadãos americanos, sem distinção, são imprescritíveis. A intervenção do Presidente americano e o seu posicionamento ao lado de Michael Bloomberg não acalmou, porém, os ardores dos detractores deste projecto. Perante os ataques constantes, o chefe do Executivo teve até de apresentar alguns esclarecimentos de modo a tranquilizar, nomeadamente, um determinado segmento desta América ultra conservadora que suspeita que este dissimule a sua confissão! (3)

Os detractores deste projecto, accionados pelas associações das famílias das vítimas do 11 de Setembro, e por Sarah Palin – a ex-candidata republicana à Vice-presidência -, reagiram com virulência de modo a interpelar a opinião americana e a denunciar o apoio da Casa Branca. O representante de Nova Iorque na Câmara Baixa do Congresso declarava, recentemente, na CNN, com alguma arrogância:

‘A comunidade muçulmana demonstra insensibilidade e falta de compaixão ao querer construir uma mesquita na sombra de Ground Zero. Infelizmente, o presidente cedeu ao que é politicamente correcto’, lamentou. ‘Embora a comunidade muçulmana tenha o direito de construir a mesquita, abusa deste direito, ofendendo, inutilmente, tantas pessoas que tanto sofreram. A boa escolha, moral, que o presidente Obama deveria ter feito, deveria ter sido exortar os dirigentes muçulmanos a respeitarem as famílias dos que morreram e a levarem a sua mesquita para longe de Ground Zero’.

Os defensores do projecto argumentam que a ‘Casa Córdoba’ ajudará a ultrapassar os este-reótipos negativos aos quais a comunidade da cidade continua a estar sujeita desde os atentados. Mas de nada vale, o tratamento mediático tende a dar a impressão que, afinal, a comunidade muçulmana americana representa uma entidade muito especial, com revindicações no limite da decência.

Além da deriva semântica, infelizmente recorrente desde o ‘Nine eleven’, este episódio conduzidos a um período sombrio da história recente dos Estados Unidos: a caça às bruxas sob uma ideologia institucionalizada: o macartis-mo.(4)

Recentemente, uma personalidade política afirmava:

‘Os EUA aplicaram, com sucesso, relativamente aos comunistas, uma política baseada na ‘repressão’ (Foster Dulles). Deveriam retomar esta filosofia no seu conflito contra o Islão em vez de se entregarem após complacências…'(5)

Incontestavelmente, o vento da intolerância sopra novamente do outro lado do Atlântico e os cerca de 7 milhões de cidadãos americanos(6) são elevados ao estatuto de testa-de-ferro, até mesmo responsáveis de uma ‘dor colectiva’, que levará algum tempo antes de ser exorcizada. Desde a tragédia do 11 de Setembro, os cidadãos americanos de confissão muçulmana habituaremos, infelizmente, a um dispositivo de segurança impressionante e às suas derivas liberticidas.(7)

‘Infelizmente, neste Estado como em todo o País, a islamofobia está a aumentar’, reconhecia Ramsey Kilic, porta-voz do Centro para as relações islâmico-americanas (CAIR).(8)

A este respeito, também não parece ser o momento para a conjuração dos demónios do ódio devido à organização de um ‘dia internacional para queimar o Alcorão’ na data de aniversário dos atentados do 11 de Setembro de 2001. Na origem desta iniciativa, um chamado Terry Jones, pastor de profissão, convida a reduzir a cinzas, na praça pública, o Livro Sagrado de um quarto da humanidade, o próprio fundamento da crença islâmica. Na realidade, trata-se, nada mais, nada menos, de combater ‘o demónio do Islão’, considerado por este homem da igreja como o mal incarnado. Do autor de ‘Islam is of the devil'(9), cultura do ódio, estigmatização e anátemas têm uma completa coerência com esta personalidade de ‘má fé’, em todos os sentidos do termo. À pergunta do apresentador da CNN, ‘Por que razão quer fazer isso a 1,5 mil milhões de pessoas no mundo inteiro?’, responderá sem equívocos:

‘O Islão e a Chariah são responsáveis pelo 11 de Setembro. Queimaremos os livros do Alcorão porque pensamos que já é tempo, para os Cristãos, para as igrejas, para os responsáveis políticos, que se levantem e digam: ‘Não, o Islão e a Chariah não são bem-vindos nos Estados Unidos’.

E cá estamos nós, desta forma, a ser levados para o âmago de determinadas práticas medievais e demais autos-de-fé organizados na época do Terceiro Reich!

Especifiquemos, além disso, que esta alma perdida e cegada pela aversão não é nada mais, nada menos, do que o líder da igreja Dove World Outreach Center (atingir um mundo de paz!): podemos ver que, nos dias de hoje, o ridículo já não mata. As teses huntingtonianas e demais slogans que pensávamos relegados ao esquecimento (‘o eixo do Bem contra o eixo do Mal’) reactivaram-se, desta forma, para ‘justificar’ um combate ‘justo’ destinado a salvar os valores da América. ‘Conflito das civilizações’ e demais ‘fim da história’ são reunidos para propagar outras construções teológicas que, no caso presente, se fundamentam no Islão (‘dar al islam, dar al kufr…’)(10). Assim, em conformidade com uma regra inalterável, os extremos alimentam-se uns dos outros.

Por outras palavras, esta visão cósmica maniqueísta tem a sua consagração no choque das ignorâncias!

O pastor Jones evoca numa ‘lista de argumentos’ 10 razões para ‘justificar’ a sua cruzada contra o Islão.(11) Num inventário ‘à Pré-vert’, o internauta encontrará aí propósitos insultuosos, contra verdades e outros delírios paranóicos (‘A vida e a mensagem de Muhammad não podem ser respeitadas’, ‘Muhammad não terá existido’, ‘A lei islâmica é de natureza totalitária (…) tem muitas semelhanças com o nazismo, o comunismo e o fascismo’, ‘O mundo sofre devido à influência demoníaca do Alcorão’, ‘O Islão representa uma arma do imperialismo árabe e suscita o colonialismo’ …). Daí a comparar o Islão à ‘Besta’ mencionada pelo Profeta Daniel, há apenas um passo… alegremente dado por determinadas ovelhas que privilegiam uma singular hermenêutica.(12) A tradição muçulmana relata que a ignorância é o maior inimigo do homem quando o Alcorão declara:

‘Dize: ‘Serão iguais, aqueles que sabem e aqueles que não sabem?’ Só os dotados de inteligência se lembram’.(13)

Podemos, razoavelmente, pensar que o interessado não é dotado desta última faculdade. Consciente das suas derivas, nas antípodas da fé cristã, a Associação Nacional dos Evangélicos (EU) quebrou os laços de solidariedade ao exigir a anulação do auto-de-fé e ao citar a Primeira Epístola do Apóstolo São Paulo aos Tessalonicenses. A Conferência Mundial das Religiões para a Paz (Religions for Peace, realizada em Nova Iorque) também condenou esta iniciativa perigosa para a coesão e o viver em conjunto.

Um maior cuidado e um dever de indignação impõem-se face aos pirómanos de qualquer espécie, apóstolos da divisão e do ódio e demais epígonos.

Património universal, a humanidade constrói–se na perseverança, razão e fé, na palavra parti-lhada e esforço de uma reflexão constantemente renovada. Viver em harmonia com o outro, com as suas diferenças, abrir-se ao outro na fraternidade e solidariedade, trabalhar para um melhor conhecimento mútuo, respondendo ao convite divino…:

‘Ó seres humanos! Na verdade, criámo-vos a partir de um homem e de uma mulher, e fizemo-vos nações e tribos para vos conhecerdes. O mais nobre de vós, perante Deus, é o mais temente. Na verdade, Deus é Sábio e Omnisciente’. (Alcorão, 49:13).

NOTAS:

  1. 19 de Junho de 2009
  2. A Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos da América faz parte das dez emendas ratifi-cadas em 1791 e conhecidas colectivamente como a Declaração dos Direitos (Bill of Rights). Proíbe a adopção, por parte do Congresso dos Estados Unidos, de leis que limitem a liberdade de religião e de ex-pressão, a liberdade de imprensa ou o direito a reunir-se pacificamente.
  3. Uma sondagem realizada pelo Pew Research Center para o Washington Post, no dia 19/08/2010, revela que 20% dos Americanos pensam que o Presidente é muçulmano. Paralelamente, o número de Americanos que identificam correctamente Barack Obama como cristão descaiu para cerca de metade, em um ano, para 34%. A Casa Branca teve de apresentar um desmentido! Encontramos, nalguns meios de comunicação americanos e franceses, ‘Obama bin Laden’ caricaturado com uma barba e um turbante.
  4. O macartismo (ou McCarthyism) é um episódio pouco elogioso da história do país, conhecido igual-mente pelo nome de ‘Medo Vermelho’ (Red Scare) ou de ‘caça às bruxas’ (witch hunts). Estende-se de 1950, a aparição do Senador Joseph McCarthy na cena política americana, a 1954, o voto de censura contra McCarthy. Durante dois anos (1953-1954), a comissão presidida por McCarthy perseguiu eventuais agentes, militantes ou simpatizantes comunistas; tudo isto com o seu quinhão de derivas liberticidas.
  5. O governador do Tennessee questiona até a designação de religião no que diz respeito ao Islão que considera ser uma seita ou um partido político! Sobre este assunto, ler ‘Ron Ramsey: Tennessee Republican politician under fire in ‘Islam is a cult’ row’ in The Daily Telegraph publicado a 27/07/2010.
  6. Conforme o Council on American-Islamic Relations (CAIR).
  7. Consultar o estudo de Daniel Sabbagh, Segurança e liberdades nos Estados Unidos após o 11 de Setembro: uma descrição in Critique internationale nº 19 – Abril 2003, Centro de Estudos e Investigações Internacionais.
  8. Council on American-Islamic Relations
  9. Na sua introdução, podemos ler: ‘O Islão é satânico. Aprendei as verdades espirituais que levarão novamente a igreja cristão à posição revelada por Deus’.
  10. O mundo complexo globalizado no qual evoluímos não pode ser reduzido a estes dois campos ini-migos: ‘a residência do Islão’ versus ‘a residência do descrédito’.
  11. Consultar o sítio http://www.doveworld.org/-blog/ten-reasons-to-burn-a-koran
  12. O leitor motivado pela exegese pode consultar Daniel 7.19-27.
  13. Alcorão, 39:9.
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Que bela Surpresa

NA

Um gesto tão simples mas de uma grandeza humana onde o Deus de todos cabe inteiro!!!

Atitudes como esta deveriam ser repetidas pelo mundo afora para aproximar as pessoas e humanizá-las.
Motorista de ônibus na Dinamarca, (nome : Mukhtar – da Somália) aniversariante no dia, vai trabalhar como faz todos os dias.
A empresa de ônibus organiza uma surpresa de parabéns para ele, com a participaçao de passageiros e de pessoas que se encontram na rua.
http://www.youtube.com/watch_popup?v=xgOyTNtsWyY

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Insegurança na Fé e Queima de Livros

(Coord. por M. Yiossuf Adamgy – in Revista Al Furqán, nº. 177, de Set. /Out. 2010)

Prezados Irmãos, Assalamu Alaikum:

Um pastor de uma pequena Igreja não-denominacional, na Florida, recebeu uma cobertura mundial sem precedentes devido ao seu plano de queimar algumas cópias do Alcorão.

Quer ele decidisse ou não levar em frente esta façanha, o facto de uma pessoa que alega ser um homem de Deus querer queimar uma escritura sagrada de outra religião é desprezível.

O Sr. Terry Jones, o pastor desta Igreja, acredita que o Alcorão é coisa do Diabo e por esse motivo deverá ser destruído. O que ele não sabe é que está, infelizmente, a profanar e a incendiar o espírito e a essência das grandes mentes da humanidade: Jesus, Moisés e todos os outros Profetas, neste processo.

Esta Igreja da Florida tem apenas cinquenta membros, contudo o impacto que criaram em todo o mundo foi imenso. Apesar de tudo, desejávamos que a nossa ‘imprensa livre’ não tivesse dado tanta atenção a este grupo insignificante, mas sim que deixasse que isto fosse um momento de ensinamento.

Este pequeno grupo de Cristãos radicais alega ser verdadeiros Cristãos da mesma forma que aqueles que destruíram as Torres Gémeas em 2001 alegavam ser verdadeiros Muçulmanos.

A comunidade Muçulmana de todo o mundo está revoltada com esta intenção de queimar o Alcorão. A melhor forma de responder a tal acto seria ignorá-lo, contudo já é demasiado tarde para isso e agora os líderes religiosos, desde os EUA até à Indonésia, foram forçados a entrar neste ‘circo’.

O que é importante nesta situação é que um grande número de líderes religiosos de todas as tradições e oficiais governamentais nos EUA manifestaram uma condenação enfática à tentativa de queimarem o Texto Sagrado.

Os Muçulmanos deverão prezar esses líderes religiosos e governamentais que deram a cara para condenar Terry Jones.

Os Muçulmanos não deverão cair na armadilha que a maioria dos islamofóbicos caiu julgando a fé pelas perversões de alguns.

Os Muçulmanos devem lembrar-se que o Islão lhes exige que demonstrem respeito pelas pessoas de todas as religiões e que promovam o pluralismo que não é definido pela política do dia.

Qualquer um que queira queimar o Alcorão não conseguirá queimar a mensagem do Alcorão. O Alcorão é preservado nos corações e nas mentes das pessoas e existem mais de três milhões de Muçulmanos em todo o mundo que já memorizaram o Alcorão.

Os Muçulmanos deverão manter os altos valores morais e quando os outros falarem em queimar o Alcorão, deveremos perder algum tempo a memorizar mais alguns versículos do Alcorão e a preencher a nossa obrigação mais importante, a de ler e compreender o Alcorão.

História sobre a Queima de Livros

É habitual que o clero, exércitos invasores e outras pessoas queimem livros, conforme pode-mos testemunhar ao longo da história da humanidade. Tal acto poderá ser feito devido:

  • Às pessoas poderem estar paranóicas em relação a ideias emergentes que desafiam a sua compreensão do mundo ou
  • Às pessoas poderem estar inseguras na compreensão da sua própria fé.

Um olhar pela história da queima de textos religiosos dar-nos-á uma compreensão do ódio e da ignorância que existiu nos nossos círculos seculares e religiosos. Fica aqui uma revisão de alguns incidentes famosos de queima de livros:

A história testemunhou a queima da Biblioteca de Alexandria pelas forças Cristãs, da Biblioteca de Bagdad pelos Mongóis, a queima de livros e o enterrar de estudiosos na Dinastia de Qin na China, a destruição dos códices Maias pelos conquistadores e padres Cristãos espa-nhóis, a queima de livros Muçulmanos e Judeus por Católicos durante a Inquisição, a queima da Torah pelos Cristãos na Alemanha e a destruição da Biblioteca Nacional de Sarajevo. Em 1193, após derrotar Jai Chand, diz-se que o exército de Ghauri, maioritariamente Muçulmano, queimou a Biblioteca de Nalanda, conhecida como Dharma Gunj, Montanha da Verdade.

Há registos de que em 367 D. C., Atanásio, o bispo de Alexandria, emitiu uma carta pascoal que exigia que os monges egípcios destruíssem todos os livros excepto os que constituíam o ‘Novo testamento’.

Na sua peça de 1821, intitulada Almansor, o escritor alemão Heinrich Heine, referindo-se à queima do Alcorão durante a Inquisição espanhola, escreveu: ‘Aqueles que queimam livros acabam, cedo ou tarde, por queimar seres humanos’ (“Dort, wo man Bücher verbrennt, verbrennt man auch am Ende Menschen.”). Os livros de Heine estavam entre os milhares de volumes que foram queimados pelos cristãos na Alemanha.

A New York Society for the Suppression of Vice (Sociedade Nova-Iorquina para a Supres-são de Vícios), fundada em 1873, inscreveu a queima de livro no seu selo, como sendo um objectivo a cumprir. A Sociedade destruiu cerca de 15 toneladas de livros, 128 toneladas de chapas de impressão e quase 4.000.000 de imagens. A Sociedade também manietou o Congresso norte-americano para incorporar os seus objectivos na Comstock Law.

Após o conselho do Ministro Li Si, o Imperador Qin Shi Huang da China ordenou a queima de todos os livros sobre filosofia e história. A isto seguiu-se o facto de um grande número de intelectuais ter sido enterrado vivo, por não acompanhar o dogma do estado.

Em 168 A.C., o monarca Antíoco IV ordenou a queima do ‘Livro das Leis’ dos Judeus, que havia sido encontrado em Jerusalém.

Por volta do ano 50 D.C. um soldado romano apreendeu um rolo da Torah e queimou-o em público. Este incidente quase levou a uma revolta judaica contra o domínio romano.

Os livros de alquimia egípcia de Alexandria foram queimados pelo imperador Diocleciano, em 292. Em 303 Diocleciano também queimou livros cristãos. Em 1242, a coroa francesa quei-mou todas as cópias do Talmud em Paris, cerca de 12.000, depois de o livro ter sido “acusado” e “considerado culpado” no julgamento de Paris.

Por volta de 1480, Tomas Torquemada pro-moveu a queima da literatura não-católica, com particular atenção para o Talmud judeu e os livros árabes, após a expulsão de muçulmanos e judeus.

Em 1490 uma série de Bíblias hebraicas e outros livros judaicos foram queimados por ordem da Inquisição Espanhola. Em 1499, cerca de 5.000 manuscritos árabes foram consumidos pelas chamas na praça pública de Gra-nada sob as ordens de Ximenez de Cisneros, Arcebispo de Toledo. Em 1526, a tradução inglesa do Novo Testamento, de William Tyndale, foi queimada em Londres por Cuthbert Tunstal, bispo de Londres. A tradução alemã da Bíblia, feita por Martinho Lutero foi queimada nas partes da Alemanha que estavam sob domínio católico em 1624, por ordem do Papa.

Em 1656, as autoridades de Boston apreen-deram o livro Quaker em público.

Em 1731, o conde Anton von Firmian Leopold – Arcebispo de Salzburg – queimou os livros luteranos.

Em 1933, os cristãos queimaram obras de autores judeus e outros trabalhos considerados “não-alemães”.

A 10 de Maio de 1933, alguns jovens cristãos influenciados pela filosofia nazi queimaram có-pias da Torah.

A 23 de Março de 1984, centenas de cópias do Novo Testamento foram queimadas em forma de cerimónia pelos judeus ortodoxos em Jerusalém.

Na história recente, tem havido vários incidentes de queima de CD’s de música e outros livros de ficção e não-ficção.

Houve vários incidentes com livros do Harry Potter a serem queimados, incluindo aqueles dirigidos por igrejas em Alamogordo, Novo México e Charleston, Carolina do Sul. Discos dos Beatles foram queimados após uma obser-vação de John Lemon a respeito de Jesus Cris-to.

Em 1988, um grupo de cidadãos muçulmanos britânicos queimaram o livro de Salman Rushdie Versículos Satânicos em Londres, seguindo-se a queima do CD de Yusuf Islam, após este ter feito algumas declarações sobre Salman Rushdie.

Em Maio de 2008, um grupo de jovens judeus queimou um grande número de cópias do Novo Testamento Or Yehuda, Israel.

Este é um lado escuro da nossa humanidade. Devemos todos fazer votos no sentido de se tra-balhar para extinguir o fogo do ódio e da intolerância. (Fonte: Religious Social Interfaith – Article Ref:IC1009-4290).